sexta-feira, março 02, 2007

QUE FIZ EU PARA MERECER ISTO? (¿Qué He Hecho Yo para Merecer Esto!!)



Ontem fui pela primeira vez ao Cine Benjamim Abrahão, na Casa Amarela. Primeira vez, claro, desde que a sala foi aberta para o circuito comercial - ainda que alternativo. Pelo que pude ver, o lugar ainda não está sendo freqüentado pelo público, já que eu assisti a QUE FIZ EU PARA MERECER ISTO? (1984) completamente sozinho. Foi a segunda vez que isso aconteceu comigo. A primeira havia sido na sessão de HANA-BI, do Takeshi Kitano, mas naquele dia havia uma desculpa para a ausência de público, que era o jogo do Brasil, na final da Copa América, que eu estava me lixando pra assistir. Quanto à falta de público para o cinema da Casa Amarela, eu espero que essa situação se reverta, senão vamos continuar tendo apenas cinemas de shopping. Deixando claro que eu adoro cinema em shopping, pela comodidade de se passear com segurança, pelo ar condicionado e pelo fato de se poder visitar as lojas de minha preferência, mas é bom também freqüentar uma sala de cinema cujo público está ali exclusivamente pelo filme.

Quanto ao citado filme de Pedro Almodóvar, posso não ter gostado muito dele e de ter olhado para o relógio algumas vezes, mas para quem aprecia a obra do diretor, é um filme essencial. Principalmente por ser o principal elo de ligação com VOLVER (2006), o mais recente filme do diretor. Além da presença de Carmen Maura, atriz constante nos filmes da década de 80 do diretor, há também Chus Lampreave, como a avó. Ela meio que repete o papel em VOLVER, no papel da Tia Paula. Interessante que, na época de QUE FIZ EU PARA MERECER ISTO?, ela já parecia velhinha. Mas não é apenas isso que há de comum entre os dois filmes. Há também a família desfuncional, a mulher que mata o marido sacana na cozinha e recebe o apoio do espectador, as letras grandes e vermelhas apresentando o filme nos créditos iniciais, a referência à cidade de Granada, a falta de dinheiro dos personagens, a mulher tendo que trabalhar fora para sustentar a família.

Veronica Forque, a sexy personagem título de KIKA (1993), uma espécie de Marilyn Monroe dos filmes de Almodóvar, interpreta uma prostituta simpática e amorosa com seus clientes. A excelente Cecilia Roth também aparece, mas numa pequena ponta. Até o próprio Almodóvar também aparece. Mas o grande mérito do filme está mesmo na performance de Carmen Maura. Se mais de vinte anos depois ela apareceria mais velha e grisalha em VOLVER, nesse filme ela aparece até numa cena de sexo no banheiro. E Almodóvar sabe como poucos extrair a sensualidade de suas atrizes - como esquecer da Victoria Abril tirando a calcinha em ATA-ME!?

Mas por mais que eu ache interessante essa fase inicial do diretor, eu não fiquei muito contente com essa tentativa de ele voltar às origens com VOLVER, não. Sabemos que a sua direção agora é bem mais sofisticada e sutil e que se torna até difícil voltar ao estilo mais despojado, quase tosco, de sua fase inicial, mas eu queria mesmo era vê-lo seguir a mesma linha de FALE COM ELA e nos presentear com outra obra-prima. Mas, como diria o slogan da campanha de um conhecido político, "deixa o homem trabalhar." Almodóvar é o tipo de cineasta que funciona melhor com liberdade.

Nenhum comentário:

Postar um comentário