Para um Oscar com poucos indicados ótimos dentre os oito da categoria principal, até que a festa se mostrou boa, com alguns momentos memoráveis, como a premiação a Spike Lee pelo excelente INFILTRADO NA KLAN. Ainda que tenha sido na categoria de roteiro adaptado, a alegria foi muito maior, com Lee subindo nos braços do amigo Samuel L. Jackson. A comemoração foi muito maior do que quando Alfonso Cuarón subiu para receber a estatueta de melhor direção por ROMA. Sem falar que o discurso de Lee foi o melhor da noite, metendo o dedo na ferida sem dó.
Outro momento muito bonito, talvez o mais bonito da noite, foi a apresentação de "Shallow", cantada por Lady Gaga e Bradley Cooper, de forma comovente e bem destacada das demais canções que disputadas. A cantora e Cooper não saíram de trás do palco, nem tiveram seus nomes chamados por alguém. Já começou daí a diferença. O prêmio já era garantido.
Falando em música, se na edição deste ano não tivemos um host, ao menos a festa começou ao som de Queen, com Adam Lambert substituindo Freddie Mercury, como foi quando a banda se apresentou na edição do Rock in Rio de 2015. Pena que foi muito rápido, apenas versões compactas de duas canções muito famosas ("We will rock you" e "We are the champions"). Ainda assim, o suficiente para alegrar a audiência presente e dar uma pontada de inveja de quem só viu pela televisão.
Do ponto de vista político, foi um Oscar bastante misto e muito interessado em tratar das questões raciais. Três dos oito filmes tratavam do assunto, cada um à sua maneira: PANTERA NEGRA, INFILTRADO NA KLAN e GREEN BOOK - O GUIA. E três também tratavam de relações homoafetivas: BOHEMIAN RHAPSODY, GREEN BOOK - O GUIA e A FAVORITA. E dois filmes tratam da conjuntura política do passado para falar do presente: INFILTRADO NA KLAN e VICE.
E não devemos esquecer de ROMA, que também tem tudo a ver com esse momento atual, de construção de pontes para "proteger" os americanos dos imigrantes. Quando Javier Bardem subiu ao palco para dar o prêmio de filme estrangeiro para Cuarón isso ficou muito claro. Além do mais, em determinado momento, Barbra Streisand, ao falar de Spike Lee e de INFILTRADO NA KLAN, disse "A verdade é muito importante nos dias de hoje." A gente aqui do Brasil sente na pele isso também.
No terreno das premiações, além do Oscar para Spike Lee, também foi uma surpresa boa a premiação de melhor atriz para Olivia Colman, o único Oscar para A FAVORITA. Tudo bem que o mais justo seria premiar as três atrizes do filme, já que as três são protagonistas, mas na falta dessa opção, muito melhor dar um prêmio de um trabalho ótimo de uma atriz do que um prêmio pelo "conjunto da obra" para um filme morno como A ESPOSA, o então favorito a ganhar na categoria. Foi tão surpreendente que nem Colman nem Glenn Close acreditaram.
Outra zebra da noite foi o prêmio de melhores efeitos visuais para O PRIMEIRO HOMEM, que desbancou o favorito, o épico da Marvel/Disney VINGADORES - GUERRA INFINITA. A Disney também perdeu na categoria de animação para a animação da Sony HOMEM-ARANHA NO ARANHAVERSO, que já era a favorita na categoria e de fato apresenta algo novo.
E é isso. Para quem reclamava do Oscar so white, tivemos até o momento a premiação com o maior número de Oscars para atores e técnicos negros em muito tempo. Sem falar nos prêmios para ROMA (se bem que no fim das contas, Cuarón foi quem subiu ao palco as três vezes, já que a direção de fotografia também era dele).
Uma pena, porém, que a Academia resolveu premiar como melhor filme uma obra tão ultrapassada como GREEN BOOK - O GUIA, uma versão pouco inteligente e muito demasiadamente pacificadora da questão racial. Depois de alguns prêmios acertados, ver a equipe do filme de Peter Farrelly subindo ao palco deixou um amargo na boca. Talvez, afinal, fosse querer demais da Academia uma postura ao mesmo tempo progressista e revolucionária. Raramente isso é possível.
Os Premiados
Melhor Filme – GREEN BOOK - O GUIA
Direção – Alfonso Cuarón (ROMA)
Ator – Rami Malek (BOHEMIAN RHAPSODY)
Atriz – Olivia Colman (A FAVORITA)
Ator Coadjuvante – Mahershala Ali (GREEN BOOK - O GUIA)
Atriz Coadjuvante –Regina King (SE A RUA BEALE FALASSE)
Roteiro Original – GREEN BOOK - O GUIA
Roteiro Adaptado – INFILTRADO NA KLAN
Fotografia – ROMA
Montagem – BOHEMIAN RHAPSODY
Trilha Sonora Original – PANTERA NEGRA
Canção Original - "Shallow", de NASCE UMA ESTRELA
Mixagem de Som – BOHEMIAN RHAPSODY
Edição de Som – BOHEMIAN RHAPSODY
Efeitos Visuais – O PRIMEIRO HOMEM
Design de produção – PANTERA NEGRA
Figurino – PANTERA NEGRA
Maquiagem e cabelos – VICE
Filme Estrangeiro – ROMA (México)
Longa de Animação – HOMEM-ARANHA NO ARANHAVERSO
Curta de Animação – BAO
Curta-metragem – SKIN
Documentário – FREE SOLO
Curta Documentário – ABSORVENDO O TABU
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