quinta-feira, maio 13, 2021

O TIGRE DA ÍNDIA / O TIGRE DE BENGALA (Der Tiger von Eschnapur)



Hoje faz um ano que comecei a minha peregrinação pela obra de Fritz Lang. A intenção não era ter demorado tanto assim. Mas esse período de um ano não foi muito fácil. A gente precisa lidar com momentos de desânimo e outras tantas situações que acabam prejudicando essas coisas que tanto amo, que é ver filmes e escrever sobre eles. E gosto especialmente quando tenho a chance de estudar sobre os realizadores e suas obras maravilhosas. Felizmente este é o caso de Fritz Lang, que tantas alegrias trouxe para a humanidade em seus 43 filmes sobreviventes.

Quanto a O TIGRE DA ÍNDIA (1959), eu estava tão entusiasmado com a maravilhosa safra dos filmes do diretor produzidos nos Estados Unidos em um período de 20 anos que, a princípio, fiquei um pouco desanimado com este retorno do cineasta à Alemanha, ainda mais para dirigir uma aventura nos moldes de seus primeiros trabalhos. Acontece que O TIGRE DA ÍNDIA (ou O TIGRE DE BENGALA) é a aventura mais empolgante já dirigida por Lang (isso se não contarmos os westerns, ou talvez até mesmo se contarmos).

Ao voltar para a Alemanha, Lang resolveu pegar um roteiro que havia escrito com sua então esposa Thea von Harbou no início dos anos 1920 e que ele não pôde realizar porque o produtor Joe May queria ele mesmo dirigir o projeto. O curioso é que o filme em duas partes dirigido por May, THE INDIAN TOMB (1921), hoje é um tanto esquecido. Assim como também é, provavelmente, a refilmagem feita por Richard Eichberg, em 1938, quando Lang já havia fugido da Alemanha, também lançado em duas partes.

Lang havia ido para a Índia em 1956, em um convite para realizar um filme sobre o Taj Mahal, algo que acabou não se concretizando. Felizmente a Índia o atraiu de volta quando ele resolveu materializar aquele projeto com Thea von Harbou. E eis que surge esta maravilha em cores deslumbrantes que remete um pouco a AS ARANHAS (1919-20), no sentido de contar uma história de aventura em uma terra exótica, mas desta vez com décadas de aprendizado na arte de fazer grandes filmes.

A história é simples: arquiteto alemão (Paul Hubschmid) viaja para elaborar um projeto para um poderoso marajá no século XVIII e se apaixona por dançarina indiana (Debra Paget) que está destinada a ser princesa do tal marajá (Walther Reyer). Há momentos de perigo e tensão e termina com um gancho poderoso para que queiramos ver logo a continuação, O SEPULCRO INDIANO (1959), lançada dois meses depois.

Debra Paget, que ficou famosa por ter rejeitado Elvis Presley (os dois trabalharam juntos em AMA-ME COM TERNURA), está deslumbrante. Sua cena de dança é hipnotizante e muito sensual, seja pela dança em si, seja pelas vestimentas. 

O filme fez sucesso de público na Europa, mas não foi muito bem nos Estados Unidos. As críticas também não foram muito positivas. De certa forma é até compreensível o estranhamento, assim como é possível encontrar falhas ou ver fragilidades na obra. Do ponto de vista da psicologia dos personagens, por exemplo, eles parecem mais modelos para servirem a uma narrativa à moda antiga.

Foram os críticos franceses que perceberam a grandeza da obra. Claude Chabrol foi um dos mais entusiastas do filme, que era mais valorizado por sua perfeição formal, seu uso da decoração da estrutura espacial. Eu ainda acrescentaria o prazer de ver o filme como uma aventura empolgante, esquecendo certos detalhes hoje incômodos como todos os indianos falando alemão (na versão dublada em alemão, claro) e os personagens principais que interpretam indianos serem na verdade europeus ou americanos. Mas isso é um tipo de reclamação que talvez não combinasse muito com o cinema feito naquela época.

De todo modo, eu, que sempre preferi os filmes em preto e branco de Lang, justamente por terem esse cuidado maior com a forma, com a direção de arte, com a fotografia, tive que dar o braço a torcer com este trabalho que também sabe lidar com todos esses detalhes e ainda aproveitar muito da geografia indiana e suas cores vivas.

+ DOIS FILMES

OXIGÊNIO (Oxigène)

O novo trabalho de Alexandre Aja, OXIGÊNIO (2021), teve sua estreia mundial na Netflix nesta quarta-feira, 12 de maio. É um filme que foi feito dentro das possibilidades de um mundo numa pandemia e talvez por isso as referências à situação da Covid sejam bem explícitas. E não apenas no que se refere à falta de oxigênio que começa a acontecer dentro da câmara criogênica em que uma desmemoriada mulher (Mélanie Laurent) acorda. Aos poucos, vamos, junto com ela, desvendando os segredos daquela situação, quem ela é, por que ela está ali, qual o sentido de tudo etc. É ótima a participação de Mathieu Amalric como a inteligência artificial que conversa com a protagonista durante quase toda a narrativa.

COME TRUE

Só de ser um filme sobre investigação do fenômeno dos sonhos em uma abordagem horror e sci-fi já é de despertar o interesse. A trilha sonora com sintetizadores traz um clima 80's interessante para COME TRUE (2020), assim como a jovem protagonista (Julia Sarah Stone) tem um brilho todo próprio, desde o começo do filme, quando é alvo de bullying na escola por dormir durante a aula e estar sempre precisando de um café, até o momento que resolve participar de um experimento envolvendo sono e sonho. O momento mais fascinante deste filme de Anthony Scott Burns é o final, com um passeio dos três personagens principais pela noite. Esse diretor tem jeito de que vai ainda trazer coisas interessantes no futuro.

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