quinta-feira, novembro 17, 2011
ALMA SEM PUDOR (Born to Be Bad)
Embora não seja em essência um filme tipicamente de Nicholas Ray, mas um trabalho de encomenda que carrega pouca ou nenhuma das características do diretor, ALMA SEM PUDOR (1950) é uma delícia de assistir. Ray trabalha como diretor contratado do milionário e "aviador" Howard Hughes, que na época namorava a atriz Joan Fontaine. É ela a protagonista deste drama moral sobre uma mulher que utiliza da inteligência para enganar a todos e conseguir o que deseja. No caso, poder.
Joan Fontaine é Christabel, sobrinha do chefe da personagem da bela Joan Leslie, que a aceita como companheira de quarto em sua animada casa, frequentada por um pintor, um escritor e o seu namorado milionário (Zachary Scott), entre outros membros da elite intelectual californiana. Christabel, ainda que se sinta atraída sexualmente pelo escritor, prefere tomar o marido da "amiga", usando de suas artimanhas.
Um dos maiores prazeres que o filme nos proporciona é ser cúmplice dos atos levianos dessa mulher. Através de sorrisos escondidos dos demais personagens, ela comemora sozinha cada conquista. Embora possamos não gostar dela, passamos a admirar sua inteligência, ainda que usada de maneira amoral. Lembrando que ALMA SEM PUDOR começa com a personagem de Joan Leslie como falsa protagonista, mas assim que ela sai de cena, vemos que o filme foi roubado por Christabel.
Em "The Films of Nicholas Ray", Geoff Andrew, o autor, comenta um detalhe interessante: no começo do filme, Christabel sempre aparece de branco ou de roupas claras, como que para soar angelical, ingênua ou vítima, quando na verdade esconde uma personalidade diabólica. Quando consegue casar com Nick, o milionário, ela passa a ficar à vontade e a usar roupas mais escuras e simbolicamente mais adequadas à sua verdadeira personalidade. Diferente de A VIDA ÍNTIMA DE UMA MULHER (1949), que foi feito notadamente sem prazer por parte do diretor, em ALMA SEM PUDOR, ele assume a sua posição de grande artesão, deixando de lado, pelo menos por hora, a sua porção autor, mas sem deixar de ser um grande diretor por isso.
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