terça-feira, janeiro 27, 2009
AUSTRÁLIA (Australia)
O "quero ser E O VENTO LEVOU" da vez, AUSTRÁLIA (2008), de Baz Luhrmann, é provavelmente o grande fracasso do ano, levando em consideração as pretensões do cineasta em construir um grande épico, emulando as produções da era de ouro de Hollywood, inclusive no uso da fotografia, que carrega nas cores fortes para lembrar o technicolor dos anos 30. Se foi um fracasso, nada mais merecido, afinal, o filme de Luhrmann é uma sucessão de clichês bobos emoldurados em um visual bonito para enganar parte do público. Se o diretor obteve sucesso com seu extravagante musical MOULIN ROUGE (2001) foi porque o filme tinha uma estrutura caricata e operística que condizia com o estilo do diretor. Em AUSTRÁLIA, no entanto, percebe-se o quanto o cineasta é deficiente em suas habilidades narrativas. E esse problema é notado logo no início do filme, narrado do começo ao fim pelo garotinho mestiço, filho de um branco com uma nativa aborígene e que tem em seu avô feiticeiro sua principal referência, já que ele também se considera capaz de fazer coisas mágicas.
Uma pena que um filme com tanto conteúdo novo e importante, como a questão da geração perdida (os "cafés-com-leite", filhos de brancos com aborígenes) e do ponto de vista australiano da batalha no pacífico na Segunda Grande Guerra, tenha sido tão mal construído, chegando a ser constrangedor, ainda mais à medida que se aproxima do final. Se AUSTRÁLIA possui algumas qualidades, como a de conseguir imitar o visual de filmes como o principal homenageado - O MÁGICO DE OZ - e de trazer algumas tomadas aéreas até interessantes, nada consegue salvar o espectador do vexame e do aborrecimento que é ver essa produção. Nem Hugh Jackman, que em certos momentos lembra o jovem Clint Eastwood, nem Nicole Kidman, que anda precisando tomar uma banho de sal grosso, dado os vários equívocos em sua carreira, conseguem elevar a qualidade do filme. Quanto à Nicole, acredito que o último trabalho digno dela tenha sido REENCARNAÇÃO, de Jonathan Glazer.
AUSTRÁLIA trata de um dos momentos mais dramáticos da História do país, que aconteceu quando os Estados Unidos decretaram guerra ao Japão. E todo o Pacífico, inclusive a enorme Austrália, se tornou cenário de guerra e destruição. Pouco antes desse ataque, em 1939, a inglesa Sarah Ashley decide impulsivamente sair de seu país natal para trazer de volta o marido. Assim, ela pega um vôo para a Austrália, conhece um capataz (foi essa a tradução que deram para o personagem de Jackman, e é assim que o veremos ser tratado até o final do filme) que a leva até o local onde estaria o seu marido, para, ao chegar lá, descobrir que ele havia sido assassinado. Através de Nullah, o garotinho nativo e esperto, ela descobre que sua propriedade está à beira da ruína, graças à má fé - para usar de eufemismo - de um rico proprietário local, principal rival de seu marido e provável mandante de sua morte. Junto com o capataz, Lady Ashley tentará reverter a difícil situação.
O filme guarda uma semelhança tremenda e proposital com E O VENTO LEVOU, tanto na caracterização de Nicole Kidman, uma espécie de nova Scarlett O’Hara, quanto no jeitão cheio de confiança de Hugh Jackman, o novo Rhett Butler. Mas isso nem chega a incomodar: o que mais incomoda são as referências a O MÁGICO DE OZ e à canção "Over the Rainbow", que teima em ficar tocando durante boa parte do filme e em variações das notas da trilha sonora. Até parece que os produtores fazem isso de propósito, só para irritar o público, pois se a intenção é emocionar, eu diria que esses caras são completamente "sem-noção".
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