quarta-feira, maio 27, 2020

O ESTRIPADOR DE NOVA YORK (Lo Squartatore di New York / New York Ripper)

A leitura ontem de uma aventura excelente do gibi Júlia - Aventuras de uma Criminóloga (mais exatamente a história "Jerry Desapareceu") me trouxe uma vontade enorme de ver filmes policiais escritos e dirigidos por italianos. Foi quando eu vi meus boxes amarelos da coleção Giallo, da Versátil, dando sopa. Então, foi só escolher qual filme gostaria de ver. Apesar de ontem estar ainda mais inquieto do que o costume e ter tido muita dificuldade de dormir, optei por um filme curto (1h30). E por um filme de um diretor que admiro, mas cujo último título que vi foi há um bom tempo.

Lucio Fulci é daqueles cineastas que ainda hoje são menosprezados por parte de certa crítica mais tradicionalista e menos aberta a experiências extremas. O ESTRIPADOR DE NOVA YORK (1982) é um de seus filmes de que mais gostei. É uma espécie de giallo tardio, com influência forte dos slashers que estavam dominando o período, com uma pitada mais forte de sexo e com uma violência gráfica tão incômoda quanto bela. O que dizer da cena em que o assassino corta com a faca o mamilo de uma de suas vítimas? E a que atravessa um olho?

A exemplo de um giallo mais tradicional, por assim dizer, que vi no ano passado e que me deu muito prazer, O QUE VOCÊS FIZERAM COM SOLANGE?, de Massimo Dallamano, o filme de Fulci também mostra um assassino que tem preferência em atacar diretamente o sexo da vítima. É a vagina o principal ponto do corpo das vítimas, sempre mulheres, que o serial killer prefere enfatizar em seus ataques, seja a faca, seja com uma garrafa quebrada. Mas o grande diferencial desse assassino é que ele tem uma voz de pato, como o Pato Donald. É assim que ele fala com as vítimas na hora dos ataques, é assim que ele se comunica por telefone com o detetive de polícia veterano vivido por Jack Hedley.

Fulci não tem muito interesse em desenvolver os personagens, nem mesmo o detetive, mas isso não chega a ser um problema para o filme. O interesse maior é mostrar as cenas dos ataques do assassino. E diferente de outros gialli, este aqui não traz o ponto de vista do vilão, através da câmera, mas da vítima mesmo. Vale destacar alguns personagens que surgem e que vão ganhando força na teia da trama. Primeiramente o psicólogo que ajuda o detetive a desvendar o crime. Depois, há um casal muito suspeito - em alguns momentos passamos a achar que um dos dois é o assassino, sendo que a jovem mulher foi uma sobrevivente de um ataque. Há também uma mulher que vai à procura de sexo em inferninhos e botecos de Nova York; e, finalmente, o principal suspeito, o homem de três dedos. A narrativa aos poucos vai ficando mais complexa e a lista de suspeitos vai aumentando.

O ESTRIPADOR DE NOVA YORK é desses filmes que prendem a atenção do início ao fim, longe de ser um convite a sair da poltrona, a não ser que o espectador seja muito sensível às cenas de violência, que são sim bem gráficas, mas é sempre bom lembrar que o trabalho de Fulci e de outros mestres italianos do horror tem uma preocupação muito forte com a beleza das imagens, com a fotografia e a direção de arte. E o vermelho forte do sangue que jorra na tela ajuda a tornar essas obras tão bonitas quanto quadros pós-modernos doentios.

+ TRÊS FILMES

LOST GIRLS - OS CRIMES DE LONG ISLAND (Lost Girls)

Não fosse o destaque que o pessoal do Cinema na Varanda deu em um de seus episódios eu teria passado batido com este filme. Afinal, tenho os dois pés atrás com as produções da Netflix. Mas esse filme não é produção do serviço de streaming, pelo que entendi, mas um filme que passou em Sundance e que foi comprado para exibição na telinha. Por mais que tente ser uma obra diferente (e é, de certa forma), ao abordar a dor das mães das vítimas de um assassino serial à solta, e não nas investigações, o filme acaba não tendo força o suficiente para fazer com que aquele momento final, que é realmente muito bonito, seja um momento de catarse. Ainda assim, fiquei feliz quando vi a participação de Lola Kirke no elenco. É um papel pequeno, mas eu adoro essa menina. Se eu soubesse que ela estava no filme, já teria visto no dia que estreou. Direção: Liz Garbus. Ano: 2020.

O TORTURADOR

Senti dificuldade de entrar no espírito do filme, seu estilo galhofeiro, por mais que simpatize com o personagem do Otávio Augusto e suas frequentes brincadeiras com as canções de Roberto Carlos. Por mais que entendamos que é uma espécie de comédia, e também muito ousada em usar o tema da tortura tão abertamente em plena ditadura militar e ainda acrescentar uma cena de pegação gay, apesar disso tudo, seu senso de humor não me ganhou. Acho que a cena de que eu mais gosto é uma com Rejane Medeiros na cama com o Jece Valadão, que podia ser mais longa. E olha que eu adoro os dois filmaços que o Antônio Calmon fez antes deste: TERROR E ÊXTASE (1979) e EU MATEI LÚCIO FLÁVIO (1979). Ano: 1980.

NEVE NEGRA (Nieve Negra)

Como costumam dizer que o cinema argentino é muito bom em roteiros, acredito que este aqui é uma exceção. Falta uma construção melhor arquitetada da história e o filme acaba não se sustentando em outros aspectos. Nem o Darín fazendo cara de poucos amigos ajuda. Quem acaba se destacando é a bela Laia Costa. Deu até vontade de ver VICTORIA, só pra vê-la novamente. Direção: Martin Hodara. Ano: 2017.

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