terça-feira, novembro 29, 2011
CINCO CURTAS
Escrever sobre curtas é bom, pois dá para ser um pouco mais objetivo. Pelo menos, em teoria. Seguem cinco curtas-metragens bem diversos, vistos recentemente.
SIX SHOOTER
Impressionante a estreia na direção de Martin McDonagh, mais conhecido por NA MIRA DO CHEFE (2008). Seu curta SIX SHOOTER (2004, foto) tem muitos elementos do longa, com sua carga de tragédia, mas com um humor negro bem particular. Há também a presença de Brendan Gleeson, como sempre muito bom. Ele é o homem que depois de ter visto a sua esposa morta vai parar num trem em direção a Dublin e encontra um rapaz sem-noção e sem respeito pelas pessoas. E é melhor não contar mais que isso. Dei boas gargalhadas com esse filme e recomendo fortemente.
UMA HISTÓRIA SEVERINA
Desconhecia esse curta brasileiro premiado em vários festivais. O documentário UMA HISTÓRIA SEVERINA (2005), de Debora Diniz e Eliane Brum, foi exibido numa das aulas de Literatura Regional do mestrado e fiquei com um nó na garganta com o drama da mulher grávida de um feto sem cérebro tendo que lidar com uma Lei que proibiu os hospitais de realizarem aborto para esses casos, justo no dia em que ela deu entrada no hospital. Com cenas do Supremo Tribunal Federal contrastando com os depoimentos emocionados de Severina e do marido, recortados em capítulos com imagens de xilogravuras que remetem à literatura de cordel, o filme é um dos mais dolorosos e impressionantes curtas que eu já vi nos últimos anos. É possível encontrá-lo à venda em DVD em algumas livrarias.
DIÁLOGOS E AUSÊNCIAS NA SAGA DO CORDEL
Outro curta exibido numa das aulas, DIÁLOGOS E AUSÊNCIAS NA SAGA DO CORDEL (2007) na verdade nem tem título ainda. Eu que pedi um título ao diretor e amigo Elder Vidal, que fez um trabalho muito bom sobre uma visita à família de Patativa do Assaré, documentando sua ausência e a presença física personificada na figura do filho, que procura imitar o pai nas vestimentas, mas que se considera frustrado por não ser um poeta. Outro depoimento interessante é o da filha de Patativa, que passa a impressão de ainda estar vivendo com o pai, quando criança. O depoimento dela é o que mais revela aspectos da vida cotidiana do poeta. Todo mundo na sala incentivou o Elder a inscrever o filme em festivais.
HÔTEL DES INVALIDES
Longe de ter o mesmo impacto de SANGUE DAS BESTAS (1949), esse documentário de Georges Franju sobre um museu de guerra tem a intenção de mostrar o passado glorioso da França, mas que no recorte do diretor e na narração de Michel Simon só acentua o quão absurdas são as guerras e tudo aquilo relacionado a elas. HÔTEL DES INVALIDES (1952) mostra, dessa vez indiretamente, não mais o sangue dos animais, mas o sangue dos homens, derramado em vários conflitos.
WERNER HERZOG EATS HIS SHOE
O filme é exatamente o que o título descreve. O cineasta alemão Werner Herzog havia feito uma aposta com Errol Morris que, se ele fizesse um filme, ele comeria o seu sapato. Assim, na pré-estreia de GATES OF HEAVEN, de Morris, lá estava o alemão louco oferecendo um pouco de diversão para a plateia e prestigiando o filme do amigo. O sapato, mesmo depois de cinco horas cozido com muito alho, verduras e outros temperos, continuou tão duro de comer que foi preciso de uma tesoura para cortá-lo em pedaços. No fim, WERNER HERZOG EATS HIS SHOE (1980) funciona mais como uma bela propaganda do filme de Morris, que é bem mais do que um documentário sobre um cemitério de animais. Fico em débito com Morris e também com Herzog, cineasta que já tem tantos filmes interessantes no currículo. E eu vi tão poucos.
domingo, novembro 27, 2011
A SAGA CREPÚSCULO: AMANHECER – PARTE 1 (The Twilight Saga: Breaking Dawn – Part 1)
É até possível ver isso que chamam de "Saga Crepúsculo" (esse nome "saga" associado ao nome do primeiro filme é difícil de dizer sem achar ridículo) como algo até transgressor. Quer dizer, não deixa de ser interessante mexer com as convenções dos filmes de vampiros (e de lobisomens) para fazer uma história de amor. No fundo a gente sabe que tudo isso é desculpa para vender mais livros e filmes para uma juventude sedenta de histórias de amor com tempero gótico ou algo do tipo. Mesmo assim, ver um filme sobre o casamento entre uma humana com um vampiro "do bem" e que resulta em uma gravidez bizarra não deixa de ter o seu grau de interesse.
E o filme é basicamente isso. O que de certa forma é bom, pois foge dos padrões mais convencionais dos filmes com clímax, que seguramente está guardado para a parte 2. AMANHECER – PARTE 1 (2011) é anticlimático por natureza e isso está entre suas qualidades. Toda a parte da gravidez de Bella (Kirsten Stewart) é interessante e daria um bom filme de horror com muito gore nas mãos de um cineasta do gênero. Bill Condon, como diretor contratado para fazer o que está no roteiro, no romance e na vontade dos produtores e dos fãs, fica de mãos atadas.
Interessante a passagem do casal pelo Rio de Janeiro para a lua-de-mel. O Rio, como sempre, nos filmes de Hollywood, é mostrado com aquela visão bem de turista americano. Como se fosse caro contratar um consultor brasileiro, sendo o Brasil um mercado importante para os Estados Unidos. Mas a sequência no Rio é bem rápida. O filme ficaria pior se colocassem o casal em uma roda de samba ou em cima de um morro. Ainda assim, não deixa de ser curiosa essa fixação de Hollywood pelo Rio ultimamente.
Quanto ao triângulo amoroso Bella-Edward-Jacob, continua praticamente do mesmo jeito, mesmo com o casamento que abre o filme. São personagens sem profundidade. Podem ser vistos mais como representações. Principalmente os dois rapazes. O que ainda pode salvar a cinessérie é Bella. É na personagem, que quer tornar-se uma vampira e viver para sempre como o seu amado Edward, que está ainda a esperança de a história ter um final digno. Aguardemos, então.
sábado, novembro 26, 2011
LOLA
Produzido imediatamente após o carniceiro KINATAY (2009), com o mais ameno LOLA (2009), o cineasta filipino Brillante Mendonza conquista finalmente um espaço em nosso circuito exibidor. Antes disso, porém, o público de São Paulo havia conferido uma mostra dos filmes do diretor. Seria questão de tempo para que logo um trabalho dele entrasse em cartaz no país. O filme foi adquirido pela Lume, nova distribuidora no mercado.
A palavra "lola" na língua dos filipinos (que é uma mistura de inglês, espanhol, português e a língua original do povo antes dos diversos processos de colonização) quer dizer "avó". E o filme segue justamente duas avós por caminhos tortuosos e dolorosos, cada uma à sua maneira, tentando dar ao seu neto o mínimo que ela acredita que ele merece, segundo o seu olhar afetivo. Assim, tanto a avó do filho que foi assassinado quanto à do assassino são dois exemplos de mulheres que tentam a todo custo providenciar aquilo que julgam ser o certo.
LOLA passa um mal estar, muito em parte causado pela geografia do lugar. E quando falo geografia, entra aí também o aspecto humano, dos feirantes nas ruas enlameadas pela chuva que não para de cair. E essa chuva até que poderia passar uma espécie de melancolia agradável, no sentido estético da coisa, mas tudo que eu senti foi incômodo. E um pouco de sono também. Talvez se o filme fosse menos ríspido e mais emocional, se desse mais espaço para que eu me comovesse com o drama dessas duas senhoras, talvez LOLA ganhasse mais o meu apreço.
Do jeito que ficou, a impressão que eu tenho de Mendonza é a de um diretor que tenta chocar ou emocionar, mas que acaba sempre me frustrando. Sem falar que a câmera na mão também é outro elemento incômodo nesse cinema semidocumental do cineasta. Mas claro que há quem goste e veja o filme, inclusive, como uma obra-prima.
quarta-feira, novembro 23, 2011
ALICE
Fica difícil falar de uma série com tantos episódios marcantes, mas que foram vistos num espaço de tempo longo. E isso não é porque a série de Karim Aïnouz e Sérgio Machado não seja suficientemente boa, mas porque a falta de tempo não me permitiu vê-la como deveria. Os episódios iniciais, inclusive, são fundamentais para que chamem a atenção do espectador. Tudo bem que ALICE (2008) tem os seus altos e baixos, mas, no geral, os pontos são mais altos e Andréia Horta, que faz a protagonista, é um achado. Além de a moça ter um corpo maravilhoso (comprovado nas cenas em que aparece nua e que deixam qualquer marmanjo babando), tem um jeito encantador e aquela voz meio rouca que é um charme a mais.
E apesar de ter um parceiro como Sérgio Machado, ALICE tem a cara mesmo é de Karim. A trajetória da garota que vem de Palmas em Tocantins para o funeral do pai em São Paulo e não quer deixar mais a selva de pedra de tanto encantamento que tem com o lugar lembra principalmente O CÉU DE SUELY (2006) e um pouco VIAJO PORQUE PRECISO, VOLTO PORQUE TE AMO (2009). Os dois filmes mostram pessoas em trânsito, longe de seus lares e carregando fortes sentimentos. Ambos também trabalham com o espaço e aqueles que o rodeiam.
Talvez o que possa incomodar um pouco em ALICE seja o excesso de voice over da personagem, mas por outro lado isso acaba nos aproximando mais dela. Se bem que em determinado momento da série, Alice fica tão chata que passamos a ter raiva dela. Ainda assim, até nisso pode-se ver um acerto de seus realizadores, já que é preciso todo esse processo de Alice passar por uma fase de exageros – no trabalho, nos amores, nas drogas, nas festas – para entrar em colapso e ver que estava perdendo os amigos e a família.
Daria para falar de cada um dos episódios e de sua importância, pois cada um tem um foco especial. Um deles, por exemplo, é tão cheio de angústia, os personagens parecem estar tão soterrados em problemas e infernos astrais que me pareceu um dos melhores e mais bem realizados. Mas o mais fresco na memória ("À Flor da Pele"), o último episódio, talvez seja mesmo o melhor (ou um dos três melhores, pelo menos), com a jornada de Alice em busca do que aconteceu com sua mãe. Não é o episódio mais emocional, mas é uma bela despedida para a temporada. Sem falar que o episódio já começa com uma cena de sexo com Alice, que nem tem muito a ver com a trama geral do episódio, mas que podemos considerar como um presente para aqueles que acompanharam sua jornada durante os treze episódios de uma hora.
Em 2010 a HBO exibiu um especial em duas partes retomando ALICE. Não consegui encontrar cópia dos dois telefilmes. Se alguém encontrar e que seja pelo menos em .avi, por favor, me avise. A segunda temporada, que estava prevista para 2012 foi cancelada, pois Andréia Horta assinou um contrato de exclusividade com a Rede Globo e até já trabalhou em duas novelas da emissora. Quanto ao novo filme de Karim, ABISMO PRATEADO, ao que parece continua sem previsão de estreia nos cinemas.
segunda-feira, novembro 21, 2011
UM QUARTO EM ROMA (Habitación en Roma)
A apreciação de A PELE QUE HABITO, de Pedro Almodóvar, me atentou para a atriz Elena Anaya, fazendo eu me lembrar de sua participação de corpo inteiro despido em UM QUARTO EM ROMA (2010), de Julio Medem, um cineasta que conheço pouco, mas cujos dois filmes vistos me agradaram muitíssimo. Refiro-me a OS AMANTES DO CÍRCULO POLAR (1998) e LÚCIA E O SEXO (2001). Depois disso, fui relapso e não acompanhei a carreira do diretor, até porque seus filmes seguintes não chegaram aos cinemas locais. Além do mais, ele não dirigiu muito mesmo nesse intervalo de tempo.
Ainda assim, Medem me chamou a atenção com um filme sobre uma noite de amor e sexo entre duas mulheres, que se entregam ao prazer e conversam sobre suas vidas num quarto de hotel em Roma. Claro que o fato de o filme mostrá-las nuas e fazendo sexo já é motivo mais do que suficiente para que a obra seja minimamente interessante. Descartar esse fator seria descartar o potencial e a razão de ser dos sexploitation movies, tão queridos por uma legião de fãs.
E de certa forma, como filme erótico softcore, UM QUARTO EM ROMA até que cumpre bem a sua função, mas incomoda na construção das personagens e dos diálogos, falhas que comprometem um trabalho que se pretende mais do que um mero exercício de olhar corpos nus. Falando neles, que belo corpo tem a russa Natasha Yarovenko. Sem ela, eu diria que o filme não existiria. Quanto a Elena Anaya, ela é a espanhola lésbica que consegue levar para o seu quarto aquele mulherão. A composição da personagem de Elena, com trejeitos másculos, me ajudou a entender o motivo de sua escolha por Almodóvar, muito embora eu possa estar enganado quanto a isso.
No mais, foi uma pena perceber a queda na qualidade do trabalho de Medem, que atingiu momentos de bela poesia nos dois trabalhos citados, mas cujas tentativas de parecer poético no novo filme soam frustradas. De todo modo, não é um filme para ser de todo descartado.
domingo, novembro 20, 2011
GEORGE HARRISON – LIVING IN THE MATERIAL WORLD
Só depois desse documentário que fui me tocar que "Long, long, long", presente no Álbum Branco dos Beatles, é uma canção religiosa, espiritual, dedicada a Deus, Jesus ou Krishna, que para George Harrison se misturavam, como já se pode sentir em "My Sweet Lord", a mais explícita de suas canções espirituais. Em GEORGE HARRISON – LIVING IN THE MATERIAL WORLD (2011), até mesmo "Something" é cogitada como uma canção de amor ao divino, disfarçada de canção de amor sensual.
E depois do final do documentário, ao tentar mentalizar o que a esposa de George dizia enquanto o seu espírito deixava o seu corpo, não tive como não ligar a SHINE A LIGHT (2008). Não ao show dos Rolling Stones filmado por Scorsese, mas ao próprio título escolhido, que acredito não ter sido em vão. Como se o próprio Scorsese estivesse, ele também, em busca da luz, agora que ele tem mais momentos para lembrar do que para viver. Mas claro que todos nós esperamos que ele viva muito e que faça tanto grandes filmes de ficção como documentários essenciais como este.
Seu documentário sobre George Harrison só perde o impacto na primeira metade da segunda parte. A primeira parte é totalmente excitante, já que tudo que mostra os Beatles parece mágico. Já a segunda parte é longa e irregular e começa mostrando Harrison prestes a deixar a banda. Aliás, interessante como já nos últimos momentos dos Beatles uma de suas esposas disse que ele, à procura de aperfeiçoar o seu espírito em técnicas de meditação e em contato com gurus indianos, já considerava a companhia dos três como sendo um tanto maléfica. E se pensarmos, por exemplo, numa canção "diabólica" como "Revolution 9" e ver que no mesmo disco tem "Long, long, long", não deixa de ser um paradoxo, ou um pêndulo que se balançava entre o bem e o mal.
Na parte em que George é entrevistado para falar sobre a morte de John Lennon, a repórter diz: "mas ele não era um anjo", ao se referir à persona um tanto ácida e agressiva de Lennon. George diz que não, mas depois diz que, em certo sentido, ele era sim. Depois do fim dos Beatles, enquanto John ficava afastado de todos, os demais de vez em quando se encontravam. Especialmente Ringo, o mais companheiro de todos, o mais amado, provavelmente, já que todos os três participaram de seus discos solo, nem que fosse para dar suporte moral, para compensar o talento menor do baterista, em comparação ao dos demais. E é de Ringo que vem um dos depoimentos mais emocionantes do filme.
Um dos grandes méritos do filme é não ser didático. Muitas vezes nem o nome dos entrevistados aparece. Quem o assiste geralmente é quem já conhece bastante da história dos Beatles e da carreira solo de George e pode ir preenchendo as lacunas com seu próprio conhecimento. Assim, Scorsese vai apenas costurando cenas importantes com depoimentos diversos. Novos e velhos. Imagens de arquivo do próprio George e imagens de arquivo de televisão ou de cinema mesmo, que é quando vemos imagens do Concerto para Bangladesh e quando vemos uma cena de A VIDA DE BRIAN, do grupo Monty Python, filme produzido por George.
E no final, com o filme naturalmente mostrando os últimos momentos da vida de George, eu instantaneamente fiz uma comparação com José Saramago, que no documentário JOSÉ E PILAR mostrou ter uma vontade muito grande de continuar vivendo mais tempo neste mundo, tanto pelo aspecto afetivo quanto pelo intelectual, pela sede de ler e de escrever. Ao contrário, George, já com câncer, falou que não tinha muitos motivos para se apegar e continuar neste mundo. São duas pessoas totalmente distintas na forma de ver o mundo e de ver ou não a espiritualidade. George estava preparado. Deve ter sido muito boa e pacífica para ele a passagem. Pelo menos é essa a impressão que fica.
sábado, novembro 19, 2011
MEU PAÍS
As expectativas já eram baixas, mas não imaginei que a estreia de André Ristum na direção de longas-metragens de ficção fosse tão fraca. MEU PAÍS (2011) já começa de maneira bem frágil a partir de seu ponto de partida. Paulo José é o senhor que aparece doente no início do filme e cuja morte vai trazer de volta para o Brasil o filho mais velho, vivido por Rodrigo Santoro. Ele mora na Itália já faz alguns anos. Cauã Reymond é o filho mais novo e que mora no país. Inclusive, a composição desse personagem, em particular, já começa muito ruim, mostrando-o numa festa tomando champanhe na garrafa com uma moça bonita para contrastar com a situação do pai e o senso de responsabilidade profissional do irmão. Logo depois, veremos que ele também é viciado em jogo e tem dívidas enormes. Completando o quadro, há a meia-irmã vivida por Débora Falabella, que interpreta uma jovem com inteligência de uma criança de cinco anos, filha do pai com uma amante.
MEU PAÍS é uma prova de que não basta ter um bom time de atores se a direção e o roteiro não ajudam. Aliás, o roteiro, mesmo sendo fraco, com um bom diretor, poderia se tornar um grande filme. Em vez disso, temos que nos contentar com cenas constrangedoras, como aquela em que os credores do personagem de Cauã o ameaçam. Ou quando ele diz que sua irmã é retardada e se mostra insensível a ela. Por mais que esse tipo de comportamento possa ser até comum, a verossimilhança não é atingida. O filme parece sempre estar pedindo um esforço do espectador para que o aceite, apesar das falhas.
As cenas de Santoro falando em italiano com a sua namorada (a bela Anita Caprioli), por incrível que pareça, são as melhores. A jovem italiana empresta uma naturalidade que falta aos demais atores, mais famosos e mais presentes em cena. Inclusive o close em seu rosto na sua cena final é, de longe, o melhor momento do filme, ainda que não provoque a emoção provavelmente pretendida.
O filme foi rodado em Paulínia, cidade que possui um polo cinematográfico que tem feito um ótimo trabalho pelo cinema brasileiro ao trazer mais diversidade e quantidade de produções nacionais. MEU PAÍS, inclusive, ganhou os prêmios de diretor e ator (Rodrigo Santoro) no festival. Será que foi por falta de filmes melhores ou por que muita gente gostou mesmo? Pode ser reflexo de 2011, esse ano de vacas magras para o cinema brasileiro.
quinta-feira, novembro 17, 2011
ALMA SEM PUDOR (Born to Be Bad)
Embora não seja em essência um filme tipicamente de Nicholas Ray, mas um trabalho de encomenda que carrega pouca ou nenhuma das características do diretor, ALMA SEM PUDOR (1950) é uma delícia de assistir. Ray trabalha como diretor contratado do milionário e "aviador" Howard Hughes, que na época namorava a atriz Joan Fontaine. É ela a protagonista deste drama moral sobre uma mulher que utiliza da inteligência para enganar a todos e conseguir o que deseja. No caso, poder.
Joan Fontaine é Christabel, sobrinha do chefe da personagem da bela Joan Leslie, que a aceita como companheira de quarto em sua animada casa, frequentada por um pintor, um escritor e o seu namorado milionário (Zachary Scott), entre outros membros da elite intelectual californiana. Christabel, ainda que se sinta atraída sexualmente pelo escritor, prefere tomar o marido da "amiga", usando de suas artimanhas.
Um dos maiores prazeres que o filme nos proporciona é ser cúmplice dos atos levianos dessa mulher. Através de sorrisos escondidos dos demais personagens, ela comemora sozinha cada conquista. Embora possamos não gostar dela, passamos a admirar sua inteligência, ainda que usada de maneira amoral. Lembrando que ALMA SEM PUDOR começa com a personagem de Joan Leslie como falsa protagonista, mas assim que ela sai de cena, vemos que o filme foi roubado por Christabel.
Em "The Films of Nicholas Ray", Geoff Andrew, o autor, comenta um detalhe interessante: no começo do filme, Christabel sempre aparece de branco ou de roupas claras, como que para soar angelical, ingênua ou vítima, quando na verdade esconde uma personalidade diabólica. Quando consegue casar com Nick, o milionário, ela passa a ficar à vontade e a usar roupas mais escuras e simbolicamente mais adequadas à sua verdadeira personalidade. Diferente de A VIDA ÍNTIMA DE UMA MULHER (1949), que foi feito notadamente sem prazer por parte do diretor, em ALMA SEM PUDOR, ele assume a sua posição de grande artesão, deixando de lado, pelo menos por hora, a sua porção autor, mas sem deixar de ser um grande diretor por isso.
terça-feira, novembro 15, 2011
TUDO ENTRE NÓS (Two of Us)
Praticamente tudo que envolve os Beatles acabou se transformando em mitologia, de tão poderoso que se tornou o culto em torno da maior banda de rock de todos os tempos. Antes de John Lennon morrer muito se especulava sobre uma possível reunião da banda. E em 1976, em passagem por Nova York para um show no Madison Square Garden, diz a lenda que Paul McCartney foi visitar John Lennon em seu apartamento. Foi a partir desse boato, que parece que se confirmou verdadeiro, que se construiu esse filme, baseado em especulações sobre o que John e Paul conversaram. Na verdade, de acordo com dados no IMDB, o encontro de fato aconteceu, mas tanto Linda quanto Yoko estiveram presentes. O filme prefere mostrar os dois sozinhos, já que eles teriam tanto para dizer um para o outro.
TUDO SOBRE NÓS (2000) foi produzido para a televisão e dirigido por Michael Lindsay-Hogg, o homem que dirigiu o lendário espetáculo THE ROLLING STONES ROCK AND ROLL CIRCUS (1996). Aidan Quinn interpreta Paul e Jared Harris faz o papel de John. Na época em que eles se encontraram Paul McCartney estava no primeiro lugar das paradas inglesa e americana e John Lennon estava com alguns anos sem gravar. Muitos especulavam que ele havia se aposentado. Os diálogos são construídos em boa parte a partir das personas dos astros, por isso a imagem um tanto cínica de Lennon em relação a Paul, a suas canções e ao seu modo de encarar a vida. Eles eram mesmo dois amigos de personalidades muito distintas e complementares.
Enquanto Paul era a alegria, John representava a tristeza. E isso é muito presente desde as primeiras canções dos Beatles. Por isso em certo momento da conversa, John diminui o valor das "silly love songs" de Paul, dizendo que o mundo não precisa disso. O mundo precisa de realismo, de ser cutucado. Paul, obviamente, diz o contrário. O filme vai além ao mostrar os dois passeando por Nova York disfarçados e mostra também o quanto John poderia ser perverso com um fã que se aproximasse dele. Há uma atmosfera um tanto incômoda no ar, devido ao clima quase sempre tenso da conversa entre os dois e do quanto cada um deles sofreu com o fim da banda.
TUDO SOBRE NÓS serve como um bom complemento para outras obras ficcionais que tratam da banda como O GAROTO DE LIVERPOOL e BACKBEAT – OS 5 RAPAZES DE LIVERPOOL. O título original, obviamente, é uma homenagem à bela canção em dueto dos dois, presente no álbum LET IT BE.
segunda-feira, novembro 14, 2011
TENDA DOS MILAGRES
Nelson Pereira dos Santos teve sorte ao conseguir filmar TENDA DOS MILAGRES (1977) sem precisar pagar os direitos autorais a Jorge Amado. Nada como ser amigo do autor, que na época ganhou um bom dinheiro com os direitos de DONA FLOR E SEUS DOIS MARIDOS, de Bruno Barreto. Mas Barreto fez um filme para as multidões, enquanto Nelson fez um trabalho mais intelectual, não só por usar de metalinguagem, mas por ter a pretensão de fazer um filme que ajudasse a tirar de muitos brasileiros o preconceito com as religiões afro-brasileiras e de dizer que no Brasil não há brancos, somos todos miscigenados. (Se bem que no sul do país pode até ser que haja brancos puros ainda.)
Diferente de O AMULETO DE OGUM (1975), que tinha um andamento mais ágil e uma edição bem picotada, em TENDA DOS MILAGRES, Nelson Pereira dos Santos diminui um pouco o acelerador, como se absorvido pela malemolência do povo baiano. Ainda assim, é um filme que tenta abarcar muita coisa, que é ambicioso. Há o filme dentro do filme, dirigido pelo personagem de Hugo Carvana, um homem que está em busca de saber quem foi Pedro Arcanjo, cientista político e homem ligado ao candomblé, que viveu no Brasil no início do século XX. E o filme sobre Arcanjo vai ficando tão importante em TENDA DOS MILAGRES que praticamente engole o filme "principal".
Na trama, um sociólogo americano chega ao Brasil dizendo ser um admirador da obra de um gênio chamado Pedro Arcanjo. Acontece que praticamente ninguém no país parece saber quem é o tal homem e cabe ao poeta, jornalista e cineasta vivido por Carvana a tarefa de pesquisar. No filme, há também uma figura de grande destaque e que rouba a cena sempre que aparece: é a personagem de Sônia Dias, a namorada liberal do jornalista. Nelson soube explorar bem a sensualidade e a beleza da atriz, ainda que em poucas cenas.
Curiosamente, Jards Macalé faz o papel de Pedro Arcanjo quando jovem, mas ele larga as filmagens no meio e é substituído por outro ator, que faz o papel do personagem mais velho. Do jeito que ficou, nem dá para perceber a transição. Mas o filme peca por um excesso de personagens e de subtramas, que mal cabem em seus 142 minutos de duração. Parece um caso típico de obra baseada em romance que não consegue se desfazer de alguns personagens em sua tradução para as telas. Ainda assim, mesmo com algumas falhas visíveis, trata-se de um dos melhores trabalhos de Nelson Pereira dos Santos.
domingo, novembro 13, 2011
REFÉNS (Trespass)
Joel Schumacher parece que não tem jeito mesmo. E olha que ele até que tem alguns filmes interessantes no currículo, principalmente na década de 1980. Mas o nome do diretor ficou associado ao fiasco de BATMAN & ROBIN (1997) e às inúmeras outras obras ruins que ele dirigiu. REFÉNS (2011) guarda semelhanças com outro filme do diretor que se passa quase que totalmente em um único ambiente, POR UM FIO (2002), que é um de seus trabalhos mais respeitados pela crítica.
REFÉNS traz Nicolas Cage, parceiro do diretor em 8 MM (1999), no papel de um executivo que mora numa mansão, é casado com uma senhora bonita (Nicole Kidman) e tem uma bela filha adolescente (Liana Liberato). Sua rotina muda quando sua casa é invadida por um grupo de ladrões que planejam pegar a fortuna escondida no cofre e ele, para surpresa da esposa, oferece resistência aos bandidos.
O filme até começa bem, mas é impressionante como toda a suposta tensão vai se banalizando e se tornando monótona. Com uma história dessas, um diretor decente faria um filme de deixar o sangue do espectador intoxicado, diante de tal situação. Em vez disso, o roteiro, à medida que vai revelando detalhes acerca dos personagens, vai se mostrando cada vez mais frágil e fazendo com que o espectador se importe cada vez menos com eles. E isso é o pior que se poderia querer de um filme como esse: uma total falta de envolvimento entre espectador e personagens.
E REFÉNS ajuda a aumentar a espécie de maldição que ronda Nicolas Cage, que parece fazer um filme bom para cada quatro ruins. Se bem que levando em consideração a quantidade de trabalhos que ele pega por ano – na média de quatro -, até que isso pode ser considerado normal. O que falta ao astro talvez seja um maior crivo na escolha dos projetos, mas como ele já provou que não está nem aí pra isso, e prefere ser levado pelos ventos do acaso, boa sorte pra ele.
sábado, novembro 12, 2011
BALADA DO AMOR E DO ÓDIO (Balada Triste de Trompeta)
Hoje pela manhã saí de casa para ver LOLA, de Brillante Mendonza, e acabei vendo BALADA DO AMOR E DO ÓDIO (2010), de Álex de la Iglesia. Isso porque a cópia do filme filipino não havia chegado a tempo. E eu queria mesmo ver o filme do la Iglesia, que é um cineasta que muita gente boa curte e que eu costumo ser muito relapso no que se refere a acompanhar o seu trabalho. Nunca vi, por exemplo, O DIA DA BESTA (1995), que muitos dizem ser sua obra-prima, mas talvez a falta de entusiasmo pela sua obra se deva ao fato de eu não ter embarcado em experiências como AÇÃO MUTANTE (1993), A COMUNIDADE (2000) e CRIME FERPEITO (2004). Por outro lado, gostei bastante de sua contribuição para a antologia PELÍCULAS PARA NO DORMIR, o tenso LA HABITACIÓN DEL NIÑO (2006).
BALADA DO AMOR E DO ÓDIO é bem a cara do diretor, mas de uma maneira ainda mais exagerada, com um senso de humor grotesco que só me provocou indiferença e um barulho e uma algazarra que realmente incomodam, principalmente dentro de uma sala de cinema. A história: sujeito quer ser palhaço porque seu pai e seu avô também foram, mas que por influência de seu pai, morto em consequência da Guerra Civil Espanhola, resolve ser o "palhaço triste", já que ele não consegue fazer ninguém rir por não ter tido infância. Ao ingressar numa trupe circense, ele conhece um palhaço psicopata que parece saído de algum filme de gângster do Scorsese e a sua mulher, a linda trapezista que vai mexer com sua cabeça.
Pode-se dizer que ela, vivida pela atriz Carolina Bang, é a melhor coisa do filme. Sua personagem tem aquele quê de enigmático e contraditório que se costuma ver em muitas mulheres. Ela gosta do marido que bate nela todos os dias quando está bêbado – e bebe todos os dias -, sofre com isso, mas também sente tesão pelo sujeito. Ao mesmo tempo, começa a encher de esperança a cabeça do pobre Javier, o palhaço triste, que passa a querer disputar o seu amor e a criar coragem para enfrentar o palhaço psicopata.
Até então o filme até tinha o seu interesse, mas os excessos de Iglesias chegam a níveis tão altos que BALADA DO AMOR E DO ÓDIO começou a me parecer chato. Seu último ato, com a fotografia estilizada e quase desprovida de cor, seu barulho ensurdecedor, num tentativa de tornar o filme tão louco quanto a cabeça de seus protagonistas, não é para todos os gostos. A maioria das pessoas que estava ali naquela sala deveria estar odiando aquele espetáculo, principalmente as senhoras idosas que saíram de casa para ver um filme sobre uma velhinha amorosa. Mas se até eu que gosto de cinema de horror e afins não embarquei na viagem, imagine o público geral daquela sessão matutina. Na saída, passei pelo banheiro e um senhor dizia: "foi o pior filme que eu vi na última década".
quinta-feira, novembro 10, 2011
O CRIME NÃO COMPENSA (Knock on Any Door)
Depois de ter manchado um pouco o currículo com o fraco A VIDA ÍNTIMA DE UMA MULHER (1949), um trabalho feito sem muito prazer pelo próprio diretor, Nicholas Ray retoma suas preferências e temáticas em O CRIME NÃO COMPENSA (1949), que mesmo passando longe de ser tão brilhante quanto seu filme de estreia, AMARGA ESPERANÇA (1948), traz a marca do diretor e ainda conta com a presença sempre bem vinda de Humphrey Bogart. O ator é o primeiro nome a aparecer nos créditos, mas o filme é protagonizado por um jovem rebelde ao gosto de Ray, vivido pelo quase desconhecido John Derek.
Derek está longe de ser um James Dean ou mesmo um Farley Granger e muitas das falhas do filme se devem à sua interpretação afetada. Ele é Nick Romano, um rapaz que é o principal acusado da morte de um policial. Bogart interpreta o advogado que vai defendê-lo, acreditando em sua inocência. Há também a figura da garota angelical, mas com uma família disfuncional, a jovem Emma, uma moça que vive com uma tia com sérios problemas de alcoolismo e que encontra na figura de Nick uma salvação, mesmo sabendo que o garoto não é exatamente um exemplo de conduta.
O filme traz um discurso sobre a responsabilidade da sociedade sobre as pessoas que se desviam e cometem crimes. Fica a impressão de que este é o pensamento de Ray em relação aos seus tão queridos personagens marginais. E na voz de Bogart, no final do filme, esse pensamento ganha força, por mais simplista que possa parecer. É simplista principalmente pelo modo excessivamente didático como o filme mostra as várias cenas em que a sociedade contribui para a criação de um pequeno monstro. (Ou não seria o próprio Nick o culpado pelos seus próprios atos?) Mesmo assim, estou começando a tomar gosto pelos filmes do diretor. E sei que o melhor está por vir.
segunda-feira, novembro 07, 2011
O PREÇO DO AMANHÃ (In Time)
De boas ideias, Hollywood está cheia. Por mais que os remakes e as continuações queiram provar o contrário. E Andrew Niccol é um dos escritores mais originais de Hollywood. É uma pena que não seja tão bom na direção. Seu novo trabalho, O PREÇO DO AMANHÃ (2011), tem um ponto de partida muito interessante. Imagine um futuro em que as pessoas param de envelhecer aos 25 anos, mas que podem ganhar mais um ano através de trabalho ou doando ou recebendo tempo de outras pessoas, como num celular com bluetooth. Ah, e neste mundo, não existe moeda. A moeda é o tempo. Tempo é dinheiro, literalmente. E o relógio com a contagem regressiva da vida da pessoa está lá, em seu próprio braço.
Uma história dessas poderia ter rendido um grande filme se não fosse a direção fria de Niccol. Afinal, bons intérpretes o filme tem, muito embora eu tenha achado que a química entre Justin Timberlake e Amanda Seyfried não tenha sido muito feliz. Melhor seria se o par de Justin fosse a sua mãe, a gatíssima Olivia Wilde, que das poucas vezes em que aparece, torna o filme mais interessante. No mais, por mais movimentado que seja o thriller, o resultado é bem aquém do esperado. Um dos melhores momentos é a travessia do personagem de Timberlake para os outros fusos horários.
E falando no ator, ele tem se saído muito bem no cinema. Depois de um papel de destaque em A REDE SOCIAL e de uma ótima comédia romântica (AMIZADE COLORIDA), agora ele ataca de herói de filme de ação. E só não se saiu melhor por problemas de ordem superior, eu diria. Ele não chega a ser um ator de levar um filme nas costas, nem creio que chegará a ser um dia. O PREÇO DO AMANHÃ ainda conta com a presença de duas figuras conhecidas das séries de televisão: Johnny Galecki, de THE BIG BANG THEORY, e Vincent Kartheiser, de MAD MEN. Mas seus papéis são bem rasos.
P.S.: Está no ar a nova edição da Revista Zingu! Desta vez, o dossiê do mês é dedicado a Toni Cardi, o galã dos faroestes nacionais. E há também um especial em homenagem à Wilza Carla, falecida em junho deste ano. Contribuí justamente com dois textos de filmes com a Wilza: AS MASSAGISTAS PROFISSIONAIS, de Carlo Mossy, e O REI DA BOCA, de Clery Cunha. Não deixem de conferir. Link AQUI.
sábado, novembro 05, 2011
A PELE QUE HABITO (La Piel que Habito)
Ao sair da sessão de A PELE QUE HABITO (2011), de Pedro Almodóvar, fiquei impressionado, comovido, arrepiado. O plano final, fechando com um fade out lindo, é um dos mais inspirados da filmografia deste que é indubitavelmente o maior cineasta espanhol vivo. Há uma relação estreita com ABRAÇOS PARTIDOS (2009) e podemos vê-los como filmes-irmãos, embora pareçam tão diferentes. Ambos começam in medias re para depois usar do flashback a fim de esclarecer a trama; ambos apresentam personagens que tiveram suas vidas modificadas. E se esse recurso não alavancou ABRAÇOS PARTIDOS ao posto de um dos grandes trabalhos de Almodóvar, só o tempo dirá se ele conseguiu com A PELE QUE HABITO.
O filme se inicia apresentando os dois personagens principais: o cirurgião plástico vivido por Antonio Banderas, em seu retorno ao cinema espanhol depois de uma longa temporada trabalhando só nos Estados Unidos, e Elena Anaya (uma das protagonistas de UM QUARTO EM ROMA, de Julio Medem), como a jovem que é mantida trancada num quarto, usando uma roupa colante parecida com a cor de sua pele. Há também uma personagem muito importante e Almodóvar a deu de presente para uma de suas atrizes favoritas, Marisa Paredes. Quem é aquela jovem e por que ela é mantida trancada são algumas das perguntas que inicialmente são feitas.
A PELE QUE HABITO, desde suas primeiras fotos publicitárias prometia ser uma espécie de homenagem à obra-prima OS OLHOS SEM ROSTO, de Georges Franju. E embora haja muitas semelhanças, trata-se de uma história bem diferente. Na verdade, o ideal é mesmo contar o mínimo possível da trama para não estragar as surpresas que o filme proporciona ao espectador.
E quem estranhar A PELE QUE HABITO, achando tratar-se de uma obra muito diferente do estilo do diretor, é sempre bom lembrar que na década de 1980 ele já havia enveredado pelo gênero suspense em duas ótimas obras: MATADOR (1986) e A LEI DO DESEJO (1987). Além do mais, na própria trama há algo que é bem típico de Almodóvar, que é a utilização do fetiche, mais presente do que se imagina no filme. Enfim, assinaturas não faltam ao longo dessa bela obra. A melhor dele, desde FALE COM ELA (2002).
quinta-feira, novembro 03, 2011
DO ALÉM (From Beyond)
Se há um cineasta que pode receber o título de especialista em H.P. Lovecraft este é Stuart Gordon. E DO ALÉM (1986) é possivelmente a sua obra mais marcante. Ver o filme nos dias atuais mostra o quanto já se ousou mais no gênero horror. A década de 1980 foi fértil na quantidade de cineastas especialistas nesse terreno fazendo trabalhos maravilhosos. De dar saudade e tristeza ver a maioria deles quase aposentados.
Em DO ALÉM, Jeffrey Combs, ator mais conhecido por sua forte presença em RE-ANIMATOR (1985), também de Gordon, entra em contato com uma máquina criada por seu colega cientista cujo corpo foi encontrado misteriosamente sem a cabeça. Ele é preso como principal suspeito do "crime", até que uma bela cientista se interessa pelo caso. O homem que morreu fazia estudos sobre o estímulo da glândula pineal, que seria uma espécie de terceiro olho ou sexto sentido. A máquina abriria uma porta para um paralelo e perigoso universo. Destaque para a cena em que a cientista (Barbara Crampton) usa uma roupa S&M e quer "estuprar" o protagonista. Mas há vários outros momentos memoráveis, claro.
Vi o filme com minha amiga Bia para prestigiarmos a já famosa sessão Filmes Malditos da Meia-Noite, promovida pelo Alex. Foi uma experiência interessante, pois a sessão, para quem não sabe, acontece num desses cinemas pornôs do Centro da cidade, no caso, o Cine Majestic. O lugar tem um cheiro bem particular. Uma mistura de esperma com desinfetante no ar. Mas logo a gente se acostuma. Acredito que quem vai lá todos os meses e vê os filmes até o dia amanhecer já nem sente mais o cheiro. Achei muito legal a movimentação e o entusiasmo em torno do evento, que vende lembranças das sessões, como camisetas e cartazes, com a arte da temática escolhida.
A temática desse mês (que passou) foi H.P. Lovecraft e os outros filmes exibidos foram RENASCIDO DAS TREVAS, de Dan O'Bannon; THE CALL OF CTHULHU, de Andrew Leman; e RE-ANIMATOR, de Stuart Gordon.
quarta-feira, novembro 02, 2011
O PALHAÇO
O travelling final é lindo. Os enquadramentos são de um rigor impressionante, parecem pinturas. A homenagem assumida ao personagem Didi Mocó também conta pontos a favor do filme. E há a participação mais do que especial de Moacyr Franco como um delegado de uma cidadezinha. Simplesmente genial. São pouquíssimos minutos de participação, mas o suficiente para transformar sorrisos amarelos em gargalhadas. Mas O PALHAÇO (2011) parece didático demais ao expor a situação do palhaço vivido pelo ator e diretor Selton Mello: "eu faço as pessoas rirem, mas quem me faz rir?". Além de didático, traz um discurso de comiseração.
Esse flerte com o depressivo aparecia com força acentuada em FELIZ NATAL (2008), o longa-metragem anterior de Selton. Em O PALHAÇO ele dá uma suavizada, mas fica clara a distinção entre o que ele mostra em seus filmes como diretor e seus trabalhos como ator, em sua maioria, ligados à comédia.
Um dos problemas que eu vejo no filme está no fato de que os palhaços, pelo menos inicialmente, não têm muita graça, embora a câmera mostre o público rindo, através de closes múltiplos. O personagem do pai, vivido por Paulo José, passa uma fragilidade que naturalmente é em consequência do Mal de Parkinson que o atingiu há alguns anos. Mas há momentos em que ele passa uma vitalidade impressionante, como se tivesse recuperado todas as forças.
Já a trajetória existencial do palhaço sem carteira de identidade – e isso é um dado que não é gratuito, lembra inclusive o protagonista de O HOMEM QUE VIROU SUCO, nesse sentido – é interessante, mas de pouco impacto. Ou, digamos, mais sutil, como preferem dizer alguns, especialmente os fãs mais apaixonados do filme, que creio não serem poucos.
terça-feira, novembro 01, 2011
JORNADA NAS ESTRELAS III – À PROCURA DE SPOCK (Star Trek – The Search for Spock)
Essa minha tentativa de ver certos filmes em sequência acaba não funcionando muito bem. Quando comprei o box com os seis filmes da primeira geração de Star Trek, há cerca de dois anos, não sabia que ia demorar tanto para vê-los. Não imaginava que veria um filme por ano. Uma prova de que estou longe de me tornar um trekker.
Talvez por ter me decepcionado um pouco com o superestimado JORNADA NAS ESTRELAS II - A IRA DE KHAN (1982) eu tenha demorado a pegar para ver a sua continuação, a gostosa aventura JORNADA NAS ESTRELAS III – À PROCURA DE SPOCK (1984). Acho que a essa altura todo mundo sabe que Spock morre no segundo filme e ressurge no terceiro. O que importa mais é saber como os roteiristas resolveram esse problema. E eu diria que foi de uma maneira bastante criativa.
Na trama, após voltarem amargurados depois da última missão e de luto pela morte (honrosa) de Spock, Kirk e sua tripulação ainda recebem a informação de que a nave Enterprise será "aposentada". E provavelmente a turma toda junto. Ao saber da possibilidade de encontrar Spock, ainda que separado de seu corpo, Kirk contraria as regras impostas por seus superiores, num ato de rebeldia já característico do personagem. Esse seu gesto alimenta o nosso gosto pela aventura e a direção do próprio Leonard Nimoy é bem eficiente, resultando em um dos melhores filmes da franquia.
O dvd conta com alguns pequenos extras. Destaque para uma entrevista com um dos garotos que interpreta Spock quando jovem. Sua declaração de como foi escalado é bem interessante. Haveria mais coisas para destacar sobre o filme, mas creio que poderia prejudicar a apreciação de quem ainda não o viu.