quarta-feira, julho 27, 2005
BOM DIA, NOITE (Buongiorno, Notte)
O cinema, além de proporcionar prazer estético - e eu diria que essa talvez seja sua principal função -, ainda pode funcionar como um meio de se aprender História. Mesmo quando não estamos falando de um filme didático.
Quando saí da sessão de BOM DIA, NOITE (2003), saí com a intenção de fazer uma pesquisa sobre Aldo Moro. Quem era, como morreu, quantos dias passou no cativeiro quando foi seqüestrado pelas Brigadas Vermelhas. (É triste ser ignorante.)
Resumo dos fatos: Aldo Moro era o presidente da Democracia Cristã, partido de centro-direita que governava a Itália desde o fim da Segunda Guerra. Em 1978, ele foi seqüestrado por um grupo de radicais de esquerda. Durante a manobra, morreram os cinco guarda-costas do político, que foi levado preso e ficou em cativeiro durante 55 dias, até ser assassinado. No grupo havia uma maulher, Laura Braghetti, que escreveu o livro "O Prisioneiro - 55 Dias com Aldo Moro". O filme foi inspirado nesse livro.
Um dos méritos do filme de Marco Bellocchio é que ele não tenta ser realista. Ele toma algumas liberdades poéticas que tornam o filme mais belo e rico. A adoção de Pink Floyd na trilha sonora é uma delas. Até eu, que não sou fã da banda, gostei do final, que mescla imagens de arquivo com o som de Pink Floyd.
A personagem de identificação maior com o público é a protagonista, Chiara (Maya Sansa), que é totalmente contra a execução de Aldo Moro (interpretado no filme por Roberto Herlitzka). Ela fica comovida com as cartas que ele manda para a família e passa a questionar os dogmas de seus companheiros.
Bellocchio traz momentos de grande impacto sempre que se utiliza de música religiosa. A primeira vez que isso ocorre é quando Chiara comemora o sucesso da operação de seu grupo, ao mesmo tempo que fica apreensiva.
BOM DIA NOITE está em sintonia com o atual cenário político brasileiro, quando está havendo um desencanto da sociedade diante da descoberta da desonestidade de um importante partido de esquerda. Uma das frases de impacto do filme vem de um dos seqüetradores e pode ter relação com o nosso momento: "Resolvi todos os problemas, parei de sonhar."
O título do filme foi inspirado no poema "Good Morning, Midnight", de Emily Dickinson.
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