segunda-feira, novembro 14, 2011
TENDA DOS MILAGRES
Nelson Pereira dos Santos teve sorte ao conseguir filmar TENDA DOS MILAGRES (1977) sem precisar pagar os direitos autorais a Jorge Amado. Nada como ser amigo do autor, que na época ganhou um bom dinheiro com os direitos de DONA FLOR E SEUS DOIS MARIDOS, de Bruno Barreto. Mas Barreto fez um filme para as multidões, enquanto Nelson fez um trabalho mais intelectual, não só por usar de metalinguagem, mas por ter a pretensão de fazer um filme que ajudasse a tirar de muitos brasileiros o preconceito com as religiões afro-brasileiras e de dizer que no Brasil não há brancos, somos todos miscigenados. (Se bem que no sul do país pode até ser que haja brancos puros ainda.)
Diferente de O AMULETO DE OGUM (1975), que tinha um andamento mais ágil e uma edição bem picotada, em TENDA DOS MILAGRES, Nelson Pereira dos Santos diminui um pouco o acelerador, como se absorvido pela malemolência do povo baiano. Ainda assim, é um filme que tenta abarcar muita coisa, que é ambicioso. Há o filme dentro do filme, dirigido pelo personagem de Hugo Carvana, um homem que está em busca de saber quem foi Pedro Arcanjo, cientista político e homem ligado ao candomblé, que viveu no Brasil no início do século XX. E o filme sobre Arcanjo vai ficando tão importante em TENDA DOS MILAGRES que praticamente engole o filme "principal".
Na trama, um sociólogo americano chega ao Brasil dizendo ser um admirador da obra de um gênio chamado Pedro Arcanjo. Acontece que praticamente ninguém no país parece saber quem é o tal homem e cabe ao poeta, jornalista e cineasta vivido por Carvana a tarefa de pesquisar. No filme, há também uma figura de grande destaque e que rouba a cena sempre que aparece: é a personagem de Sônia Dias, a namorada liberal do jornalista. Nelson soube explorar bem a sensualidade e a beleza da atriz, ainda que em poucas cenas.
Curiosamente, Jards Macalé faz o papel de Pedro Arcanjo quando jovem, mas ele larga as filmagens no meio e é substituído por outro ator, que faz o papel do personagem mais velho. Do jeito que ficou, nem dá para perceber a transição. Mas o filme peca por um excesso de personagens e de subtramas, que mal cabem em seus 142 minutos de duração. Parece um caso típico de obra baseada em romance que não consegue se desfazer de alguns personagens em sua tradução para as telas. Ainda assim, mesmo com algumas falhas visíveis, trata-se de um dos melhores trabalhos de Nelson Pereira dos Santos.
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