segunda-feira, janeiro 19, 2009
O CURIOSO CASO DE BENJAMIN BUTTON (The Curious Case of Benjamin Button)
O trailer de O CURIOSO CASO DE BENJAMIN BUTTON (2008) foi um dos mais empolgantes que eu vi nos últimos anos. E sabia que existia o risco de eu me decepcionar, tanto pelas comparações que andam fazendo com FORREST GUMP (o roteirista, Eric Roth, é o mesmo do filme de Robert Zemeckis), quanto pelo fato de eu não ser exatamente fã da obra de David Fincher e de ter dormido no elogiado trabalho anterior dele, ZODÍACO (2007). E eis que, surpreendentemente, me deparo com um filme poético, emocionante (desses de levar o público às lágrimas mesmo) e que faz uma bela reflexão sobre a vida, a morte, o envelhecimento e a natureza efêmera dos momentos felizes.
Em O QUARTO DO PÂNICO, David Fincher já vinha trabalhando discretamente com o recurso da câmera virtual - lembram da cena da câmera passando por dentro da asa de uma xícara? - e o cenário de ZODÍACO foi realizado com computação gráfica, por puro capricho do cineasta. Em O CURIOSO CASO DE BENJAMIN BUTTON, Fincher leva esse recurso às últimas consequências, mas dessa vez para materializar a velhice e a juventude dos personagens de Brad Pitt e Cate Blanchett. Se o resultado técnico não chega a ser perfeito é porque a computação gráfica ainda não atingiu um estágio de imitação dos traços humanos que consiga enganar por completo o espectador. O principal problema parece estar nos olhos, que os técnicos da animação digital ainda não conseguiram tornar tão vivos quanto o dos seres humanos. Apesar desse pequeno detalhe, o filme se utiliza do que há de mais avançado nessa tecnologia. Os momentos em que Fincher utiliza de fotografia esmaecida ou envelhecida para narrar algumas cenas em flashback também se mostram bem felizes.
O filme, baseado num conto de F. Scott Fitzgerald, narra a fantástica história de um sujeito que nasce velho, às portas da morte, e vai milagrosamente rejuvenescendo, contrariando a ordem natural da vida. Ainda que mostre um pano de fundo histórico que vem do fim da Primeira Guerra Mundial até o furacão Katrina, em 2002, o foco do filme é o amor entre Benjamin e Daisy, que só conseguem se encontrar e ficar realmente juntos no meio de suas vidas, quando ambos já estão com quarenta e poucos anos de idade. O fato de o filme ser narrado através de um diário deixado por Benjamin e auxiliado por uma Daisy moribunda ao lado de sua filha (Julia Ormond) em plena Nova Orleans prestes a ser arrasada pelo Katrina torna tudo ainda mais urgente e dramático.
Fincher e o roteirista Eric Roth ainda tomam o cuidado para não transformar o trabalho num melodrama excessivamente sério, oferecendo momentos de alívio cômico como forma de conquistar a platéia com risos, como nas cenas em que um dos velhinhos do asilo conta das vezes em que foi atingido por um raio. Ou nos momentos iniciais da chegada do bebê Benjamin à casa de sua mãe adotiva, depois de ter sido rejeitado pelo pai, por ter nascido tão feio. Entre os momentos mais emocionantes, destaco a cena dos cartões postais, já perto do final, mas também destaco os momentos de angústia da passagem do tempo nas cenas de felicidade do casal, condenando a relação dos dois. É o velho tema do amor impossível, que vez ou outra encontra mais uma variação.
Resta saber se o filme vai ser melhor recebido no Oscar ou se repetirá a decepção que foi durante a cerimônia de entrega do Globo de Ouro, onde o trabalho de Fincher saiu com as mãos abanando. No Oscar, O CURIOSO CASO DE BENJAMIN BUTTON deve se destacar principalmente nas categorias mais técnicas, mas talvez haja boas chances de ser bem sucedido nas categorias principais também.
P.S.: Saiu edição nova da Zingu!. O destaque do mês é o dossiê Geny Prado e o especial sobre a ficção científica dos anos 50. Ainda tem Marcelo Carrard falando sobre NEW YORK RIPPER, de Lucio Fulci, e Elisa Cuthbert no Musas Eternas.
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