sexta-feira, janeiro 09, 2009

DE REPENTE NUM DOMINGO (Vivement Dimanche!)




















Primeira revisão de 2009. E não sei por que raios eu não gostei desse filme quando o vi no cinema. O mesmo aconteceu com O ÚLTIMO METRÔ (1980), que se beneficiou muitíssimo da revisão. DE REPENTE NUM DOMINGO (1983), último trabalho de François Truffaut, também causou o mesmo espanto quando o revi. E se de um lado O ÚLTIMO METRÔ me despertou sentimentos fortes emoldurados numa linda carga trágica, DE REPENTE NUM DOMINGO traz uma leveza, uma rapidez e uma euforia impressionantes. Truffaut conseguiu deixar o seu filme com atmosfera de filme B americano de suspense, sem abrir mão de fugir das convenções, sempre que queria. Como colocar uma torneira estourando num comissariado de polícia, por exemplo.

Fanny Ardant está adorável como a secretária de um empresário de imobiliária que se envolve por vontade própria na investigação de uma série de crimes de assassinatos. O primeiro assassinato é mostrado logo na cena de abertura pós-créditos - os créditos mostram apenas Fanny passeando pela rua. Na cena de assassinato, Jean-Louis Trintgnant - conhecido pelos apreciadores do western spaghetti pelo ótimo O VINGADOR SILENCIOSO, de Sergio Corbucci - está próximo de um lago, com um rifle na mão, caçando patos. A edição da seqüência é arbitrariamente confusa para que fiquemos sem saber quem é o assassino, cujo rosto não é mostrado. Pode ser o próprio personagem de Trintgnant.

Estando no cenário do crime, a polícia entra em cena e o leva como principal suspeito do assassinato. Ele chama o seu advogado, que consegue evitar que ele fique preso por um dia ou dois. No estresse do trabalho, ele demite sua secretária, que, não dando muita importância a isso, sai mais cedo para seu ensaio teatral, com um sorriso no rosto. Ao saber do envolvimento de seu chefe com o crime, ela passa a investigar o ocorrido, entrando numa teia de intrigas que faz com que o espectador se perda no meio de tantas pistas e tantos personagens secundários. No final, pouco importa ter entendido completamente a trama. O barato é se deixar perder nesse universo em preto e branco de film noir, baseado no romance de Charles Williams, "The Long Saturday Night".

Truffaut está afiadíssimo em DE REPENTE É DOMINGO. Com sua experiência na direção, ele já tinha alcançado um grau de maturidade que lhe dava pleno domínio da narrativa. Por ser o mais clássico dos cineastas da nouvelle vague, ele sempre quis que o seu cinema fosse atemporal, livre de modismos, e ele foi buscando o seu próprio caminho ao longo de sua carreira, fugindo aos poucos do que havia de pós-moderno em seu cinema. Se bem que, no caso de DE REPENTE É DOMINGO, é difícil disfarçar as homenagens a Hitchcock, um de seus cineastas mais queridos, que no filme aparece em cenas que emulam PSICOSE e JANELA INDISCRETA. As cenas de Fanny Ardant dirigindo o carro na chuva conta até com um enquadramento parecido com o do clássico do mestre do suspense. É, enfim, um filme para se ver com um sorriso no rosto, como se Truffaut não quisesse deixar em seu último filme a tristeza ou a morbidez tão comum em seus demais trabalhos. Truffaut se foi no auge de sua técnica, sempre nos deixando claro o seu amor incondicional pelo cinema. Nunca teremos outro Truffaut.

P.S.: É com prazer e orgulho que anuncio minha contribuição para o site Mulheres do Cinema Brasileiro, criado e mantido com carinho por Adilson Marcelino. Ele me convidou para escrever sobre uma atriz brasileira que me marcou e eu escolhi a Denise Dumont. Confiram!

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