As pessoas estão muito cansadas da fórmula Marvel para o cinema. Mas será que é pela exaustão dos filmes de super-herói ou por que estão cansadas de tantas produções ruins ou medíocres sendo despejadas com a velha desculpa de que serão importantes para a compreensão dos próximos e dos próximos filmes? Isso até pode funcionar na lógica dos quadrinhos, mas no cinema é muito dinheiro sendo gasto e não se perde apenas duas horas ou mais de tempo vendo um filme. Esse mesmo filme vira conteúdo em um monte de canais de YouTube e de críticas escritas também, seja em jornais, seja na internet.
No caso de AS MARVELS (2023), é impressionante ver o quanto o trailer já era visto pelo público como algo no mínimo bastante desinteressante. O resultado é esse: fracasso de bilheteria enquanto as salas que exibem o Festival Varilux de Cinema Francês lotam para vários filmes. Certo: estamos falando de produtos diferentes, mas imagino o quanto a Disney e os Estúdios Marvel estão preocupados com seu futuro. Afinal, 2023 vem trazendo algumas surpresas boas de bilheteria.
Diferentemente dos anteriores do estúdio, não vi AS MARVELS numa sala IMAX. Aqui só estavam exibindo dublado (e no horroroso 3D convertido) nas sessões mais viáveis, enquanto a única sessão legendada dessa sala exibia o filme no último horário. Mesmo assim, vendo numa sala normal, senti falta da tela IMAX. É como se a fotografia não funcionasse em salas normais, como se a minha retina procurasse algo melhor e não encontrasse. Tive a mesma sensação quando vi ETERNOS numa sala normal (e boa). (Curiosamente, até as imagens que a gente procura dos filmes da Marvel na internet são ruins. Imagens de divulgação, digo. Não entendo isso porque isso ocorre, mas deve haver algum motivo.)
Antes que eu me esqueça, acho que o único momento que abri os olhos com interesse para o filme foi com a breve aparição de a lindíssima Thessa Thompson como a Rei Valquíria (deslumbrava-me sempre que Thessa aparecia no divertido THOR – AMOR E TROVÃO). A cena é rápida, mas acho que tem uma importância crucial para o quanto AS MARVELS quer trazer de homoafetividade para o Universo Marvel. Rei Valquíria é uma personagem queer e o modo como ela fala com a Capitã Marvel (Brie Larson) deixa no ar algumas possibilidades. Assim como fica no ar o amor (e a saudade) que Monica Rambeau sente pela Capitã, sua “tia” que a abandonara. São coisas que podem ficar no ar, mostradas de maneira muito discreta e tímida. E dentro de uma estrutura de filme sem respiro, sem tempo para desenvolver personagens minimamente.
O filme já começa com aquela brincadeira de mexer com o espaço-tempo das três personagens, como já havia sido antecipado na cena pós-créditos da série MS. MARVEL (2022). Trata-se de uma desculpa para fazer com que as três personagens ajam como um time. E aproveitando um elemento clássico dos quadrinhos, que são os braceletes quânticos, usados pelo Capitão Marvel, especialmente na época em que ele trocava de lugar com Rick Jones. Ou seja, não há tempo para parar um pouco e mostrar a rotina de vida comum dos personagens, algo que é justamente o que diferencia os quadrinhos da Marvel dos da DC, inclusive.
Ver a Marvel no cinema cada vez mais perdida me deixa um tanto triste. Claramente a preocupação na construção de tijolos que se tornarão parte de um futuro filme-evento faz muito mal para os títulos em si. GUARDIÕES DA GALÁXIA VOL. 3 é lindo e todo coração, mas é exceção atualmente e é algo que pode ser visto à parte dos demais títulos – uma das vantagens, além da excelente direção de James Gunn.
Já AS MARVELS, com suas várias conexões entre filmes e séries, não consegue se manter de pé nem como filme ruim. Nada funciona: humor, direção de arte, texto, atuações. E é triste por manchar o currículo de Nia da Costa (do ótimo A LENDA DE CANDYMAN, 2021), como tem manchado o de outros bons realizadores. O filme desperdiça uma personagem simpática como Kamala Khan (Iman Vellani), que na série era uma coisa e aqui é só uma adolescente deslumbrada quando se percebe ao lado de sua ídola, uma Capitã Marvel próxima da antipatia.
Há uma cena musical à Bollywood que chama a atenção, mas é tudo tão apagado que logo a cena deixa de existir na nossa memória imediata, perder sua função. Além do mais, as sequências de ação com a inimiga da vez são um tédio só. Enquanto isso, o público desanimado ainda espera até o final as cenas pós-créditos. Um público que tem diminuído consideravelmente. Numa das cenas finais, uma promessa para a criação dos Jovens Vingadores pode funcionar para chamar a atenção de um público mais jovem. Sem falar que foi bom rever uma jovem atriz de que gosto muito aparecendo, ainda que muito rapidamente.
+ DOIS FILMES
DEZESSEIS FACADAS (Totally Killer)
Eis um filme feito com a intenção clara de ser leve e engraçado, embora tenha seus momentos de suspense. Em DEZESSEIS FACADAS (2023), de Nahnatchka Khan, a mãe da jovem protagonista é assassinada por um serial killer que não atacava havia 35 anos numa cidadezinha que até ganha com o turismo relacionado às mortes. Sua amiga, um gênio da ciência, a coloca numa máquina do tempo com o objetivo de deter as mortes e o assassino lá em 1987. O divertido no começo do filme é vê-la perguntando se as pessoas viram DE VOLTA PARA O FUTURO, de modo a compreenderem seu drama e sua missão, assim como as conversas com sua própria mãe. É mais um filme que busca homenagear a década de 1980 do que os slashers. talvez por esses já terem sido referenciados, parodiados e recuperados tantas vezes ao longo dos anos.
A FREIRA II (The Nun II)
Esse Michael Chaves deve ser muito amigo de James Wan, já que nada do que ele dirigiu para a empresa Atomic Monster (do Wan) teve um resultado sequer razoável. A primeira metade de A FREIRA 2 (2023) é mais "atmosférico", por assim dizer. Mas se ao menos fosse eficiente. O filme se torna um pouco mais interessante lá pela metade, quando as duas tramas se encontram e surge uma luz para a resolução das investigações da freira vivida por Taissa Farmiga. E não nego que achei bem curioso o caso da santa em questão. Outro ponto positivo é o bode, que se fosse apresentado na franquia INVOCAÇÃO DO MAL também se tornaria um spin-off. Ainda assim, por mais horrível que seja a conclusão, confesso que me causou menos vergonha que a do primeiro A FREIRA (2018). Enfim, alguém precisa falar com o James Wan e dar aquele toque. Dinheiro não é tudo na vida.
Diferentemente dos anteriores do estúdio, não vi AS MARVELS numa sala IMAX. Aqui só estavam exibindo dublado (e no horroroso 3D convertido) nas sessões mais viáveis, enquanto a única sessão legendada dessa sala exibia o filme no último horário. Mesmo assim, vendo numa sala normal, senti falta da tela IMAX. É como se a fotografia não funcionasse em salas normais, como se a minha retina procurasse algo melhor e não encontrasse. Tive a mesma sensação quando vi ETERNOS numa sala normal (e boa). (Curiosamente, até as imagens que a gente procura dos filmes da Marvel na internet são ruins. Imagens de divulgação, digo. Não entendo isso porque isso ocorre, mas deve haver algum motivo.)
Antes que eu me esqueça, acho que o único momento que abri os olhos com interesse para o filme foi com a breve aparição de a lindíssima Thessa Thompson como a Rei Valquíria (deslumbrava-me sempre que Thessa aparecia no divertido THOR – AMOR E TROVÃO). A cena é rápida, mas acho que tem uma importância crucial para o quanto AS MARVELS quer trazer de homoafetividade para o Universo Marvel. Rei Valquíria é uma personagem queer e o modo como ela fala com a Capitã Marvel (Brie Larson) deixa no ar algumas possibilidades. Assim como fica no ar o amor (e a saudade) que Monica Rambeau sente pela Capitã, sua “tia” que a abandonara. São coisas que podem ficar no ar, mostradas de maneira muito discreta e tímida. E dentro de uma estrutura de filme sem respiro, sem tempo para desenvolver personagens minimamente.
O filme já começa com aquela brincadeira de mexer com o espaço-tempo das três personagens, como já havia sido antecipado na cena pós-créditos da série MS. MARVEL (2022). Trata-se de uma desculpa para fazer com que as três personagens ajam como um time. E aproveitando um elemento clássico dos quadrinhos, que são os braceletes quânticos, usados pelo Capitão Marvel, especialmente na época em que ele trocava de lugar com Rick Jones. Ou seja, não há tempo para parar um pouco e mostrar a rotina de vida comum dos personagens, algo que é justamente o que diferencia os quadrinhos da Marvel dos da DC, inclusive.
Ver a Marvel no cinema cada vez mais perdida me deixa um tanto triste. Claramente a preocupação na construção de tijolos que se tornarão parte de um futuro filme-evento faz muito mal para os títulos em si. GUARDIÕES DA GALÁXIA VOL. 3 é lindo e todo coração, mas é exceção atualmente e é algo que pode ser visto à parte dos demais títulos – uma das vantagens, além da excelente direção de James Gunn.
Já AS MARVELS, com suas várias conexões entre filmes e séries, não consegue se manter de pé nem como filme ruim. Nada funciona: humor, direção de arte, texto, atuações. E é triste por manchar o currículo de Nia da Costa (do ótimo A LENDA DE CANDYMAN, 2021), como tem manchado o de outros bons realizadores. O filme desperdiça uma personagem simpática como Kamala Khan (Iman Vellani), que na série era uma coisa e aqui é só uma adolescente deslumbrada quando se percebe ao lado de sua ídola, uma Capitã Marvel próxima da antipatia.
Há uma cena musical à Bollywood que chama a atenção, mas é tudo tão apagado que logo a cena deixa de existir na nossa memória imediata, perder sua função. Além do mais, as sequências de ação com a inimiga da vez são um tédio só. Enquanto isso, o público desanimado ainda espera até o final as cenas pós-créditos. Um público que tem diminuído consideravelmente. Numa das cenas finais, uma promessa para a criação dos Jovens Vingadores pode funcionar para chamar a atenção de um público mais jovem. Sem falar que foi bom rever uma jovem atriz de que gosto muito aparecendo, ainda que muito rapidamente.
+ DOIS FILMES
DEZESSEIS FACADAS (Totally Killer)
Eis um filme feito com a intenção clara de ser leve e engraçado, embora tenha seus momentos de suspense. Em DEZESSEIS FACADAS (2023), de Nahnatchka Khan, a mãe da jovem protagonista é assassinada por um serial killer que não atacava havia 35 anos numa cidadezinha que até ganha com o turismo relacionado às mortes. Sua amiga, um gênio da ciência, a coloca numa máquina do tempo com o objetivo de deter as mortes e o assassino lá em 1987. O divertido no começo do filme é vê-la perguntando se as pessoas viram DE VOLTA PARA O FUTURO, de modo a compreenderem seu drama e sua missão, assim como as conversas com sua própria mãe. É mais um filme que busca homenagear a década de 1980 do que os slashers. talvez por esses já terem sido referenciados, parodiados e recuperados tantas vezes ao longo dos anos.
A FREIRA II (The Nun II)
Esse Michael Chaves deve ser muito amigo de James Wan, já que nada do que ele dirigiu para a empresa Atomic Monster (do Wan) teve um resultado sequer razoável. A primeira metade de A FREIRA 2 (2023) é mais "atmosférico", por assim dizer. Mas se ao menos fosse eficiente. O filme se torna um pouco mais interessante lá pela metade, quando as duas tramas se encontram e surge uma luz para a resolução das investigações da freira vivida por Taissa Farmiga. E não nego que achei bem curioso o caso da santa em questão. Outro ponto positivo é o bode, que se fosse apresentado na franquia INVOCAÇÃO DO MAL também se tornaria um spin-off. Ainda assim, por mais horrível que seja a conclusão, confesso que me causou menos vergonha que a do primeiro A FREIRA (2018). Enfim, alguém precisa falar com o James Wan e dar aquele toque. Dinheiro não é tudo na vida.
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