sábado, maio 15, 2021
O SEPULCRO INDIANO (Das Indische Grabmal)
1959 foi um ano singular para a história do cinema. Ao mesmo tempo que apontava para um novíssimo caminho, com a estabelecimento da Nouvelle Vague francesa com filmes como OS INCOMPREENDIDOS, de François Truffaut, OS PRIMOS, de Claude Chabrol, e HIROSHIMA MEU AMOR, de Alain Resnais, além de trazer também um cinema americano independente cheio de frescor, com SOMBRAS, de John Cassavetes, entre outros casos; os mestres estabelecidos tiveram a chance de mostrar obras-primas, como é o caso de INTRIGA INTERNACIONAL, de Alfred Hitchcock; ONDE COMEÇA O INFERNO, de Howard Hawks; ANATOMIA DE UM CRIME, de Otto Preminger; IMITAÇÃO DA VIDA, de Douglas Sirk, entre outros.
Nessa mesma situação, ou quase, estava Fritz Lang, desta vez de volta ao velho mundo, realizando uma terceira adaptação para o cinema do romance de Thea von Harbou. Já falei aqui sobre O TIGRE DA ÍNDIA (1959). Então, vamos falar um pouco sobre sua continuação, O SEPULCRO INDIANO (1959), que é praticamente tão boa quanto a primeira parte, exceto por uns problemas de pressa de edição em sua conclusão. Ainda assim, é desses trabalhos admiráveis, principalmente do ponto de vista formal.
E foi por esse aspecto, principalmente, que os críticos franceses da Cahiers du Cinéma elogiaram tanto o díptico aventureiro de Lang. Na edição de fim de ano da revista, nas 30 listas individuais dos críticos, os dois épicos indianos aparecem em onze (por Resnais, Rivette e Chabrol, inclusive), sendo que, em quatro dessas onze listas, os filmes aparecem em primeiro lugar. Ou seja, além do sucesso comercial que os filmes obtiveram na Europa, ainda houve a excelente aceitação dos jovens críticos franceses, que na verdade contrariavam os demais críticos do resto do mundo, que apontavam muitos defeitos ao épico indiano.
No final de O TIGRE DA ÍNDIA, o casal de amantes havia fugido, numa tentativa de deixar o país, mas acabaram sucumbindo ao cansaço e a uma tempestade de areia no deserto. No começo de O SEPULCRO INDIANO, eles são resgatados por uma comunidade humilde, mas logo são encontrados pelos guardas do marajá, que capturaram a dançarina prometida (Debra Paget). Quanto ao destino do arquiteto (Paul Hubschimid), isso fica em suspenso, já que seu corpo cai em um espaço cercado por jacarés. O personagem, que era o protagonista na primeira parte, perde o protagonismo nesta segunda. Por outro lado, entram em cena mais dois personagens importantes, a irmã do arquiteto e seu cunhado. Enquanto isso, a situação no palácio se torna instável devido a uma disputa interna de poder.
Se na primeira parte havia uma cena de dança memorável, aqui a cena de dança talvez seja ainda mais antológica. Debra Paget, usando vestimentas bem ousadas para aquela época, dança diante de uma cobra. Curiosamente, não houve muito empenho da produção em esconder os fios que faziam a cobra (mecânica) se mexer, o que passa uma impressão de desleixo, especialmente se compararmos com o cinema produzido em Hollywood. Mas não creio que isso tire a beleza do filme; só torna a cena ainda mais belamente estranha.
Assim como a primeira parte, O SEPULCRO INDIANO é um filme que tem um olhar para o passado, especialmente para filmes como AS ARANHAS (1919-20) e OS NIBELUNGOS (1924), por serem filmes em duas partes e também com um quê de vingança; e OS ESPIÕES (1928), afinal, na segunda parte as intrigas palacianas e tudo o mais envolvido lembram muito as tramas de espionagem tão caras ao cineasta. Por isso, é difícil não ficar no ar essa impressão de obra anacrônica. Mas é bom incluir um advérbio junto: deliciosamente anacrônica.
+ DOIS FILMES
UM BALDE DE SANGUE (A Bucket of Blood)
Da safra de filmes bons e baratos de Roger Corman, este UM BALDE DE SANGUE (1959) tem um senso de humor notável, que além de zoar a cultura beatnik ainda faz rir com as situações cada vez mais absurdas que o protagonista meio cabeça oca começa a cometer, depois de transformar o cadáver de um gato em uma escultura de argila e passar a ser visto como um artista muito talentoso pelo grupo de pessoas do bar onde trabalha. Corman uniria a comédia com o horror novamente um ano depois, com A LOJA DE HORRORES (1960). Filme presente no box Obras-Primas do Terror 12.
A MULHER NA JANELA (The Woman in the Window)
Não entendo como sai um filme como esses de um diretor tão hábil como o Joe Wright. Em alguns momentos de A MULHER NA JANELA (2021) é possível ver a habilidade do diretor em pequenos detalhes, como a cena da cadeira de balanço e uma visão de flashback da personagem da Amy Adams. Há outras tomadas também muito boas, mas a história ou o roteiro ou o que quer que aquilo seja parece algo feito deliberadamente para não ser levado a sério. Não que isso seja um problema, mas no fim das contas o que temos é um fracasso. Especialmente no clímax, com a luta da heroína com o vilão. Aquilo ali retirou todos (ou quase todos) os momentos de simpatia que eu tinha com o filme até então. Muito provavelmente é o caso de história de bastidor mais interessante do que o filme. Desejo ressurreição para Joe Wright depois deste filme.
Nenhum comentário:
Postar um comentário