sexta-feira, julho 29, 2005
DE REPENTE É AMOR (A Lot like Love)
Diversão inofensiva esse DE REPENTE É AMOR (2005). Não chega a aborrecer nem emocionar. Como havia previsto, a minha cena favorita é a de Ashton Kutcher cantando e tocando (muito mal) "I'll Be There for You", do Bon Jovi. Inlusive, foi basicamente por causa dessa cena que acabei indo ver o filme. Tem também o fato de eu gostar muito da Amanda Peet, mas acho que ela já está tendo um pouco do seu brilho diminuído nesses últimos anos. O auge de atratividade e sex appeal da moça pôde ser testemunhado no filme MEU VIZINHO MAFIOSO (2000). Mas ainda há uma meia dúzia de anos pra ela aproveitar a sua beleza nas telas.
A historinha do filme inicialmente lembra a do clássico HARRY E SALLY - FEITOS UM PARA O OUTRO, que é a o do casal que se conhece numa viagem e se encontra com o passar dos anos. Mas além de o filme não ter a graça de Meg Ryan e Billy Crystal, os diálogos também são muito fraquinhos. Outra falha do filme é que os personagens passam longos intervalos de tempo sem se ver. O que acaba não convencendo a gente de que os mesmos possam estar apaixonados um pelo outro. Se estivessem, não iam ficam esperando um ano pra ver o outro por razões estúpidas, e a paixão com certeza esfriaria. Além do mais, eles só lembram do outro quando levam o fora de algum parceiro.
Ainda assim, é divertido. Especialmente nos momentos que rola música pop. Gosto especialmente da cena de Kutcher sozinho e pensando na moça, enquanto toca "Look What You've Done", do Jet. Outra bela canção do filme é "Breath (2AM)", de Anna Nalick. E depois de ouvirmos Air Suply em SR. E SRA. SMITH, chegou a vez de ouvir a banda Chicago ("If You Leave me Now") nesse filme. Parece que está aberta a temporada de canções cafonas no cinema.
quinta-feira, julho 28, 2005
A ADOLESCENTE (The Young One / La Joven)
Na semana passada faltei umas três vezes ao trabalho por motivo de doença. E cada dia era uma doença diferente. Numa dessas vezes que fiquei em casa, peguei o DVD de A ADOLESCENTE (1960), que havia ganhado do Carlão em junho, a fim de tornar o meu dia um pouco mais agradável. Buñuel é um santo remédio.
Ainda espero ver todos os filmes do cineasta um dia. Devargar eu chego lá. Por enquanto eu só vi metade dos seus 32 trabalhos. Felizmente a Versátil está lançando no mercado vários títulos do mestre do surrealismo no cinema. A ADOLESCENTE, por enquanto, ainda permanece inédito no Brasil e é tido como um título raro.
Pode-se dizer que A ADOLESCENTE seja um exemplo de filme marginal. É meio esquecido dentro da filmografia de Luis Buñuel e foi produzido e co-escrito por pessoas que estavam na lista negra de Hollywood na época do mccarthismo.
Comparando com filmes dele da fase mexicana, este guarda algumas semelhanças, apesar de seus temas recorrentes aparecerem de forma bem mais sutil. Um detalhe que eu percebi quando vi uma série de filmes de Buñuel numa mostra no ano passado é sua obsessão por pernas femininas. Em A ADOLESCENTE, isso é novamente explicitado.
O caráter sedutor da mulher, que vai ser levado às últimas conseqüências em ESSE OBSCURO OBJETO DO DESEJO (1977), seu filme-testamento, aparece também em A ADOLESCENTE. Só que, nesse filme, a mulher surge também como vítima, ainda que ignore o fato de estar sendo abusada.
Na história, uma jovem garotinha é abusada sexualmente por um homem que toma de conta dela, depois que morre o avô da menina. Por causa de sua inocência e pelo fato de ambos viverem isolados numa ilha - a história se passa numa ilha no litoral sul dos Estados Unidos -, a menina não tem noção de que está sendo abusada. Surge o personagem do reverendo, que descobre que ela foi abusada pelo padrasto e quer batizá-la nas águas do rio, a fim de purificá-la do pecado.
O outro foco principal da trama é a presença de um homem negro na ilha. Ele havia fugido de uma cidade, acusado de ter estuprado uma mulher. Na ilha, ele irá enfrentar o preconceito racial dos brancos, que o odeiam apenas pelo fato de ele ser negro.
Uma pena o filme não ter tido uma maior repercussão nos EUA. Ele meio que passou batido e é pouco citado entre os primeiros filmes que ousaram debater a temática do racismo em território americano.
Agradecimentos ao Carlão por ter me presenteado com essa bela raridade.
quarta-feira, julho 27, 2005
BOM DIA, NOITE (Buongiorno, Notte)
O cinema, além de proporcionar prazer estético - e eu diria que essa talvez seja sua principal função -, ainda pode funcionar como um meio de se aprender História. Mesmo quando não estamos falando de um filme didático.
Quando saí da sessão de BOM DIA, NOITE (2003), saí com a intenção de fazer uma pesquisa sobre Aldo Moro. Quem era, como morreu, quantos dias passou no cativeiro quando foi seqüestrado pelas Brigadas Vermelhas. (É triste ser ignorante.)
Resumo dos fatos: Aldo Moro era o presidente da Democracia Cristã, partido de centro-direita que governava a Itália desde o fim da Segunda Guerra. Em 1978, ele foi seqüestrado por um grupo de radicais de esquerda. Durante a manobra, morreram os cinco guarda-costas do político, que foi levado preso e ficou em cativeiro durante 55 dias, até ser assassinado. No grupo havia uma maulher, Laura Braghetti, que escreveu o livro "O Prisioneiro - 55 Dias com Aldo Moro". O filme foi inspirado nesse livro.
Um dos méritos do filme de Marco Bellocchio é que ele não tenta ser realista. Ele toma algumas liberdades poéticas que tornam o filme mais belo e rico. A adoção de Pink Floyd na trilha sonora é uma delas. Até eu, que não sou fã da banda, gostei do final, que mescla imagens de arquivo com o som de Pink Floyd.
A personagem de identificação maior com o público é a protagonista, Chiara (Maya Sansa), que é totalmente contra a execução de Aldo Moro (interpretado no filme por Roberto Herlitzka). Ela fica comovida com as cartas que ele manda para a família e passa a questionar os dogmas de seus companheiros.
Bellocchio traz momentos de grande impacto sempre que se utiliza de música religiosa. A primeira vez que isso ocorre é quando Chiara comemora o sucesso da operação de seu grupo, ao mesmo tempo que fica apreensiva.
BOM DIA NOITE está em sintonia com o atual cenário político brasileiro, quando está havendo um desencanto da sociedade diante da descoberta da desonestidade de um importante partido de esquerda. Uma das frases de impacto do filme vem de um dos seqüetradores e pode ter relação com o nosso momento: "Resolvi todos os problemas, parei de sonhar."
O título do filme foi inspirado no poema "Good Morning, Midnight", de Emily Dickinson.
terça-feira, julho 26, 2005
O SEGREDO DE VERA DRAKE (Vera Drake)
Antes de me dispôr a escrever sobre O SEGREDO DE VERA DRAKE (2004), fui dar uma lida no que eu tinha escrito sobre AGORA OU NUNCA (2002), o filme anterior de Mike Leigh. Não gostei de AGORA OU NUNCA. Me incomodou ver tanta gente reclamado de suas vidas miseráveis. Tem época que eu estou assim mesmo, de saco cheio de quem reclama da vida, chegando até a me voltar contra coisas que eu gosto, como canções dos Smiths ou do Morrissey, por exemplo. Aliás, o problema não é nem o fato de reclamar, mas de ter pena de si mesmo. Mas isso é cíclico e vez por outra eu acabo curtindo de novo as choradeiras.
Os filmes mais famosos de Mike Leigh são cheios dessas pessoas pobres e tristes vivendo no Reino Unido. SEGREDOS E MENTIRAS (1996), provavelmente seu melhor filme, tem a vantagem de fazer rir, de misturar as lágrimas com o riso. GAROTAS DE FUTURO (1997) pinta tão feiosamente seus personagens que chega a dar enjôo. AGORA OU NUNCA é um poço de autocomiseração.
O SEGREDO DE VERA DRAKE é bem melhor. É parecido com os outros três, mas traz um tema bem mais interessante, que é o do aborto. A história se passa nos anos 50. A Vera Drake do título (Imelda Staunton) é uma senhora casada e mãe de dois filhos já adultos que trabalha de faxineira na casa de uma família rica. Ela "ajuda" moças a se livrarem de uma gravidez indesejada sem cobrar nenhum tostão. Extremamente generosa e prestativa, também cuida da mãe doente e ajuda aqueles que estão em situação ainda menos favorável que a dela. Tudo segue sua rotina normal até que a polícia descobre que Vera adota essas práticas ilegais.
Imelda Staunton faz uma interpretação brilhante. Destaque para o momento em que ela se vê surpreendida pela polícia durante uma festa em família. A câmera focalizada em seu rosto durante alguns segundos, enquanto ela expressa sentimentos dos mais diversos. Também me chamou a atenção a técnica que ela usa para provocar o aborto.
O filme ganhou o Leão de Ouro no Festival de Veneza e Imelda Staunton, além de ter sido indicada ao Oscar, recebeu vários prêmios na Europa.
segunda-feira, julho 25, 2005
O CASTELO ANIMADO (Hauru No Ugoku Shiro)
Estava deixando o tempo passar um pouco para amadurecer as idéias e escrever sobre O CASTELO ANIMADO (2004), mas não sei se vou pensar em algo inteligente para escrever, que possa fazer jus ao belíssimo filme de Hayao Miyazaki. Até dei uma vasculhada pela internet à procura de algumas análises, mas a maioria delas são superficiais. Vejamos se eu consigo colocar em palavras o que eu senti vendo esse filme.
Em O CASTELO ANIMADO, Miyazaki faz um elogio da velhice. Um assunto bastante atípico para uma produção supostamente dedicada ao público infantil. O negócio é que os filmes de Miyazaki também são suficientemente ricos para agradar ao público adulto. Dessa vez, ele abre mão até de uma protagonista adolescente, praticamente uma constante em seus filmes - exceto talvez PORCO ROSSO (1992). Quer dizer, a protagonista jovem está lá, mas dessa vez no corpo de uma velha de cerca de 90 anos.
A trama de O CASTELO ANIMADO se passa numa espécie de Europa imaginária do século XIX. Nesse lugar, a magia e a ciência coexistem e se completam. Inclusive, nesse novo filme, Miyazaki inventa novas máquinas voadoras, lembrando as belezuras de NAUSICAÄ OF THE VALLEY OF THE WINDS (1984). Está havendo uma guerra - por razões um pouco nebulosas - e é no meio dessa confusão que a jovem Sofie conhece o mago Hauru (ou Howl, no inglês), que sem querer a envolve nas rixas que ele tem com uma bruxa. A tal bruxa depois invade a loja de chapéus de Sofie e a transforma numa velha corcunda e enferrujada. Completando a maldição, a bruxa ainda a impede de contar para qualquer pessoa sobre o feitiço. Em seguida, triste e amargurada, Sofie parte para o reino dos magos, em busca de um antídoto para o seu problema.
Quem não está habituado a tantas coisas fantasiosas pode ficar um tanto perdido. Mas para as crianças, ou os adultos com mente mais aberta, o filme é uma verdadeira festa. A começar pelo castelo do título, que tem pernas, é movido por um demônio em forma de fogo, e ainda possui um portal para outras dimensões, bastando selecionar a cor da dimensão de sua preferência.
Eu sempre achei que os melhores desenhos animados são aqueles que não têm medo de assustar as crianças. Eles são mesmo assustadores. Lembro que eu ficava apavorado quando via o Pinóquio se transformando em burro, ou perturbado com a maldade de Peter Pan, que era para ser um herói, nos filmes da Disney. Nos filmes de Miyazaki as diferenças entre o bem e o mal são ainda mais complexas. Senão, vejamos: 1) Hauru, um dos personagens principais é acometido por um mal e tem algo de sombrio por flertar com a magia; 2) um dos personagens mais divertidos do filme é um demônio; e 3) a bruxa malvada que transformou Sofie em velha, mais na frente, vai ser objeto de graça para o filme. Vem dela os momentos mais engraçados. Acho que devo ter gargalhado umas três vezes sempre que ouvia ela dizer "Que foguinho lindo!" (a dublagem brasileira está de parabéns).
Sofie tem uma capacidade incrível de perdoar. É como se, ao envelhecer, ela passasse a adquirir também uma sabedoria, uma maneira de ver a vida mais bela. Linda a cena em que ela, velhinha, comtempla o horizonte e diz que nunca havia sentido tanta paz. Além de uma história de perdão, O CASTELO ANIMADO é também uma história de amor. Que no filme é mostrado como um sentimento que vivifica, que rejuvenesce. Grande Miyazaki.
P.S.: Está no ar no Cinema com Rapadura minha mais recente coluna. Dessa vez, eu dou algumas sugestões de livros de cinema.
sábado, julho 23, 2005
ERA UMA VEZ NO OESTE (Once Upon a Time in the West / C'era una Volta il West)
Uma das vantagens de se estar gripado e acamado é ficar relaxando em casa, vendo filmes em vídeo ou botando a leitura em dia. Há tempos que eu vi em DVD o filme ERA UMA VEZ NO OESTE (1968) e os documentários do segundo disco, mas estava esperando terminar de ouvir/ler a faixa de comentários para só depois comentar sobre o filme, o que acabou demorando um tempão. Só agora consegui terminar de acompanhar a trilha de comentários. Que aliás, foi umas coisas que mais me atraíram para que eu comprasse o DVD. Além da palavra do especialista Sir Christopher Frayling, autor dos livros "Once Upon a Time in Italy: The Westerns of Sergio Leone" e "Sergio Leone: Something to Do with Death", havia ainda participação de John Carpenter, John Millius, Alex Cox, Claudia Cardinale, entre outros membros da equipe do filme.
A trilha de comentários é realmente muito rica em informações sobre o filme e suas inúmeras citações, já que estamos falando de um cineasta pós-moderno. E como Leone adorava John Ford, hein! Sir Christopher Frayling cita várias cenas em que Leone homenageia os westerns fordianos. Entre os filmes citados, há desde os famosos O HOMEM QUE MATOU O FACÍNORA e RASTROS DE ÓDIO até outros, menos conhecidos, como O CAVALO DE FERRO.
Além de Ford, outros cineastas são citados: a primeira seqüência do filme, que mostra os bandidos esperando na estação de trem lembra MATAR OU MORRER, de Fred Zinneman; a gaita de Charles Bronson é referência a JOHNNY GUITAR, de Nicholas Ray; a estranha relação entre Jason Robards e Claudia Cardinale é citação a MINHA VONTADE É LEI, de Edward Dmytryk; além de outros filmes citados como OS BRUTOS TAMBÉM AMAM, de George Stevens, SUA ÚNICA SAÍDA, de Raoul Walsh, e WINCHESTER 73, de Anthony Mann.
Brincar de procurar referências em ERA UMA VEZ NO OESTE para quem conhece muito de cinema é como contar estrelas no céu. Mais ou menos como aconteceu recentemente com KILL BILL, de Quentin Tarantino. Aliás, a obra-prima de Tarantino também é devedora do filme de Leone. Dá pra ver claramente que a tomada vista de trás dos bandidos liderados por Henry Fonda no filme de Leone é homenageada na cena do massacre na igreja, no início de KILL BILL VOL. 2. Inclusive, Tarantino o homenageia até na tentativa de fazer um filme mais lento nesse segundo volume.
E "lento" é uma palavra que se aplica muito bem a esse filme de Leone. Os produtores americanos ficaram putos da vida quando viram o resultado do filme. O que eles queriam era um filme rápido como a trilogia dos dólares que Leone fizera com Clint Eastwood. O que receberam foi uma ópera arrastada. Com esse andamento, era natural que o filme fosse ter mesmo três horas de duração. As críticas ao filme nos EUA não foram favoráveis. O filme só veio ganhar status de clássico com o tempo.
Sobre os documentários presentes no segundo disco, o maior deles é "Uma Ópera de Violência" (29 min), que dá uma geral no filme e traz depoimentos de muita gente, inclusive de quem participou da trilha de comentário. (Não entendi porque Alex Cox aparece tão distante da câmera nos depoimentos. Ô carinha esquisito.) "O Resultado" (19 min) foca mais na locação do filme e nas filmagens no Monument Valley, o cenário preferido dos filmes de John Ford. "Algo Relacionado à Morte" (18 min) mostra uma curiosa cena cortada de uma briga com Charles Bronson. Fala também dos quatro temas musicais ligados a cada um dos personagens principais. "A Ferrovia: Revolucionando o Oeste" (6 min) não tem ligação direta com o filme. Fala mais de como as ferrovias mudaram a história da expansão americana. Além desses documentários, há também fotos das locações na época do filme, comparando com fotos dos dias de hoje. Os stills passam, enquanto ouvimos o tema de Claudia Cardinale ao fundo (4 min). Muito bonito.
Entre as minhas cenas favoritas, gosto bastante do duelo final entre Charles Bronson e Henry Fonda. A dança da morte, a lentidão, dando tempo para nos atentarmos a detalhes das roupas dos dois homens. Ao contrário de Sam Peckinpah, que extendia a violência nos filmes através da câmera lenta, a violência em Leone é rápida. Ele se interessa mais pelo suspense que a precede. Também gosto bastante do prólogo do filme, da seqüência silenciosa dos bandidos na estação de trem. Aliás, o fato de Leone ter mostrado o ator Woody Stroode como primeira coisa do filme já parece outra homenagem a Ford e ao filme AUDAZES E MALDITOS, um dos meus preferidos do velho caolho. Essa e outras cenas, inclusive, foram filmadas na Espanha. Outras, nos estúdios da Cinecitá, na Itália, e algumas externas foram filmadas no Monument Valley, nos EUA. Como a cena da chegada de Cardinale, por exemplo.
Se o filme tem seus problemas é talvez culpa do roteiro. Ou da montagem, talvez. Bernardo Bertolucci até comenta sobre uma cena em que perdemos o fio da meada. Ficamos desorientados sem saber que horas são, onde estamos, ou que relação aquela cena teria com a anterior ou com a próxima. Senti isso não apenas uma vez no filme. A estória do filme ficou a cargo dos então novatos Bertolucci e Dario Argento. Por conta desses momentos meio perdidos e do andamento extremamente lento do filme que eu acho que ERA UMA VEZ NO OESTE talvez não seja um western indicado para quem ainda está sendo introduzido na obra de Leone. Eu indicaria, sem dúvida, o delicioso TRÊS HOMENS EM CONFLITO (1966). Que aliás, é outro filme que eu ainda quero ter em DVD um dia.
sexta-feira, julho 22, 2005
OS INOCENTES (The Innocents)
Acho que devo ter uns dez filmes vistos e ainda não comentados aqui no blog. Vistos no cinema, falta eu falar de dois. E a fila só aumenta. Devo botar tudo em dia só lá pra agosto, que é quando eu vou recomeçar as aulas e terei menos tempo de ver filmes. Vamos ver o que sai então sobre OS INOCENTES (1961), clássico do cinema de horror de Jack Clayton.
A primeira vez que eu ouvi falar nesse filme foi com o rebuliço causado por OS OUTROS, de Alejandro Amenábar. Muitos diziam que o filme bebia na fonte desse filme dos anos 60. Logicamente, fiquei muito curioso para conferir. A chance de ver OS INOCENTES veio com a exibição na Rede Globo, numa madrugada dessas. Acabei de ver o filme e, além dos arrepios que senti, posso dizer que é ele dá muito o que pensar. Principalmente por causa do final. Fiquei sem entender direito o que aconteceu com o garoto.
O filme é baseado numa novela de Henry James, chamada "The Turn Of The Screw". (Não sabia que James também escrevia estórias de horror.) A trama do filme é bem simples: uma mulher (Deborah Kerr) é chamada para ser governanta de uma mansão onde vivem apenas dois órfãos - um menino e uma menina - e os criados. O parente mais próximo das crianças é o tio, que diz não se sentir capaz de cuidar delas. Ao chegar lá, a mulher fica encantada com as crianças. Mas logo esse encanto vai sendo perturbado por visões de um homem e de uma mulher que aparecem para ela em diversos momentos do dia e da noite. Inclusive, pelo fato de o filme ser em preto e branco, eu mesmo ficava olhando para as janelas e imaginando coisas surgindo no meio das trevas.
Mas até aí, o filme parece uma estória de fantasmas como outra qualquer. O que torna OS INOCENTES um diferencial diante da maior parte desses exemplares é que o filme tenta fugir dos clichês. Por exemplo, na primeira vez que aparece o rosto do primeiro fantasma, o diretor não apela para alguma música que possa trazer susto fácil. Não se trata de sustos. O que se sente vendo o filme são arrepios mesmo. Outra coisa: o filme nunca nos dá a certeza de que os fantasmas estão mesmo assombrando a casa e tentando possuir as crianças. Tudo pode muito bem ser fruto da imaginação da personagem de Deborah Kerr. O que de certa forma até ajuda a explicar o porquê de ela ter "entendido" tão rapidamente o que os fantasmas pretendiam, entre outras coisas. Essa ambiguidade torna o filme muito mais rico e ainda mais assustador.
O filme também tem a ousadia de mostrar cenas de sexualidade envolvendo crianças, coisa que talvez não teria acontecido se o filme tivesse sido feito nos EUA. Um dos roteiristas do filme é o escritor Truman Capote. A fotografia é de Freddie Francis, que chegou a dirigir alguns filmes de terror para a Hammer, mas que é mais famoso pelo belo trabalho de direção de fotografia em filmes como O HOMEM ELEFANTE e DUNA, ambos de David Lynch, e CABO DO MEDO, de Martin Scorsese.
Para terminar, o arrepiante poema proferido pelo menino, que tenho certeza provocaria muito mais medo se visto no cinema e com áudio original:
"What shall I sing to my lord from my window?
What shall I sing, for my lord will not stay?
What shall I sing, for my lord will not listen?
Where shall I go, for my lord is away?
Who shall I love when the moon is arisen?
Gone is my lord, and the grave is his prison.
What shall I say when my lord comes a calling?
What shall I say when he knocks on my door?
What shall I say when his feet enter softly,
leaving the marks of his grave on my floor?
Enter my lord, come from your prison.
Come from your grave, for the moon has arisen!"
quinta-feira, julho 21, 2005
LOST
Lembro como se fosse ontem a primeira vez que ouvi falar em LOST. Estava vendo o E! News Live do canal E! e a série estava para ser lançada nos EUA. Só o tema já me chamou bastante a atenção: grupo de pessoas cai numa ilha deserta cheia de animais estranhos e situações misteriosas. A série é narrada com flashbacks de cada personagem por episódio. Quando soube da série, fiquei torcendo para que ela passasse no Brasil em algum canal por assinatura que eu, de preferência, tivesse em meu pacote. Não foi bem assim que aconteceu, já que não tenho AXN em casa. Mas pude ver quando estreou na Sony simultaneamente o piloto da série. A sorte é que eu tinha recém-instalado Velox em casa e pude ficar baixando os episódios e vendo-os pelo monitor do computador. Ao contrário do que eu imaginava, ver os episódios na telinha de 14 polegadas não foi nenhum pouco cansativo ou inconveniente. A maioria dos episódios até vi sem legenda mesmo. Tirando o sotaque australiano dos personagem Sawyer (Josh Holloway) e Claire (Emily de Ravin) e o sotaque britânico carregado de Charlie (Dominic Monaghan), dava pra acompanhar numa boa. Mas a série cresceu tanto em popularidade que é possível achar facilmente sites brasileiros dedicados à série que oferecem legendas em português muito bem traduzidas e com perfeita sincronia.
Ontem eu vi finalmente o último episódio da primeira temporada da série - "Êxodo - Parte 2", com cerca de uma hora e meia de duração. O título se refere à partida dos sobreviventes para uma misteriosa escotilha que aparece no meio da série a fim de fugir dos "outros". O episódio anterior, que mostra a partida de quem iria se aventurar num barco foi dos mais emocionantes e o único que me levou às lágrimas de toda a temporada. Há muito tempo não me entusiasmava tanto com uma série. A última vez que aconteceu isso foi com as duas primeiras temporadas de 24 HORAS.
O sucesso de LOST se deve não apenas ao mistério em torno do que está acontecendo na ilha, mas também ao belo trabalho de desenvolvimento dos personagens. Até quem eu antipatizava no início, como Sawyer, Jim (Daniel Dae Kim), Shannon (Maggie Grace) e Boone (Ian Sommerhalder), foram conquistando a minha simpatia à medida que ia conhecendo suas histórias. Cada um deles tem um segredo. Mas a história mais fascinante é mesmo a de Locke (Terry O'Quinn), o homem que antes de chegar na ilha tinha as pernas imobilizadas, mas que ao chegar lá, fica misteriosamente curado. Para Locke, ter caído na ilha foi uma bênção, a melhor coisa que lhe aconteceu. Há também um mistério em torno do garotinho Walt, que parece ter alguns poderes paranormais, pouco explorados na primeira temporada. Tem também as musas da série. A minha preferida é a Kate (Evangeline Lilly), mas não dá pra não mencionar também a beleza de Claire, Shannon e Sun (Yunjim Kim).
Até pensei em fazer um top 5 dos episódios, mas a essa altura do campeonato fica difícil selecionar os melhores. Mas poderia dizer que gosto muito do Exodus, do episódio piloto, do primeiro episódio dedicado ao Locke, e do último dedicado aos coreanos Jim e Sun. Mas um dos episódios mais intrigantes é o "Numbers", onde vemos a onda de azar que uma série de seis números traz à vida de Hurley (Jorge Garcia).
O mistério em torno dsses números é só mais um entre vários que cercam a série, que já recebeu inúmeras teorias, que dizem tanto que os sobreviventes já estão mortos e estão em uma espécie de purgatório, até a que diz que eles estão lá trazidos por extra-terrestres com a finalidade de serem estudados. O fato é que J. J. Abrams, o homem por trás da série, parece que não vai abrir o jogo tão cedo. O final da primeira temporada deixa no ar ainda mais perguntas e termina com um gancho que nos deixa ansiosos para que chegue logo novembro, que é quando começa a segunda temporada nos EUA, e quando vai ser possível ir baixando os novos episódios da internet - quem precisa de tv a cabo, mesmo?
J.J. Abrams é também o criador da cultuada série ALIAS, que eu só passei a conhecer recentemente quando aluguei um DVD com sete episódios da 1ª temporada. Abrams é também o homem que está filmando MISSÃO IMPOSSÍVEL 3 nesse exato momento na Itália, com Tom Cruise. Tendo em vista o belo currículo que ele tem na televisão (que também inclui a série FELICITY), não duvido nada que o novo MI:3 vai ser no mínimo brilhante.
quarta-feira, julho 20, 2005
KUNG-FUSÃO (Gong Fu / Kung Fu Hustle)
Uma maravilha ter a chance de ver um filme desses no cinema. Qual foi a última vez que foi possível ver uma comédia chinesa de artes marciais na tela grande? Talvez nos anos 70. Infelizmente a gente ainda depende da performance do filme nas bilheterias americanas. Se KUNG-FUSÃO (2004) não tivesse feito sucesso nos EUA, provavelmente não teria chegado às telas brasileiras via Columbia.
KUNG-FUSÃO (não me acostumo com esse título brasileiro) é uma mistura de filme de kung fu, com filme de gângsters, com desenhos da Warner, estilo Papa-Léguas e Pernalonga, com AMOR, SUBLIME AMOR, com LUZES DA CIDADE, de Charles Chaplin. Ainda tem uma citação a MATRIX, mas todos sabem que o filme dos irmãos Wachowski já era um poço de referências orientais. Mesmo com todas essas referências mais ou menos familiares, o que se vê na tela é algo totalmente diferente do que se está acostumado a ver.
O personagem que mais se aproxima de um protagonista é o desastrado Sing, vivido pelo ator e diretor Stephen Chow, de KUNG FU FUTEBOL CLUBE (2001). Esse filme anterior de Chow, eu ainda não assisti, apesar de tê-lo em divx há meses, mas pretendo ver em breve. De qualquer maneira, dizem que KUNG-FUSÃO é um salto em sua carreira - como diretor ele começou em 1994, mas como ator, Chow está em atividade desde os anos 80.
Sing é um zé ninguém que anda ao lado de seu amigo gordo fingindo que faz parte da temida Gangue do Machado. A cena mais engraçada do filme é quando ele chama pra briga os moradores do Chi-Queiro (o nome do cortiço onde boa parte da história se passa), mas não vou contar aqui pra não estragar a surpresa. Além do mais, como se trata de um humor essencialmente visual, nem dá pra contar sem perder a graça. Além de Sing, há outros personagens quase tão importantes quanto ele, como o casal de proprietários do Chi-queiro e um adolescente que vive com a bunda de fora.
Para se curtir o filme é preciso se desligar do mundo real. Em KUNG-FUSÃO, as leis da física não se aplicam. Para isso, Stephen Chow se utiliza da melhor tecnologia em efeitos especiais para que em alguns momentos os personagens possam voar, correr feito um desenho animado, levar um soco e ficar com a cara amassada etc. Só cansei um pouco do filme depois de uma hora de duração. Vai ver eu preciso de mais violência para ficar bem desperto com cenas de luta. E como violência está mais ligada ao plano físico e não a cartoons, esse filme pode ser visto por toda a família. Mesmo assim, faço questão de dizer que se trata de uma chance imperdível ver um filme desses na telona. Quem não for ver logo, vai dançar. São poucas as sessões disponíveis.
terça-feira, julho 19, 2005
EM BOA COMPANHIA (In Good Company)
Mesmo sabendo que iria gostar de EM BOA COMPANHIA (2004), o novo filme de Paul Weitz, não deixou de ser uma agradável surpresa ver que o diretor continua com ótima mão para comédias delicadas, como já tinha mostrado no ótimo UM GRANDE GAROTO (2002), co-dirigido por seu irmão, Chris Weitz. A partir de EM BOA COMPANHIA, Paul assina a direção dos filmes e o irmão aparece como produtor.
Ao contrário do que eu imaginava, o filme não foca a atenção no relacionamento dos personagens de Topher Grace e Scarlett Johansson, mas no de Topher e Dennis Quaid. A trama do filme mostra Quaid, um executivo de 51 anos, casado, com duas filhas, que vê sua vida mudar de rumo quando sua empresa é comprada por outra. Por causa disso, ele passa a ser subordinado a um rapaz que tem metade da sua idade, e que não sabe absolutamente nada do trabalho. Como se não bastasse tomar o seu lugar na empresa, esse rapaz ainda vai ter um caso com sua filha. Mas não vemos apenas o ponto de vista de Quaid, mas também o de Topher, que está passando por uma fase muito difícil de sua vida. Foi abandonado pela mulher, tem poucos amigos, e por isso tenta centrar sua vida no trabalho.
Pra quem está passando por um período confuso e de instabilidade emocional como eu, um filme desses é um oásis no deserto. É quando vejo o quanto gosto de dramas humanos. Às vezes me esqueço disso. O filme tem momentos de deixar os olhos marejados, como, por exemplo, aquele em que Quaid vai deixar a filha no apartamento próximo da universidade que vai cursar e se faz de durão pra não mostrar que está quase chorando, quando a abraça. Ou em outro momento de abraço no final. Como um abraço sincero pode ativar nossas emoções, nos desarmar, não é mesmo? Essa é uma grande vantagem de se viver numa sociedade ocidental.
Na trilha sonora do filme tem belas canções de Iron & Wine. Achei o som parecido com Badly Drawn Boy, que fez a trilha de UM GRANDE GAROTO, também na linha mais acústica. Também toca num momento do filme "Cannonball", de Damien Rice, cantor que está cada vez mais presente em filmes e séries de tv.
Não conhecia o jovem ator Topher Grace, que é mais conhecido por quem acompanha(va) a série THAT'S 70'S SHOW. Gostei do rapaz. Paul Weitz vai trabalhar novamente com os dois atores mais importantes de seus dois melhores filmes: Hugh Grant e Dennis Quaid estarão presentes em seu novo trabalho, que se chama AMERICAN DREAMZ.
P.S.: Quando vi o trailer de 2 FILHOS DE FRANCISCO, o filme que conta a história da dupla Zezé de Camargo e Luciano, fiquei emocionado. Mas não vão contar isso pra ninguém. Pode pegar mal e o povo vai querer me dar de presente uns discos de música sertaneja.
domingo, julho 17, 2005
FRENESI (Frenzy)
Como seria bom se todos os filmes de Alfred Hitchcock tivessem o mesmo tratamento em DVD que os lançados pela Universal tiveram. Até mesmo os filmes menos brilhantes do mestre receberam um documentário de respeito, abordando aspectos interessantíssimos da obra. Da vez anterior eu tinha me deliciado com o documentário sobre TOPÁZIO (1969), que fez com que eu passasse a gostar mais do filme, apesar de seus problemas. Agora, com a oportunidade de rever FRENESI (1972), a última obra-prima de Hitch, conferi o ótimo documentário de 44 minutos.
Laurent Bouzereau, o genial produtor dos documentários, aparece dessa vez fazendo até uma piadinha com uma gravata, que no filme é a arma do crime do maníaco. FRENESI foi um alívio para Hitch, que estava triste com o fracasso de TOPÁZIO e reclamava das mudanças do cinema feito em Hollywood. Por isso, ele retornou à Inglaterra e recrutou atores praticamente desconhecidos, como se recrutasse carpinteiros. Isto é, bastava fazer um bom trabalho. Ele não precisava de astros. O ator mais famoso do elenco é talvez John Finch, que tinha acabado de fazer MACBETH, de Roman Polanski, mas na época de seu recrutamento o filme nem tinha estreado ainda.
Todos que foram chamados por Hitch para trabalhar no filme receberam a notícia como uma dádiva divina. Imagina uma pessoa que não tem nenhuma relação com Hollywood ter a chance de trabalhar com o mestre do suspense! Por isso que quando vemos todo o elenco do filme, assim como o roteirista Anthony Shaffer, relembrando o momento com certo deslumbramento, temos certeza que o motivo é mais do que justo.
FRENESI é um dos melhores filmes de Hitchcock. Desses que a gente assiste e nem vê o tempo passar tal o prazer que nos provoca. Fica difíci desgrudar os olhos da tela. E é um prazer aliado ao horror, já que também se trata de um de seus mais aterrorizantes filmes. Tanto que Hitchcock só nos mostra a cena do assassinato uma única vez. É o bastante. Na segunda cena de assassinato do "maníaco da gravata", Hitchcock, muito elegantemente, nos convida a nos retirar da cena do crime, num belo travelling que vai da porta do apartamento de Bob Rusk (Barry Foster), descendo as escadas, até a rua. Ele nos poupa de ver novamente o horror.
Um detalhe que eu acho impressionante na primeira cena de assassinato é que a vítima diz: "Jesus, help me!", depois de recitar o Salmo 91 enquanto estava sendo estuprada. Hitchcock poucas vezes conferiu um grau de realismo tão grande como nesse filme. Claro que a escolha de um elenco com pessoas "normais", sem nenhum astro e nenhuma loira gostosa, ajudou bastante a conferir um ar quase documental a esse trabalho.
O filme traz o velho tema do homem perseguido por um crime que não cometeu. Tema este que está presente em sua obra desde O INQUILINO SINISTRO (1926), talvez o filme de Hitchcock que guarda relação mais próxima com FRENESI. Tanto pelo fato de se passar em Londres, quanto pela presença de um assassino serial e a perseguição a um inocente. Não é uma bela maneira de voltar às origens? FRENESI trazia um Hitchcock envelhecido mas com espírito jovem. E isso transparece em cada fotograma.
sexta-feira, julho 15, 2005
ANJOS DO INFERNO (Hell's Angels)
Assim que saí da sessão de O AVIADOR, de Martin Scorsese, senti uma vontade muito grande de ver ANJOS DO INFERNO (1930), do aviador, cineasta e milionário excêntrico Howard Hughes. Felizmente, antes que a Universal botasse o DVD no mercado - se é que vai botar mesmo -, a ClassicLine se antecipa e lança o filme discretamente. Como a qualidade dos filmes lançados por essa distribuidora variam entre o ótimo e o ruim, nunca dá pra ter certeza da qualidade do material. Então, é sempre bom quando alguém avisa. Então, aviso aqui que a qualidade do DVD está bem boa.
O que mais me fascinou quando eu vi os dois filmes, tanto o do Scorsese quanto o de Hughes, foi a coragem daqueles homens dos anos 20 e 30 em pilotar aqueles teco-tecos. E os sentimentos de medo e de excitação que eu sinto ao ver esses aventureiros fazendo piruetas no céu e correndo risco de vida estão personificados nas personalidades dos dois irmãos, os protagonistas do filme. De um lado, temos Monte (Ben Lyon), mais consciente dos perigos de pilotar aviões de batalha durante a 1ª Guerra Mundial, mas que pode ser visto como um covarde; o medo o domina. De outro, Roy (James Hall), idealista, corajoso e patriota. Para ele, vale tudo para defender o seu país (a Inglaterra), nem que pra isso ele precise matar ou morrer.
As personalidades dos dois irmãos também são diferentes quando o assunto é mulheres. Se Roy é um pouco ingênuo, vê Helen (Jean Harlow) como a mulher ideal, acreditando erroneamente que ela o ama e que nunca irá traí-lo; Monte já vê as mulheres apenas como objetos de prazer, já tem uma visão mais cínica da coisa. Ele acaba caindo uma vez nos encantos de Helen, mas não sentimentalmente.
Os filmes dessa época eram bem mais ousados do que os dos anos 40 e 50, período em que os EUA se submeteriam a uma censura violenta. Os próprios anos 20 foram anos loucos, parece que as pessoas viviam como que num estado de excitação contínua. Quanto a Jean Harlow, pode-se até dizer que ela não é bonita, mas é inegável seu sex appeal. Chega a ser excitante suas insinuações a Monte, seu vestido que deixa as costas nuas, o momento que ela se entrega a ele em seu apartamento, sua vulgaridade. Uma das frases dela no filme (para Monte): "Would you be shocked if I put on something more comfortable?".
Mas falemos do aspecto mais importante do filme que são as cenas de aviação, já que essas foram as realmente dirigidas por Hughes - as cenas de diálogo ficaram sob os cuidados de James Whale, que mais tarde faria alguns sucessos do cinema fantástico para a Universal, como FRANKENSTEIN (1931), O HOMEM INVISÍVEL (1933) e A NOIVA DE FRANKENSTEIN (1935). Pois bem, as tais cenas de aviação, algumas delas, Scorsese já nos tinha apresentado trechos em O AVIADOR, que foram as das colisões dos aviões numa batalha no céu e do Zeppelin em chamas. Nessa cena do Zeppelin, inlusive, utilizou-se técnicas primitivas de colorização. Em várias cenas do filme, há momentos em que vemos cores.
As cenas no céu impressionam até hoje, principalmente quando sabemos que algumas pessoas chegaram mesmo a morrer nessa brincadeira. Tenho impressão até que aquela cena de colisão dos aviões foi real e Hughes acabou aproveitando no filme. Se isso for verdade mesmo, não deixa de ser uma atitude mercenária a dele.
Outra curiosidade é que algumas cenas ainda têm cara de cinema mudo, mesmo com a inserção do áudio. Isso aconteceu por causa da demora nas filmagens. Por isso, Hughes resolveu refilmar tudo de novo com o surgimento do cinema falado, mas acabou aproveitando algumas cenas da fase muda, como a seqüência do zeppelin, por exemplo.
Howard Hawks era um grande admirador de Hughes. Tanto que no ano seguinte acabou fazendo um filme sobre aviação - THE DAWN PATROL - e Hughes o acusou de plágio. Depois de muitas brigas, os dois acabaram trabalhando juntos em SCARFACE (1932). Mas isso já é outra história.
quinta-feira, julho 14, 2005
A FÚRIA (The Fury)
Um filme inédito de Brian De Palma é sempre uma festa pra mim. Não sei porque eu achava que já tinha visto A FÚRIA (1978) em VHS há muito tempo atrás. Mas vendo em DVD nesses dias, percebi que devo ter confundido com outro filme.
A FÚRIA é uma espécie de continuação de CARRIE (1976), filme que obteve muito sucesso de público e garantiu a De Palma uma produção de primeiro escalão em Hollywood. As semelhanças se devem não apenas à presença de Amy Irving, mas também por conta do retorno ao tema da paranormalidade. Dessa vez, De Palma preferiu fazer um filme com uma história mais complexa. Sua intenção era misturar filmes de suspense/terror com outros de espionagem no estilo OPERAÇÃO FRANÇA, sem deixar de lado o aspecto dramático, já explorado em CARRIE. O resultado não deixa de ser interessante, mas considero A FÚRIA um dos De Palmas menos inspirados. Até se poderia dizer que o diretor ainda estava se exercitando, aprendendo ainda para dar o grande salto nos anos 80, mas ele já tinha feito pelo menos dois filmaços anteriormente, que foram IRMÃS DIABÓLICAS (1973) e O FANTASMA DO PARAÍSO (1974) - não vi TRÁGICA OBSESSÃO (1976) ainda, mas dizem que é ótimo.
De Palma segue homenageando e citando Hitchcock. Há citações de SABOTADOR e LADRÃO DE CASACA na cena de Kirk Douglas e John Cassavetes no telhado e de PACTO SINISTRO na cena do parque de diversões. Perguntado sobre suas referências hitchcockianas, em entrevista constante no fansite Directed by Brian De Palma, ele falou que considera o trabalho de Hitchcock uma gramática. Segundo ele, Hitchcock já havia definido o melhor lugar para se colocar a câmera, os melhores ângulos para se estabelecer uma melhor carga dramática.
Ainda assim, senti falta nesse filme do De Palma mais virtuoso. E a trama do filme também não me empolgou nenhum pouco. Talvez porque eu também não me interesso muito por esse tema da paronormalidade - também não sou fã de SCANNERS, de David Cronenberg, que parece ter bebido na fonte de A FÚRIA. Assim como CARRIE, A FÚRIA também sofre com a falta de uma maior elegância na interpretação dos atores. É tudo muito exagerado, bem distante dos trabalhos do mestre Hitchcock. E nem me refiro à seqüência sanguinolenta final, que até lembra um pouco o estilo Fulci de filmar. De qualquer maneira, ainda que seja um filme menor, não deixa de ser um autêntico De Palma, o que já garante o interesse dos apreciadores.
quarta-feira, julho 13, 2005
AMALDIÇOADOS (Cursed)
Parece que Wes Craven perdeu o talento que tinha. Nem parece o mesmo diretor de grandes filmes como QUADRILHA DE SÁDICOS (1977) e A MALDIÇÃO DOS MORTOS-VIVOS (1988). Parado desde PÂNICO 3 (2000), ele retoma a parceria com Kevin Williamson, roteirista da trilogia PÂNICO. Williamson trouxe consigo o ator Joshua Jackson, um dos protagonistas do seriado DAWSON'S CREEK, cria do roteirista. Pena que o forte do escritor, que é o desenvolvimento dos personagens, não aparece nem um pouco nesse filme, que passa uma sensação de desleixo do início ao fim.
Claro que uma vez que se vá ao cinema esperando uma diversão despretensiosa, até dá pra se divertir com AMALDIÇOADOS (2005), mais um filme de lobisomens a se juntar à lista que inclui ótimos títulos como UM LOBISOMEM AMERICANO EM LONDRES, de John Landis, GRITO DE HORROR, de Joe Dante, e o subestimado POSSUÍDA, de John Fawcett. O problema é que se esperava mais de Wes Craven. Ainda mais depois de todo esse tempo sem filmar.
Desde os revolucionários efeitos especiais do filme de Landis que se espera de um filme de lobisomens uma transformação tão boa quanto. Até chamaram Rick Baker, responsável pelos efeitos e maquiagem de vários filmes de lobisomem, incluindo UM LOBISOMEM AMERICANO EM LONDRES e o famoso videoclipe "Thriller" de Michael Jackson. Infelizmente o resultado não foi tão bom, ainda que, no que se refere a efeitos visuais, não seja nada vergonhoso.
O que sobrou nesse novo filme foram os clichês, as interpretações canastras, as tentativas frustradas de susto fácil, tudo isso embalado numa história que passa longe de ser inventiva. A falta de criatividade é tão grande que Kevin Williamson até fez uma cena de acidente na estrada que é a cara de EU SEI O QUE VOCÊS FIZERAM NO VERÃO PASSADO. Pura reciclagem.
Os pontos positivos estão na presença de Christina Ricci, especialmente para quem é fã da moça, e no fato de o filme em nenhum momento se levar a sério. Há até vários momentos engraçados. Inclusive, a famosa frase "not that there's anything wrong with that" (não que haja algo de errado com isso), usada num episódio da sitcom SEINFELD que trata do preconceito com homossexuais na era do politicamente correto, aparece numa cena engraçada do filme em que um dos personagens se descobre gay. E o pior é que nessa cena, colocaram uma música meio western spaghetti ao fundo.
AMALDIÇOADOS foi um filme que deu bastante trabalho pra ficar pronto. Houve problemas de atraso nas filmagens; Mandy Moore, que estava trabalhando no filme, foi demitida por chegar atrasada com muita freqüência; Wes Craven não gostou do final e teve que refazê-lo (não que tenha ficado bom); o diretor tentou diminuir a classificação etária para aumentar o público, o que pode ter deixado o filme cheio de cortes - dá pra notar nas cenas de ataque do bicho. Resultado: o filme vale no máximo uma espiada quando passar na televisão.
Vi o filme numa cabine de imprensa, juntamente com o pessoal do Cinema com Rapadura. Cinema pago já é bom, de graça então... Mas o que valeu mesmo foi a divertida companhia da turma. AMALDIÇOADOS estréia no Brasil na próxima sexta, dia 15.
terça-feira, julho 12, 2005
BREAKING NEWS - UMA CIDADE EM ALERTA (Dai Si Gein / Breaking News)
O que mais me chamou a atenção nesse BREAKING NEWS (2004), do cineasta Johnnie To, foi sem dúvida o plano-seqüência inicial, de cerca de oito minutos. Esse plano mostra uma tentativa de assalto de uma quadrilha, seguido de um tiroteio com a polícia. A câmera mostra, sem cortes, o pequeno grupo massacrando a polícia de Hong Kong, apesar de esta estar em maior número durante o tiroteio. Uma vergonha para a força policial que, na tentativa de salvar sua reputação, transforma a caça aos bandidos num show televisionado para todo o país.
Tanto pelo citado plano-seqüência inicial, quanto pelo uso de split-screens durante a cena do cerco no prédio, a direção de Johnnie To lembra o Brian De Palma de filmes como OLHOS DE SERPENTE e FEMME FATALE, pra citar dois títulos que mais apresentam o virtuosismo do diretor. Mas, se por um lado temos um super-filme de ação, por outro, os personagens não conseguem nos envolver. Os que mais se aproximam disso são os personagens do bandido (Siu-Fai Cheung) e dos inspetores de polícia, interpretados por Nick Cheung e Kelly Cheng. Kelly, inclusive, é uma estrela pop em Hong Kong, o que despertou algumas críticas negativas ao filme no oriente. Falaram que ela não convence no papel de policial.
Ainda assim, uma das coisas que mais me passava pela cabeça enquanto estava vendo BREAKING NEWS era que este é um filme para ser visto no cinema. Na telona. Se o mercado exibidor brasileiro infelizmente nos priva desse privilégio, só nos resta aproveitar que o lançamento em DVD pelo menos foi respeitoso com o filme, conservando seu formato scope. O som também está muito bom.
Só recentemente ouvi falar em Johnnie To. E olha que ele faz filmes desde 1980. Nos últimos anos, seus filmes têm estado mais presentes nos festivais de cinema, saindo um pouco do gueto do filme de gênero e ganhando status de filme de autor. No último festival de Cannes, por exemplo, foi exibido ELECTION (2005), seu mais recente trabalho. Aqui no Brasil, não sei quantos filmes dele foram lançados. Pesquisando na internet, vi que RUNNING OUT OF TIME (1999) saiu com o título de JOGO DA VINGANÇA.
segunda-feira, julho 11, 2005
QUARTETO FANTÁSTICO (Fantastic Four)
Pra quem estava esperando um filme horrível, até que eu saí do cinema bem satisfeito com esse QUARTETO FANTÁSTICO (2005). O grupo é um dos que eu mais guardo com carinho em minha memória afetiva, principalmente por ter uma estreita ligação com o meu herói favorito, o Surfista Prateado, ainda que as histórias que li, na época que acompanhava, fossem inferiores às dos X-Men e dos Vingadores. Falando nos quadrinhos, um dos melhores momentos do grupo, sob os cuidados de John Byrne, vai estar sendo reeditado pela Panini esse mês. O preço é um pouco salgado, mas acho que vale a pena.
Ainda no terreno do "recordar é viver", quem tem mais de vinte anos deve lembrar do desenho animado que passava na tv: "Os 4 Fantásticos". Eu achava legal porque o desenho era até fiel aos quadrinhos. Quando fui ver o filme no cinema no sábado, lembrei com uns amigos desse desenho. Na conversa, alguém citou um desenho horrível chamado "O Coisa", que mostrava um rapaz magrinho que usava dois anéis e sempre que os juntava, vinha um monte de pedras em cima do rapaz e ele se tornava o Coisa. O cara que fez um desenho desses deveria ser apedrejado. Tem cada idéia de jerico por aí.
Mas voltando ao longa-metragem, trata-se de um filme bem leve, ingênuo até, distante das tragédias pessoais de heróis como Batman, Homem-Aranha, Demolidor, Justiceiro ou o Hulk. O que mais se aproximaria de uma tragédia, que é a transformação de Ben Grimm no Coisa (Michael Chicklis, de THE SHIELD), adquire até contornos engraçados, graças ao Tocha Humana, que vive pegando no pé do coitado, além das piadas envolvendo a dificuldade que ele tem em manusear coisas pequenas.
Outra graça do filme é a presença de Jessica Alba como a Mulher Invisível. Há uma cena que muita gente vai julgar desnecessária para a trama, que é a dela tirando a roupa no meio da rua enquanto está invisível, mas não deixa de ser um fetiche dos bons. Lembro que quando eu era adolescente, vivia sonhando que um dia fizessem versões erótico-cômicas com os heróis da Marvel. Nesse caso, não dá pra não pensar no drama de Alicia, a pobre namorada cega do Coisa.
O diretor, Tim Story, se não tem estilo como um Sam Raimi ou um Ang Lee, pelo menos fez o serviço direitinho. Deixou o filme ágil, até lembrando os quadrinhos clássicos de Stan Lee e Jack Kirby. Daria pra reclamar da falta de tato em alguns momentos, especialmente na construção do supervilão Dr. Destino (Julian McMahon), mas não sou eu quem vai brigar por causa disso.
E as adaptações dos quadrinhos da Marvel só estão começando. Vem aí HOMEM-ARANHA 3, X-MEN 3, VIÚVA NEGRA, THOR, CAPITÃO AMÉRICA, HULK 2, WOLVERINE, NAMOR, JUSTICEIRO 2 e MOTOQUEIRO FANTASMA. Avi Arad continuará enchendo seus bolsos por um bom tempo.
P.S.: Está no ar no Cinema com Rapadura minha nova coluna. Dessa vez, eu abro o arquivo de minhas memórias ligadas - ainda que não diretamente - ao cinema. Quem quiser conferir essas viagens pessoais, fique à vontade.
domingo, julho 10, 2005
CASA DE AREIA
Foi um grande salto na carreira de Andrucha Waddington esse CASA DE AREIA (2005), terceiro longa-metragem de ficção do diretor. Os primeiros foram GÊMEAS (1999), também com sua esposa Fernanda Torres, que eu não vi, mas dizem que é bem ruim; e o divertido EU TU ELES (2000). Se contarmos com VIVA SÃO JOÃO! (2002), documentário que o diretor fez aproveitando a turnê de divulgação da trilha sonora de EU TU ELES, feita por Gilberto Gil, já são três os longas abordando o Nordeste brasileiro feitos pelo diretor.
Voltando a CASA DE AREIA, não esperava que fosse tão bom. O filme impressiona logo na seqüência inicial, que mostra uma duna enorme dos lençóis maranhenses, valorizada ainda mais pelo formato scope e pela opção de iniciar a ação no extremo canto esquerdo da tela, num plano geral. A história começa em 1910, quando um grupo de pessoas numa caravana se aventura a morar num lugar onde não tem praticamente nada a não ser areia e um pequeno lago. O líder do grupo tem o nome sugestivo de Vasco, interpretado pelo cineasta Ruy Guerra. Ele carrega consigo a mulher (Fernanda Torres) e a sogra (Fernanda Montenegro).
As mulheres até tentam sair do lugar, mas uma força maior as impede, como se estivessem sob algum feitiço, alguma maldição. Até lembra um pouco a maldição que abate os burgueses em O ANJO EXTERMINADOR, de Buñuel. Essa maldição buñelesca vai perseguir essas mulheres até as gerações seguintes.
Com o passar dos anos, as duas Fernandas se revezam, trocando de lugar: uma passa a ser a mãe, a outra passa a ser filha. E o tempo passa, enquanto elas vivem alheias ao que está acontecendo ao mundo lá fora. As duas atrizes têm desempenhos extraordinários. Principalmente Fernanda Torres, que convence tanto como mãe, quanto como uma jovem garota. (E o diretor foi corajoso também em colocar a sua mulher para fazer aquela cena de sexo com o Seu Jorge.) Além das duas Fernandas, de Ruy Guerra e de Seu Jorge, outros nomes famosos abrilhantam o elenco, como Stênio Garcia, Emiliano Queiroz, Luiz Melodia e Jorge Mautner, numa participação especial.
O final é belíssimo, poético, com um dos poucos momentos em que se ouve música no filme. A música que ouvimos durante praticamente o filme inteiro é apenas o som do vento. Diria que CASA DE AREIA é o melhor filme nacional lançado em 2005 que eu vi até o momento, já que ENTREATOS, que eu só vi nesse ano, já tinha sido lançado no sul do país no final de 2004.
quinta-feira, julho 07, 2005
DOIS WESTERNS
Quem me conhece sabe que eu prefiro os westerns mais clássicos, os de John Ford, Anthony Mann e Howard Hawks, aos dos anos 60 e 70. Curto muito o compromisso com a História que os filmes de Ford e Hawks têm. O que não significa dizer que eu não gosto de Sam Peckinpah e ou Sergio Leone, muito pelo contrário. Ainda estou descobrindo muita coisa importante desse período. Essa semana tive o prazer de conhecer o mítico RIDE IN THE WHIRLWIND (1965), de Monte Hellman. E fiquei maravilhado. Deu pra sentir, vendo esse filme, o quanto ele se apresentou como ruptura aos westerns mais acadêmicos. Por outro lado, Arthur Penn, um dos principais representantes da então nova geração do cinema de autor americano, e diretor do importante BONNIE E CLYDE (1967), fez um filme bem clássico-narrativo: PEQUENO GRANDE HOMEM (1970).
A VINGANÇA DE UM PISTOLEIRO / CAVALGADA NO VENTO / A MARCA DA VINGANÇA (Ride in the Whirlwind)
RIDE IN THE WHIRLWIND - diante de três títulos nacionais, na dúvida, fico com o original, até por ser mais famoso - é um dos filmes mais cultuados de todos os tempos. Monte Hellman é conhecido como o mestre dos chamados westerns existencialistas. Ele fazia filmes baratíssimos e foi precursor do novo cinema americano dos anos 60/70, que seria iniciado com a contribuição de diretores como Arthur Penn, Peter Bogdanovich, Martin Scorsese, Dennis Hopper, entre outros. Com um movimento importante como a Nouvelle Vague, na França, além do rebuliço em vários países do mundo, o cinema americano estava ficando pra trás. Hollywood tinha virado um velho caduco. RIDE IN THE WHIRLWIND é um filme moderno e se antecipou à revolução que viria com BONNIE E CLYDE e SEM DESTINO. O diretor foi mais uma "descoberta" dos franceses. Sempre eles para reconhecer a genialidade dos diretores que os próprios americanos desprezam.
Quando o filme começou, demorei um pouco a entrar no clima. Demora para começar a ação, os planos são diferentes do que a gente está acostumado a ver, a câmera está freqüentemente distante da ação, há uma estranheza no ar. A trama do filme é bem simples: Jack Nicholson é um caubói que, ao lado de seus companheiros, é confundido com bandidos e perseguido por vigilantes. As coisas acontecem de maneira bem diferente nesse filme. Não há uma estrutura típica de introdução, desenvolvimento e conclusão - o final é brusco; não há diálogos feitos, há muitos silêncios e momentos em que coisas desimportantes, como um simples jogo de damas, por exemplo, se tornam importantes. Fiquei realmente impressionado com o filme e adoraria ver mais Monte Hellman.
Quem estiver interessado no filme, é melhor optar pelo DVD vendido em banca, que está com o título CAVALGADA NO VENTO. A cópia está muito boa e em widescreen (1,85:1). O mesmo filme foi lançado pela Works, com o título A MARCA DA VINGANÇA, mas está em tela cheia.
PEQUENO GRANDE HOMEM (Little Big Man)
Eu falei lá em cima que esse filme é clássico-narrativo. O que o distingüe dos westerns realizados pelos mestres Ford, Hawks e Mann é a nova visão, mais politicamente correta, dos índios, anteriormente tratados como ameaça aos brancos colonizadores. PEQUENO GRANDE HOMEM mostra Dustin Hoffman como o rapaz branco que foi criado por índios Sioux desde a infância, mas que depois de um massacre que aconteceu em sua tribo, volta para as cidades dos brancos. O filme é contado num flashback a partir da narração de um velho de 121 anos de idade, mostrando também eventos da história americana e a participação de personagens ilustres como Wild Bill Hickok e o General Custer. Arthur Penn teve uma carreira bem irregular, mas era um diretor habilidoso dentro do cinema de gênero. O filme ainda conta com uma Faye Dunaway em ótima forma e muito senso de humor. Entretenimento de primeira, mas que poderia ser melhor. Gravado do SBT.
quarta-feira, julho 06, 2005
TENTAÇÃO (We Don't Live Here Anymore)
O que mais me chamou a atenção em TENTAÇÃO (2004) foi o elenco - até porque o diretor do filme é um pouco desconhecido. Especialmente pela presença de duas atrizes lynchianas de momentos diferentes: Naomi Watts e Laura Dern. Enquanto Naomi está linda, jovem e atraente, Laura Dern aparece um pouco desgastada. E o curioso é que elas só têm um ano de diferença de idade! Laura já não era tão interessante assim quando apareceu em VELUDO AZUL, mas já tinha um certo sex appeal em CORAÇÃO SELVAGEM, até porque nesse filme Lynch força a barra para explicitar a sensualidade da moça. Em TENTAÇÃO, Laura Dern tem mais chance de mostrar o quão boa atriz é. Os homens do filme também não devem ser ignorados. Mark Ruffalo é um dos grandes atores da nova geração, participando de diversos filmes interessantes, sejam produções pequenas ou grandes. Já Peter Krause é mais conhecido pela série A SETE PALMOS, da HBO, e talvez esteja entrando com firmeza na tela grande com esse filme.
Histórias de infidelidade são sempre interessantes. Por mais dolorosas que sejam as conseqüências da traição, não deixa de ser excitante pensar na possibilidade de fazer sexo com outra pessoa. "Proibido é mais gostoso", muita gente diz. O diferecial desse filme é que trata-se de uma troca de casais, um swing involuntário. Como o filme foca a atenção apenas nos dois casais (Naomi + Krause, Ruffaulo + Laura), mostrando quase ninguém de coadjuvante, a impressão que se tem é de que não há mais ninguém naquela cidadezinha para se "botar chifre" no parceiro.
Minhas cenas preferidas são as que mostram Ruffalo e Naomi em momentos de intimidade, principalmente as do começo. O filme não dá muita ênfase na relação de Laura com Krause. Esse, inclusive, é mostrado como um sujeito indiferente. Pra ele, tanto faz se a mulher está com o melhor amigo dele ou não. Ao contrário de Ruffalo, um filho da puta que tenta fazer com que a mulher se sinta culpada, para poder ficar por cima na história. Por falar em amigo, eu sempre achei que trair o amigo, transando com sua esposa, é mais grave que trair a própria esposa. Mas no filme, todos parecem muito compreensivos, gente de cabeça fria. Até a personagem de Laura, que parece ser a mais esquentada e mais apaixonada, lá pelo final recebe tudo com resignação.
O filme tem aquele jeitão de produção independente americana, mas isso não me incomoda nenhum pouco. Só senti falta de um final mais interessante e de momentos mais fortes. E eu preferiria que o filme terminasse no rosto da Naomi Watts.
terça-feira, julho 05, 2005
GLAUBER ROCHA EM DOIS FILMES
Esse final de semana tive uma overdose de Glauber Rocha. Não sou de considerar overdose ver apenas dois filmes do mesmo diretor de uma só tacada, mas é que os filmes de Glauber ainda não me dão prazer estético. Ao contrário, acho-os cansativos, não me identifico nem me sensibilizo com seus temas e nem me envolvo com a história, que demora a chegar a algum lugar. Pelo menos dentro do que pude ver do diretor, que foram esses dois filmes vistos há poucos dias.
Tinha visto DEUS E O DIABO NA TERRA DO SOL (1964) na TV Cultura há bastante tempo e lembrava pouco do filme. Só que tinha achado muito chato e desde aquela época não quis mais saber de filme de Glauber Rocha. Não se trata de aversão a filmes de andamentos lentos. De forma alguma. Sou fã de Andrei Tarkóvski e aprecio Bergman, Visconti e Antonioni. Mas resolvi aproveitar que estou numa fase boa para rever meus preconceitos com cineastas que eu não conseguia gostar muito, como Fellini e Kurosawa, e aproveitando a chance de ver TERRA EM TRANSE (1967) no cinema, peguei também o DVD duplo do filme mais famoso de Glauber. Minhas impressões dos filmes:
DEUS E O DIABO NA TERRA DO SOL
Não sei se porque estou com o espírito muito inquieto pra ver esse tipo de filme, mas o fato é que assistir DEUS E O DIABO NA TERRA DO SOL foi muito doloroso pra mim. Senti um mal estar tremendo, uma agonia, uma vontade que o tempo passasse mais rápido.
Glauber estrelou com BARRAVENTO (1961). Não vi o filme, mas pelo que li é sobre um pescador que tenta abrir os olhos do povo de um vilarejo, que nada mais fazia para mudar a triste situação a não ser rezar. E é só rezar também o que faz o povo do sertão que segue o beato Sebastião. Chega a ser perturbador ver todas aquelas beatas cantando ave-marias naquele cenário de total miséria. Até lembrei daquela cena dos romeiros em CENTRAL DO BRASIL, onde um lugar que seria de adoração a Deus mais parece uma sucursal do inferno. Vendo aquilo ali dá até pra acreditar na morte como alívio.
O filme conta a história do vaqueiro Manuel (Geraldo Del Rey), que, depois de ter perdido suas poucas cabeças de gado, decide seguir desesperadamente os passos do beato Sebastião (Lidio Silva), levando consigo sua mulher Rosa (Yoná Magalhães). O beato, com seu discurso apocalíptico, estava arrebanhando muitos fiéis da Igreja, que logo tratou de arranjar um matador para dar cabo do velho. Chamam Antonio das Mortes (Maurício do Valle), conhecido como "matador de cangaceiro".
Acho essa primeira parte, da relação de Manuel com o beato, a mais arrastada do filme. Prefiro o segundo momento, quando Manuel se junta a Corisco (Othon Bastos), um dos poucos sobreviventes do bando de Lampião. Pelo menos garante o único momento divertido do filme: quando Corisco batiza Manuel de Satanás, sob o pretexto de que Manuel seria nome de vaqueiro. Não sei se o pobre do Manuel gostou de seu novo nome. Ah, posso dizer que também gostei da cena do beijo no final, ao som das Bachianas de Villa-Lobos. Destaque também para a seqüência brechtiana do diálogo/monólogo de Corisco relembrando a conversa que tivera com Lampião. Um cineasta clássico apelaria para o flashback; Glauber fez diferente.
Nos extras do DVD, tem depoimentos de várias personalidades envolvidas de alguma maneira com o filme. Interessante o depoimento de Orlando Senna, quando ele fala que a sessão de estréia nacional de DEUS E O DIABO NA TERRA DO SOL foi a mais emocionante de sua vida, com gente chorando e aplausos entusiasmados. O critico José Carlos Avellar, além de também dar seu depoimento, entrevista Othon Bastos e Yoná Magalhães, que contribuem para aumentar ainda mais a aura mítica em torno de Glauber. A mãe do cineasta conta que ele escrevia usando duas máquinas de escrever e costumava dizer que sua cabeça era como um vulcão em erupção, que ele precisava botar pra fora todas as idéias para não ficar louco. Achei interessante o que Avellar falou sobre o filme ser não só um produto da mente criativa de Glauber, mas também do próprio espírito da época, coisa que me passou pela cabeça quando vi TERRA EM TRANSE.
TERRA EM TRANSE
1967 é até hoje conhecido como o ano da psicodelia. O barroquismo do "Sgt. Pepper's" dos Beatles, o primeiro disco dos Doors, o "disco da banana" do Velvet Underground, o primeiro do Pink Floyd. Aqui no Brasil, começava o tropicalismo. Toda a agitação de TERRA EM TRANSE, auxiliada pelos rocks, pela percussão nervosa, pelo clima de contracultura, tudo é puro 1967. O filme é um dos melhores exemplos do que se pode chamar de "cinema-poesia" (em oposição ao "cinema-prosa"). O espírito do ano está presente em todo o filme, mas entra em maior sintonia com o rock e com o cinema europeu da época na cena em que o personagem de Jardel Filho se entrega aos prazeres dos sentidos, através de noitadas regadas a muito sexo e álcool. Fica claro que o personagem de Jardel é o alter-ego de Glauber: poeta atormentado, com muita vontade de mudar o rumo dos acontecimentos, com amargura pela falência das tentativas dos políticos.
TERRA EM TRANSE mistura tons exaltados de ópera com momentos mais intimistas. Naturalmente os tons operísticos acabam sendo predominantes. Como se fosse a melhor forma de Glauber botar pra fora toda sua ânsia em expor suas idéias, seus sentimentos, sua vontade. A gente sente no filme uma vontade de mudar o mundo, de revolucionar.
O elenco do filme é estelar: Jardel Filho, José Lewgoy, Paulo Autran, Glauce Rocha, Paulo Gracindo, Danuza Leão, Hugo Carvana. Só o elenco já dá uma noção do prestígio que Glauber tinha nessa época. E não é apenas o elenco que é estelar. Nomes de prestígio como Walter Lima Jr (assistente de direção), Luiz Carlos Barreto (diretor de fotografia), Eduardo Escorel (montador), Zelito Viana (produtor), Dib Lutfi (cameraman), abrilhantam a ficha técnica da obra. Dib Lutfi, inclusive, é louvado como o cara que precedeu a steadycam, graças à estabilidade no uso da câmera na mão.
De qualquer maneira, apesar de reconhecer todas essas qualidades, não pretendo ver outro filme do Glauber Rocha tão cedo. Até porque os outros filmes vão demorar um pouco para serem relançados. Se bem que vou pensar duas vezes se um dia tiver a chance de ver A IDADE DA TERRA (1980). Dizem que são três horas de muita loucura, que é o seu filme mais difícil.
Quem é de Fortaleza tem a chance de ver TERRA EM TRANSE até o final de julho, em sessões aos sábados pela manhã no Cine Benfica. O filme deve ser lançado em breve em DVD.
domingo, julho 03, 2005
TOPÁZIO (Topaz)
Dando continuidade à minha peregrinação pela obra do grande Alfred Hitchcock, eis que finalmente vejo TOPÁZIO (1969), filme considerado por muitos como seu pior trabalho realizado nos EUA. Fico feliz de só tê-lo visto agora, em DVD, e com mais conhecimento de seu contexto histórico. Imagino que se tivesse visto o filme no início de minha cinefilia, e naquela cópia em VHS da CIC, eu teria odiado. Pena que esse DVD - assim como o de MARNIE (1964) - está em tela cheia. Mesmo assim, a imagem está linda e o DVD tem mais extras do que muitos outros filmes melhores de Hitchcock.
É realmente um filme problemático. Não sei se foi uma boa idéia o diretor dirigir um outro thriller de espionagem, logo depois do fracasso de crítica de CORTINA RASGADA (1966) e dos problemas que ele teve com os astros Paul Newman e Julie Andrews. Esse problema com os atores pode ter repercutido na opção de não mais trabalhar com astros a partir de então. Os nomes mais conhecidos do elenco são do cinema francês: Michel Piccoli e Philippe Noiret, além da gracinha Claude Jade. Quem é fã dos filmes do ciclo Antoine Doinel, de François Truffaut, deve gostar dela tanto quanto eu. Claude Jade até hoje fica na minha cabeça como modelo ideal de mulher para se casar. Foi Doinel quem não soube aproveitar por ser tão mulherengo. Porém, Claude tem um papel bem pequeno no filme, quase insignificante.
A mulher que brilha mesmo em TOPÁZIO é a bondgirl Karin Dor, no papel da cubana Juanita de Cordoba. Karin é uma atriz alemã que trabalhou em vários filmes de terror na Europa, mas que ficou mais conhecida quando estrelou COM 007 SÓ SE VIVE DUAS VEZES (1967). E não deixa de ser uma ironia Hitchcock escolher uma bondgirl, logo ele que tanto criticava os filmes de James Bond. Confesso que me amarrei na moça, cheia de sex appeal. A melhor parte do filme é justamente quando o espião interpretado por Frederick Stafford vai a Cuba em busca de informações secretas sobre a crise dos mísseis no país. Com a Guerra Fria, o medo era de que a União Soviética apoiasse Fidel Castro e ele acabasse bombardeando os EUA. E por falar em Fidel Castro, Hitchcock mostra todos os soldados de Fidel barbados iguais a ele. Até fica parecendo um monte de clones de Castro.
Um dos problemas de TOPÁZIO é que o filme demora a conquistar o nosso interesse. O filme só fica melhor lá pelos seus quarenta minutos, a partir da cena em que Stafford vai em busca de uns papéis (sempre o mcguffin) que estão nas mãos dos soldados de Fidel. Hitchcock nos presenteia com seqüências inteiras sem diálogo, quase como um retorno à sua fase muda. Depois vem a seqüência de Cuba, muito boa, que dura quase uma hora de filme, mas depois disso, o filme vai ficando chato de novo, até o controvertido final. O final original mostraria Michel Picoli duelando com Stafford, utilizando armas de fogo. O público, nas exibições teste, não gostou nenhum pouco desse final e Hitchcock acabou mudando para um final bem tapa-buraco.
Independente disso, não deixou de ser um prazer pra mim ver pela primeira vez mais um filme de Hitchcock. E como todo filme do diretor, mesmo os tortos e irregulares, esse também tem seus momentos de genialidade. Como na cena da morte de Juanita, onde Hitch faz o vestido da moça parecer sangue derramado. Assim como fizera em outros de seus thrillers de espionagem - como CORRESPONDENTE ESTRANGEIRO (1940) e CORTINA RASGADA -, ele também acaba fazendo um filme sobre relacionamentos. TOPÁZIO é também um filme sobre infidelidade amorosa. E como o tema da culpa aparece nem que seja escondido em seus filmes, alguém tem que pagar caro nessa história toda.
O documentário de Laurent Bouzereau que vem no DVD tem cerca de trinta minutos. Dessa vez, Bouzereau optou por trazer uma análise do filme, feita pelo crítico Leonard Maltin. E devo dizer que ver esse documentário foi mais prazeiroso que ver o próprio filme do Hitch. O DVD também vem com os dois finais alternativos que foram cortados da edição oficial.
Próximo filme de Hitch que eu devo (re)ver: FRENESI (1972), o retorno à Inglaterra, com um filme sangrento.
sexta-feira, julho 01, 2005
GUERRA DOS MUNDOS (War of the Worlds)
Como Michael Moore falou em TIROS EM COLUMBINE, a paranóia já faz parte da cultura americana desde os tempos da colonização. Quando Orson Welles assustou o país inteiro com a lendária narração em rádio de "Guerra dos Mundos", adaptado da obra de H.G.Wells, no final dos anos 30, o país vivia sob a iminência de uma guerra de enormes proporções, a Segunda Guerra Mundial. Quando estrelou a primeira versão para o cinema de GUERRA DOS MUNDOS (1953), dirigida por Byron Haskin, a paranóia era em relação à Guerra Fria, o medo da bomba atômica. Agora, o medo é dos terroristas, nos EUA pós-11 de setembro. E essa versão de Steven Spielberg lembra tanto o dia da queda das torres gêmeas que, por um momento, eu imaginei que Spielberg seria o cineasta ideal para um dia realizar um filme sobre o fatídico dia.
Apesar da semelhança, de acordo com entrevista que li do roteirista David Koepp, sua intenção não foi atualizar a história para os EUA pós-11/09. Sua intenção era apenas criar personagens criveis e inserí-los na trama de destruição e terror. E terror é uma palavra chave em GUERRA DOS MUNDOS (2005). Spielberg voltou aos tempos de TUBARÃO (1975) e ENCURRALADO (1971) e nos presentou com altas doses de puro horror, num filme empolgante sobre alienígenas tomando de assalto o planeta e provocando destruição em massa. Se bem que Spielberg tinha me deixado aterrorizado também em várias seqüências de JURASSIC PARK (1993), um filme mais recente. Há, inclusive, uma cena de GUERRA DOS MUNDOS que se assemelha à seqüência do velocirraptor no filme dos dinos.
GUERRA DOS MUNDOS também é rico em trabalhar com os temas recorrentes da filmografia de Spielberg, que são a ausência do pai e a recusa ao amadurecimento. Tom Cruise é um pai meio irresponsável, que não sabe cuidar direito de seus dois filhos - Dakota Fanning (demais, essa menina!) e Justin Chatwin (que no começo do filme, eu achava que era irmão dele). Impressionante como o papel combinou com Tom Cruise, um sujeito que parece não envelhecer.
Ao contrário de filmes como JURASSIC PARK ou TUBARÃO, onde Spielberg custava a mostrar os bichões, nesse novo filme, o diretor não demora a mostrar os E.T.s. Quer dizer, inicialmente, o que vemos são os tripods, que se assemelham mais a tanques de guerra bizarros do que propriamente seres orgânicos. Mais na frente é que teremos mais amostras de aliens.
O filme é desses que deixam a gente com os olhos grudados na tela o tempo inteiro. Quase não há pausa para respirar. Ficamos, inclusive, desorientados com o tempo: por causa da manipulação do tempo que os aliens provocavam, em vários momentos não se sabe se é dia ou noite.
No blog do amigo Renato Doho, fã e especialista em Spielberg, ele enfatiza a questão do olhar em GUERRA DOS MUNDOS. Esse é um tema constante nos filmes de Spielberg, desde o segmento "Eyes" (1970) que ele dirigiu para a série de tv NIGHT GALLERY até MINORITY REPORT (2002). O momento mais simbólico desse "olhar" em GUERRA DOS MUNDOS é aquele em que Dakota se vê refletida no "rosto" de um dos alienígenas. O que me levou a pensar que Spielberg quis dizer que os americanos (ou a humanidade em geral) veriam a si mesmos se tivessem que confrontar os "monstros".