sexta-feira, julho 22, 2005

OS INOCENTES (The Innocents)



Acho que devo ter uns dez filmes vistos e ainda não comentados aqui no blog. Vistos no cinema, falta eu falar de dois. E a fila só aumenta. Devo botar tudo em dia só lá pra agosto, que é quando eu vou recomeçar as aulas e terei menos tempo de ver filmes. Vamos ver o que sai então sobre OS INOCENTES (1961), clássico do cinema de horror de Jack Clayton.

A primeira vez que eu ouvi falar nesse filme foi com o rebuliço causado por OS OUTROS, de Alejandro Amenábar. Muitos diziam que o filme bebia na fonte desse filme dos anos 60. Logicamente, fiquei muito curioso para conferir. A chance de ver OS INOCENTES veio com a exibição na Rede Globo, numa madrugada dessas. Acabei de ver o filme e, além dos arrepios que senti, posso dizer que é ele dá muito o que pensar. Principalmente por causa do final. Fiquei sem entender direito o que aconteceu com o garoto.

O filme é baseado numa novela de Henry James, chamada "The Turn Of The Screw". (Não sabia que James também escrevia estórias de horror.) A trama do filme é bem simples: uma mulher (Deborah Kerr) é chamada para ser governanta de uma mansão onde vivem apenas dois órfãos - um menino e uma menina - e os criados. O parente mais próximo das crianças é o tio, que diz não se sentir capaz de cuidar delas. Ao chegar lá, a mulher fica encantada com as crianças. Mas logo esse encanto vai sendo perturbado por visões de um homem e de uma mulher que aparecem para ela em diversos momentos do dia e da noite. Inclusive, pelo fato de o filme ser em preto e branco, eu mesmo ficava olhando para as janelas e imaginando coisas surgindo no meio das trevas.

Mas até aí, o filme parece uma estória de fantasmas como outra qualquer. O que torna OS INOCENTES um diferencial diante da maior parte desses exemplares é que o filme tenta fugir dos clichês. Por exemplo, na primeira vez que aparece o rosto do primeiro fantasma, o diretor não apela para alguma música que possa trazer susto fácil. Não se trata de sustos. O que se sente vendo o filme são arrepios mesmo. Outra coisa: o filme nunca nos dá a certeza de que os fantasmas estão mesmo assombrando a casa e tentando possuir as crianças. Tudo pode muito bem ser fruto da imaginação da personagem de Deborah Kerr. O que de certa forma até ajuda a explicar o porquê de ela ter "entendido" tão rapidamente o que os fantasmas pretendiam, entre outras coisas. Essa ambiguidade torna o filme muito mais rico e ainda mais assustador.

O filme também tem a ousadia de mostrar cenas de sexualidade envolvendo crianças, coisa que talvez não teria acontecido se o filme tivesse sido feito nos EUA. Um dos roteiristas do filme é o escritor Truman Capote. A fotografia é de Freddie Francis, que chegou a dirigir alguns filmes de terror para a Hammer, mas que é mais famoso pelo belo trabalho de direção de fotografia em filmes como O HOMEM ELEFANTE e DUNA, ambos de David Lynch, e CABO DO MEDO, de Martin Scorsese.

Para terminar, o arrepiante poema proferido pelo menino, que tenho certeza provocaria muito mais medo se visto no cinema e com áudio original:

"What shall I sing to my lord from my window?
What shall I sing, for my lord will not stay?
What shall I sing, for my lord will not listen?
Where shall I go, for my lord is away?
Who shall I love when the moon is arisen?
Gone is my lord, and the grave is his prison.
What shall I say when my lord comes a calling?
What shall I say when he knocks on my door?
What shall I say when his feet enter softly,
leaving the marks of his grave on my floor?
Enter my lord, come from your prison.
Come from your grave, for the moon has arisen!"