sábado, janeiro 31, 2009

FOI APENAS UM SONHO (Revolutionary Road)



Sam Mendes, depois de ter estreado com o pé direito no cinema, ganhando Oscar de melhor filme e tudo mais com BELEZA AMERICANA (1999), volta a abordar o tema da falência da instituição familiar, do american way of life. E desta vez, com FOI APENAS UM SONHO (2008), Mendes vai na raiz, os anos 50, momentos antes de a instituição ser ameaçada pela contracultura, uma época em que só os artistas de vanguarda tratavam com acidez de algo considerado sagrado pelos americanos. Até então, o que havia era uma espécie de obrigação de ser feliz. Ter um emprego, constituir uma família e morar numa daquelas casas bonitas de subúrbio, com um jardim na frente era algo fundamental e desejado pela maioria das pessoas. Não se podia fugir das regras da sociedade e nem achar que a vida era vazia. Quem passava por isso não estava bem da cabeça. Que o diga o personagem mais lúcido do filme, que foi internado num hospício e submetido a várias sessões de eletrochoque. O personagem, vivido por Michael Shannon, que já havia dado uma de doido em POSSUÍDOS, de William Friedkin, das poucas vezes em que aparece, rouba a cena. Ele é o único inteligente o suficiente para entender os motivos de o casal ser tentado a mudar de vida, de fugir da mesmice do cotidiano a fim de evitar a completa dissolução do casamento em crise e "sentir-se vivo", para usar uma expressão recorrente da personagem de Kate Winslet.

Sam Mendes apenas nos oferece um pequeno momento de alegria, que acontece no comecinho do filme, quando vemos o início do relacionamento entre Frank e April, vividos por Leonardo DiCaprio e Kate Winslet, juntos novamente nas telas, onze anos depois do retumbante sucesso de TITANIC. O casal de protagonistas não deixa de ser um chamariz para a platéia. Muita gente vai ver o filme por causa dos dois, mas pode quebrar a cara com um filme adulto e que não dá trégua para o espectador no quesito "infelicidade". FOI APENAS UM SONHO tem diálogos tão bem lapidados que até parece um filme baseado numa peça de teatro, quando na verdade é a adaptação do livro homônimo de Richard Yates que só foi lançado no Brasil recentemente, na esteira do filme.

Na trama, Kate Winslet, abalada pelo fracasso de seu sonho de ser atriz e cansada da vida de dona de casa e de ver que o marido também não está exatamente satisfeito com o emprego, tem a idéia de ambos irem para Paris, cidade que ele esteve na época em que serviu na Segunda Grande Guerra e ficou maravilhado. Ela vê a fuga para Paris, então, como uma última tentativa de o casal finalmente encontrar a tão sonhada felicidade. April, como mulher à frente de seu tempo, não via problemas em trabalhar enquanto o marido ficava em casa, pensando no que ele realmente queria fazer da vida. Frank compensa o seu vazio existencial e inconformismo profissional com a bebida e com um sexo casual com uma das empregadas da firma. Inclusive, um dos momentos mais tocantes do filme é quando, no dia de seu aniversário, ele chega em casa, depois de ter passado o dia bebendo e fazendo sexo com a secretária, é recebido com um "parabéns para você" e um bolo de aniversário da mulher e seus dois filhos pequenos.

Interessante notar que os filhos dificilmente aparecem no filme. Nunca estão quando o casal está discutindo e só aparecem mesmo em momentos fundamentais. Como se Mendes se sentisse obrigado a poupar as crianças de possíveis traumas resultantes das brigas dos pais. Teve gente que achou que foi até covardia do cineasta e do roteirista. Mas eu, sinceramente, não me importei com isso e até achei que foi uma solução até interessante. Outra coisa interessante de se notar é que no filme quem mais tem interesse em discutir a relação é o homem e não a mulher, como geralmente acontece. Mas uma coisa não mudou com a realidade atual: o fato de a mulher preferir não saber dos relacionamentos do marido com outras mulheres do que ouvi-lo contando a verdade.

O final triste já é bem esperado, até pelo próprio título brasileiro, que mais uma vez é infeliz. Ainda assim, não esperava que fosse tão intenso, ainda que haja um certo distanciamento entre espectador e personagens. O que não quer dizer que alguém não possa se identificar com algum dos personagens. Principalmente se for um casal que não tenha outras coisas com o que se preocupar, como não deixar faltar comida em casa e pagar as contas em dia. Ter uma crise existencial e profissional é um luxo que poucos podem ter. Mas se você percebe que algo está errado e sente necessidade de mudar, talvez essa seja a chance. A angústia às vezes é amiga. Eu, de certa forma, me identifiquei com o personagem de DiCaprio, já que tive alguns planos frustrados e acabei ficando no mesmo emprego porque uma coisa ou outra não deu certo. E até hoje estou esperando a hora certa para mudar de rumo.

FOI APENAS UM SONHO recebeu apenas três indicações ao Oscar: ator coadjuvante (Michael Shannon), direção de arte e figurino. Até a indicação de Kate Winslet foi frustrada pelos produtores, já que ela foi indicada, mas por outro filme: O LEITOR, de Stephen Daldry, que deve estrear na próxima semana, junto com outro filme oscarizável - DÚVIDA, de John Patrick Shanley. Quer dizer, quatro dos cinco indicados a melhor filme ainda não estrearam no circuito comercial.

quinta-feira, janeiro 29, 2009

DOWNHILL























1927 foi o ano mais produtivo de Alfred Hitchcock. Pelo menos em quantidade de filmes, já que ele concluiu simplesmente quatro filmes apenas nesse ano. Depois de O INQUILINO SINISTRO (1926), o primeiro filme verdadeiramente "de Hitchcock", o mestre do suspense voltou a trabalhar novamente com o mesmo astro do trabalho anterior: Ivor Novello. Se DOWNHILL (1927) não tem o mesmo vigor narrativo de sua obra de estreia (THE PLEASURE GARDEN, 1925), compará-lo com O INQUILINO SINISTRO, então, é até covardia.

Se bem que é possível ver em DOWNHILL muito da sofisticação visual do anterior, além de uma tentativa de utilizar o mínimo de intertítulos possível para contar a história de um jovem estudante que é expulso de um colégio classe A, acusado de um furto que não cometeu. Olha aí o velho tema do homem inocente acusado de um crime, tema-chave de boa parte dos trabalhos de Hitchcock. Mas, ao contrário do que possa parecer, DOWNHILL não é um suspense, mas um drama sobre um rapaz que chega ao fundo do poço por motivos nobres, por generosidade e lealdade. A figura de alguém inocente vivendo num mundo perverso já se fazia presente em THE PLEASURE GARDEN. Talvez Hitchcock, ele mesmo bastante ingênuo, gostasse desses personagens inocentes, como um espelho de si mesmo. Depois é que o cineasta nos faria cúmplices de ladrões e assassinos, quando deixou aflorar o seu lado mais sombrio.

DOWNHILL sofre inicialmente de uma narrativa confusa, além de pouco animadora. O que acaba saltando aos olhos sãos os efeitos visuais sofisticados, como a sobreposição de imagens, que em alguns momentos me fez lembrar LIMITE, de Mário Peixoto. Há uma cena, em especial, que me chamou bastante a atenção: acontece quando, numa boate em Paris, uma mulher de idade mais avançada que o rapaz tenta seduzi-lo. Essa mulher, de alguma maneira, me causou certo medo. Senti-me um pouco num filme de David Lynch. Tinha algo de estranho no rosto dessa mulher e a cena ganha uma atmosfera de pesadelo, que se fosse sentida durante todo o filme, DOWNHILL seria uma obra-prima. Infelizmente o filme é um desses dramas carregados nas tintas sobre sofrimento e redenção, tão quadrado que, mesmo tendo curta duração, fica parecendo um cansativo filme de três horas.

quarta-feira, janeiro 28, 2009

FATAL (Elegy)






















Isabel Coixet, em seu terceiro longa-metragem lançado comercialmente no Brasil, mostra-se uma cineasta dedicada em tratar mais uma vez da reflexão da vida frente à morte. Em MINHA VIDA SEM MIM (2003), ela já havia se utilizado do melodrama assumido, sem medo de ser (in)feliz. Desta vez, com FATAL (2008), Coixet nos fornece uma trama que trafega por caminhos inesperados, ao contar a história de um professor de faculdade sexagenário (Ben Kingsley) que se apaixona por uma garota na casa dos vinte anos (Penélope Cruz).

O filme trata com sensibilidade do relacionamento desse senhor divorciado e que tem problemas em se relacionar com o filho, que o culpa pela destruição do lar, de tê-lo abandonado. Há também a simpática figura do amigo poeta, vivido por Dennis Hopper. Logo ele, que tem um passado nada familiar, é escolhido como o personagem que serve de conselheiro para o amigo. Uma das melhores falas do filme vem dele, que diz que as mulheres bonitas são invisíveis. "Como assim, invisíveis, se as pessoas só olham para elas?", pergunta o amigo. Elas são invisíveis pois nós não sabemos quem de fato elas são; só olhamos para o exterior, belo e atraente, teoriza o poeta.

E se eu não sou exatamente fã da beleza de Penélope Cruz, o mesmo não se aplica aos seus belos seios, que estão entre os mais bonitos do cinema na atualidade. (Talvez Tom Cruise tenha ficado com ela alguns anos só para usufruir deles.) Ao iniciar o relacionamento que dura bem mais do que esperava, o professor se debruça pelo belo par de mamas e os adora, segundo suas próprias palavras. A narração, ora espirituosa, ora ácida e triste, do protagonista vai nos aproximando dele e fazendo com que nos identifiquemos com seus sentimentos, com a ansiedade de ligar para a garota por quem está apaixonado, com o fato de estar inseguro diante de tão avassaladora paixão, do medo de perdê-la e do mais que natural ciúme. Seu porto-seguro está em uma mulher na casa dos quarenta (Patricia Clarkson), com quem mantém um longo relacionamento puramente baseado no sexo, sem muita conversa. Ela, no passado, também foi uma de suas alunas.

FATAL, cujo título original faz mais jus ao filme e não engana o espectador, foi me conquistando aos poucos. No começo, apenas entendía meio que racionalmente os sentimentos do personagem de Kingsley. E assim como ele, desconfiava da personagem de Penélope, de suas reais intenções. Aos poucos, fui criando um elo com o protagonista, a ponto de ficar perdido com ele na multidão, sem saber o que fazer da vida. E quando a gente pensa que o filme está se encaminhando para um final mais ou menos previsível, a diretora nos leva para um caminho ainda mais doloroso, assumindo de vez o melodrama. Até então, o filme mais parecia um estudo psicológico do personagem e de seu drama diante de ter um relacionamento que não teria um longo futuro pela frente. Mas ao trazer a cartada final, e junto com ela, as lágrimas, Isabel Coixet mais uma vez me deixou no chão. Preciso ver A VIDA SECRETA DAS PALAVRAS (2005) e os trabalhos espanhóis da diretora, aparentemente todos passionais.

terça-feira, janeiro 27, 2009

AUSTRÁLIA (Australia)























O "quero ser E O VENTO LEVOU" da vez, AUSTRÁLIA (2008), de Baz Luhrmann, é provavelmente o grande fracasso do ano, levando em consideração as pretensões do cineasta em construir um grande épico, emulando as produções da era de ouro de Hollywood, inclusive no uso da fotografia, que carrega nas cores fortes para lembrar o technicolor dos anos 30. Se foi um fracasso, nada mais merecido, afinal, o filme de Luhrmann é uma sucessão de clichês bobos emoldurados em um visual bonito para enganar parte do público. Se o diretor obteve sucesso com seu extravagante musical MOULIN ROUGE (2001) foi porque o filme tinha uma estrutura caricata e operística que condizia com o estilo do diretor. Em AUSTRÁLIA, no entanto, percebe-se o quanto o cineasta é deficiente em suas habilidades narrativas. E esse problema é notado logo no início do filme, narrado do começo ao fim pelo garotinho mestiço, filho de um branco com uma nativa aborígene e que tem em seu avô feiticeiro sua principal referência, já que ele também se considera capaz de fazer coisas mágicas.

Uma pena que um filme com tanto conteúdo novo e importante, como a questão da geração perdida (os "cafés-com-leite", filhos de brancos com aborígenes) e do ponto de vista australiano da batalha no pacífico na Segunda Grande Guerra, tenha sido tão mal construído, chegando a ser constrangedor, ainda mais à medida que se aproxima do final. Se AUSTRÁLIA possui algumas qualidades, como a de conseguir imitar o visual de filmes como o principal homenageado - O MÁGICO DE OZ - e de trazer algumas tomadas aéreas até interessantes, nada consegue salvar o espectador do vexame e do aborrecimento que é ver essa produção. Nem Hugh Jackman, que em certos momentos lembra o jovem Clint Eastwood, nem Nicole Kidman, que anda precisando tomar uma banho de sal grosso, dado os vários equívocos em sua carreira, conseguem elevar a qualidade do filme. Quanto à Nicole, acredito que o último trabalho digno dela tenha sido REENCARNAÇÃO, de Jonathan Glazer.

AUSTRÁLIA trata de um dos momentos mais dramáticos da História do país, que aconteceu quando os Estados Unidos decretaram guerra ao Japão. E todo o Pacífico, inclusive a enorme Austrália, se tornou cenário de guerra e destruição. Pouco antes desse ataque, em 1939, a inglesa Sarah Ashley decide impulsivamente sair de seu país natal para trazer de volta o marido. Assim, ela pega um vôo para a Austrália, conhece um capataz (foi essa a tradução que deram para o personagem de Jackman, e é assim que o veremos ser tratado até o final do filme) que a leva até o local onde estaria o seu marido, para, ao chegar lá, descobrir que ele havia sido assassinado. Através de Nullah, o garotinho nativo e esperto, ela descobre que sua propriedade está à beira da ruína, graças à má fé - para usar de eufemismo - de um rico proprietário local, principal rival de seu marido e provável mandante de sua morte. Junto com o capataz, Lady Ashley tentará reverter a difícil situação.

O filme guarda uma semelhança tremenda e proposital com E O VENTO LEVOU, tanto na caracterização de Nicole Kidman, uma espécie de nova Scarlett O’Hara, quanto no jeitão cheio de confiança de Hugh Jackman, o novo Rhett Butler. Mas isso nem chega a incomodar: o que mais incomoda são as referências a O MÁGICO DE OZ e à canção "Over the Rainbow", que teima em ficar tocando durante boa parte do filme e em variações das notas da trilha sonora. Até parece que os produtores fazem isso de propósito, só para irritar o público, pois se a intenção é emocionar, eu diria que esses caras são completamente "sem-noção".

segunda-feira, janeiro 26, 2009

ALANIS MORISSETTE NO SIARÁ HALL - 24 DE JANEIRO DE 2009






















O blog está bem musical este mês. Depois de escrever sobre o DVD do show dos Los Hermanos e de relatar um pouco sobre o show dos Titãs no Parque do Cocó, chega a vez de falar sobre minha experiência na noite em que Alanis Morissette esteve em Fortaleza para dar continuidade à sua turnê pelo Brasil. Depois de ter passado por Manaus e Brasília, e de ainda ir para Recife, Salvador, São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte para encerrar em Florianópolis, no dia 7 de fevereiro, Alanis fez a alegria do público fortalezense, não muito acostumado a receber shows internacionais que não sejam de artistas decadentes. Foi uma surpresa e tanto a passagem da cantora por essas terras. Tudo bem que ela não está mais no auge, que aconteceu na segunda metade da década de 90, mas a cantora continua em forma e fazendo seus álbuns com regularidade, ainda que as vendagens nem se comparem a de JAGGED LITTLE PILL (1995), que continua sendo o disco mais popular e o mais presente nas coleções de discos de qualquer pessoa que gostasse de rock nos anos 90. Eu fui um dos contaminados pelo hype e pelo poder desse disco, que já se tornou um clássico. Depois, deixei de acompanhar a carreira dela, os discos seguintes. Mas é quando acontece shows como esse que bate o arrependimento. Claro que nunca é tarde para ir atrás dos discos anteriores, mas não é o mesmo do que ouvir o disco vivendo o espírito da época. E Alanis estava tão ligada ao espírito da época que a sonoridade de JAGGED LITTLE PILL era até um pouco grunge.

O show aconteceu no Siará Hall, talvez a melhor casa de espetáculos da cidade atualmente, tanto pela acústica quanto pelo luxo e conforto. O problema é que esse conforto não se restringe a todo a área da casa. Por isso, como comprei ingresso para pista, por ser mais barato, vi que seria muito melhor se tivesse comprado, apesar do dobro do preço, para o front stage, onde as pessoas ficam mais próximas do palco e podem ver com mais tranqüilidade o show. Em vez disso, fiquei no meio da massa que se espremia para chegar o mais perto possível das grades que separam o público privilegiado da "classe executiva". E se o show já não era do tipo dançante, espremido no meio do povo e sem poder mexer as pernas é que não dava pra dançar mesmo. Senti falta de um telão, também. Mas, desconfortos à parte, valeu a pena.

Na canção de abertura da noite, "Uninvited", ela começa cantando fora do campo de visão do palco. O público vibrou no momento em que ela finalmente apareceu, pulando, dando rodopios e sacudindo sua bela cabeleira nos momentos em que a guitarra se fazia mais presente e mais potente. Pode-se dizer que mesmo nas faixas menos conhecidas, boa parte delas do último álbum de estúdio, FLAVORS OF ENTANGLEMENT (2008), o show agradou o público, que parecia querer mais. E foi a partir da sonoridade desse novo álbum que Alanis reconstruiu alguns de seus clássicos, modificando os acordes de algumas das canções. Apesar de achar graciosa a canção "Thank U", que fechou o show com ar melancólico, para mim, o momento mais belo da noite foi ouvir "Head over feet" com o coro do público. Até mais bonito do que a canção-desabafo "You oughta know", que eu esperava que fosse algo mais catártico do que foi. Ainda assim, foi um dos grandes momentos da noite, como em geral foi cada vez que ela cantava algo do JAGGED LITTLE PILL. Inclusive, até acho que se ela cantasse umas três seguidas desse álbum, o show teria um ritmo menos irregular.

Algumas faixas do novo álbum são um pouco monótonas, mas isso é impressão de quem não ouviu o disco direito. Também esperava que ela cantasse a cover de "Crazy", do Seal, mas talvez centrar o show apenas no próprio repertório tenha sido a decisão mais acertada. Meu sonho era poder ouví-la cantando à capela "Your house", a faixa escondida do álbum mais famoso dela. Seria algo de arrepiar. Mas talvez seja uma canção íntima demais para um show.

Nos aspectos técnicos, a qualidade do som estava de dar gosto. Cristalino, dando para ouvir todos os instrumentos em separado. Nunca vi uma qualidade de som tão boa num show. Não sei se por ser um show internacional ou se a acústica do Siará Hall contribuiu para isso. O que me deu foi mais vontade de ir para outros shows internacionais e sei que, para ver os melhores, preciso fazer umas viagenzinhas para São Paulo de vez em quando.

Agradecimentos aos amigos que me acompanharam no show: Alex e Ebenézer.


sexta-feira, janeiro 23, 2009

24 HORAS DE SEXO EXPLÍCITO / 24 HORAS DE SEXO ARDENTE
























E vai chegando ao fim a minha peregrinação pela obra de José Mojica Marins. Infelizmente, depois de O DESPERTAR DA BESTA (1969/1983), Mojica não lançou mais nada à altura do que realizou nos anos 60. Ver os filmes que ele realizou nos 70 foi uma baita decepção. E olha que eu não cheguei a ver tudo, mas vi os principais. Dessa safra, o que mais gostei foi EXORCISMO NEGRO (1974), mas ainda assim é um filme que vai perdendo a força e o interesse do meio para o fim. O fundo do poço foi atingido com coisas como A ESTRANHA HOSPEDARIA DOS PRAZERES (1976) e, principalmente, DELÍRIOS DE UM ANORMAL (1978). Com o suspense-erótico ESTUPRO (1979), Mojica passou a trilhar um caminho que parecia inevitável: o de se submeter ao mercado lucrativo e barato dos filmes de sexo explícito produzidos na Boca do Lixo. E se nos anos 70, as coisas não estavam nada bem para ele, nos 80, então, a tendência foi piorar. O que o salvou de passar fome foram mesmo os filmes pornôs, que eram sucesso de bilheteria na época. Principalmente porque o videocassete ainda não havia se tornado um ítem tão popular nos lares. E é exatamente por isso que esses filmes pornôs dos anos 80 ainda investiam num fiapo de trama e no bom humor. No caso de 24 HORAS DE SEXO EXPLÍCITO (1985), segunda incursão de Mojica na pornografia - a primeira havia sido A 5ª DIMENSÃO DO SEXO (1984) -, humor havia de sobra.

E é justamente por causa desse humor que o filme ganha pontos. Uma das melhores piadas do filme está na cena dos dois astros de filmes pornôs que decidem fazer uma maratona de 24 horas de sexo initerrupto para saber quem é o "rei do sexo". Conversando na praia, sobre as mulheres que conseguiram arranjar para a tal maratona, um deles comenta: "onde é que você arrumou esse bagulhos? Parecem figurantes do Zé do Caixão!". E o humor grotesco toma conta do filme e faz com que as cenas de sexo se tornem menos importantes e até dignas de um fast forward do controle remoto de vez em quando, já que o filme tem poucos momentos realmente excitantes. É um filme que envelheceu. E a cópia ripada do VHS que rola pela internet também não ajuda muito. Tem momentos em que não vemos nada na tela, especialmente nas cenas exteriores, na praia, onde a fotografia parece estar estourada. 24 HORAS DE SEXO EXPLÍCITO é também famoso pelas mulheres feias. Tanto que, conversando com Mário Lima, o produtor do filme, Mojica chegou à conclusão de que o filme teria que ter um outro atrativo para chamar a atenção da audiência. Daí surgiu a idéia de colocar uma cena de sexo de uma mulher com um cachorro. E realmente a cena foi um sucesso. Mojica não apenas foi pioneiro do gênero "sexo com animais", que assolou o cinema pornô brasileiro nos anos 80 e se tornou ítem de exportação, como lotou uma grande sala de cinema de São Paulo, o Cine Marabá, que ficou com o filme em cartaz durante 20 semanas! Quem se deu bem com isso foi Mário Lima, já que Mojica só ganhou o seu salário de diretor e mais nada.

A cena de sexo com o pastor alemão não chega a ser explícita, até por imposição da performer, que aceitaria fazer a cena contanto que não houvesse penetração. E de fato o filme não mostra nenhuma cena de penetração do animal com a mulher, mas o cão parecia tão entusiasmado (inclusive, com direito a umas lambidas bem voluptuosas), que a cena ganhou realismo e se tornou o grande destaque do filme. Inclusive, por se utilizar mais uma vez do humor, quando o namorado da mulher a pega no flagra, dando para o cachorro, e tem um acesso de ciúme. No livro "Maldito - A Vida e o Cinema de José Mojica Marins, o Zé-do-Caixão", conta-se que o cachorro, que ficou famoso depois desse trabalho e passou a ser convidado para outros filmes de zoofilia, morreu envenenado. E isso pode ter sido obra do próprio dono, que resolveu matar o animal depois que o bicho começou a querer pegar a sua mulher por trás enquanto ela tomava banho. Depois do sucesso estrondoso do filme nos cinemas (e posteriormente nas locadoras), Mojica dirigiu uma continuação: 48 HORAS DE SEXO ALUCINANTE (1987), onde o cineasta aparece como ele mesmo, utilizando mais uma vez do recurso da metalinguagem, como já havia feito antes com O DESPERTAR DA BESTA, EXORCISMO NEGRO e DELÍRIOS DE UM ANORMAL. 48 HORAS... deve ser bem melhor. Até por ser uma super-produção nacional do gênero. Pena que é difícil de encontrar na internet.

quarta-feira, janeiro 21, 2009

NA MIRA DO CHEFE (In Bruges)
























Uma das surpresas do ano passado, NA MIRA DO CHEFE (2008) é apenas o segundo trabalho de Martin McDonagh. O primeiro foi o premiado curta-metragem SIX SHOOTER (2004), que chegou a ganhar o Oscar de melhor curta, mas como acontece com esses mini-filmes, eles costumam ser esquecidos ou ignorados. Geralmente classificado como comédia, NA MIRA DO CHEFE traz uma estranha melancolia auxiliada pela trilha sonora que segue em direção oposta às trapalhadas dos dois assassinos que passam uns dias em Bruges (uma pouco conhecida cidade turística da Bélgica) depois de terem executado um serviço. A princípio, o filme não fornece ao espectador detalhes do que ocorreu e o que tanto incomoda o personagem de Colin Farrell (que ganhou o Globo de Ouro pelo papel). Ele é o mais jovem da dupla de assassinos. Seu parceiro, interpretado por Brendan Gleeson, até que curte essas "férias" em Bruges, já que gosta de História e Artes, enquanto seu amigo acha tudo aquilo um saco, preferindo sair para beber e conhecer mulheres. Mas como eles estão lá esperando uma ligação do chefe (Ralph Fiennes) para uma possível missão confidencial, eles não podem se dar ao luxo de saírem do quarto de hotel à noite.

Colin Farrell repete um pouco o personagem com crise de consciência de O SONHO DE CASSANDRA, mas, despido dos cacoetes de ser um alter-ego de Woody Allen, aprimora o seu tipo, ainda que suas expressões faciais não sejam muito diferentes da apresentada no thriller de Allen. Ambos os filmes possuem uma aura trágica, mas há em NA MIRA DO CHEFE um humor misto, que vai do pastelão e politicamente incorreto - como na cena envolvendo o personagem de Farrell e uma família de americanos obesos – ao mais sutil, como nas cenas em que os dois assassinos estão conversando sobre cultura. E o clima da cidade acaba por fazer com que os dois assassinos reflitam sobre a vida, sobre a morte e até sobre a arte. A originalidade de NA MIRA DO CHEFE está também nas cenas de ação, que tingem o filme de vermelho.

A cidade de Bruges é um espetáculo à parte, sendo uma espécie de personagem, sempre presente, seja na arquitetura de igrejas e museus, seja nos belos canais que a enfeitam e dão a ela um ar veneziano, seja nas ruas e nos parques. E é num desses parques arborizados que acontece um dos momentos cruciais desse belo filme que surpreende não apenas pela sua qualidade, mas pela mistura de gêneros que acabou por deixá-lo no limbo das distribuidoras. Geralmente filmes sobre assassinos profissionais não são chamariz para o público dessas sessões "de arte", mais acostumados a dramas franceses, por exemplo. Pra completar, o filme é suficientemente estranho para fazer sucesso no circuitão. Sorte dos poucos que se permitirem conferir esse ótimo trabalho de um cineasta que já deixou sua marca. Aguardemos o próximo trabalho de McDonagh.

terça-feira, janeiro 20, 2009

TITÃS NO PARQUE DO COCÓ - 17 DE JANEIRO DE 2009






















Nem estava muito animado para ir a esse show, mesmo sendo gratuito, já que pra mim, Titãs é banda decadente, ainda que tenha sido importante na minha vida e tal. Mas como minhas saídas aos sábados à noite têm sido cada vez menos constantes, resolvi variar um pouco e encarar o Titãs aleijado de três integrantes e sem disco de inéditas desde 2003, quando lançaram o fraco COMO ESTÃO VOCÊS?, o primeiro sem Nando Reis e com a atual formação deficitária. O fato é que Nando Reis estava mesmo com um estilo cada vez mais distanciado do restante da banda e até que ele demorou um bocado para deixar os colegas. Entre os integrantes remanescentes, os Titãs ainda se beneficiam do carisma de Paulo Miklos, da excelente performance na bateria de Charles Gavin (muito legal o solo de bateria de "Cabeça Dinossauro") e do talento de Sérgio Britto. Quanto a Branco Mello, nunca gostei muito dele e raramente ele canta uma faixa que me agrada, já que eles insistem em colocar a chatinha "Flores" no set list e Branco acabou pegando algumas faixas monótonas anteriormente cantadas pelo Arnaldo Antunes, como "Comida" e "O Pulso".

Acredito que a banda esteja em turnê pelo país para ajudar a divulgar o lançamento do documentário TITÃS - A VIDA ATÉ PARECE UMA FESTA, que entrou em cartaz em São Paulo e outras cidades no último dia 16, mas ainda não aportou em Fortaleza. Deve chegar em breve. E o documentário deve ser bacana, já que flagra a banda em momentos especiais, momentos em que os Titãs eram a grande banda de contestação do Brasil, além de outros de despedida e de dificuldades. Apesar de a banda ter uma carreira e uma discografia irregulares, não há como negar a importância de um disco como CABEÇA DINOSSAURO (1986), uma pedrada em tudo quanto é instituição: da igreja à família, da polícia ao governo. E é desse disco que surgem os melhores momentos do show, quando Sérgio Britto anima com "Polícia" e "AA UU" ou quando Miklos ataca com "Bichos Escrotos", além da já citada faixa-título.

Como já deve ter se tornado rotina para a banda, o show começa com a ótima "Diversão", uma das canções que melhor refletem a busca para se preencher o vazio existencial, através do sexo e do álcool. A canção ainda tem a sua força e continua empolgando e resistindo aos anos. E por falar em rock-porrada, acho que muita gente que estava lá não estava preparada para a parede sonora de guitarras que deixou todo mundo surdo ao fim do espetáculo - eu ainda acordei no domingo com o ouvindo zunindo. E mesmo gostando dos Titãs mais rock do que em suas versões acústicas, acredito que algumas canções, como "Epitáfio", por exemplo, seriam bem melhor aproveitadas sem a intervenção constante da guitarra pesada de Toni Belotto. A banda bem que podia ter amaciado o som e deixado a canção de Sérgio Britto fluir do jeito que era originalmente, com ênfase no teclado. Outra bola fora foi a versão de "O Portão", de Roberto e Erasmo, que ficou bem ruim na versão deles. Uma das covers mais "nada a ver" que eles já fizeram. Outra cover que não gostei foi de "Lourinha Bombril", dos Paralamas, canção que nunca me disse nada. Como, aliás, a maior parte do repertório dos Paralamas. Pra quase equilibrar um pouco a balança teve a cover de "Aluga-se", de Raul Seixas, que sempre anima.

Senti falta de faixas do TITANOMAQUIA (1993), o disco grunge dos Titãs, que parece que tem sido rejeitado pela própria banda. Talvez tanto quanto o maldito TUDO AO MESMO TEMPO AGORA (1991). Depois de terem dado tanta porrada, poderiam ter aproveitado o bis com faixas mais hardcore como "Será que é Isso o que Eu Necessito?" e "Nem Sempre se Pode ser Deus". Em vez disso resolveram encerrar com a cover de "É preciso saber viver", de Roberto e Erasmo, herança do início da fase careta da banda, com o ACÚSTICO MTV (1997). Mas o pior de tudo foi ter que aguentar uma bandinha sub-Jota Quest que abriu para os Titãs e que acabaram tocando mais tempo que a banda principal. A banda, uma tal de Soul Pop, só tocava as canções mais manjadas e conhecidas do mundo pop. Pura apelação para agradar as massas. Pra completar, eles ainda tocaram uma composição própria que era triste de tão ruim. E ficavam perguntando: "quem quer ouvir Titãs aí?" Ora, bolas!, se o povo está ali é porque quer ouvir, não?? E falando em discurso, não deixa de ser divertido o Paulo Miklos perguntando entusiasmadamente se o público estava pronto para muito rock and roll, se queria botar o lugar abaixo e tal, para, depois de vários "sim", soltar com ar brincalhão: "puxa, vocês estão punk hoje, hein?". Ficou parecendo o Silvio Santos. :)

Agradeço a companhia dos amigos Santiago, Ebenézer e Ariza. E a Natércia, que foi com quem originalmente eu tinha combinado de ir, e, por motivos de força maior, acabou não podendo comparecer ao show. Ah, e como não levei a máquina fotográfica, pesquei essa foto da internet mesmo. :(

segunda-feira, janeiro 19, 2009

O CURIOSO CASO DE BENJAMIN BUTTON (The Curious Case of Benjamin Button)























O trailer de O CURIOSO CASO DE BENJAMIN BUTTON (2008) foi um dos mais empolgantes que eu vi nos últimos anos. E sabia que existia o risco de eu me decepcionar, tanto pelas comparações que andam fazendo com FORREST GUMP (o roteirista, Eric Roth, é o mesmo do filme de Robert Zemeckis), quanto pelo fato de eu não ser exatamente fã da obra de David Fincher e de ter dormido no elogiado trabalho anterior dele, ZODÍACO (2007). E eis que, surpreendentemente, me deparo com um filme poético, emocionante (desses de levar o público às lágrimas mesmo) e que faz uma bela reflexão sobre a vida, a morte, o envelhecimento e a natureza efêmera dos momentos felizes.

Em O QUARTO DO PÂNICO, David Fincher já vinha trabalhando discretamente com o recurso da câmera virtual - lembram da cena da câmera passando por dentro da asa de uma xícara? - e o cenário de ZODÍACO foi realizado com computação gráfica, por puro capricho do cineasta. Em O CURIOSO CASO DE BENJAMIN BUTTON, Fincher leva esse recurso às últimas consequências, mas dessa vez para materializar a velhice e a juventude dos personagens de Brad Pitt e Cate Blanchett. Se o resultado técnico não chega a ser perfeito é porque a computação gráfica ainda não atingiu um estágio de imitação dos traços humanos que consiga enganar por completo o espectador. O principal problema parece estar nos olhos, que os técnicos da animação digital ainda não conseguiram tornar tão vivos quanto o dos seres humanos. Apesar desse pequeno detalhe, o filme se utiliza do que há de mais avançado nessa tecnologia. Os momentos em que Fincher utiliza de fotografia esmaecida ou envelhecida para narrar algumas cenas em flashback também se mostram bem felizes.

O filme, baseado num conto de F. Scott Fitzgerald, narra a fantástica história de um sujeito que nasce velho, às portas da morte, e vai milagrosamente rejuvenescendo, contrariando a ordem natural da vida. Ainda que mostre um pano de fundo histórico que vem do fim da Primeira Guerra Mundial até o furacão Katrina, em 2002, o foco do filme é o amor entre Benjamin e Daisy, que só conseguem se encontrar e ficar realmente juntos no meio de suas vidas, quando ambos já estão com quarenta e poucos anos de idade. O fato de o filme ser narrado através de um diário deixado por Benjamin e auxiliado por uma Daisy moribunda ao lado de sua filha (Julia Ormond) em plena Nova Orleans prestes a ser arrasada pelo Katrina torna tudo ainda mais urgente e dramático.

Fincher e o roteirista Eric Roth ainda tomam o cuidado para não transformar o trabalho num melodrama excessivamente sério, oferecendo momentos de alívio cômico como forma de conquistar a platéia com risos, como nas cenas em que um dos velhinhos do asilo conta das vezes em que foi atingido por um raio. Ou nos momentos iniciais da chegada do bebê Benjamin à casa de sua mãe adotiva, depois de ter sido rejeitado pelo pai, por ter nascido tão feio. Entre os momentos mais emocionantes, destaco a cena dos cartões postais, já perto do final, mas também destaco os momentos de angústia da passagem do tempo nas cenas de felicidade do casal, condenando a relação dos dois. É o velho tema do amor impossível, que vez ou outra encontra mais uma variação.

Resta saber se o filme vai ser melhor recebido no Oscar ou se repetirá a decepção que foi durante a cerimônia de entrega do Globo de Ouro, onde o trabalho de Fincher saiu com as mãos abanando. No Oscar, O CURIOSO CASO DE BENJAMIN BUTTON deve se destacar principalmente nas categorias mais técnicas, mas talvez haja boas chances de ser bem sucedido nas categorias principais também.

P.S.: Saiu edição nova da Zingu!. O destaque do mês é o dossiê Geny Prado e o especial sobre a ficção científica dos anos 50. Ainda tem Marcelo Carrard falando sobre NEW YORK RIPPER, de Lucio Fulci, e Elisa Cuthbert no Musas Eternas.

quinta-feira, janeiro 15, 2009

A TROCA (Changeling)























Tem sido cada vez mais difícil pra mim falar de uma obra de Clint Eastwood. Especialmente as que eu gosto muito, pois corre o risco de eu entrar no território do fanatismo ou, pior ainda, não conseguir fazer jus em meu humilde texto ao cineasta que aprendi a admirar há quase vinte anos. A TROCA (2008), protagonizado por Angelina Jolie, com roteiro do quadrinista J. M. Stranczinsky (Homem-Aranha, Poder Supremo, Thor, Rising Stars) e trilha sonora do próprio Eastwood, já está no grupo dos meus favoritos do diretor, embora a lista venha aumentando ano a ano, graças ao fato de o incansável diretor ter aumentado o seu ritmo de trabalho nos últimos anos. Se em 2007 tivemos a dobradinha A CONQUISTA DA HONRA (2006) e CARTAS DE IWO JIMA (2006), neste ano temos outras duas obras do mestre para fazermos a festa, já que em fevereiro chega GRAN TORINO (2008), que vem sendo até bem mais elogiado que A TROCA.

Se as obras de Eastwood já têm aquele jeitão clássico à John Ford, A TROCA, por ser um filme de época (inicia-se em 1928), se beneficia ainda mais dessa característica. O filme começa com uma fotografia em preto e branco que vai ganhando cor aos poucos, mostrando o verde dos jardins e em seguida a cor das belas casas tipicamente americanas. Numa dessas casas vive Christine Collins (Jolie), funcionária de uma rede de telefonia de Los Angeles que cuida sozinha de um garoto esperto de nove anos, que se mostra bem obediente à mãe. Assim como em UM MUNDO PERFEITO (1993), o pai é ausente.

Mais uma vez, o cineasta trata de famílias desfaceladas, ou de pessoas órfãs. No caso de A TROCA, apesar de o garoto ter sido abandonado pelo pai, quem fica órfão na história é a personagem de Angelina Jolie, que ao chegar em casa, certo dia, percebe a ausência de seu filho. Sua busca obstinada pelo menino se torna famosa na cidade e desperta a atenção de um reverendo (John Malkovich) que apresenta um programa de rádio onde costuma alfinetar a polícia de Los Angeles por seus atos brutais e pela corrupção. Assim, mesmo sem conhecer pessoalmente Christine Collins, ele dá apoio à jovem mãe e pede para que os ouvintes orem por ela. Mas ele não é de ficar apenas orando. Ele vai à luta em sua busca por justiça. Os chefes de polícia arrumam um meio de melhorar a sua imagem diante da imprensa e da sociedade, conseguindo um menino com as características do filho raptado de Christine. Ela, logo de cara, diz que o garoto não é o seu filho, mas eles pedem que ela o leve para a casa, dizem que ele ficou mudado por causa do sofrimento entre outras desculpas, e tentam encerrar o caso. Christine não descansa de sua busca, mas a certo momento, tão ou mais importante do que encontrar o filho é vingar-se dos malditos policiais que a fazem sofrer de maneira absurda.

A TROCA vai ganhando tintas de thriller policial a certa altura, tornando a obra ainda mais seca e dolorosa do que já era, enquanto melodrama. A trama toma novos rumos, mas Eastwood toma o cuidado para não perder o foco da personagem de Jolie, que obtém nesse filme a melhor performance de sua carreira. Sua caracterização é excepcional, embora alguns possam achar um pouco afetada. Mas o mesmo diziam de Sean Penn em SOBRE MENINOS E LOBOS (2003), outro trabalho pessimista de Eastwood que também tratava do desaparecimento de um filho.

A preferência por personagens marginais, mas de um senso moral digno, está presente na personagem de Amy Ryan, a prostituta que é colocada num sanatório por pisar nos calos da polícia. A cena em que ela soca um dos enfermeiros para ajudar a amiga é um exemplo da dignidade da personagem e um dos momentos mais empolgantes de um filme cujos tons pessimista, desesperançoso e soturno predominam. E assim como acontece em MENINA DE OURO (2004), Eastwood nos deixa com um peso no coração. Talvez não tanto quanto o melodrama sobre a boxeadora, mas permanece o registro seco e cruel, mal dando espaço para lágrimas, o que torna seus filmes ainda mais incômodos, pois a dor fica guardada no coração e o choro, entalado na garganta.

quarta-feira, janeiro 14, 2009

LOS HERMANOS NA FUNDIÇÃO PROGRESSO - 9 DE JUNHO DE 2007





















Parece que foi ontem quando levei pra casa o primeiro disco dos Los Hermanos. Na época, o segundo álbum, Bloco do Eu Sozinho, já havia sido lançado, mas resolvi começar pelo disco original. Duas das minhas irmãs estavam em casa, justo as que se tornaram fãs da banda imediatamente, assim como eu. Assim que cheguei, botei logo o disco no player. E a gente ouviu o cd de cabo a rabo, com atenção, emoção e maravilhamento. A primeira faixa, "Tenha dó", iniciada com um triste solo de metal, antes de as guitarras hardcore e ska entrarem com força e o vocal de Marcelo Camelo, flertando com o romantismo exacerbado e com a dor de cotovelo, me conquistou de imediato. A segunda faixa, "Descoberta", era outra canção de desilusão amorosa. E segue a famosa "Anna Julia", que na época já era hit, mas é dessas canções perfeitas e mágicas que mesmo tocada tantas e tantas vezes nunca consegui enjoar. Cada vez gosto mais dessa canção. O fato de a banda passar um tempo sem tocá-la nos shows, talvez por recusarem o sucesso fácil e preferirem sempre desafios, tornou a rara audição ao vivo da canção festejada pelos fãs, embora a decisão da banda de não tocá-la tenha sido sempre respeitada.

Poucos meses depois, após ter ouvido bastante o primeiro disco, trouxe o elogiado mas pouco vendido Bloco do Eu Sozinho. Que foi igualmente ouvido por mim e minhas duas irmãs. Coincidência ou não a audição foi coletiva nesse disco. Confesso que chorei na primeira audição de duas faixas: "Veja bem, meu bem" e "Mais uma canção", que tem sua base tocada no trombone. A utilização cada vez mais sofisticada dos metais e de arranjos mais elaborados fez com que o disco se tornasse um divisor de águas para a banda. Foi também a partir desse disco que Rodrigo Amarante começou a obter mais destaque nos álbuns. Se no primeiro disco ele contribuía apenas com duas faixas, entre elas a excelente "Quem sabe", no segundo, ele mostrava ainda mais o seu lado sensível com a bela "Sentimental". Apesar do tom de fossa enfatizado, havia também espaço para "cabecismos" como "Cadê teu suin-?" e "Cher Antoine". Depois desse disco, passei a procurar na internet canções inéditas, covers tocadas em shows e versões demo. Destaque para "À palo seco", do Belchior, "Vou tirar você desse lugar", do Odair José, e "Esquadros", da Adriana Calcanhoto. Era algo parecido com a minha relação com os Smashing Pumpkins, outra banda que me despertava sede por novas canções e me fazia buscar raridades na internet.

Com o sucesso e a repercussão do mais redondo Ventura, o terceiro disco, os shows da banda em Fortaleza passaram a se tornar cada vez mais cheios de fãs fervorosos, que cantavam todas as faixas a plenos pulmões e com uma sinceridade no coração e gestos de dramaticidade raramente vistos em outros shows. Talvez o fenômeno de adoração e emoção nos shows da banda só seja comparado no Brasil com o que aconteceu com a Legião Urbana, guardadas as devidas proporções, e levando-se em consideração que a Legião era uma banda que tinha muito mais hits radiofônicos, enquanto que Los Hermanos não era uma banda tão popular assim. O rádio, já nos anos 90, deixava de ter fundamental importância para o sucesso comercial de uma banda. No disco Ventura, Rodrigo Amarante já demonstrava os seus questionamentos espirituais, suas preocupações com a vida e a morte e temas como a reencarnação e a morte do ego eram sutilmente desenvolvidos em suas letras. Também havia espaço para que tanto ele quanto Camelo pudessem se outrar, como seu ídolo Chico Buarque. Camelo canta como uma mulher corneada pelo homem no delicioso bolero "A Outra" e Amarante canta um diálogo envolvendo uma complicada relação entre pai e filho em "Um par". Os compositores mostravam que tinham talento suficiente para compor até mesmo estando felizes e podiam tratar de assuntos um pouco mais distantes de seus próprios umbigos.

A crise e o novo rumo tomado pela banda, que geraria o seu fim, ou o recesso, como os fãs mais otimistas querem acreditar, veio com o álbum 4, que acentuava uma falta de unidade nas composições de Camelo e Amarante que já se mostrava em Ventura. Assim como já tínhamos visto com os Beatles, é realmente complicado quando dois artistas muito talentosos estão numa mesma banda, rivalizando nas composições. Se por um lado, Amarante mostrava uma veia mais rock, Camelo não abria mão de se aproximar cada vez mais da MPB, abrindo o álbum com uma composição sombria e lenta como "Dois barcos". Ainda assim, trata-se de um disco fantástico, ainda que um pouco mais difícil que os anteriores, exigindo audições a mais para uma melhor assimilação.

E foi com esse histórico que a banda resolveu se dispersar, fazendo shows memoráveis de despedida em 2007. O show apresentado na Fundição Progresso, no Rio de Janeiro, flagra os músicos completamente emocionados. Era um misto de tristeza e celebração. Afinal, a banda estava se despedindo em seu auge criativo. O álbum 4 pode ter afastado alguns fãs, mas o surgimento de novos parecia crescer ainda mais a julgar pelos shows. Talvez a banda não estivesse preparada para tanta fama. A certa altura, um deles, não lembro se Camelo ou Amarante, comenta assustado: "Quanta gente!". E o show está perfeito. Recebi o DVD nessa semana e coloquei-o no player apenas para conferir as primeiras faixas e ir vendo as demais aos poucos, noutro dia, mas não imaginava que estava como um viciado em abstinência e não consegui desgrudar os olhos da tela, nem parar de cantar junto as canções ou descer para comer alguma coisa. Transformei o meu quarto numa festa na segunda-feira à noite. Eles tocam faixas de todos os discos, inclusive várias do primeiro, o que muito me agradou. Rolou até "Anna Julia", no bis, a linda "Último romance", e a penúltima música do show, "Todo carnaval tem seu fim", parecia sintetizar a situação: "É o fim, é o fim", cantava emocionado Camelo. Sinto que vou ver/ouvir ainda esse registro emocionado várias vezes.

As faixas do DVD: 1. Dois Barcos; 2. Primeiro Andar; 3. O Vento; 4. Além do que Se Vê; 5. Morena; 6. Retrato Pra Iaiá; 7. O Vencedor; 8. Condicional; 9. Tenha Dó; 10. Adeus Você; 11. Último Romance; 12. Um Par; 13. Lágrimas Sofridas; 14. Sentimental; 15. Conversa de Botas Batidas; 16. Deixa o Verão; 17. A Outra; 18. Casa Pré-Fabricada;19. Paquetá; 20. Cara Estranho; 21. A Flor; 22. Tá Bom; 23. Anna Júlia; 24. Quem Sabe; 25. Todo Carnaval Tem Seu Fim; 26. Pierrot. Extras: 27. Azedume; 28. O Velho e o Moço; 29. Descoberta; 30. De Onde Vem a Calma; 31. Pois É.

terça-feira, janeiro 13, 2009

O DIA EM QUE A TERRA PAROU (The Day the Earth Stood Still)























"O cinema está condenado a fazer remakes, pois fazem-se filmes demais e há muito poucas situações dramáticas disponíveis. Portanto, toda a história do cinema é constelada de remakes, e, contanto que as novas versões sejam melhores que as originais, não há o menor problema nisso."
(François Truffaut, em entrevista dada em 1979 para a Sight et Sound)


Interessante Truffaut ter falado isso num momento em que nem haviam tantas refilmagens como há hoje em dia. Ele já previa o que aconteceria no futuro: primeiro, uma sucessão de continuações de filmes de sucesso de bilheteria, nas décadas de 80 e 90, e agora uma avalanche de refilmagens, seja de produções estrangeiras, seja de clássicos americanos. Só para este ano estão confirmados remakes/"reinvenções" de SEXTA-FEIRA 13, STAR TREK, O LOBISOMEM, O EXÉRCITO DO EXTERMÍNIO, THE LAST HOUSE ON THE LEFT, THE LODGER, EASY VIRTUE e, falando em Hitchcock, para 2011, já está agendada a refilmagem de OS PÁSSAROS. Nada mais é sagrado.

Não tenho muitas lembranças do original de Robert Wise, mas O DIA EM QUE A TERRA PAROU (2008), de Scott Derrickson - diretor cujo melhor momento de sua curta carreira foi O EXORCISMO DE EMILY ROSE (2005) -, independente de comparações, é por si só ridículo e enfadonho. Ridículo no discurso ecológico mal construído e enfadonho no desenvolvimento da ação. A expressão robótica de Keanu Reeves contribui para esse aspecto aborrecido do filme, embora o seu fracasso não se deva apenas a ele. O problema está principalmente no roteiro ruim e na direção preguiçosa de Derrickson. Quanto ao discurso ecológico, até podem comparar o filme com FIM DOS TEMPOS, de M. Night Shyamalan, mas a comparação não vai muito longe quando se leva em conta a profundidade e a elegância do trabalho do indiano.

Se há algo de interessante na abordagem do novo filme é o modo como o alienígena chega à terra: dentro de uma película orgânica semelhante a uma placenta. O robô gigante é mantido e tem o mesmo visual da produção dos anos 50. Mas as cenas envolvendo, por exemplo, Kathy Bates são constrangedoras no modo como ela é mostrada: uma figura autoritária que acha que por morar nos Estados Unidos é dona do mundo. De certa forma, essa cutucada que Hollywood de vez em quando dá nos políticos é uma prova de inteligência e consciência, mas, no caso do roteiro desse filme em particular, não dá pra esperar algo além disso. Até mesmo Jennifer Connelly, interpretando a moça que ajuda o alienígena a ver que os seres humanos têm sensibilidade suficiente para ajudar o planeta a sobreviver, não dá o melhor de si. A verdade é que nenhum ator, por melhor que seja, conseguiria levar esse filme nas costas. E o final, então... O final parecesse destinado a crianças sem nenhum discernimento, de tão bobo que é. E o filme termina abruptamente, como se todos os envolvidos quisessem sair de cena o mais rápido possível, para evitar a vergonha. Pois é. 2009 mal começou e já temos um sério candidado a pior filme do ano.

segunda-feira, janeiro 12, 2009

GLOBO DE OURO 2009
























Ontem foi uma noite conturbada. Eu queria muito ver este Globo de Ouro. Estava com saudade da cerimônia, pois no ano passado não teve, por conta da greve dos roteiristas. Bom, o problema é que deu curto-circuito na instalação elétrica da parte superior da minha casa, que é onde fica o meu quarto e outros quartos da casa também. Aí, misteriosamente, a tv a cabo não estava pegando, mesmo com a gambiarra feita. Enquanto o Globo de Ouro já estava distribuindo prêmios, eu ficava quebrando a cabeça, tentando resolver o problema. Chegou uma hora que eu e minha irmã (a quem pedi auxílio) desistimos e acabamos encontrando um site que estava transmitindo ao vivo a cerimônia. A transmissão pelo site estava apenas com alguns segundos de atraso em relação à veiculada pela TNT, conforme confirmei com o Renato, que acompanhou comigo a festa.

De certa maneira, tirando o fato de eu ter perdido uma hora da cerimônia, foi até interessante a experiência de ver, uma vez na vida, a premiação sem os comentários do Rubens Ewald Filho e numa telinha pequena do computador. O lado positivo é que eu não precisava ficar virando a cadeira para olhar para a televisão, para depois comentar no MSN. Estava tudo lá na telinha do computador. O único problema que ocorreu foi a travada que deu no site justo no momento do discurso de Steven Spielberg, o homenageado da noite. Perdi o discurso completo. Agora, só se eu conseguir ver a reprise, com legendas, no próximo final de semana. (O Renato me falou que outro ótimo momento da noite envolve Clint Eastwood e Bruce Springsteen. E eu quero ver isso.)

Se bem que, no geral, os discursos dessas cerimônias são meio vazios, limitando-se a agradecimentos. Dificilmente surge alguma surpresa ou algo diferente. Talvez o mais legal da noite foi ver a expressão de espanto e alegria de Kate Winslet, por ter ganhado dois prêmios numa só noite: de melhor atriz por APENAS UM SONHO e de atriz coadjuvante por THE READER. Ela chegou a dizer um "I'm sorry, Angelina" para sua concorrente. Não sei quanto à qualidade dos filmes premiados, mas pelo menos a performance de Kate deve valer a pena a espiada. Curioso os beijos soprados pelo colega Leonardo Di Caprio para ela. Os dois pareciam mais íntimos do que ela e o esposo, Sam Mendes, que também parecia mais alegre que pinto no lixo. Também foi surpresa, pra mim, o prêmio de melhor ator (comédia) para Colin Farrell, por NA MIRA DO CHEFE. O filme tem sido bastante elogiado, mas Farrell geralmente não é muito respeitado como ator. Parece que as coisas estão melhorando para ele. Quanto à premiação de Mickey Rourke (que apareceu banguela!), foi até que bastante esperada, tendo em vista a repercussão e os prêmios que THE WRESTLER vem arrecadando.

Na categoria televisão, os dois grandes vencedores foram a mini-série JOHN ADAMS e a série 30 ROCK, que arrastaram os principais prêmios de suas categorias. Na categoria de melhor série (drama), infelizmente a minha favorita (EM TERAPIA) perdeu para MAD MEN, série que nunca vi, mas que deve ser interessante. Ainda assim, não despertou o meu interesse para acompanhá-la. Pelo menos, Gabriel Byrne ganhou como melhor ator, mas eu acho que estava torcendo mais para Melissa George.

E falando em justiça, que bom que VICKY CRISTINA BARCELONA venceu na categoria de melhor filme (comédia). Só ainda não entendi a saraivada de prêmios que o novo trabalho de Danny Boyle, SLUMDOG MILLIONAIRE, ganhou. O longa conquistou os prêmios de melhor filme dramático, melhor direção, melhor roteiro e melhor trilha sonora. Outra justiça, bem como o momento mais respeitoso da noite, foi o prêmio póstumo para Heath Ledger por seu incrível desempenho em BATMAN - O CAVALEIRO DAS TREVAS. Tanto que, excepcionamente, a programação da festa passou um trecho do filme, de uma cena de diálogo entre o Coringa e o Batman.

E como nem só de prêmios se faz o Globo de Ouro, mas também de glamour e beleza, destaco as beldades da noite. Incrivelmente a Demi Moore me surpreendeu por aparecer tão linda. Destaco-a como a mais bela da noite. Jennifer Lopez apareceu com um figurino matador, como ela costuma fazer para deixar os homens loucos. Já a beleza mais angelical fica por conta da jovem Evan Rachel Wood, que tem se destacado pelas escolhas pouco óbvias de namorados. Depois de ter namorado Marilyn Mason, há rumores de que ela tem saído com o Mickey Rourke. Essa menina tem uma forte atração por tipos esquisitos. A duplamente vencedora Kate Winslet, como sempre, apareceu linda, simpática e adorável, e Laura Linney, outra das vencedoras, apareceu luminosa.


























Os Vencedores

Cinema

Filme (Drama)
SLUMDOG MILLIONAIRE

Filme (Comédia ou Musical)
VICKY CRISTINA BARCELONA

Ator (Drama)
Mickey Rourke, por THE WRESTLER

Atriz (Drama)
Kate Winslet, por APENAS UM SONHO

Ator (Comédia ou Musical)
Colin Farrell, por NA MIRA DO CHEFE

Atriz (Comédia ou Musical)
Sally Hawkins, por SIMPLESMENTE FELIZ

Ator Coadjuvante
Heath Ledger, por BATMAN - O CAVALEIRO DAS TREVAS

Atriz Coadjuvante
Kate Winslet, por THE READER

Diretor
Danny Boyle, por SLUMDOG MILLIONAIRE

Roteiro
SLUMDOG MILLIONAIRE, de Simon Baufoy

Animação
WALL.E

Filme Estrangeiro
WALTZ WITH BASHIR (Israel)

Trilha Sonora
SLUMDOG MILLIONAIRE, de A.R. Rahman

Canção
"The Wrestler", música e letra de Bruce Springsteen - THE WRESTLER

Televisão

Série (Drama)
MAD MEN

Atriz em Série (Drama)
Anna Paquin, por TRUE BLOOD

Melhor Ator em Série (Drama)
Gabriel Byrne, por EM TERAPIA

Melhor Série (Comédia ou Musical)
30 ROCK

Melhor Atriz (Comédia ou Musical)
Tina Fey, por 30 ROCK

Melhor Ator (Comédia ou Musical)
Alec Baldwin, por 30 ROCK

Melhor Minissérie ou Filme Produzido para a Televisão
JOHN ADAMS

Melhor Atriz em Minissérie ou Filme Produzido para a Televisão
Laura Linney, por JOHN ADAMS

Melhor Ator em Minissérie ou Filme Produzido para a Televisão
Paul Giamatti, por JOHN ADAMS

Melhor Atriz Coadjuvante em Série, Minissérie ou Filme Produzido para a TV
Laura Dern, por RECOUNT

Melhor Ator Coadjuvante em Série, Minissérie ou Filme Produzido para a TV
Tom Wilkinson, por JOHN ADAMS

sexta-feira, janeiro 09, 2009

DE REPENTE NUM DOMINGO (Vivement Dimanche!)




















Primeira revisão de 2009. E não sei por que raios eu não gostei desse filme quando o vi no cinema. O mesmo aconteceu com O ÚLTIMO METRÔ (1980), que se beneficiou muitíssimo da revisão. DE REPENTE NUM DOMINGO (1983), último trabalho de François Truffaut, também causou o mesmo espanto quando o revi. E se de um lado O ÚLTIMO METRÔ me despertou sentimentos fortes emoldurados numa linda carga trágica, DE REPENTE NUM DOMINGO traz uma leveza, uma rapidez e uma euforia impressionantes. Truffaut conseguiu deixar o seu filme com atmosfera de filme B americano de suspense, sem abrir mão de fugir das convenções, sempre que queria. Como colocar uma torneira estourando num comissariado de polícia, por exemplo.

Fanny Ardant está adorável como a secretária de um empresário de imobiliária que se envolve por vontade própria na investigação de uma série de crimes de assassinatos. O primeiro assassinato é mostrado logo na cena de abertura pós-créditos - os créditos mostram apenas Fanny passeando pela rua. Na cena de assassinato, Jean-Louis Trintgnant - conhecido pelos apreciadores do western spaghetti pelo ótimo O VINGADOR SILENCIOSO, de Sergio Corbucci - está próximo de um lago, com um rifle na mão, caçando patos. A edição da seqüência é arbitrariamente confusa para que fiquemos sem saber quem é o assassino, cujo rosto não é mostrado. Pode ser o próprio personagem de Trintgnant.

Estando no cenário do crime, a polícia entra em cena e o leva como principal suspeito do assassinato. Ele chama o seu advogado, que consegue evitar que ele fique preso por um dia ou dois. No estresse do trabalho, ele demite sua secretária, que, não dando muita importância a isso, sai mais cedo para seu ensaio teatral, com um sorriso no rosto. Ao saber do envolvimento de seu chefe com o crime, ela passa a investigar o ocorrido, entrando numa teia de intrigas que faz com que o espectador se perda no meio de tantas pistas e tantos personagens secundários. No final, pouco importa ter entendido completamente a trama. O barato é se deixar perder nesse universo em preto e branco de film noir, baseado no romance de Charles Williams, "The Long Saturday Night".

Truffaut está afiadíssimo em DE REPENTE É DOMINGO. Com sua experiência na direção, ele já tinha alcançado um grau de maturidade que lhe dava pleno domínio da narrativa. Por ser o mais clássico dos cineastas da nouvelle vague, ele sempre quis que o seu cinema fosse atemporal, livre de modismos, e ele foi buscando o seu próprio caminho ao longo de sua carreira, fugindo aos poucos do que havia de pós-moderno em seu cinema. Se bem que, no caso de DE REPENTE É DOMINGO, é difícil disfarçar as homenagens a Hitchcock, um de seus cineastas mais queridos, que no filme aparece em cenas que emulam PSICOSE e JANELA INDISCRETA. As cenas de Fanny Ardant dirigindo o carro na chuva conta até com um enquadramento parecido com o do clássico do mestre do suspense. É, enfim, um filme para se ver com um sorriso no rosto, como se Truffaut não quisesse deixar em seu último filme a tristeza ou a morbidez tão comum em seus demais trabalhos. Truffaut se foi no auge de sua técnica, sempre nos deixando claro o seu amor incondicional pelo cinema. Nunca teremos outro Truffaut.

P.S.: É com prazer e orgulho que anuncio minha contribuição para o site Mulheres do Cinema Brasileiro, criado e mantido com carinho por Adilson Marcelino. Ele me convidou para escrever sobre uma atriz brasileira que me marcou e eu escolhi a Denise Dumont. Confiram!

quinta-feira, janeiro 08, 2009

ESTAMOS BEM MESMO SEM VOCÊ (Anche Libero Va Bene)























O filme que faltava de 2008. Por isso, é o caso de puxar da memória, já que já faz uns vinte dias que o vi. ESTAMOS BEM MESMO SEM VOCÊ (2006) é o longa-metragem de estréia do ator de AS CHAVES DE CASA, Kim Rossi Stuart. Trata-se de um drama familiar que lida com questões difíceis como o sentimento de perda, a dificuldade de se adaptar aos padrões da sociedade e da família e a necessidade de encontrar forças depois de mais uma decepção. Além dos usuais problemas de relacionamento e dificuldades financeiras, comuns à maior parte das famílias. Ao contrário do que eu pensava, o filme não é narrado pelo ponto de vista de Renato, personagem de Kim Rossi Stuart, mas pelo de seu filho de 11 anos, Tommi (Alessandro Morace). O que torna o filme até mais simpático e interessante e que gera certa identificação com o garoto.

Lembro que quando eu era pequeno, meu pai queria que eu fosse jogador de futebol, que gostasse das mesmas coisas que ele, que torcesse pelo Fortaleza, quando, na verdade, o futebol nunca me interessou. Cheguei a ir a uns jogos no estádio com ele, mas apesar de ter ficado impressionado com o verde do gramado e com os gritos de alegria dos torcedores, nunca entendi até hoje qual o sentido de se torcer por um time, por uma camisa. Do outro lado, minha mãe me enviava para as chatas lições da escola dominical na igreja. Eu não gostava, mas ia para agradá-la. Não que eu não me interessasse pela Bíblia, pelo contrário, só achava que aquelas lições não me ajudavam em nada. Sempre aprendi muito mais sendo auto-didata, inclusive nos estudos bíblicos.

Em ESTAMOS BEM MESMO SEM VOCÊ, Renato, o pai de Tommi, quer que ele seja um campeão de natação. Mas Tommi não tem a menor vontade de se dedicar a esse esporte, preferindo o futebol, que para o pai era um esporte vulgar, que todo mundo jogava. Assim, o filme trata da dificuldade de os pais entenderem o que os filhos querem para suas vidas, por mais que se diga que eles ainda não têm idade suficiente para decidir.

Na trama, Renato é o chefe de uma família que conta com a ausência da mãe, que saiu de casa e deixou o marido cuidando sozinho dos filhos. Que amam o pai e tratam de agradá-lo sempre que possível. Quando tudo parecia estável, a mulher retorna, chora e pede para ser novamente incluída no lar. Renato, inicialmente resistente, aceita a mulher de volta. Até porque ela ainda desperta nele amor. A mulher, interpretada por Barbora Bobulova, é bonita e atraente e chega até a ser difícil recusar o pedido aparentemente tão sincero dela de retornar. Quando vi o trailer e li a sinopse do filme lembrei da letra de "I will survive", que trata de assunto similar.

Mas é mais na relação de Tommi com o pai, a mãe e a irmã que o filme ganha momentos de delicadeza. Bem como as cenas de Tommi na escola, seja tentando fazer amizade com um garoto estranho que perdeu a fala graças a um trauma, seja mandando um bilhetinho de declaração de amor anônimo para a menina por quem é apaixonado na sala de aula. O título original que contém a palavra "libero" faz um trocadilho com a posição no jogo de futebol desejada pelo garoto.

quarta-feira, janeiro 07, 2009

ELEPHANT























Na falta de tempo, eu acabo optando por filmes curtos. Assim, aproveitei o momento para conferir o curta ELEPHANT (1989), de Alan Clarke. Com cerca de 40 minutos de duração, o filme de Clarke foi inspirador da obra-prima homônima de Gus Van Sant. Enquanto Van San foca seu trabalho no absurdo massacre em Columbine, Clarke faz uma reflexão sobre os contínuos assassinatos ocorridos com freqüência na Irlanda do Norte.

O uso da steadycam, também utilizado por Van Sant, nos coloca, na maior parte das vezes, próximo dos assassinos, acompanhando-os em sua busca pela vítima, que, depois de morta, é mostrada com alguns segundos a mais pela câmera de Clarke, que nessa hora se mostra estática, como se estivéssemos contemplando uma fotografia do morto. Sem uma linha narrativa e sem personagens, diálogos ou nomes, o filme de Clarke é bem incômodo. Não há espaço para se divertir com as mortes, como pode acontecer em filmes de terror de psicopatas. Aqui, a utilização de um estilo semi-documental aumenta a sensação de verdade e, conseqüentemente, do mau estar provocado.

A repetição das frias seqüências de morte durante os 18 sketches chega a passar uma sensação de impotência para o espectador. Como se por maior que fosse o nosso esforço para mudar essa realidade, não tivesse mais jeito. Clarke optou por não explicar nada, apliando os assassinatos para além dos conflitos separatistas da Irlanda do Norte. O diretor nos força a sermos cúmplices das mortes e ainda ter que encarar o resultado. Não é um trabalho para se assistir com prazer e satisfação, mas uma obra de impacto, que cresce bastante na memória. O filme foi produzido pelo futuro diretor Danny Boyle.

terça-feira, janeiro 06, 2009

THE PLEASURE GARDEN (Irrgarten der Leidenschaft)
























E assim como fiz uma segunda peregrinação pela obra de Howard Hawks para ver filmes inéditos conseguidos, começa oficialmente hoje a segunda pela obra do mestre Alfred Hitchcock. Verei filmes da fase muda do cineasta, alguns inéditos (pra mim) e farei também a revisão de outros que passei por cima durante a primeira e apressada peregrinação. Dessa vez, cada filme, por menor e menos importante que seja, receberá um espaço só seu. Comecemos com o primeiro longa dirigido por Hitchcock: THE PLEASURE GARDEN (1925). O filme é uma co-produção Inglaterra/Alemanha - na época, a Alemanha era uma das potências do cinema mundial - e já apontava o jovem gênio que surgiria.

Confesso que alguns filmes da fase muda de Hitchcock eu não vi inicialmente por pura preguiça. Não tenho tanta boa vontade com filmes mudos, exceto talvez as comédias de Chaplin. Espero que essa obrigação de ver as obras mudas de Hitchcock me faça ter mais gosto e interesse pelo cinema mudo em geral, para poder apreciar melhor as obras de Fritz Lang e F.W. Murnau, por exemplo. E quem sabe até crio coragem para ver as obras de D.W. Griffith.

Surpreendi-me positivamente com THE PLEASURE GARDEN. Achei que a experiência de ver o filme não seria tão agradável e por não ser considerado um típico Hitchcock duvidava de suas qualidades. Na verdade, o filme não se parece mesmo com as obras seguintes do cineasta. O trabalho que é uma síntese de suas obsessões é O PENSIONISTA / O INQUILINO SINISTRO (1926), mas THE PLEASURE GARDEN já mostrava, por exemplo, um catolicismo que se tornaria uma de suas marcas fundamentais nas obras posteriores.

O próprio Hitchcock, em entrevista a Truffaut, trata com carinho THE PLEASURE GARDEN, exatamente por ter sido o seu primeiro trabalho como diretor. As aventuras que ele passou durante a produção, com o orçamento apertado e a sua inexperiência profissional são até mais movimentadas que a própria trama do filme. Uma das histórias mais interessantes sobre a produção diz respeito à cena em que uma das atrizes tem que fazer uma seqüência no mar e os técnicos dizem para Hitchcock que ela não pode entrar na água. E mesmo depois de eles dizerem que ela estava menstruada, ele, inocentemente, não sabia do que se tratava. Tiveram que dar uma aula pra ele, que ouviu atentamente essa novidade. Como Hitchcock nunca escondeu o fato de ter casado virgem e de ter levado uma vida bem pacata, não teve problema nenhum em relatar isso na entrevista. Achei interessante quando ele, ao falar de sua esposa Alma Reville, que na época era sua assistente de direção e namorada, que ambos, durante a realização do filme, eram namorados mas não viviam "em pecado".

Essa pureza pode ser sentida nas intenções e nos atos da protagonista, Patsy, uma jovem humilde que, graças a uma amiga consegue trabalho de dançarina num espetáculo teatral. Ambas conhecem dois homens que trabalham numa colônia inglesa e passam vários meses longe. Patsy aceita com alegria a proposta de casamento do amigo do namorado de Jill e antes de ele viajar para passar dois anos fora, os dois passam um mês em lua-de-mel. Depois, ela descobre o quanto foi inocente ao acreditar em tudo que aquele homem dizia.

O barato do filme é que tudo acontece muito rápido. E em uma hora de duração tudo termina. Quando pensamos, por exemplo, no que acontecerá quando ela viajar e desmascarar o marido com outra mulher, isso já está acontecendo. Hitchcock já tinha um tino comercial, uma vontade de entreter a audiência desde o início. E sem abrir mão de certas estranhezas que caracterizariam o seu cinema, especialmente o produzido na Inglaterra. No caso de THE PLEASURE GARDEN, Truffaut destacou o fato de as duas amigas dormirem na mesma cama e se vestirem como marido e mulher: uma de pijama, a outra de camisola. Mesmo com toda a pureza assumida pelo cineasta na época, havia ali traços de transgressão que tornam suas obras ainda mais interessantes.

segunda-feira, janeiro 05, 2009

SE EU FOSSE VOCÊ 2























E o ano começou sem muita pompa nos cinemas, com filmes bem comerciais lotando as salas da cidade. E o que mais tem ocupado as salas é SE EU FOSSE VOCÊ 2 (2009), de Daniel Filho, seqüência do grande sucesso de 2006. Nesse intervalo de quase três anos, além da boa acolhida nas bilheterias, obtida com o primeiro filme, a seqüência ainda se beneficia do aumento da popularidade obtido com o mercado de DVD e com a exibição na televisão. Quando o primeiro filme passou nos cinemas, eu estava numa fase de preconceito com as obras do diretor. Tanto que também não fui ver A DONA DA HISTÓRIA (2004). Ambos os filmes, tive oportunidade de ver depois, em casa. E fui percebendo, a princípio, que os filmes de Daniel Filho são bem melhores do que seus trailers nos fazem julgar. E assim, já vi com um pouco mais de boa vontade MUITO GELO E DOIS DEDOS D'ÁGUA (2006) e O PRIMO BASÍLIO (2007). Gostei de ambos e vi o quanto o diretor era injustiçado e visto com má vontade, especialmente pela crítica mais "séria".

Em SE EU FOSSE VOCÊ 2, o cineasta e seu time de roteiristas surpreende ao trazer novas e boas piadas envolvendo a situação de troca de corpos dos personagens de Cláudio (Tony Ramos) e Helena (Glória Pires). Tony Ramos está cada vez melhor e mais à vontade em seu papel de "mulher", gerando situações engraçadas, como ele fazendo compras ou sendo assediado por outro homem. São demonstrações do quanto o ator faz falta no cinema brasileiro. Uma pena ele ter dedicado quase toda sua carreira às telenovelas. Por mais que a telenovela seja um aprendizado para um ator, não deixa de ser uma forma de arte menor.

Para não ser um mero repeteco do primeiro filme, SE EU FOSSE VOCÊ 2 traz uma novidade no enredo: a gravidez da filha de Cláudio e Helena, gerando o conseqüente casamento às pressas e a entrada em cena dos pais do rapaz, interpretados por Chico Anísio e Maria Luisa Mendonça. Quer dizer, mais gente de primeira para abrilhantar o elenco, que só cai quando entra em cena a Adriane Galisteu. No mais, o restante do elenco de apoio vem para beneficiar o filme: Cássio Gabus Mendes, como o amigo advogado e mulherengo de Cláudio; Marcos Paulo, como o advogado de Helena, primo e rival de Cláudio; e Ary Fontoura, como o padre chorão que celebra o casamento.

O filme tem alto grau de despretensão e uma edição rápida, mal dando tempo para o espectador pensar. Não que haja algo em que pensar. Diferente do primeiro filme, que mostrava a dificuldade do casal em lidar com os problemas profissionais e de ordem mais íntima, a seqüência mostra os dois em seu tempo livre. Destaque para a cena de Tony Ramos (Helena no corpo de Cláudio) tentando jogar futebol ou fazendo compras. Já Glória Pires não chega a ser tão engraçada quanto o colega, mas cumpre bem o seu papel, às vezes servindo de escada para o humor de Chico Anísio, como na cena do vômito ou do baile. E o sucesso de SE EU FOSSE VOCÊ 2 é tão garantido que até anunciam um terceiro filme nos créditos finais.

sábado, janeiro 03, 2009

REVEILLON 2009
























Na foto, da esquerda para a direita, atrás: Murilo, Valéria, César, Apiano, eu, Mano e Erika, Manoel; na frente: Elis, Juliana, Marcélia, Bárbara, Rejane e Danilo.

Estava pensando seriamente em não escrever sobre a viagem, mas incentivado pelo amigo Murilo, lá vamos nós com mais um relato de viagem. O feriado do reveillon, da Confraternização Universal, foi legal. Passei em companhia de um grupo de amigos, numa casa de praia no Porto das Dunas. E ficar na casa era tão bom que a gente nem sentia falta ou vontade de sair para a praia. Até porque os preços das comidas e bebidas nas barracas próximas ao Beach Park não são muito convidativos. Quando eu me sentia sozinho ou quando batia o meu lado anti-social (talvez culpa da Lua na minha 12ª casa?), eu podia ir para o quarto e ficar lendo um livro, deitado na rede. Lá, li mais da metade do arco "Sandman – Entes Queridos", na encadernação luxuosa da Conrad. E como é bom e triste esse arco. Neil Gaiman já não se preocupava mais em explicar as mudanças de rumo da narrativa ou apresentar os personagens, já confiando na familiaridade dos leitores com o seu universo mágico e sedutor. Just in case, levei também o livro das melhores entrevistas da Rolling Stone, mas acabei não lendo nenhuma.

Enquanto isso, no planeta Terra, as pessoas passam por situações difíceis na vida. E pude verificar isso em algumas pessoas da turma, que saem de relacionamentos e voltam para outros, talvez em busca de preencher um vazio, ou desfazer mal-entendidos. Outras enfrentam o vazio da perda e da solidão, mas talvez com a certeza de ter feito a coisa certa. Relacionamentos são complicados. E as pessoas podem ser surpreendentes, como atestou a brincadeira do "Eu Nunca", tendo o sexo como foco, que a turma resolveu promover na noite dessa sexta-feira. Pra quem não conhece, é aquela brincadeira na qual uma pessoa do círculo faz uma afirmativa usando "eu nunca" e quem já fez aquilo que a pessoa disse bebe um gole da bebida que estiver à mão. Uma boa maneira de se aproximar e de se conhecer mais um pouco as pessoas. Mas também uma forma de se perceber o quanto não conhecemos as pessoas. Ou do quanto eu, apesar de quase me desnudar aqui no blog, ainda tenho coisas das quais as pessoas não sabem e por isso ficam surpresas. Digamos que essa brincadeira foi uma espécie de continuação do ritual de conhecimento que foi a noite do Sarau organizado basicamente pela mesma turma, em abril de 2008, na Serra de Guaramiranga.

O dia 31 foi curto. Passou rapidinho. Em vez de ir com o meu carro, peguei carona com o Apiano e o César, que eu não conhecia, mas que são amigos de algumas das meninas da turma e são gente boa. Já chegamos lá à tarde e a meia-noite chegou rapidinho. Como só a Valéria, o Leo e a Juliana foram para o reveillon no Beach Park, boa parte da turma, eu, incluso, fomos a pé - depois das "doze badaladas notúrnicas" e dos abraços e votos de feliz ano novo - até a frente do parque aquático para ver se ouvíamos alguma coisa do show do Nando Reis e do Monobloco. Na verdade, eu não estava muito empolgado para ir, não. No fundo, eu queria mesmo era ficar na casa, lendo algum livro, mas como sei que caminhadas fazem bem pra mim, resolvi ir junto. Por sorte - ou não - quebramos a cara, já que lá de onde ficamos não dava para ver nem ouvir nada. Parecíamos os caras do Pânico tentando entrar em alguma festa de playboy.

E se o dia 31 foi curto, foi ainda mais o dia 1º pra mim, já que dormi até perto de meio-dia, almocei, e depois do almoço fui dormir de novo. Nesse dia, estava bem anti-social e me salvaram algumas conversas interessantes com o Manoel, o Murilo, o Mano e a Erika – em geral sobre música. As conversas mais descontraídas e de recordações das presepadas do passado não me apeteciam ou não me entusiasmavam. Não estava no clima. Nem mesmo para a piscina eu fui. Pelo menos, aproveitei e finalmente ouvi o disco In Rainbows, do Radiohead, integralmente, enquanto a maior parte da turma dormia. E já estava até começando a ficar um pouco triste, mas nada como um dia depois do outro, já que o dia 2 foi bem mais animado. O grande destaque desse dia foram os jogos e brincadeiras. O jogo Uno se mostrou viciante. E mesmo não jogando apostado, provamos um pouco do gostinho do que é ser viciado em jogo, já que a brincadeira durou quase sete horas, acho. O povo não conseguia largar as cartas, principalmente quando o jogo começou a ficar mais acirrado. Depois, a gente se aproximou da piscina, na tentativa, um pouco frustrada, de fazer um Sarau erótico. Não funcionou, mas a brincadeira de "Eu Nunca" foi válida e rendeu sorrisos constrangedores, outros de orgulho, expressões de espanto e outras tantas gargalhadas.

Teve gente que se deu bem melhor e soube aproveitar sem culpa as oportunidades de tornar o feriadão ainda mais memorável. Teve gente que apareceu pouco e bebeu um pouco mais do que estava acostumada. Teve gente que não conseguiu se soltar. Eu, talvez por não estar bebendo, senti-me às vezes um pouco menos em sintonia com o clima geral, mas acho que até que fiquei relativamente à vontade. E fui embora satisfeito, como se pode perceber nas fotos. Na foto acima, pode-se ver boa parte da turma reunida e a caricatura criativa que a Juliana Chagas fez da gente, emoldurando o ano de 2009. No próximo post, voltamos com nossa programação normal.
























Jogando Uno. O número 7, sempre me perseguindo. Em sentido horário: Juliana Chagas, Danilo, Elis, Valéria, César, Ju Diva, Erika, Mano, Murilo e eu.