segunda-feira, dezembro 30, 2002
TOP 10: OS MELHORES FILMES DE 2002
1. CIDADE DOS SONHOS (Mulholand Dr.), de David Lynch
Uma experiência arrebatadora. Um sonho assustador. David Lynch é gênio. Silenzio.
2. FALE COM ELA (Hable con Ella), de Pedro Almodóvar
Até onde vai a criatividade desse espanhol que tem se superado a cada filme? O melhor Almodóvar. E isso não é pouco.
3. LUCÍA E O SEXO (Lucía y ele Sexo), de Julio Medem
Uma obra-prima do mesmo Julio Medem que nos brindou com "Os Amantes do Círculo Polar".
4. O INVASOR, de Beto Brant
Não precisa ser uma pessoa desbocada pra sair do cinema dizendo "putaquepariu!". O melhor filme nacional dos últimos anos.
5. O SENHOR DOS ANÉIS - A SOCIEDADE DO ANEL (The Lord of the Rings - The Fellowship of the Ring)
O SENHOR DOS ANÉIS - AS DUAS TORRES (The Lord of the Rings - The Two Towers),
de Peter Jackson
Não dá pra separar os dois filmes e dizer qual o melhor. Os dois na verdade são parte de um filme de cerca de 9 horas de duração que ainda não acabou. Peter Jackson fez um milagre ao transpor a obra de Tolkien para as telas de uma maneira tão fantástica.
6. WAKING LIFE, de Richard Linklater
Um turbilhão de pensamentos passa pela cabeça da gente ao assitir essa animação feita a partir de live action. Cinema a serviço da filosofia.
7. FANTASMAS DE MARTE (Ghosts of Mars), de John Carpenter
Carpenter mais uma vez bebe na fonte de RIO BRAVO do Hawks e faz mais uma obra-prima.
8. DIA DE TREINAMENTO (Training Day), de Anthony Fuqua
Denzel Washington ganhou o Oscar por esse trabalho espetacular na pele de um policial sem escrúpulos e Ethan Hawke sofre na mão dele.
9. MENTIRAS (Gojitmal), de Sun-Woo Jang
Uma história de amor sado-masoquista semi-explícita contada do início ao fim. Um espetáculo de filme coreano que não tem pudores.
10. OS EXCÊNTRICOS TENENBAUMS (The Royal Tenenbaums), de Wes Anderson
Difícil não ficar desconcertado com esse filme estranho com gente esquisita. Wes Anderson tem um humor super-peculiar e conseguiu juntar o melhor elenco do ano.
LADO B: OS OUTROS 10
11. O PACTO DOS LOBOS (Les Pacte des Loups), de Christophe Gans
O grande filme de ação do ano veio da França. Imagens deslumbrantes, cenas de artes marciais, Monica Belucci embelezando com sua nudez e um monstro assustador.
12. HISTÓRIA REAL (The Straight Story), de David Lynch
Um Lynch diurno, mostrando a realidade de pessoas bem intencionadas e boas, na trajetória de um senhor idoso que atravessa milhas com um cortador de grama para ver o seu irmão doente. E essa é uma história real.
13. DÍVIDA DE SANGUE (Blood Work), de Clint Eastwood
Eastwood é como um bom vinho, que melhora à medida que envelhece. Brinca com a própria velhice e nos oferece mais um trabalho de respeito.
14. CIDADE DE DEUS, de Fernando Meirelles e Kátia Lund
Um dos maiores sucessos comerciais do cinema nacional, essa obra controversa é também um filme pulsante que bebeu na fonte de Scorsese e Tarantino.
15. TERRA DE NINGUÉM (No Man´s Land), de Danis Tanovic
Uma situação tragicômica, um país destroçado pela guerra, um senso de humor ácido. Melhor roteiro em Cannes.
16. AS FERAS, de Walter Hugo Khouri
Como é bom ver um filme do Khouri no cinema. Estão lá o erotismo, as mulheres lindas, o jazz, a psicologia, os diálogos finos. Grande Khouri.
17. UM GRANDE GAROTO (About a Boy), de Chris e Paul Weitz
A melhor comédia romântica do ano, num tempo em que o gênero anda em baixa. Uma delícia de filme.
18. SINAIS (Signs), de M. Night Shyamalan
Um filme que prima pela atmosfera de suspense, pelo terror psicológico e ainda faz uma bela homenagem aos filmes de terror dos anos 50.
19. BETTY FISCHER E OUTRAS HISTÓRIAS (Betty Fischer et autres histoires), de Claude Miller
Várias histórias se entrelaçam nesse excelente exemplar do atual cinema francês balanceando bem o drama e a comédia.
20. O PODER VAI DANÇAR (Cradle Will Rock), de Tim Robbins
Um super-elenco nesse inteligente retrato dos EUA da Grande Depressão.
Filmes nota 10 fora de concorrência
APOCALIPSE NOW REDUX, de Francis Ford Coppola
OS INCOMPREENDIDOS (Les Quatre cents coups), de François Truffaut
BEIJOS ROUBADOS (Baisers volés) , de François Truffaut
DOMICÍLIO CONJUGAL (Domicile Conjugal), de François Truffaut
A COMILANÇA (La Grande Bouffe), de Marco Ferreri
Top 10 - Brasil
1. O INVASOR, de Beto Brant
2. CIDADE DE DEUS, de Fernando Meirelles e Kátia Lund
3. AS FERAS, de Walter Hugo Khouri
4. HOUVE UMA VEZ DOIS VERÕES, de Jorge Furtado
5. O PRÍNCIPE, de Ugo Giorgetti
6. UMA VIDA EM SEGREDO, de Susana Amaral
7. JANELA DA ALMA, de Walter Carvalho e João Jardim
8. LAVOURA ARCAICA, de Luiz Fernando Carvalho
9. ABRIL DESPEDAÇADO, de Walter Salles
10. BELINI E A ESFINGE, de Roberto Santucci
Top 5 - Piores filmes
1. 13 FANTASMAS (Thir13en Ghosts), de Steve Beck
2. HOMENS DE PRETO II (Men in Black II), de Barry Sonnefeld
3. NETTO PERDE SUA ALMA, de Tabajara Ruas e Beto Sousa
4. D-TOX, de Jim Gillespie
5. SHOWTIME, de Tom Dey
sexta-feira, dezembro 27, 2002
ACOSSADO (À Bout de Souffle)
Fiquei de comentar ACOSSADO(1960) do Godard. Como sou "novato" na obra do homem, o que eu tenho a dizer são só impressões. Os únicos filmes que tinha visto eram DESPREZO (1963), que vi em VHS há muito tempo, e PIERROT LE FOU (1965), que vi num telão/vídeo nesse ano. ACOSSADO é um filme mais palatável, com bem menos referências literárias, musicais e cinematográficas ou autocitações. Assim, talvez seja o melhor filme para se iniciar o acompanhamento da obra. Há muitas semelhanças entre ACOSSADO e PIERROT. Os dois apresentam Jean-Paul Belmondo como o protagonista, nos dois Belmondo é um sujeito que foge da polícia por ter matado um homem, nos dois filmes há um belo par romântico: em PIERROT, Anna Karina, em ACOSSADO, Jean Seberg, além de outras coisas.
Alguns falam que a obra de Godard foi se tornando chata com o tempo, que os últimos filmes são difíceis e tediosos, mas eu acredito que eu vou gostar à medida que for descobrindo. Tenho impressão que vou criar afinidades com o cinema dele. Diferente de Fellini, por exemplo, de quem eu já devo ter visto uns 10 filmes e nunca gostei de fato. Até acho os seus filmes sonolentos. Já Godard, não. Dos poucos que vi, achei fascinantes, apesar de não os ter absorvido por completo. Mas os diálogos bem sacados, as montagens rápidas, as cenas e os personagens fora do comum me encantaram.
Antes de escrever eu tive vontade de rever o filme pra poder copiar algumas das frases de efeito e dos diálogos inteligentes do filme. Como não pretendo rever o filme imediatamente procurei na internet alguns textos que se referem ao filme e que, de preferência, comentassem algumas das frases do filme. Encontrei um texto do Arthur Dapieve falando sobre o livro "Ouvir Estrelas - as melhores frases e diálogos do cinema", de Mariza Gualano. No livro, o grande astro é Woody Allen, com 22 frases ou dialogos extraídos de seus filmes. Depois vem Billy Wilder e Jean-Luc Godard. Do filme ACOSSADO, Dapieve cita a frase: "Tornar-se imortal, e depois morrer", dita por Jean-Pierre Melville depois da pergunta "Qual a sua maior ambição?", feita por Jean Seberg. Há ainda: "Duas coisas são importantes na vida: para os homens, mulheres, para as mulheres, dinheiro." Outra que o Dapieve não cita e que eu gostei muito é uma em que Jean Seberg fala para Belmondo que as pessoas não dormem juntas. Quando as pessoas dormem, há sempre a separação. Não há como dormir juntos.
O texto de Dapieve a respeito do livro está aqui:
Digno de nota também é a refilmagem americana A FORÇA DO AMOR (Breathless), dirigido por Jim McBride e com Richard Gere e uma francesinha sexy chamada Valérie Kaprisky. Sem falar que o filme americano é mais generoso nas cenas sensuais.
quinta-feira, dezembro 26, 2002
CINEMA LIGHT
Comento a seguir alguns dos filmes que vi recentemente. Coincidência ou não são todos filmes leves e despretenciosos. Nada de excepcional, mas também nenhum deles é ruim.
ESCRITO NAS ESTRELAS (Serendipity)
Esse eu vi ontem e gostei. O segredo é não criar muita expectativa. Pra quem viu o trailler já tem uma idéia do que o filme traz. Vale a pena pelo casal de protagonistas - John Cusack e a belíssima Kate Beckinsale. É um filme à moda antiga, estilo Capra, com um romantismo e ingenuidade hoje ausentes nos filmes atuais. É claro que a moça força muito a barra em acreditar no destino, mas isso funciona bem no filme. E a cena do beijo dos dois ao som de "Northern Sky" do Nick Drake é bem legal.
CASAMENTO GREGO (My Big Fat Greek Wedding)
Outro filme leve. Não dá pra entender o sucesso enorme. Talvez alguma bruxaria. Mas CASAMENTO GREGO é um filme bem simpático e a história tem um andamento certeiro, apesar de manjada: moça desengonçada apaixona-se por rapaz boa pinta. Ele, ao querer casar com ela, tem que levar a família junto. O filme tem cenas engraçadas e ainda traz um pouco dos costumes da família grega para o espectador.
O FILHO DA NOIVA (El Hijo della Novia)
Sucesso na mostra de cinema de São Paulo, O FILHO DA NOIVA é um bom filme argentino que equilibra bem o drama e a comédia. Na história, dono de restaurante estressado decide mudar de vida, depois de sofrer um infarto. Ao mesmo tempo, seu pai decide se casar com a sua mãe, que sofre do Mal de Alzheimmer. Outros personagens como o amigo de infância e a namorada completam o mosaico. E o bacana é o clima alto-astral e positivo de se amar a vida com todos os problemas que ela traz junto.
CASTELO RA-TIM-BUM
Esse eu vi na Globo junto com o meu sobrinho. Isso é que exemplo de filme infantil. Não essas porcarias que vivem querendo entupir nos cinemas com grupos de pagode e apresentadores de programa de auditório. Não precisa dizer de quem estou falando, né? O filme foi dirigido por Cao Hamburger, que já tinha feito sucesso com o curta FRANKENSTEIN PUNK. Infelizmente o filme não foi bem de bilheteria. Mas hoje mesmo o meu sobrinho pediu pra eu colocar a fita de novo pra ele assistir. Sinal de que o filme tem bom apelo infantil.
Recentemente eu vi também ACOSSADO (À bout de Souffle) do Godard, mas esse não se enquadraria no quesito "cinema light" e tem muito do que se comentar. Fica pra próxima.
segunda-feira, dezembro 23, 2002
LAPUTA: O CASTELO NOS CÉUS (Tenku No Shiro Rapyuta)
Nesse fim de semana conturbado eu tive o prazer de assistir LAPUTA: O CASTELO NOS CÉUS (1986), de Hayao Miyazaki. Esse japonês é diretor do aclamado e premiado A VIAGEM DE CHIHIRO, que eu já estou esperando ansiosamente que estree no circuito comercial. Certo dia, com a revista SET nas mãos no curso de inglês, um colega do curso me pediu pra dar uma olhada, fez um comentário sobre o que ele chamou de "o grande Miyazaki" e eu perguntei se ele não teria algum filme dele em casa pra me emprestar. Com a resposta alternativa, não resisti e pedi emprestado a fita. LAPUTA (pronuncia-se Láputa) é um filme fascinante, perfeito. Eu diria que é o melhor filme japonês que eu já vi. Logo eu, que nunca fui fã de Akira Kurosawa e odeio os filmes de Takeshi Kitano, fui gostar dessa preciosidade. É claro que eu vou querer mais, vou oferecer alguma coisa pra emprestar pro rapaz pra poder conhecer mais dessas maravilhas da cultura nipônica. Já sei que MEU VIZINHO TOTORO é do mesmo diretor e esse foi lançado em vídeo no Brasil. Agora é ir atrás. LAPUTA não foi lançado em vídeo no Brasil e essa cópia é destinada exclusivamente a mostras de animes.
LAPUTA: O CASTELO NOS CÉUS conta a história (intrincada) de Sheeta, uma garota que possui uma pedra de levitação bem valiosa. Ela vive num dirigível nos céus, presa por um grupo de homens que usam óculos escuros e planejam, com a ajuda da garota, encontrar a lendária Laputa, a cidade suspensa nas nuvens. A pedra é também perseguida por um grupo de piratas liderado por uma velha. A primeira cena do filme é espetacular, com os piratas atacando o dirigível e Sheeta caindo dos céus ao som de uma das mais belas músicas que eu já ouvi. Sheeta, como está com a pedra de levitação, flutua no céu até cair num vilarejo e encontrar um garoto chamado Pazu. Isso é só o começo dessa história de duas horas de duração. O desenho é perfeito em seus detalhes, a animação dá de dez no manjado padrão Disney e a história é intricada e não subestima a inteligência do espectador. Eu, inclusive, tive de rever o filme quase todo pra perceber coisas que tinha deixado passar na primeira vez. Filmaço. E espero que seja apenas o primeiro dos vários filmes que pretendo descobrir dessa preciosa safra.
quinta-feira, dezembro 19, 2002
TÚMULO SINISTRO (The Tomb of Ligeia)
O último filme do ciclo Roger Corman-Poe-Vincent Price que o Fab Rib gravou pra mim. Bom, eu precisaria rever o filme com mais calma. Sei que eu estava muito disperso, o filme não conseguiu prender a minha atenção. Fazendo um balanço dos cinco filmes da fita, em ordem de preferência, um top 5:
1. O CASTELO ASSOMBRADO (The Haunted Palace)
2. MURALHAS DO PAVOR (Tales of Terror)
3. TUMULO SINISTRO (The Tomb of Ligeia)
4. ORGIA DA MORTE (The Mask of the Red Death)
5. O CORVO (The Raven)
TUMULO SINISTRO é baseado no conto "Ligeia" de Edgar Allan Poe. Esse é um dos contos de Poe que eu mais gosto. E pelo que eu pude notar, o mais autobiográfico dos contos dele. Abaixo, transcrevo um trecho da minha monografia de final de curso que tenta traçar um paralelo entre a vida e a obra do escritor maldito. Com relação ao filme, eu gostei do começo, mostrando o enterro de Ligeia, a música tema enquanto aparecem os créditos também é belíssima e o tom sério do filme é bom, mas funcionaria melhor se Vincent Price não fosse tão canastrão. Por isso não dá pra levar tão a sério. (Ah, por falar em Vincent Price, hoje no canal Mundo tem #Biografia - Vincent Price# às 21 hs. Quero gravar.) Outra coisa que me encheu o saco foi aquele gato que aparecia a todo momento tentando assustar. O bom é que do meio pro final o filme melhora, ganha ritmo. Um dos bons filmes do homem, mas o meu preferido dele continua sendo FRANKENSTEIN UNBOUND, filme que eu tive o prazer de assistir no cinema e até hoje é o melhor filme de Frankenstein que eu já vi.
Abaixo, trecho da monografia comentando as semelhanças entre o conto e o que acontecera com sua esposa Virginia, acometida por uma grave doença:
===============================================================
Em "Ligeia", o narrador tenta se lembrar de quando conheceu sua amada esposa; acha que a causa desse esquecimento vem de uma memória fraca de tanto sofrimento. Na passagem abaixo podemos identificar a pessoa de Poe, já exausto por causa dos sofrimentos que o destino lhe reservara, se entregando à pessoa do personagem:
I cannot for my soul, remember how, when, or even precisely where, I first became acquainted with the Lady Ligeia. Long years have since elapsed, and my memory is feeble through much sufferring.
Poe perdera sua esposa, Virginia, em janeiro de 1847. "Ligeia" trata da perda de uma esposa amada, tendo o narrador demonstrado, logo no início do conto, o quanto sente sua falta, numa narrativa de tom extremamente melancólico, como podemos ver a seguir :
Buried in studies of a nature more than all else adapted to deaden impressions of the outward world, it is by that sweet word alone - by Ligeia - that I bring before mine eyes in fancy the image of her who is no more.
Apesar de todo o talento de Poe para o grotesco e o horroroso, não há em toda a sua obra uma única passagem que tenha explorado a luxúria ou mesmo as indulgências sensuais. Seus retratos de mulheres são aureolados; brilham de maneira sobrenatural e são pintados à maneira de um adorador. Em "Ligeia", a descrição da personagem-título confirma essa idolatria. Ligéia parece mais uma criatura divina do que uma pessoa de carne e osso. No entanto, o padrão de beleza perfeita para Poe tinha como detalhe físico uma pele pálida. Vejamos abaixo um techo da descrição de Ligéia:
I examined the contour of the lofty and pale forehead - it was faultless - how cold indeed that word when applied to a majesty so divine! - the skin rivalling the purest ivory, the commanding extent and then the raven-black, the glossy, the luxuriant and naturally-curling tresses...
A mais espantosa semelhança com a vida de Poe em "Ligeia" está nas coincidências entre um trecho encontrado em uma de suas cartas e o momento do clímax do conto. Sabe-se que, perto do final do conto, o narrador presencia sua segunda esposa, Lady Rowena, já estendida, morta em sua cama de ébano, recuperar o rubor em seu rosto e, também, voltar a respirar levemente. Ele presencia esse reviver e morrer alternados durante várias horas da noite. Comparemos essa parte do conto com o trecho de uma carta que Poe escreveu a George W. Eveleth, em janeiro de 1848:
Seis anos atrás, uma esposa, a quem amei como nenhum homem jamais amou, rompeu um vaso sangüíneo durante o canto. Sua vida foi dada como perdida. Me despedi dela para sempre e passei por todas as agonias de sua morte. Ela se recuperou parcialmente e de novo tive esperança. Ao final de um ano o vaso partiu-se novamente - passei exatamente pelo mesmo drama. Novamente cerca de uma ano depois. Então de novo - de novo - de novo e ainda mais uma vez a intervalos variados. Todas as vezes eu sentia todas as agonias de sua morte - e a cada acesso do distúrbio a amava com maior ternura e me aferrava à sua vida com mais desesperada pertinácia. (...) Tinha realmente quase abandonado qualquer esperança de uma cura permanente quando encontrei uma na morte de minha esposa. Isto posso e de fato suporto como cabe a um homem - era a interminável e terrível oscilação entre esperança e desespero que eu não conseguia mais suportar sem a perda total da razão. Na morte do que era minha vida, então, recebi um novo golpe - ó Deus! como é triste uma existência.
Ao ler carta tão trágica, e ao perceber a espantosa coincidência que ela traz em relação ao conto, parece impossível não ligar a vida à obra de Edgar Allan Poe. Começando como um "copiador" do estilo de alguns escritores ingleses e alemães, Poe se tornou um autêntico romântico, tendo sua vida trágica estampada nas páginas de seus contos, ensaios, cartas e poemas.
(Texto escrito durante o segundo semestre de 1998)
segunda-feira, dezembro 16, 2002
SCHRADER E PENN
TEMPORADA DE CAÇA (Affliction)
UNIDOS PELO SANGUE (The Indian Runner)
No fim de semana dois filmes que abordam temas, ao mesmo tempo, universais e bem americanos foram o destaque. Os dois filmes têm várias coisas em comum.
O primeiro, TEMPORADA DE CAÇA (1997), é um filme de Paul Schrader, grande diretor e celebrado roteirista. Traz um elenco de peso - Nick Nolte, Sissy Spacek, Willem Dafoe e James Coburn em estado de graça. O papel deu um Oscar de ator coadjuvante para Coburn, morto há poucos dias. Ele é o pai agressivo de Nick Nolte e que se torna uma lenda na cidade, graças às maldades que ele fizera com os filhos. Nick Nolte é um dos filhos traumatizados do velho. Ele está cheio de problemas. Está separado da mulher, sua filha, que ele tanto quer ter a guarda, não gosta dele, ele está sofrendo de uma terrível dor de dente e não é respeitado como policial por quase ninguém da cidadezinha. A cidade é gélida como a de O DOCE AMANHÃ, outro filme baseado em romance de Russel Banks. Eu diria que foi com esse filme que Nolte interpretou o seu melhor papel. É tocante vê-lo incompreendido, sem conseguir fugir do estigma de burro e violento. E o final é sensacional.
UNIDOS PELO SANGUE (1991) é o primeiro filme dirigido por Sean Penn. A cidade do filme também é pequena, ainda que não seja gelada. O elenco também é de peso e a direção de Penn também é super-segura. O elenco traz David Morse, Viggo Mortensen (hoje conhecido pelo seu papel de Aragorn em Senhor dos Anéis), Valeria Golino, Patricia Arquette, Charles Bronson e Dennis Hopper. As primeiras imagens do filme já denunciam o filmão que estaremos prestes a ver. A primeira cena mostra um índio caçando um cervo e poucos antes da morte do animal, ele aspira o resto de seu sopro de vida. O filme foi baseado numa canção de Bruce Springsteen. Canção belíssima. Aliás, música boa é que não falta no filme. Na trilha, além de Springsteen, tem "Summertime" com Janis Joplin, tem Jefferson Airplane, the Band, Creedence. Taí um filme com grandes qualidades. Na história, David Morse é um policial correto de uma cidadezinha americana. Viggo Mortensen é o seu irmão errado, torto, que gosta de brigar, ir preso e não consegue se adaptar à rotina de uma pessoa normal. Charles Bronson, num belo e digno papel, é o pai dos dois.
Assim como no filme de Schrader, UNIDOS PELO SANGUE mostra o drama de pessoas que não conseguem fugir de si mesmas. O drama de Nick Nolte é parecido com o drama de Mortessen. No filme há dois pais, vividos por atores veteranos, fazendo papéis pequenos. (Curiosamente os dois, Bronson e Coburn, estiveram no filme SETE HOMENS E UM DESTINO) Os dois filmes retratam a vida em cidades pequenas e bem americanas. E os dois filmes são de uma beleza que só vendo.
quarta-feira, dezembro 11, 2002
TRÊS FILMES
MATA-ME DE PRAZER (Killing Me Softly)
Tinha tudo pra ser um puta filme: Heather Graham pelada em filme erótico dirigido pelo craque chinês Chen Kaige (ou Kaige Chen?), diretor dos ótimos ADEUS, MINHA CONCUBINA e A VIDA POR UM FIO. Mas Hollywood não fez bem pra ele e é melhor mesmo ele voltar pra sua terra. Também, depois dessa vergonha. Uma das piores coisas do filme é Joseph Fiennes. Esse sujeito não desperta a simpatia dos marmanjos. A história parece daqueles filmes que passam no Cine Privê da Band: moça se apaixona por estranho com passado misterioso e atitudes violentas e, depois que se casa, começa a desconfiar dele. É ruim, mas gostei de uma cena de sadomasoquismo em que Heather é quase estrangulada. Legal foi ouvir os comentários do pessoal no cinema: "depois daqui eu vou pro Chalex (motel tradicionalmente vagabundo do centro da cidade).
HI, MOM!
Graças ao amigão Renato Doho, pude conferir esse que é um dos primeiros filmes de Brian DePalma. HI, MOM! (1970) é um filme engraçado. Tem um senso de humor estranho e como eu nunca tinha visto uma comédia do DePalma, ainda não sei se gostei ou não do filme. Aqui vê-se citações explícitas à JANELA INDISCRETA, do Hithcock, uma certa adoração à câmera e a vontade de experimentar. O DePalma virtuoso com o uso da câmera chegou ao máximo em OLHOS DE SERPENTE, mas aqui ele ainda quer só experimentar. Pelo que eu pude entender há duas linhas na história: há a comédia, com Robert DeNiro cheio de manhas pra conseguir uma garota, e a há a parte da contra-cultura, com câmera tremida, meio documental e com a imagem no formato de televisão dos 60´s e aquele espírito rebelde que aqueles anos exalavam. Bom filme.
LATITUDE ZERO
Taí outro filme que me deixou indeciso se gostei ou não. Mas, assim como o filme do DePalma, esse vale a conferida. O começo do filme lembra LAVOURA ARCAICA. Só que em vez de um rapaz se masturbando, aqui temos uma mulher grávida. Assim como Lavoura, depois da cena da masturbação, ouve-se alguém batendo a porta. A mulher é Debora Duboc e quem está batendo a porta é Cláudio Jaborandy. Eles são os únicos atores do filme. Até o minuto final a gente vai ver apenas eles no filme. Ela mora num lugar no fim do mundo, na região norte do Brasil, mais quente que o Piauí. Ele é um policial perseguido que está se escondendo. O relacionamento entre os dois vai se estreitando. Boa a cena de tesão entre os dois, as tomadas do sol se pondo, a interpretação deles, o ótimo roteiro (tenho impressão que nos créditos no cinema vi o nome de Fernando Bonassi, mas no IMDB não consta). Acho que o meu problema com o filme foi o fato de me deixar muito desconfortável. Odeio choro de criança, grito de mulher histérica e bêbado chato.
terça-feira, dezembro 03, 2002
TRÊS FILMES
Terceiro longa de Brad Silberling e que mantém em comum com os anteriores (GASPARZINHO e CIDADE DOS ANJOS) o tema da morte. Nesse filme, Jake Gyllenhaal (o perturbado de POR UM SENTIDO NA VIDA) é o rapaz que passa a morar com os pais de sua namorada depois que ela é assassinada. Silberling tenta não tornar o filme piegas, mas eu não sei se isso é vantagem, já que o filme ficou muito frio. Os pais da moça são interpretados por Dustin Hoffman e Susan Sarandon, dois atores consagrados. No elenco de conhecidos também tem Holly Hunter como a advogada. Apesar de ser o mais pessoal dos filmes de Silberling (ele também teve a namorada assassinada), o filme não é tão inspirado. Melhor rever GASPARZINHO.
O IMBATÍVEL (Undisputed)
Pra mim o filme foi uma tremenda decepção. Eu também estava curioso em saber porque a crítica não tinha se pronunciado em relação ao filme de Walter Hill, quando de sua estréia. Parece que a razão foi mesmo aquilo que o Renato disse: quiseram esconder da crítica pra evitar as más línguas. O filme não chega a lugar nenhum. A "história" é mais ou menos assim: campeão mundial de boxe (Ving Rhames) é preso por estupro (alguém lembrou de Mike Tyson?). Chegando na prisão, ele vai enfrentar o campeão de boxe de lá: Wesley Snipes. A trama é bem simples, não tem reviravolta nenhuma, as cenas de luta são das piores que eu vi (melhor rever os filmes da série ROCKY) e os personagens não chamam a gente pra torcer por nenhum. Parece que Walter Hill continua em decadência. Infelizmente. Estou com um filme dele gravado lá em casa ainda pra ver - WILD BILL, western de 1995 com um elenco de primeira (Jeff Bridges, Ellen Barkin, John Hurt, Diane Lane, Keith Carradine, David Arquette, Christina Applegate..ufa!). Alguém já viu esse? É bom?
Depois desse filme lembrei de outros filmes de boxe e coloco aqui um top 5:
TOURO INDOMÁVEL, de Martin Scorsese
HURRICANE, de Norman Jewison
ROCKY, O LUTADOR, de John G. Avildsen
ROCKY II , de Sylvester Stallone
ROCKY III, de Sylvester Stallone
NUNCA TE AMEI (The Browning Version)
Filme legal de Mike Figgis trazendo Albert Finney como um professor carrasco de Grego e Latim que é maltratado pela esposa, que o chifra, e pelos alunos e colegas de escola, que o chamam de Hitler. Ao se preparar para deixar a escola, ele se comove ao ganhar uma versão rara de um aluno simpatizante. É comovente já que quando não recebemos o carinho que achamos que merecemos e de repente alguém nos é gentil, ficamos realmente sensibilizados. Belo filme de Figgis. No elenco ainda: Gretta Scacchi, Matthew Modine e Julian Sands.
Mas a melhor coisa do final de semana mesmo foi rever VELUDO AZUL gravado da edição especial em DVD com som de primeira e widescreen glorioso. È um filme que dá imenso prazer em rever. Ainda vi o excelente documentário Mysteries of Love e as cenas deletadas mostradas em alguns fotogramas recuperados e sem som. Maravilhoso.
terça-feira, novembro 26, 2002
Esse me decepcionou bastante. Estava esperando um filme vigoroso e com boas cenas de batalha. Que nada. O diretor evita mostrar cenas de batalha (só tem uma), por causa das limitações de direção e orçamento, e apresenta um filme tedioso. Achei pretensioso o uso da separação por capítulos, dos flashbacks que vêm e vai e que só servem pra esconder os defeitos do filme. Perdi a conta de quantas vezes olhei pro relógio. E percebi que na sala eu não era o único. Quanto à parte político-histórica da narrativa, achei mais interessante o drama dos negros (eternos excluídos e prejudicados) do que dos brancos separatistas. E por mais que digam que o filme não seja uma ode à separação do Rio Grande do Sul do Brasil, aquelas cenas pretensamente épicas de batalha ao som de música sacra dá a entender isso muito bem.
O VIOLINO VERMELHO (Le Violon Rouge/The Red Violin)
Filme ousado do canadense François Girard sobre um violino que passa de mão em mão desde o século XVII. O filme é falado em várias línguas (inglês, italiano, alemão, francês e até chinês). Interessante as várias histórias em torno do violino, as diferentes culturas mostradas, a maldição que o violino traz a quem o carrega. No elenco tem gente de todo o mundo. Os mais conhecidos são os americanos Samuel L. Jackson e Greta Scacchi. Filme bacana do mesmo diretor de GLENN GOULD EM 32 CURTAS. Gravado do SBT.
DUAS MULHERES (La Ciociara)
Filme emocionante de Vittorio De Sica e que deu o oscar histórico de melhor atriz para Sophia Loren nos anos 60. O filme mostra Sofia como uma viúva comerciante que vive com a filha na Roma da 2a Guerra Mundial. Por causa dos bombardeios, ela viaja com a filha para um vilarejo distante onde conhece pessoas, entre elas o personagem de Jean-Paul Belmondo, um intelectual no meio de gente simples. O filme mostra a difícil situação naquele período, com pessoas lutando pra conseguir pão e água. Porém, a cena mais forte é reservada para o final. Excelente. Gravado da Globo.
Sábado finalmente fui conferir DRAGÃO VERMELHO, de Brett Ratner. É a tal história: quando um monte de gente malha o filme, o que a gente vê e gosta já é lucro. Mas deixa eu contar o que houve antes da exibição do filme. Era a sessão de 18h20 e na hora que vai passar aquela propaganda de segurança contra incêndio, anterior aos traillers, falta energia. Foi um blecaute em todo o estado. E todas as salas do North Shopping ficam na mais completa escuridão. Na sala onde passava Harry Potter, a molecada gritava histérica. Gente corria de sala em sala. Um caos. Foi uma hora de espera. E eu ficava pensando se valia a pena esperar tanto. Na hora que eu já tinha decidido ir embora, chega a luz. E na tal propaganda do Grupo Severiano (que eles copiaram do UCI) dizia: "em caso de falta de energia elétrica, luzes de emergência acendem-se automaticamente". Mentira! Um monte de gente grita: "onde é que tem isso?". Propaganda enganosa.
Bom, o filme começa e eu gostei da primeira cena com o Edward Norton e o Anthony Hopkins se pegando. Bom prelúdio pro filme. O elenco é a melhor coisa, ainda que todos estejam mal aproveitados. Ralph Fiennes, o tal dragão vermelho do título, está bem, e já serve como prévia para seu papel em SPIDER, do Cronenberg. Emily Watson é que parece estar no filme errado. Hollywood está fazendo mal pra moça. (Adoro ela em ONDAS DO DESTINO, HILARY & JACKY e O PODER VAI DANÇAR).
Gostei do final com aquele gancho para O SILÊNCIO DOS INOCENTES. Tem isso na versão do Michael Mann? Porém, em se tratando de suspense, aí a coisa fica ruim. O suspense é quase inexistente. Não dá pra torcer pra ninguém. Pelo menos o filme entretém - olhei pouco para o relógio. Diferente do filme que eu iria ver no domingo: NETTO PERDE SUA ALMA. Chato perde.
segunda-feira, novembro 25, 2002
Esse ano de 2002 está uma beleza em se tratando de cinema. No sábado fui ver o sensacional LUCÍA E O SEXO, do Julio Medem e fiquei babando. Depois de ter visto FALE COM ELA, do Almodóvar, mais um filme espanhol vem causar boa impressão por aqui. Aliás, os dois filmes têm mais algo em comum: Paz Veiga é a garota do filme mudo dentro do filme do Almodóvar e Javier Cámara, o Benigno de FALE COM ELA é coadjuvante de LUCIA.... Além disso os dois filmes têm em comum o fato de serem perfeitos.
Uma das coisas legais do filme é que ele também é narrado do ponto de vista de Lorenzo, o homem que Lucía ama. Sendo assim, imagine só você estar num bar quando chega uma mulher como a Paz Veiga e diz que o ama e quer viver com você. Aí você aceita (não é tão idiota) e sai com ela, vai a uma danceteria, toma umas e depois tome sexo em casa. Uhhh!! Um sonho. Inclusive, o próprio Lorenzo em certa parte do filme fala que ele achava que mulheres como Lucía não eram pra caras como ele.
A história é bem mais complexa do que se imagina, mais personagens aparecem no decorrer do filme, flashbacks entrecortam a narrativa presente, outras possibilidades surgem no final. Nesse sentido, o filme é bastante parecido com OS AMANTES DO CÍRCULO POLAR, outra obra-prima de Medem, de 1998. Só que esse é ainda melhor. E não apenas por ter cenas de sexo, ainda que elas sejam fundamentais para o filme, mas por ser mais intenso, em todos os sentidos.
Uma cena, entre várias, me chamou a atenção: Lucía está na ilha e a câmera desce e mostra uma tomada dela com a lua ao fundo (a lua é uma constante no filme e personagem da história). Sublime.
LUCÍA E O SEXO mexe com a cabeça, com o pau, com os poros e com o coração. É um turbilhão de sentimentos e sensações que intoxica o corpo e nos faz querer estar vivos.
Quem ainda não viu, não deixe de ver por nada. A não ser que você conheça alguma Lucía pelo caminho. Aí tá perdoado.
segunda-feira, novembro 18, 2002
Apesar de ter sido um final de semana um pouco mais prolongado, não tive muito tempo ou disposição pra ver filmes em casa. Só no cinema. No feriado, fiz algo diferente: churrasco com cerveja, volêi na piscina e até futebol. Imagina, logo eu, tão perna de pau. Mas foi legal, diferente. O ruim é a dor de cabeça da cerveja depois, mas faz parte.
DOMICÍLIO CONJUGAL (Domicile Conjugal)
O final de semana ficou histórico no sábado pela manhã, quando fui conferir DOMICÍLIO CONJUGAL, de François Truffaut. O filme é o quarto do ciclo de filmes da saga de Antoine Doinel. Antes de entrar, dei uma lida num texto do Hugo Suckman (é esse o nome?) do jornal O Globo que gostou bastante do filme e comentou que este é considerado o mais fraco dos filmes "Antoine Doinel". Qual não é minha surpresa quando me deparo com não apenas o melhor filme do ciclo, mas o melhor do Truffaut, so far. Claro que pra mim, né? Caramba. Até então, o meu preferido era JULES ET JIM, e não OS INCOMPREENDIDOS, que também amo. Mas DOMICÍLIO CONJUGAL me fez chorar. Tá, eu sei que não é novidade eu chorar no cinema, mas dessa vez, o meu lado cerebral também está fascinado pela obra.
Em DOMICÍLIO CONJUGAL (1970), Antoine (o clone de Truffaut, Jean-Piérre Léaud) já está casado com Christine (a bela Claude Jade). Só de olhar pras pernas de Claude Jade dá uma inveja de Antoine... O começo do filme é cinema puro e o retrato do cotidiano da vizinhança remete aos filmes de Jacques Tati e a JANELA INDISCRETA, do Hitch. Truffaut parece ter um carinho imenso por todos os personagens, até os de papel pequeno. O clima inicial é de rotina, mas uma rotina gostosa, com o casal lendo livros antes de dormir, Antoine trocando de empregos (como em BEIJOS ROUBADOS), jantar com os pais de Christine etc. Por falar na cena do jantar, quem não viu BEIJOS ROUBADOS não vai poder curtir tanto a cena em que o belo casal vai buscar uma garrafa de vinho e se beijam, lembrando os tempos de namorados.
Mas todo essa rotina desaba quando Antoine conhece uma japonesa e começa a trair Christine. Aí o filme adquire outros tons, mais dramáticos. A cena que me fez verter lágrimas foi uma em que Antoine e Christine estão esperando um táxi. Não vou comentar mais sobre isso pra não estragar quem for ver o filme. (Não sei como, já que ele não está disponível em VHS/DVD no Brasil.) Mas, pôrra, quem já teve um namoro que acabou e foi doloroso vai igualmente se sentir tocado pelo filme.
E lembrei até de uma vez quando comentei na outra lista que não tinha gostado de APRILE e o Aguilar respondeu falando da paixão que tem pelo filme do Nanni Moretti, principalmente por ter sentido a mesma emoção pelo nascimento do filho. Mas o que eu não senti no filme de Moretti, eu senti com a cena do nascimento do filho de Antoine. E olha que eu nunca fui nem sei se vou ser pai um dia.
Eu teria mais um monte de coisas pra comentar sobre esse filme que faz o dia da gente valer a pena, mas vou ficar por aqui, esperando alguém se manifestar ou tomar iniciativa e ir conferir o ciclo Antoine Doinel, onde Truffaut faz mais cinema voltado para a vida. Aliás, nesse ele faz até uma auto-crítica: Christine, ao saber que Doinel está fazendo um livro de memórias, falando mal dos pais, fala que arte não é prestação de contas. Será que Truffaut acredita mesmo nisso? hehehe.
POR UM SENTIDO NA VIDA (The Good Girl)
É até covardia ver um filme que exalta a vida como DOMICÍLIO CONJUGAL e ver outro que trata de personagens miseráveis, que não tem o mínimo prazer em viver. Esse filme com a Jennifer Aniston é interessante, mas poderia ter sido um pouco mais realista. Os personagens são caricatos. Até lembra um pouco o ótimo OS EXCÊNTRICOS TENEBAUMS, do Wes Anderson, só que menos inteligente e inspirado. No filme, Aniston é uma mulher que trabalha numa loja e acha a vida um saco. O marido é John C. Reiley, pintor de paredes que gosta de fumar uns baseados depois do trabalho. As coisas mudam quando ela conhece uma cara esquisito que lê O APANHADOR NO CAMPO de centeio e toma para si o nome do protagonista do livro. Vale a conferida.
MADAME SATÃ
- E o cú? Já deu hoje?
- Não. Mas dei ontem.
Acharam de mal gosto ou engraçado esse diálogo? Ele faz parte de MADAME SATÃ, do cearense Karim Ainouz. Eu fiquei um pouco decepcionado já que esperava algo tão bom quanto CIDADE DE DEUS. No fim das contas, nem a história de João Francisco dos Santos, o cara corajoso, homossexual e negro do Rio de Janeiro dos anos 30, é tão grande assim. As apresentações dele lembram um pouco o Ney Matogrosso. Só que mais bizarro. E as cenas de sexo entre homens nem chegam perto da ousadia de A LEI DO DESEJO, do Almodóvar. Legal, por ser mais um filme de destaque na cada vez mais rica cinematografia brasileira, mas pra mim, decepcionante.
terça-feira, novembro 12, 2002
Clint Eastwood parece vinho bom. Quanto mais velho, melhor. Nos últimos filmes ele já estava brincando com o fato de estar velho (OS IMPERDOÁVEIS, COWBOYS DO ESPAÇO e NA LINHA DE FOGO, esse não dirigido por ele). Mas com esse ele levou a situação ainda mais longe. Ele é um detetive aposentado que sofreu um enfarte e fez transplante de coração. A irmã da moça que morreu, e de quem Clint recebeu o coração, pede a ele para voltar à ativa e pegar o safado que matou a irmã dela. É uma pena que pouca gente está indo prestigiar essa maravilha. O filme é uma delícia de assistir. É um prazer ver Clint pegando um trabuco e chutando bundas. Mesmo estando velhão. Tem uma cena belíssima que é quando a moça mexicana fala pra ele não esconder a marca da cirurgia, e os dois transam e tal. Muito bom. Só o final que eu matei (ou pelo menos suspeitei) logo na segunda vez que aparece o personagem. Ainda assim imperdível.
O ARTICULADOR (People I Know)
Se Al Pacino não está tão velho quando Clint, ele parece bem mais cansado. Mas isso é porque no filme ele é um cara que tá fudido da saúde, se enche de drogas pra dormir ou acordar. Isso porque sua profissão o escraviza. Ele é um assessor de eventos. Em sua profissão ele tem que contatar pessoas importantes para vários eventos políticos ou artísticos. Numa noite, ele conhece a personagem de Téa Leoni, uma junkie que o leva para lugares onde ricaços usam ópio. Pena que ela aparece pouco. Outra que aparece pouco é Kim Basinger, a personificação da salvação para Pacino. O final me fez lembrar a obra-prima O PAGAMENTO FINAL, do DePalma. O problema do filme é ser um pouco cansativo, mas vale a pena dar uma conferida. Principalmente por ele ser bem perturbador.
FUGA PARA A VITÓRIA (Victory / Escape to Victory)
Filme curioso de John Huston. A curiosidade vem do fato de o filme ter no elenco Pelé e Sylvester Stallone jogando futebol. Engraçado que quando eu era criança ouvia falar muito desse filme, pela turma que curtia futebol. Aí ele foi exibido em junho desse ano no canal Mundo e só agora eu vim assistir. Não é lá um grande filme (John Huston fez outros beeem melhores), mas mantém o interesse até o fim. Principalmente porque a trama envolve fuga de prisioneiros de um campo de concetração. E eu normalmente gosto de "filmes de prisão". No filme, Michael Caine é o treinador do time dos aliados que vai competir com os nazistas num jogo de futebol. Pelé está ridículo no filme. E cada vez que ele aparece e fala alguma coisa, dá vontade de rir. Heheheh.. Mas Stallone está bem. Outro destaque do filme é o final surpresa.
PALÁCIO DOS ANJOS
E finalmente o melhor filme do fim de semana: PALÁCIO DOS ANJOS (1970), do grande Walter Hugo Khouri. O Aguilar quando gravou a fita pra mim falou que considera esse o melhor filme de Khouri. Eu acho que concordo com ele, mas quando penso em NOITE VAZIA(1964) e EROS - O DEUS DO AMOR(1981), fico em dúvida. Mas esse é realmente um filme especialíssimo. Se Khouri já capricha no elenco feminino naturalmente, nesse filme, então, é uma coisa de louco. A atriz principal, linda, é a francesa Geneviève Grad. Fiquei fã dela. (Alguém sabe de algum outro filme fácil de achar em que ela participa?) Mas o elenco ainda tem as beldades Adriana Prieto e Rossana Ghessa. Elas são as amigas de Geneviéve (no filme, Bárbara), que é demitida depois de ser assediada pelo patrão e, com as amigas, começam a ganhar dinheiro fazendo "programas". Esse é o melhor filme que eu vi que trata do assunto da prostituição. Mostra desde o começo: a idéia, as dificuldades, o negócio. E tem sempre aquela coisa bem autoral do Khouri - jazz, closes olhando para o vazio indicando flashback, delicadeza em compor os personagens e diálogos e, é claro, sexo. Obra-prima. Grande Khouri. E valeu, Aguilar!!!
segunda-feira, novembro 11, 2002
Começarei a comentar os filmes do fim de semana. Muita coisa boa. Pra começar, o novo filme de Ugo Giorgetti, O PRÍNCIPE. Êta filmezinho amargo. Mas como eu também aprecio uísque, apesar do amargor, porque não apreciaria esse filme?
Na história, Gustavo (Eduardo Tornaghi) é o homem que volta ao Brasil depois de um auto-exílio de 20 anos. Ao chegar, ele encontra o país em decadência e vê que o destino de seus amigos foi bem cruel. Um deles, um professor de história, ficou doido ao tentar mudar os livros de história. Ele queria uma história de glória para o Brasil, nem que fosse na base da mentira. Outro, o personagem de Ewerton de Castro, trabalha com marketing, e vê as coisas com olhos estranhamente otimistas. O pior é o amigo que está paralítico depois de um acidente. Memorável a cena em que ele olha para a pele e as "penugens" das mulheres no bar e diz que o que sente mais falta na vida dele é o pau. Pra completar, tem a personagem de Bruna Lombardi, o amor da vida de Gustavo, que diz que lamenta ter "feito tudo errado" na vida. Isso tudo contado num Brasil cheio de assaltos, crimes, miséria e em plena era do apagão.
Alguns acusaram Giorgetti de exagerar no pessimismo, mas outro dia eu me peguei vendo o mundo bem ruim. Eu fiquei sabendo que uma menina por quem eu era apaixonado aos 18 anos está agora com 3 filhos de pais diferentes. E uma das crianças é paralítica. Quando eu soube disso eu fiquei arrasado. Principalmente quando eu me lembrava da glória dos seus 15 anos, quando ela era a garota mais bela e desejada do bairro. E lembro do longo beijo em frente ao portão. E de repente, vê-la assim, tão maltratada pela vida é de doer.
=============================
Música amarga para o momento:
"You can't always get what you want
You can't always get what you want
But if you try sometimes you just might find
You just might find
You get what you need "
Rolling Stones
==============================
terça-feira, novembro 05, 2002
Bom, deixando um pouco o Almodóvar de lado, mas sem esquecer tão cedo da emoção de sábado, eis os comentários dos ótimos filmes eclipsados pelo filme espanhol:
A COMILANÇA (La Grande Bouffe)
Filme de 1973 de Marco Ferreri sobre quatro caras que vão pra uma casa comer até morrer. Literalmente. Do Ferreri eu já tinha visto A CARNE, de 1991, filme que nos brinda com a voluptuosidade de Francesca Dellera. Esse, se não tem uma mulher tão bonita, tem um encontro de quatro dos maiores atores do cinema italiano e francês: Marcello Mastroianni, Michel Piccoli, Phillippe Noiret e Ugo Tognazzi. Os quatro se entregaram tão bem ao papel que emprestaram até os nomes próprios (Marcello, Michel, Phillippe e Ugo). Inclusive, até a própria atriz principal, a gordinha Andréa, também é o primeiro nome de Andréa Ferreol. O filme causou furor na época, e realmente em alguns momentos ver aquele povo empurrar comida goela abaixo é meio desagradável. Interessante que os personagens do filme são bem delineados:
- Marcello é o garanhão, o cara que não aguenta passar os dias na casa sem sexo. Por isso contratam prostitutas.
- Michel é o mais "sensível", usa camiseta colante cor-de-rosa, pratica ballet, e sofre de prisão de ventre.
- Philippe é um sujeito que tem uma relação doentia com a ama-seca. É meio estranho ver uma velha masturbando um marmanjo.
- Ugo é o cozinheiro e brincalhão. Legal vê-lo imitando Don Corleone. O PODEROSO CHEFÃO deve ter feito um sucesso enorme na Itália.
- Andrea é a professora gulosa fundamental para a história. Mais rodada do que as prostitutas. Heheheh..
Quando termina o filme, a primeira coisa que me veio à cabeça foi aquela frase de William Blake: "O caminho dos excessos leva à sabedoria."
PEQUENOS ESPIÕES 2: A ILHA DOS SONHOS PERDIDOS (Spy Kids 2: Island of Lost Dreams)
Arrisquei ver esse filme na única sala que não dizia se o filme era dublado ou legendado. Como o shopping ficava perto da locadora onde aluguei os filmes, foi lá mesmo que eu fui ver o novo filme de Robert Rodriguez. Pra minha raiva, o filme também era dublado. Grrr.. Passada a raiva, restou apenas tentar curtir o filme como se estivesse vendo uma sessão da tarde. (O que na verdade era mesmo.=) O filme é legal, a garota (Alexa Vega) está mais crescidinha. Está uma gracinha. Imagina daqui a dois anos, quando ela tiver 16. Hehehe. O filme é diversão pra criançada, mas os adultos também curtem. Vale ver e levar a molecada. Ah, e é melhor esperar até o fim dos créditos. Tem uma surpresinha.
SCARFACE - A VERGONHA DE UMA NAÇÃO (Scarface)
Já tinha visto o ótimo SCARFACE, do DePalma, de 1983. Essa primeira versão do filme (1932) talvez até seja melhor que a mais nova. Foi dirigido por Howard Hawks, sujeito que transitou com sucesso por vários gêneros: western, musical, filme de gangster, comédia. O cinema falado mal tinha começado e nota-se que naquele tempo os filmes não tinham muita música. Se eu não me engano, a partir dos anos 40 foi que os filmes noir começaram a se utilizar constantemente de trilha sonora. Corrijam-me se eu estiver errado. Enquanto estava vendo o filme, achei o personagem de Tony Camonte bem parecido com o Joey da série Friends. Tem um jeitão meio boboca. E haja tiroteio, metralhadoras detonando casas e bares. Mas o forte do filme são os personagens - Tony Camonte, a irmã, a amante, o chefe de Camonte. Teria que ver o filme do DePalma novamente pra ver até que ponto ele mudou na sua versão. Sei que ele mudou Chicago pra Miami. O resto não lembro.
O ENIGMA DE OUTRO MUNDO (The Thing)
Filmaço de John Carpenter que eu nunca tinha visto. Infelizmente vi gravado do SBT, mas no futuro verei na glória de um DVD e com som original e de qualidade. Mas deu pra perceber o brilhantismo dos efeitos especiais fora de série e da direção segura do homem. Música característica dos filmes dele. Ouvindo aquela música lembramos na hora de HALLOWEEN e de ASSAULT ON THE 13TH PRECINCT. Muito legal. Dos filmes mais importantes dele ainda falta eu ver THE FOG. Mas eu chego lá.
Na mesma fita da gravação do SBT gravei na carona dois episódios de Night Visions. Um deles, dirigido por Tobe Hopper. O episódio chama-se O LABIRINTO(The Maze) e tem a Thora Birch como uma garota arredia e que encontra um outro mundo ao atravessar um labirinto. Mas o legal mesmo foi o outro episódio - HARMONIA (Harmony), sobre um forasteiro que chega numa cidade, onde se é proibido ouvir música. Bizarro. E o final surpreendente.
No site http://www.tvtome.com/tvtome/servlet/EpisodeGuideSummary/showid-39/ tem o guia de episódios da série.
segunda-feira, novembro 04, 2002
"El cerebro de las mujeres es um misterio, y en este estado más..."
(Benigno)
Caros amigos, como acabei de ver um dos filmes mais belos da minha história de cinéfilo, preciso compartilhar essa experiência com alguém. Antes de tudo: FALE COM ELA é o melhor filme de Pedro Almodóvar. Olha que eu já tinha babado pelos dois anteriores (CARNE TRÊMULA e TUDO SOBRE MINHA MÃE), mas esse é ainda melhor. Portanto, antes de eu falar qualquer coisa sobre o filme, sugiro vocês irem correndo conferir esse belo trabalho.
Interessante que geralmente antes de ver um filme eu leio as criticas. Às vezes, diversas críticas para um mesmo filme. Dessa vez eu só li algumas linhas de algumas delas. É até melhor mesmo você ir ver o filme sem saber de muito da história. E essa história é contada com uma delicadeza e um carinho tão grandes que a gente acompanha esse ballet com os olhos bem abertos. E em alguns momentos bem úmidos. Os personagens principais, o enfermeiro e o escritor de livros de viagem, formam uma amizade muito bonita. E filme que trata sobre a amizade e amor do jeito que FALE COM ELA trata é artigo raro.
A comparação com o ballet que eu mencionei é feita pelo próprio Almodóvar durante o filme. A primeira cena do filme se passa num teatro, durante a exibição de um espetáculo de ballet. E a última cena também. Aliás, nessa última cena, quando eu vi estampado na tela os nomes de dois personagens da história, eu pensei que o filme iria continuar, eu queria mais, eu queria compartilhar mais da vida dessas criaturas do Almodóvar, que parece que ganham vida própria. Parecem reais. E não seria uma má idéia o diretor retomar a história dos sobreviventes do filme.
E por falar em compartilhar, essa é a palavra chave do filme. Quantas vezes a gente não vê algo que nos deixa tão impressionado ou emocionado que a gente quer mostrar isso pra mais alguém? É por isso que eu estou aqui escrevendo isso pra vocês. É por isso que os personagens do filme, que pra mim são quase reais, sentem fortemente essa vontade de compartilhar os momentos mágicos com alguém que ama.
Longa vida a Pedro Almodóvar!!!!!!!!
Ah, e a cena do Caetano Veloso também é linda!!!!!
quarta-feira, outubro 30, 2002
Vou aproveitar um pouco o tempo que eu tenho pra comentar os filmes do fim de semana:
CÓDIGOS DE GUERRA (Windtalkers)
Bom filme do John Woo, mas bem que podia ser melhor. Da fase americana, não é dos melhores. Dá impressão que o filme poderia ter uma duração menor, a mesma impressão que eu tive quando assisti MISSÃO IMPOSSÍVEL 2. E Nicolas Cage nunca foi mesmo um grande ator. Nos filmes ele passa a sensação de que está se divertindo nas filmagens. Mesmo fazendo o papel de um fuzileiro naval bem enjoado ele parece estar se divertindo, brincando de filme de guerra. Na história, ele é o responsável em proteger um índio navajo que é capaz de passar códigos via rádio baseados na língua indígena. Acontece que a missão dele é um pouco mais difícil do que a gente imagina no começo do filme.
REINO DE FOGO (Reign of Fire)
Não senti medo dos dragões, nem simpatizei com os heróis. Daí já dá pra saber que eu não curti o filme. O mais interessante no filme são os métodos kamikazi do grupo de Matthew Mchoney (ih, aboiolei o nome do rapaz..hehhe). Aquele salto do helicóptero dos "arcanjos" é a melhor sequencia do filme. Outro destaque é Christian Bale, que consegue ser totalmente diferente nos personagens que ele interpreta. Basta comparar com PSICOPATA AMERICANO e VELVET GOLDMINE, só pra citar alguns. (Citar O IMPÉRIO DO SOL, com ele ainda garotinho não vale.) No mais, é filme normal de ação com efeitos especiais e com final insatisfatório e entendiante.
Na tela pequena, o fim de semana foi de revisões, filmes que eu já tinha visto.
O CÉU QUE NOS PROTEGE (The Sheltering Sky)
Antes de tudo: eu adoro esse filme. Tentei resistir e não comprar o DVD de banca (o dinheiro tá escasso), mas não deu. A qualidade visual está boa, mas deu impressão que uma fotografia de primeira daquelas do Vittorio Storaro poderia estar ainda mais bonita se o tratamento dado ao DVD fosse melhor. Achei um pouco escura a imagem. Mas não vou reclamar. É muito melhor do que ter um VHS em full screen. Esse DVD está em widescreen, com opção pan&scan. É um filme belíssimo. Quando tem diálogos é bom, quando os diálogos ficam entalados na garganta dos personagens é melhor ainda. Uma viagem pela África da beleza natural e pobreza social. Viagem pra dentro e por fora.
FORÇA SINISTRA (Lifeforce)
Uma beleza esse filme do Tobe Hopper. Assisti a versão mutilada que passou na Globo dia desses. É de dar raiva. Lembro que eu vi esse filme quando criança e o sangue não ficava muito tempo na cabeça por causa da Matilda May passeando nua no início do filme. Aí, depois de velho, assisto o filme sem direito a ver a moça nua? Um verdadeiro desrespeito ao filme e ao espectador. Mas depois de passada a raiva, a história envolvente dos aliens, os efeitos especiais datados e a atmosfera de tensão ainda conquistam.
quarta-feira, outubro 23, 2002
Pra completar os comentários de filmes da semana, algumas linhas sobre CIDADE DOS HOMENS, a série de episódios que passou na Globo de terça a sexta-feira da semana passada.
O legal desses episódios é o fato de terem trazido mais humanidade para aquele clima pesado e de contagem de corpos de CIDADE DE DEUS.
A COROA DO IMPERADOR, de César Charlone
Esse é talvez o mais fraco dos quatro episódios. Como Jorge Furtado participa no roteiro, nota-se logo a sua influência na parte didática da trama. Na história, Laranjinha e Acerola tem de conseguir R$ 6,50 para ir a um passeio da escola e ver a coroa do imperador D. Pedro.
O CUNHADO DO CARA, de Kátia Lundi e Paulo Lins
Nesse episódio, Acerola, depois que fica sabendo que a irmã está namorando um líder do tráfico da favela, faz pose de manda-chuva para os colegas que antes o ridiculizavam e humilhavam. O filme é uma mistura de comédia com tragédia.
O MAPA DA MINA, de Kátia Lundi e Paulo Lins
O mais engraçado dos quatro e também um dos mais interessantes. Uma coisa que às vezes a gente não se toca é saber como é que os correios mandam cartas praquelas casas sem número nem rua em algumas favelas. Nesse episódio, Acerola e Laranjinha vão trabalhar de carteiros, sendo que quem paga os serviços são os traficantes. Engraçado quando eles vão à procura do remetente de uma carta rejeitada.
UÓLACE E JOÃO VÍTOR, de Fernando Meireles e Regina Casé
O melhor, mais triste e mais emocionante dos episódios. Faz-se um paralelo entre a vida de um jovem pobre da favela (Uólace, nome de batismo de Laranjinha) e um rapaz de classe média. Impressionante como os dois têm em comum, apesar das diferenças sociais. E você compartilhar da vida de um garoto pobre que acorda sem dinheiro e sem comida em sua casa é foda. Emocionante o final ao som de "Tempo Perdido", da Legião Urbana.
Se CIDADE DE DEUS não cumpriu esse papel social, tão cobrado pelos detratores, taí o CIDADE DOS HOMENS pra calar quem falou mal do filme do Meirelles.
terça-feira, outubro 22, 2002
Vi no fim de semana o documentário STANLEY KUBRICK: IMAGENS DE UMA VIDA. Emocionante. O documentário tem depoimentos de atores que trabalharam com Kubrick (Tom Cruise, Jack Nicholson, Keir Dullea, Nicole Kidman, Matthew Modine...) e outros diretores da pesada (Martin Scorsese, Woody Allen, Steven Spielberg, Alan Parker).
Bom também ver cenas de cada um de seus filmes. Os primeiros filmes dele eu não vou comentar. Não me lembro muito bem do que o documentário mostrou, talvez por não ter visto ainda (infelizmente) esses filmes. Comento a partir de SPARTACUS:
1960 - SPARTACUS
Nesse filme, Kubrick não se sentiu bem em não controlar o corte final e ser sujeito às imposições do ator e produtor Kirk Douglas. Era Douglas que mandava. Mas o filme ainda assim ficou muito bom, ainda que não mostre o traço da genialidade do homem. Um detalhe que mencionaram foi o fato de o filme não falar sobre Jesus, de não ser um filme cristão como Ben-Hur, por exemplo.
1962 - LOLITA
Com Lolita, Kubrick teve a sua primeira polêmica. Eu, como vi o filme depois da refilmagem de Adrian Lyne, acabei achando fraco no que se refere a cenas apimentadas. Ele até que é bem sutil. Kubrick teve que se sujeitar à censura. Depois de terminado ele disse que acharia melhor não ter feito, se é pra ser cortado. Uma coisa que me incomodou no filme foi o personagem de James Mason. Não dá pra simpatizar com aquele cara. Mas vai ver que era pra ser assim mesmo.
1964 - DR. FANTÁSTICO
Legal ver Scorsese todo entusiasmado ao falar sobre essa obra-prima. Pra mim, um dos 5 favoritos da filmografia de Kubrick. Scorsese dizia que um filme que começava daquele jeito, tudo podia acontecer. E a verdade é que um final daqueles com um maluco em cima de um míssil ninguém poderia prever. Sensacional.
1968 - 2001 - UMA ODISSÉIA NO ESPAÇO
De arrepiar. Antigamente eu costumava fazer uma distinção entre os filmes que o meu cérebro gostava e os que meu coração gostava. Considerava 2001 como um filme do cérebro. Mas vendo novamente algumas cenas, eu percebi: 2001 é o melhor e maior filme do mundo, não importa quem diga o contrário. Muito interessante o depoimento de Woody Allen. Woody havia gostado muito de DR. FANTÁSTICO e estava ansioso pelo novo Kubrick. Acontece que da primeira vez ele não gostou muito de 2001, depois, ao ouvir comentários entusiasmados de outras pessoas, foi ver de novo e já gostou bastante. Só na terceira vez é que ele se rendeu ao filme. Foi aí que ele viu que Kubrick estava muito à frente de seu tempo. Outra coisa: no dia da première do filme, Kubrick contou o número de pessoas que saíram no meio do filme: mais de duzentas. Heheheh.
1971 - LARANJA MECÂNICA
Do depoimento de Scorsese: a partir de Laranja, Kubrick já não recebia mais influência de outros diretores. Era ele, único, ele se auto-citava até, como numa cena em que a gang de Malcom McDowell entrava numa loja de discos e lá estava a trilha sonora de 2001. O maior problema de Laranja foi a violência do filme, que influenciou uns malucos que começaram a violentar pessoas nas ruas. Mais um filme pra por em questão o debate: o cinema, a televisão e o videogame é responsável pelo aumento da violência no mundo?
1975 - BARRY LYNDON
Esse é o filme de Kubrick que me fez chorar. Se alguém hoje ainda diz que o homem era um diretor essencialmente cerebral, tenho certeza que vendo esse filme vai mudar de idéia. É um dos meus favoritos. Melhor que LARANJA MECÂNICA. A narração irônica de Lord Lyndon, a beleza da geografia do lugar, a música barroca na trilha, a fotografia captando apenas as luzes naturais (do sol ou das velas à noite), uma certa cena envolvendo a morte de um personagem querido da trama, o detalhe dos figurinos. Sobre isso, Kubrick chegou a mandar o figurista para leilões de roupas do século XVIII pra deixar a coisa bem autêntica. Filmão, filmão.
1980 - O ILUMINADO
Kubrick pega fama de carrasco ao tratar mal Shelley Duvall nas filmagens. Mas parece que era estratégia pra deixá-la ainda mais nervosa. O personagem dela requeria isso. Não é um dos meus favoritos de Kubrick. Preciso revê-lo. Talvez mude de idéia. Os fãs de Stephen King não gostaram muito a adaptação.
1987 - NASCIDO PARA MATAR
Passou no documentário aquela cena do soldado enlouquecido, atirando no sargento carrasco e depois se suicidando. Dos três atos do filme, gosto mais do primeiro, do treinamento para a guerra. Tenho impressão que Spielberg "copiou" um pouco as cenas de guerra em seu RESGATE DO SOLDADO RYAN. Ficou parecido o cenário.
1999 - DE OLHOS BEM FECHADOS
Esse está mais fresco na memória das pessoas. Engraçado que eu não costumo guardar o ingresso do cinema. O único ingresso que eu tenho é o desse filme. Estava me sentindo bastante privilegiado em estar vendo um filme novo de Kubrick no cinema. Pena não ter visto outros. Na época, não tinha idade. Kubrick tinha engavetado o projeto de A.I. e encaminhado para Spielberg. Ainda bem que Spielberg não fez feio, ainda que tenha suavizado bastante o clima meio laranja mecânica do segundo ato. Nicole e Tom falam de Kubrick em tom solene.
No cinema
POSSESSÃO (Possession)
O filme não atendeu às minhas expectativas. Bem paradão e o resultado final não empolga nem emociona, mas o casal Aaron Eckart e Gwyneth Paltrow é bem legal. A trama paralela, dos poetas que mantém um caso secreto é bem interessante. No fim das contas fiquei sem saber se esse casal de poetas existiu mesmo ou é tudo ficção. Deve ser ficção. Positivo também o clima de Arquivo X, quando os dois investigam cartas que contem a história secreto dos tais amantes do século XIX.
A HERANÇA DE MR. DEEDS (Mister Deeds)
Esse eu nem pretendia ver, mas sabe que até que é simpático? Adam Sandler é de novo um bobão gente fina. Ele herda 40 bilhões de dólares e Winona Ryder, a kleptomaníaca mais famosa da atualidade, é a jornalista que vai tentar enganar Deeds e conseguir um furo de reportagem. A história não interessa muito. O que vale são as piadas, as situações engraçadas. Destaque para a cena dos gatos, a cena em que Winona vai mostrar a casa onde morava para Sandler e o personagem de John Turturro. Vale o ingresso. Risadas garantidas.
A IDENTIDADE BOURNE (The Bourne Identity)
O filme é bem legal, mas o problema é que a partir da segunda metade começa a cansar, perde o ritmo. A primeira parte do filme parece uma montanha-russa de tão bom. Lembra filmes do Frankenheimer (OPERAÇÃO FRANÇA, RONIN). Talvez por causa das perseguições de carros nas ruas da Europa. Matt Damon até que convenceu como herói de ação. Um bom filme.
UMA VIDA EM SEGREDO
Ontem fui conferir esse filme da Suzana Amaral e gostei bastante. Apesar de ter uma narrativa lenta, o filme não aborrece em momento algum. Na história, moça fica órfã e vai morar com os primos. O problema é que ela não consegue se adaptar à vida mais "sofisticada" dos primos. Prefere ficar na cozinha com criados e prefere as suas roupas feias. Engraçada a cena que a prima vai comprar roupas novas pra ela e ela sai andando toda dura, desacostumada. Ficou ainda mais feia. Heheheh.. Mas o que encanta no filme é que se no começo a gente ri da moça, com o tempo começamos a nos afeiçoar a ela. Filme bem legal. Merece ser visto por mais gente. Só não entendi que tipo de mensagem Suzana Amaral quiz passar com o filme.
Na tela pequena:
PAIXÕES PROIBIDAS (Tears in the Rain)
Peguei o DVD desse filme por engano. É aquele que está nas bancas com a foto da Sharon Stone na capa. Achei que fosse daquela série "If these walls could talk", aquele sobre lésbicas. Mas que nada, é um filme da Sharon pré-Verhoeven. E se alguém souber de um filme que a moça fez antes de fazer O VINGADOR DO FUTURO (1990) que presta, por favor me diga. Se bem que a estréia dela foi em MEMÓRIAS, de Woody Allen, mas foi só uma ponta. Esse filme é de 1988 e é muito ruim. Eu até tinha visto o começo na Record ou na Band. Olha que eu quase nunca assisto o filme apertando o fast forward (geralmente só em filme pornô), mas com esse filme eu não resisti. Nem vou falar da história do filme. Aliás, já gastei linhas demais.
NO SILÊNCIO DA NOITE (In a Lonely Place)
Filmaço de Nicholas Ray que passou recentemente num corujão da Globo. Ainda bem que eu gravei. Humphrey Bogart é um roteirista de cinema que leva uma garota pra casa pra contar a história de um livro que ele não estaria a fim de ler, e que provavelmente, será adaptado para o cinema. O problema é que a moça é assassinada depois que sai de sua casa. Bogart passa a ser investigado pela polícia. Seu temperamento violento não ajuda. Film noir anos 50 típico (fotografia p&b, Humphrey Bogart, clima de mistério). Tudo muito bom. De longe, o melhor filme do fim de semana.
ALTO CONTROLE (Pushing Tim)
O forte desse filme é o elenco. O casal John Cusack e Cate Blanchet levam uma vida quase normal. Cusack encara bem o serviço estressante numa torre de controle aéreo. O relacionamento muda ao surgir o casal Billy Bob Thorton e Angelina Jolie. (Jolie está bonita nesse filme e mostra suas belas tilts) Legal o filme mostrar o quanto é importante o trabalho dos controladores aéreos. Os atores estão ótimos, Cusack é sempre aquele cara simpático, Cate Blachet está linda e o filme também tem momentos engraçados. Gravado da FOX.
TORRENTES DE PAIXÃO (Niagara)
Esse (do diretor Henry Hathaway) saiu agora em DVD naquela caixa de filmes da Marilyn Monroe. Bem hitchcockiano. Um casal vai passar uns dias em chalés próximos às cataratas do Niágara e conhece uma loira fatal que está engatilhando um plano para matar o marido e ficar com o amante. O filme é curto (cerca de 90 minutos) e não perde o ritmo até o final, que se passa nas águas de Niágara. Só o cenário nas cataratas já vale o filme. Ah, e a outra atriz é mais bonita que Miss Monroe. Gravado da Globo.
quinta-feira, outubro 17, 2002
Essa semana assisti ao filme A CASA DO ALÉM (The Beyond) do Lucio Fulci. Desde a primeira cena da morte do pintor-feiticeiro que dá pra notar um certo prazer mórbido em exibir sequencias violentas. A cada chicotada que corta a carne do sujeito, a câmera avança pra ver melhor o sangue espirrando, a carne lacerada. Engraçado que todos nós temos essa curiosidade mórbida de ver esse tipo de coisa, ainda que nem sempre o estômago aceite.
A história é meio confusa e não dá pra engolir muito bem, mas pelo que eu li THE BEYOND é um filme de imagens. A história não necessariamente precisa ser o ponto central de um filme. Dá até pra comparar com música: uma canção não necessariamente precisa de ter uma letra boa pra ser uma canção boa. (Talvez a comparação não tenha sido feliz, mas acho que fui entendido. Heheheh.)
Na história, uma casa que serve de portal para o inferno passa a ser habitada por um casal. Um dos guardiões desse portal havia sido assassinado brutalmente sob acusações de bruxaria logo no início do filme. De repente, coisas estranhas começam a acontecer como o aparecimento de uma cega misteriosa e zumbis passeando por aí.
A música do filme é muito boa e às vezes chega a destoar de sequencias mais violentas. Isso é legal. Foge do clichê. A sequencia final também é deslumbrante (o que é aquele cenário, hein?). Aliás, o filme todo, os enquadramentos, tudo é feito para ficar visualmente bonito na tela. Mesmo as cenas de olhos sendo perfurados ou coisas do tipo são feitas com um capricho estético impressionante. Nesse sentido, ele é até superior a ZOMBI.
Confesso que a falta de uma história mais coesa me deixou meio cabreiro, mas, por outro lado, deu uma vontade de ver outros filmes do Fulci. Sinto que eu preciso ver mais desses pra começar a me habituar. Queria ver aquele com a Florinda Bolkan, por exemplo.
Da mesma fita gravada pelo Fab Rib (thanx, buddie), eu também vi os extras do DVD de UM LOBISOMEM AMERICANO EM LONDRES. Muito legal. O mais interessante é o processo de maquiagem de Rick Baker. Sensacional. E pensar que todo aquele trabalho hoje em dia se resolve facilmente com CGI.
terça-feira, outubro 15, 2002
Comentários dos filmes do fim de semana. Engraçado que só quando eu estava vendo o último dos 3 filmes é que eu percebi que eles se passavam em três décadas distintas e próximas do século XX.
NEWTON BOYS - OS FORA DA LEI (The Newton Boys)
Anos 20
O que me fez querer ver esse filme foi o meu interesse pela filmografia de Richard Linklater. Adoro o romântico e poético ANTES DO AMANHECER e o filosófico WAKING LIFE. Também são dignos de nota (alta) DAZED AND CONFUSED (esqueci o título nacional) e SUBURBIA. Ele ainda tem um filme inédito (no Brasil) e de baixo orçamento chamado TAPE (2001) que tem no elenco Ethan Hawke, Robert Shawn Leonard e Uma Thurman.
Ethan Hawke, além de amigo, parece ser o ator favorito de Linklater. Ele também está em THE NEWTON BOYS. Quando esse filme chegou ao cinema, pensei que fosse um western. Na verdade, os anos 20 nos EUA tem mesmo ainda um pé no velho oeste, mas as pessoas andam mais arrumadinhas, passeiam de carros, são mais sofisticadas. Os irmãos Newton entraram para a história americana como os maiores assaltantes do país. Por causa deles, os bancos começaram a investir mais em segurança. O filme é leve e divertido e, mesmo no final, com algumas tragédias, ele mantém o seu alto astral. O elenco do filme, além de Hawke (o irmão beberrão), traz Mathew McConaughey como o líder do bando e Skeet Ulrich como o irmão medroso. Outra coisa legal do filme é mostrar nos créditos finais trechos de entrevistas de dois Newtons, já bem velhinhos. Bem legal. Gravado da FOX.
ESTRADA PARA PERDIÇÃO (Road to Perdition)
Anos 30
Com tanto bafafá em torno desse filme, eu até que não achei lá grande coisa. É claro que é um bom filme, caprichado, principalmente tecnicamente, mas não é tudo isso que a mídia e os jornais andam espalhando. Tom Hanks trabalha para um chefão da cidade (Paul Newman, bem velho e com a voz embargada) e executa serviços sujos como matar os devedores do velho. A coisa se complica quando o filho de Hanks testemunha uma dessas prestações de contas. O filme é todo contido, a fotografia nunca mostra as cores vivas, as emoções também são bem contidas. Nesse clima, destaque para uma bela cena entre Hanks e o filho, abraçados. A cena trágica final também é belíssima. Mas como eu sou do tipo que curte emoções exacerbadas, pra mim, ficou a desejar. BELEZA AMERICANA é muito melhor e Sam Mendes ainda não se superou.
DESENCANTO (Brief Encounter)
Anos 40
Diferente dos outros filmes comentados, este não é um filme de época, é um filme da época (1946). Antes de ser diretor megalomaníaco, nos anos 40 David Lean dirigiu duas adaptações de Charles Dickens (GRANDES ESPERANÇAS e OLIVER TWIST) e essa bela história de amor. O que encanta em DESENCANTO (!) é que os personagens são gente como a gente, não são bonitos ou ricos. Tudo começa quando Trevor Howard tira um cisco do olho de Celia Johnson. Nenhum problema se os dois não fossem casados e tivessem filhos. Depois de um outro encontro casual e um cineminha esperto, eles combinam de se encontrar toda quinta-feira à tarde. Esses encontros num determinado dia da semana me fez lembrar um outro ótimo filme romântico: UMA RELAÇÃO PORNOGRÁFICA. Mas os filmes da década de 40 não falavam de fantasias sexuais, a sociedade era mais regrada. Por isso que o impacto da paixão dos dois é tão forte. Principalmente para ela. DESENCANTO é um filmão. Nas bancas em VHS pela série de clássicos da Altaya.
segunda-feira, outubro 14, 2002
Vou comentar um pouco como foi o Ceará Music no sábado. Os shows não foram muito animadores. Pelo menos pra mim.
O primeiro show da noite foi da Marina Lima. Legal. Ela estava insegura, vendo tanto garotão que não liga pra ela. Até falou que nunca tinha feito show junto com outras bandas. Achava que as pessoas estavam lá por causa das outras bandas. E não por causa dela. O pior é que era verdade. Tirando eu e outros poucos gatos pingados, pouca gente curtiu de verdade o show, que foi bem calmo. Ela cantou várias faixas do disco novo SETEMBRO, só uma de O CHAMADO (a faixa título), e duas de PIERROT DO BRASIL. Teve alguns clássicos dos anos 80 como "À francesa", "Nosso Estranho Amor", entre outras, mas poderia ter sido muito melhor.
Aí vem o Tihuana. É brincadeira. Essa banda não dá pra levar a sério mesmo. Fazendo assim, até que dá pra curtir as músicas por causa da guitarra pesada e do público que alopra nos shows deles. Legal ver (de longe) o povo pulando enquanto um dos vocalistas canta "Pula, pula, filha da..pula" hehehehe..e outras letras inspiradas que falam sobre praia de nudismo e o fato de se estar chapado.
A próxima banda a tocar era o Cidade Negra. Meu Deus. Como essa banda ficou chata. Com esse álbum acústico a banda não deixou dúvidas que é mesmo um porre. É claro que quem tá falando é o enjoado aqui. O povo que se multiplicou perto do palco provavelmente deve ter curtido. Eu só não quis morrer naquele momento porque eu ainda tinha esperança de ver o Los Hermanos naquele mesmo dia. Heheheh..
Depois do Cidade, teve um show de duas mulheres que faziam covers das músicas cantadas pela Cássia Eller. Uma homenagem. Nessa hora fui descansar no gramado. Só ouvi de longe. Não vejo muita graça em show de crooner.
O Los Hermanos estava programado pra tocar no outro palco (o menor) e já eu estava lá junto com outros fãs da banda esperando ansiosamente pra ver Camelo, Amarante e cia pela primeira vez. Outra decepção. Os nojentos do Jota Quest tinham de viajar logo e pediram pra tocar antes. Arghh.. Lá fui eu de volta pro palcão ver " uma banda numa propaganda de refrigerante".
O show foi aquela chatice. Mesmo canções do primeiro disco que eu achava legais ("As dores do mundo" e "Encontrar alguém") ficaram ruins em novas versões. Eles já não sabem mais o que fazer. Abandonaram a mistura de black music com rock e arriscaram o rock puro no desastre "Oxigênio" e agora querem voltar o que era antes com esse disco novo. Saca-se que é tudo estratégia descarada pra ganhar dinheiro fazendo música sem conteúdo.
Finalmente, o show acaba e dessa vez tem Los Hermanos mesmo. Mas infelizmente, num mini-show. Eles abrem o show com a "Música Tradicional Polonesa" que vem tocando nos shows há alguns anos. A primeira canção de fato foi "A flor", com Camelo e Amarante se alternando nos vocais. A maior parte do repertório do show foi de canções do segundo disco. Do primeiro, apenas "Anna Julia", "Quem sabe" (na minha opinião a melhor música a ser tocada ao vivo) e "Tenha Dó". Como esperado, cantaram "A Palo Seco" do Belchior. E o Amarante falou algo como "eu sou daqui". Ele é de Fortaleza? Não sabia. O show terminou com "Fingi na Hora rir", ao som de "mais um" e reclamações do público. Camelo prometeu que voltaria pra cá em breve. A turnê de BLOCO DO EU SOZINHO chegou ao fim. A banda teve de terminar logo já que as super-estrelas ainda iriam tocar: o RPM.
Paulo Ricardo se acha o cara mais gostoso do mundo. Insuportável. Teve uma hora que ele falou que queria descer e falou que ia pular ao som de gritos das meninas. Se der corda é pior. heheheh. O show é impecável tecnicamente, mas ouvir essas versões requentadas e sem graça de músicas que já moeram os nossos ouvidos tantas vezes é foda. O diferencial foi que na faixa "Rádio Pirata" ele inseriu vários trechos de canções do Led Zeppelin, Beatles, Doors, Stones. O resto é o mesmo show mostrado na MTV, inclusive a cara de quem tá "obrando" quando canta aquela música que mistura uma gravação do Renato Russo. Tem que ter mesmo essa cara de pau pra ganhar $$$$?
Mas a picaretagem estava mesmo solta na madrugada de sábado para domingo. O dia já tinha amanhecido quando o Biquini Cavadão entrou pra tocar o seu show de covers de sucessos do rock brasileiro dos 80. O som deles é muito bom, tocam muito bem e as versões ficaram todas boas. Aliás, já tinha visto eles no ano passado. Já sabia como é que eles estavam nos shows. O problema é que a gente sabe que eles só se sustentam por causa de músicas dos outros. Se fosse só a deles, aí era outra história.
Não deu pra ficar até o final. Hora de voltar pra casa com o corpo todo moído e meio frustrado. Só queria a minha cama.
quinta-feira, outubro 10, 2002
Documentário sobre os eventos trágicos de 11 de setembro de 2001, especialmente o que ocorreu no World Trade Center. O filme foi exibido pela Globo quando se completou um ano da tragédia. Apresentado por Robert DeNiro, o filme acabou acontecendo por acidente. A intenção dos irmãos franceses Gédéon e Jules Naudet era fazer um documentário sobre uma equipe de bombeiros de Nova York, mostrando o treinamento dos novatos, a expectativa de encarar o primeiro incêndio, as noites de espera por um difícil trabalho à vista. A cena do impacto do primeiro avião a cair numa das torres gêmeas foi primeiramente documentado por um dos irmãos. Os bombeiros tinham sido chamados para um trabalho de rotina próximo dos prédios, quando se ouviu um barulho. Meio que por instinto, o francês apontou a câmera para flagrar o desastre. O filme mostra cenas de dentro dos prédios, antes deles ruirem, cenas das pessoas apavoradas nas ruas, da repercussão da mídia, dos prédios desmoronando e virando pó e da busca pelos corpos das vítimas. O filme evita mostrar imagens de impacto como as pessoas pulando de cima dos prédios, pessoas em chamas ou corpos decepados. A intenção do documentário é mostrar o heroísmo de pessoas comuns e a "alegria" dos sobreviventes e suas famílias no meio de tanta tragédia.
JOANA D´ARC (Joan of Arc)
A vantagem dessa mini-série em relação ao filme de Luc Besson é que ela é mais didática, explica mais sobre a situação política da França na Guerra dos Cem Anos. Fica claro o posicionamento da região de Borgonha, região da França do lado dos ingleses. Interessante é ver um filme que exalta tanto a França e que é falado em inglês. Pelo menos, no filme de Besson, o cineasta era francês. Falo da versão de Besson porque ainda era o único filme sobre Joana D´Arc que eu tinha assistido. Preciso ver o clássico de Dreyer LA PASSION DE JEANNE D´ARC (1928) ou SAINT JOAN (1957), de Otto Preminger. Parece que esses são os melhores filmes já feitos sobre a vida da maior santa/mártir/guerreira/heroína da história da França.
Voltando à mini-série, a escolha de Leelee Sobieski não chega a atrapalhar, mas pra mim, saiu perdendo pra modelo Milla Jovovich do filme de Besson. O fato de não mostrar cenas sangrentas de batalha também deixou o filme com cara de filme pra tv (o que na verdade é..hehehe). Mas no geral é um filme que vale a conferida. Gravado da FOX.
terça-feira, outubro 08, 2002
Continuando os comentários dos filmes do fim de semana, vamos agora para o domingo, no Espaço Unibanco, para a mostra de filmes franceses.
Antes de ver o longa aproveitei para conferir os curtas sobre periferia. Na verdade, eu estava curioso mesmo era pra ver o curta PALACE II, do Fernando Meirelles e da Kátia Lund. É ótimo e é protagonizado pelo mesmo garoto que fez o Dadinho no longa. Inclusive, esse mesmo personagem (o Acerola) vai estar presente na mini-série CIDADE DOS HOMENS, que vai ser exibido na próxima semana na Globo. O clima do curta é o mesmo de CIDADE DE DEUS, tem até aquela história dos traficantes atirarem no pé dos garotos e o senso de humor. Legal. Antes desse curta passou 750 - CIDADE DE DEUS, bem chatinho, e o já conhecido ROTA ABC, que já vale a pena ver pela abertura com cena do filme SÃO PAULO S.A., do Person, e pela banda punk Garotos Podres. Já tinha visto na tv.
Depois foi correr pra entrar na fila pra comprar o ingresso pro filme BETTY FISCHER E OUTRAS HISTÓRIAS, de Claude Miller. Fiquei surpreso com fila grande pra comprar ingresso no Espaço Unibanco em dia de eleição, mas depois vi que também era por causa do CIDADE DE DEUS na outra sala.
O bom de você ver um filme sem saber nada sobre a história é que você está preparado pra qualquer coisa. Eu não sabia que tipo de filme iria ver. O começo dá a impressão de que é um drama pesado, mostrando Nicole Garcia como uma mãe perturbada a ponto de furar a mão da própria filha com uma tesoura. O filme vai ganhando ares de comédia aos poucos, sutilmente.
Anos se passam e Margot Fischer (Nicole Garcia), insuportável de tão egoísta, vai visitar a filha já adulta, Betty(Sandrine Kimberlain). Quando um acidente vitima o filho de Betty, o filme passeia por outras histórias para depois interligá-las. Entre as outras pessoas envolvidas está a personagem Carole (Mathilde Seigner, irmã parecida de Emanuelle Seigner ), mãe desnaturada de José, garoto que também vai ser fundamental para a trama. Contar mais é estragar as surpresas. O filme deve entrar depois em circuito comercial em breve. Eu recomendo.
Bom, como não tenho outra escolha a não ser permanecer aqui no trabalho mesmo estando doente, vou aproveitar o tempo vago pra falar sobre A ÚLTIMA PROFECIA, o filme de terror de Mark Pellington, que vi no sábado.
Pra quem gosta de uns sustos e uns frios na espinha, o filme não decepciona. Só acho que ele não tem um efeito tão prolongado quanto um MULHOLLAND DR, por exemplo, mas aí já era querer demais, né?
No filme, Richard Gere é o cara que perde a esposa num acidente de carro, depois que a mesma vê algo assustador e perde a direção do veículo. A ÚLTIMA PROFECIA é dessa safra de filmes que assusta, escondendo, como A BRUXA DE BLAIR, SINAIS e OS OUTROS. A estratégia funciona que é uma beleza. E outra coisa que está a favor do filme é que ele traz um tema bem diferente do apresentado nos outros filmes. O começo do filme tem um clima de Arquivo X, quando Gere se vê numa cidade que está vivendo momentos estranhos. Pessoas vendo aparições de algo que não sabem distinguir e outras coisas bizarras. Não vou falar mais nada sobre a história do filme pra não estragar a surpresa de quem ainda não viu.
O que mais impressiona é que o filme é baseado em fatos verídicos. Sabendo disso, é mais uma razão pra gente ficar de cabelo em pé. Conversando com o meu amigo Herbert sobre o filme no domingo ele tinha me falado que o Mothman é uma lenda bastante conhecida nos EUA e que tinha pesquisado na internet vários sites sobre o assunto. Fui dar uma olhada nesses sites.
Um deles, http://www.lorencoleman.com/mothmanfile.html, traz um monte de informações sobre o filme, o livro, sobre o que aconteceu em Point Pleasant (a cidade onde se passa o filme) nos anos 60 e as aparições.
No IMDB, vi que tem um outro filme de título MOTHMAN, de 2000 e com elenco e diretor desconhecidos. Alguém sabe algo sobre?
segunda-feira, outubro 07, 2002
No sábado pela manhã fui conferir a uma sessão de BEIJOS ROUBADOS, terceiro filme da saga de Antoine Doinel. O bacana é que quanto mais a gente vai assistindo esses filmes, mais gostamos deles. O primeiro, OS INCOMPREENDIDOS, eu vi ainda esse ano. Infelizmente não pude conferir o curta que dá continuidade a história de Antoine e que faz parte do filme de episódios O AMOR AOS VINTE ANOS. Em BEIJOS ROUBADOS, Jean-Pierre Léaud está cada vez mais parecido fisicamente com Truffaut. É como se o diretor, ao construir o seu alter-ego na figura do ator, fosse doando parte de si mesmo para ele. Impressionante. Se eu não me engano, ator nenhum fez projeto semelhante ao que Truffaut fez com o personagem Antoine.
Em OS INCOMPREENDIDOS (1959), ele é um jovem que foge de casa devido a carência da atenção dos pais e dificuldade de se adaptar às regras impostas na escola. Quando eu vi esse filme, achei o final meio estranho, sem uma conclusão, mas ainda assim maravilhoso, com Antoine correndo numa praia e percebendo que a vida dele ainda uma página em branco. Depois é que eu soube que o filme era apenas o início de uma série de histórias com o personagem, contando a vida dele.
ANTOINE ET COLLETE (1962), o curta que dá seguimento a história de Antoine, mostra o começo da vida amorosa do rapaz. Já em BEIJOS ROUBADOS (1968), Antoine está saindo do exército por causa de sua indisciplina e vai trabalhar de porteiro de hotel e em seguida de detetive particular. Costuma, como todo homem, dividir o amor e o sexo, preferindo às vezes só dar uma com uma prostituta. O amor está na figura de Christine, garota difícil para o impaciente rapaz e também em uma mulher mais velha.
Ótima edição rápida de Truffaut, ótima música, ótimos diálogos e personagens fascinantes.
O próximo filme do ciclo Antoine Doinel também será exibido aqui em novembro. Chama-se DOMICÍLIO CONJUGAL (1970) e mostra a vida de casado de Antoine com Christine. Deve ser igualmente imperdível.
O último filme, de acordo com o que peguei agora no IMDB, é L´AMOUR EN FUITE (1979), mostrando Antoine, já trintão, se divorciando de Christine.
quinta-feira, outubro 03, 2002
Imagine que você está voltando pra casa no seu carro. Tá tendo um engarrafamento desgraçado e a melhor alternativa parece ser pegar um atalho. Mas você acaba se perdendo e seu carro morre. O lugar onde você parou não é bem um lugar amigável. Surgem ladrões que querem te humilhar e levar o teu carro. Quem sabe até dar um tiro um tiro em você. Por sorte, alguém aparece e ajuda você a sair dessa encrenca. Essa é a história inicial de GRAND CANYON. O cara do carro é Kevin Kline, o sujeito que o ajuda é Danny Glover. Eles ficam amigos depois dessa.
GRAND CANYON, de Lawrence Kasdan, é um filme apaixonante. Talvez o mais apaixonante dos filmes de Kasdan. Ele já havia nos presenteado com filmes como O REENCONTRO e O TURISTA ACIDENTAL. Ele talvez seja um dos cineastas americanos mais subestimados. Sua direção por vezes lembra filmes europeus, mais pausados. Os diálogos são realistas, calmos e reflexivos. Seus personagens estão à procura de sentido para suas vidas, ou pelos menos, tentam entender o que está passando.
Em GRAND CANYON, o elenco é sensacional e a teia de acontecimentos, fascinante. Vejam só: Kevin Kline depois de ter a sua vida salva por Danny Glover, procura ajudá-lo de alguma forma. Até arranja-lhe uma namorada. Danny Glover é um sujeito tão legal na realidade que não dá pra não simpatizar com o cara. (Lembro que me emocionei quando vi ele no noticiário chorando ao ir pra África ver a realidade dolorosa das crianças de lá.) Mary McDonnel é a mulher de Kline e sua vida muda quando ela encontra uma criança sozinha chorando nuns arbustos. Ela também questiona a injustiça social. (Imagina se ela morasse no Brasil...). Steve Martin, cineasta de filmes violentos, também sofre um abalo quando leva um tiro num assalto. Ainda tem outros personagens com seus dramas pessoais, seus problemas, suas inseguranças. Tudo muito humano. E pensar que eu vi esse filme depois de uma sessão de TRIPLO X.
Tem uma cena que me chamou bastante a atenção: a cena do sonho de Mary McDonnel. Ela sonha com um mendigo parecidíssimo com o assustador homem de MULHOLLAND DRIVE. Será que David Lynch se inspirou nesse filme pra criar mais uma de suas assustadoras criaturas?
segunda-feira, setembro 30, 2002
O final de semana foi razoável. Fui a uma festa à fantasia no sábado. A festa foi legal, mas esses eventos organizados pela Biruta nem chegam perto do que eram as festas sem frescuras no extinto Domínio Público, onde eu me esbaldava de dançar até cansar. Já na Biruta, os DJs nunca me empolgam. Bom quando a barraca era menos badalada e mais alternativa. Tenho ótimas lembranças daquele tempo (94,95). Mas o ambiente é legal, numa mansão à beira-mar na Prainha. Clima agradável. Eu de última hora tive de improvisar uma fantasia de Zorro. Comprei uma cartolina e fiz a máscara e uma espada, que mais parecia um cacetete. Ridículo. Heheheh.. Na festa tinha um monte de fantasias bizarras como marmanjos vestidos de fralda, sósias do Bin Laden e as já tradicionais roupas do filme Pânico. Ah, e tinham também umas policiais de mini-saia e uma freiras bem interessantes. Heheheh..
Em se tratando de filmes só se salvou GRAND CANYON, ótimo filme de Lawrence Kasdan, que falarei depois.
Os outros filmes vistos foram: TRIPLO X e o anime A LENDA DO DEMÔNIO.
TRIPLO X (XxX)
A maior super-produção até o momento do novo astro da pancadaria Vin Diesel é divertido, mas bem que poderia ser melhor. O que há de melhor no filme são as cenas de ação. Algumas se destacam: a primeira cena do carro caindo, a cena da avalanche (inacreditável..hehehe) e a cena "bondiana" da bomba. Asia Argento nem está tão bonita quanto em TRAUMA, do papai Argento. O vilão é uma caricatura ridícula de todos os vilões ridículos dos filmes de ação recentes. O que se salva são mesmo as sequencias de ação, o senso de humor de Vin Diesel e a edição rápida. Ainda assim, bem que o filme poderia ter um pouco mais de suspense nas cenas de ação, a exemplo de filmes como VELOCIDADE MÁXIMA e O FUGITIVO. Filminho mais ou menos.
A LENDA DO DEMÔNIO (Urotsukidoji - The Legend of the Overfiend)
Anime chato pra cacete que eu só assisti por causa das cenas eróticas, que são poucas. A maior parte do filme é sobre um demônio que segundo a lenda, aparece a cada 3.000 anos pra unir o reino dos homens, dos deuses e dos demônios. É um filme que eu quis ver mais por curiosidade mesmo. Passou na BAND naquela sessão "privê". Mas se o filme não é recomendado para crianças (tem cenas de estupro, felação, masturbação etc), por outro lado é infantil demais com essa baboseira de demônio e "deus supremo" (que no inglês é overfiend, algo como super-demônio). São quase duas horas que custam a terminar.
quarta-feira, setembro 25, 2002
Assisti a três filmes seguidos do Paul Newman. Os filmes são de sua juventude (anos 50 e 60) e mostram o porquê de hoje ele ser considerado um ator mítico. O triste é ver ele bonitão e jovem nesses filmes e depois vê-lo parecendo uma caveira no filme ESTRADA PARA A PERDIÇÃO. Mas é a vida. Essa semana mesmo eu ouvi a frase: "O tempo é uma verdadeira fábrica de monstros." Meio exagerada a frase?
Seguem comentários rápidos dos 3 filmes com o astro.
REBELDIA INDOMÁVEL (Cool Hand Luke)
Dir: Stuart Rosemberg - 1967
Nesse filme, Newman é um rebelde que por causa de seus atos vai parar numa penitenciária rural, onde os presos também trabalham duro. Geralmente eu gosto dos filmes de penintenciária, gosto de ver o protagonista do filme tentando fugir da prisão. Tem vários ótimos como FUGINDO DO INFERNO, UM SONHO DE LIBERDADE, ALCATRAZ: FUGA IMPOSSÍVEL. Esse também é dos bons. Não dá pra falar muito do filme, já que a história é bem simples. Newman pra variar está ótimo como o rebelde preso. Destaque para duas cenas: Newman apostando que come 50 ovos em uma hora e a cena da última fuga dele da prisão. O filme ainda traz no elenco os jovens Dennis Hopper e Harry Dean Stanton. Gravado do SBT.
HOMBRE
Dir: Martin Ritt - 1967
Do romance de Elmore Leonard (hoje conhecido por ser autor dos livros que deram origem aos filmes modernos JACKIE BROWN, O NOME DO JOGO e OUT OF SIGHT), HOMBRE é o meu favorito dos 3 filmes desse "festival". É um western dos bons dirigido por Martin Ritt e que tem uma primeira hora que lembra bastante NO TEMPO DAS DILIGÊNCIAS, do John Ford. Como no filme de Ford, o filme mostra várias pessoas numa caravana à mercê de índios e assaltantes. Paul Newman faz o papel de um homem branco que foi criado pelos índios e é recebido com hostilidade por algumas pessoas da caravana. Empolgante quando Newman, com aquele jeitão super-confiante, saca a arma e declara guerra aos bandidos. Gravado da FOX.
O MERCADOR DE ALMAS (The Long Hot Summer)
Dir: Martin Ritt - 1958
Baseado em romance de William Faukner, O MERCADOR DE ALMAS é mais uma novelona, com direito a final super-feliz e tudo. Só que mais classuda. Afinal, onde é que a gente vê uma novela que tenha, além de Paul Newman, o mito Orson Welles? Welles - já na fase rolha de poço - é o dono de uma cidadezinha que desaprova o jeito de ser do filho e cisma que sua filha (Joane Woodward) está encalhando e tá na hora de casar. Paul Newman chega na cidade e com seu carisma conquista o chefão e quer conquistar a moça. Legal ver o bem sucedido casal Paul Newman e Joane Woodward jovens e belos. Gravado da Globo.
terça-feira, setembro 24, 2002
Assisti no final de semana ao filme UM DRINK NO INFERNO 2 (gravado da Globo) e até que eu gostei. O bom de se esperar em um filme o menos possível é que o que se vê de legal já é lucro. O mais engraçado desse filme é: porque diabos vampiros querem assaltar um banco? heheheh. Eu vinha fazendo essa pergunta o tempo todo e no final do filme um personagem vem com a mesma pergunta. Hehehehe..
O começo do filme é muito legal com Bruce Campbell (ator cult de EVIL DEAD) e Tiffani-Amber Thiessen (a nova-iorquina maconheira de BARRADOS NO BAILE). Eles ficam presos num elevador e são atacados por morcegos. Bacana. Os ângulos de câmera são bem criativos e diferentes. Isso dá um ar de novidade ao filme e o tira da mesmice. O filme tem câmeras na boca, câmeras em ventiladores, através do crânio de um vampiro morto... Tarantino e Rodriguez já tinham feito com o primeiro filme ao gênero mais ou menos o que Sergio Leone fez com o western. Um exagero só. E muito divertido. Esse filme é ainda mais exagerado e caricato.
Na história principal, Robert Patrick (ótimo) e gang planejam assaltar um banco no México. Acontece que um cara do bando dele dá de cara com um vampiro daquele mesmo inferninho do primeiro filme. Aí já dá pra prever o que vem. Gostei de uma cena em homenagem a PSICOSE do Hitchcock. Só que em vez de uma faca, a mulher é atacada no chuveiro por mordidas de morcego.
Sem a intenção de comparar com o primeiro filme, dá pra curtir essa continuação na boa.
Quero ver o 3 agora. Dizem que é até melhor que esse...