segunda-feira, julho 13, 2020

OS CONQUISTADORES (Western Union)

Não sei se o meu amor por OS CONQUISTADORES (1941) se deve exclusivamente à direção muito acertada de Fritz Lang ou se por um sentimento afetuoso por Randolph Scott. O astro de tantos westerns é tão querido que a Versátil lançou um volume de Cinema Faroeste (o de número 9) só com filmes estrelados por ele (inclusive este do Lang). Mas não há como não perceber o quanto o nosso querido cineasta alemão estava fazendo o gênero americano por excelência com muito tesão. Isso transparece em cada frame e por isso o filme é tão gostoso de ver.

Depois do sucesso de A VOLTA DE FRANK JAMES (1940), o diretor foi convidado pela Fox para dirigir um outro western. E deu ainda mais certo, pois é um trabalho ainda melhor e muito mais independente. Afinal, não era continuação de outro filme. E feito com toda a estrutura que uma grande companhia de Hollywood podia oferecer, e com a beleza daquela technicolor da época. Ainda assim, a primeira imagem do filme, de Randolph Scott no sol, em fuga, é uma imagem que lida com a sombra, mais do que com a luz. Trata-se de um personagem que, logo veremos, está fugindo de seu passado sombrio.

Mas OS CONQUISTADORES também pertence à grande leva de filmes americanos do gênero que ajudaram a contar muito da construção da civilização americana no século XIX. No caso, o foco aqui é o esforço para conseguir levar o telégrafo para as áreas mais a oeste dos Estados Unidos. A Western Union do título original é uma empresa multinacional que começou seu trabalho lá naquela época. E no filme podemos ver de forma mais prática um bocado desse esforço, no tempo em que Abraham Lincoln era presidente.

Mesmo sendo um filme do início dos anos 1940, já havia um cuidado da parte de Lang e de seu roteirista de não tratar os índios como um povo selvagem que deveria ser aniquilado em prol da tranquilidade dos brancos. O personagem de Scott fala a língua dos nativos e não tem o menor interesse em começar uma guerra com eles. Além do mais, os verdadeiros inimigos são brancos que se fazem passar por índios e que ainda manipulam os índios com álcool para roubar e matar.

Lang fez um trabalho que foi muito elogiado pelas pessoas que viveram e lembravam daquele momento do Velho Oeste em suas vidas e houve alguém que enviou uma carta a Lang enaltecendo o fato de este ser o filme que melhor apresentou com realismo e detalhes aquele período. Isso se deveu a estudos por parte de Lang, assim como ele tinha feito quando estudou os tribunais para fazer FÚRIA (1936). E há realismo também em detalhes da trama, como no momento em que o personagem de Scott esfrega suas mãos queimadas para saber se ainda possui força o suficiente para usar uma arma e combater seu inimigo.

Mas é interessante eu ter falado dos personagens e só ter citado Vance Shaw, o personagem de Randolph Scott, que é o segundo nome a aparecer nos créditos, embora ofusque a todos do elenco. O primeiro nome dos créditos é o de Robert Young, que interpreta Richard Blake, um sujeito da cidade grande que chega em Omaha, Nebraska, para trabalhar no serviço de telégrafos de Edward Creighton (Dean Jagger), o homem que foi salvo por Shaw logo no início do filme. Shaw passa a trabalhar, a convite de Creighton, para a Western Union, como uma pessoa de confiança para assuntos de segurança. Tanto Shaw quanto Blake têm interesse na bela irmã de Creighton, Sue (Virginia Gilmore), o que traz elementos tanto cômicos quanto românticos para a história. E falando em elementos cômicos, como esquecer o personagem do cozinheiro?

Não posso encerrar o texto sem falar em um dos momentos que mais me impressionaram, entre tantos, que é o instante em que os três homens saem para buscar um acordo de paz com os índios e se deparam com duas centenas deles, todos pintados para a guerra. A imagem é de um impacto incrível, ainda que o recurso seja aparentemente simples para trazer a surpresa e um punhado de terror. É sensacional. Pena que Lang só faria mais um western em sua carreira, O DIABO FEITO MULHER (1952). Até lá, há ainda muita coisa boa feita pelo diretor para ver.

+ TRÊS FILMES

CAVALGADA DOS PROSCRITOS (The Long Riders)

Fui com algum entusiasmo para ver este filme, acreditando que seria tão interessado na história de Jesse James quanto os filmes de Henry King e Nicholas Ray. Mas aqui é outra proposta, trazendo mais luz aos atos do bando, que eram basicamente assaltar bancos e trens. Há pouco espaço para situações mais dramáticas, mesmo com o realismo da violência dos tiroteios. O filme explora mais o personagem de David Carradine, que faz um dos irmãos Younger. Mais até que os irmãos James (vividos por James e Stacy Keach). Inclusive o ator que faz o Jesse James é bem fraco e sem carisma. Confesso que deu saudade da velha Hollywood, cujos filmes tinham menos interesse nas cenas de tiroteio e ação e mais nos dramas e nas relações entre os personagens. Direção: Walter Hill. Ano: 1980.

REDEMOINHO

Interessante um cineasta surgido de vários trabalhos para a televisão brasileira. Há um cuidado com a imagem que agrada bastante, mas é um filme em que a história exerce uma importância grande e que acaba sendo um pouco prejudicada pelo roteiro. O que compensa são os ótimos intérpretes (Júlio Andrade, Irandhir Santos, Dira Paes, Cássia Kis). Direção: José Luiz Villamarim. Ano: 2016.

12 HORAS PARA SOBREVIVER - O ANO DA ELEIÇÃO (Purge - Election Year)

O primeiro THE PURGE (2013) era legal, o segundo (2014), apenas ok; este terceiro nem deveria ter sido feito. Chega a ser aborrecido de ver. Vai ver eu nunca fui mesmo fã da franquia. Eu paro por aqui. Espero que eles parem também. Direção: James DeMonaco. Ano: 2016.

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