terça-feira, outubro 22, 2002

STANLEY KUBRICK: IMAGENS DE UMA VIDA (Stanley Kubrick: a life in pictures)

Vi no fim de semana o documentário STANLEY KUBRICK: IMAGENS DE UMA VIDA. Emocionante. O documentário tem depoimentos de atores que trabalharam com Kubrick (Tom Cruise, Jack Nicholson, Keir Dullea, Nicole Kidman, Matthew Modine...) e outros diretores da pesada (Martin Scorsese, Woody Allen, Steven Spielberg, Alan Parker).

Bom também ver cenas de cada um de seus filmes. Os primeiros filmes dele eu não vou comentar. Não me lembro muito bem do que o documentário mostrou, talvez por não ter visto ainda (infelizmente) esses filmes. Comento a partir de SPARTACUS:

1960 - SPARTACUS

Nesse filme, Kubrick não se sentiu bem em não controlar o corte final e ser sujeito às imposições do ator e produtor Kirk Douglas. Era Douglas que mandava. Mas o filme ainda assim ficou muito bom, ainda que não mostre o traço da genialidade do homem. Um detalhe que mencionaram foi o fato de o filme não falar sobre Jesus, de não ser um filme cristão como Ben-Hur, por exemplo.

1962 - LOLITA

Com Lolita, Kubrick teve a sua primeira polêmica. Eu, como vi o filme depois da refilmagem de Adrian Lyne, acabei achando fraco no que se refere a cenas apimentadas. Ele até que é bem sutil. Kubrick teve que se sujeitar à censura. Depois de terminado ele disse que acharia melhor não ter feito, se é pra ser cortado. Uma coisa que me incomodou no filme foi o personagem de James Mason. Não dá pra simpatizar com aquele cara. Mas vai ver que era pra ser assim mesmo.

1964 - DR. FANTÁSTICO

Legal ver Scorsese todo entusiasmado ao falar sobre essa obra-prima. Pra mim, um dos 5 favoritos da filmografia de Kubrick. Scorsese dizia que um filme que começava daquele jeito, tudo podia acontecer. E a verdade é que um final daqueles com um maluco em cima de um míssil ninguém poderia prever. Sensacional.

1968 - 2001 - UMA ODISSÉIA NO ESPAÇO

De arrepiar. Antigamente eu costumava fazer uma distinção entre os filmes que o meu cérebro gostava e os que meu coração gostava. Considerava 2001 como um filme do cérebro. Mas vendo novamente algumas cenas, eu percebi: 2001 é o melhor e maior filme do mundo, não importa quem diga o contrário. Muito interessante o depoimento de Woody Allen. Woody havia gostado muito de DR. FANTÁSTICO e estava ansioso pelo novo Kubrick. Acontece que da primeira vez ele não gostou muito de 2001, depois, ao ouvir comentários entusiasmados de outras pessoas, foi ver de novo e já gostou bastante. Só na terceira vez é que ele se rendeu ao filme. Foi aí que ele viu que Kubrick estava muito à frente de seu tempo. Outra coisa: no dia da première do filme, Kubrick contou o número de pessoas que saíram no meio do filme: mais de duzentas. Heheheh.

1971 - LARANJA MECÂNICA

Do depoimento de Scorsese: a partir de Laranja, Kubrick já não recebia mais influência de outros diretores. Era ele, único, ele se auto-citava até, como numa cena em que a gang de Malcom McDowell entrava numa loja de discos e lá estava a trilha sonora de 2001. O maior problema de Laranja foi a violência do filme, que influenciou uns malucos que começaram a violentar pessoas nas ruas. Mais um filme pra por em questão o debate: o cinema, a televisão e o videogame é responsável pelo aumento da violência no mundo?

1975 - BARRY LYNDON

Esse é o filme de Kubrick que me fez chorar. Se alguém hoje ainda diz que o homem era um diretor essencialmente cerebral, tenho certeza que vendo esse filme vai mudar de idéia. É um dos meus favoritos. Melhor que LARANJA MECÂNICA. A narração irônica de Lord Lyndon, a beleza da geografia do lugar, a música barroca na trilha, a fotografia captando apenas as luzes naturais (do sol ou das velas à noite), uma certa cena envolvendo a morte de um personagem querido da trama, o detalhe dos figurinos. Sobre isso, Kubrick chegou a mandar o figurista para leilões de roupas do século XVIII pra deixar a coisa bem autêntica. Filmão, filmão.

1980 - O ILUMINADO

Kubrick pega fama de carrasco ao tratar mal Shelley Duvall nas filmagens. Mas parece que era estratégia pra deixá-la ainda mais nervosa. O personagem dela requeria isso. Não é um dos meus favoritos de Kubrick. Preciso revê-lo. Talvez mude de idéia. Os fãs de Stephen King não gostaram muito a adaptação.

1987 - NASCIDO PARA MATAR

Passou no documentário aquela cena do soldado enlouquecido, atirando no sargento carrasco e depois se suicidando. Dos três atos do filme, gosto mais do primeiro, do treinamento para a guerra. Tenho impressão que Spielberg "copiou" um pouco as cenas de guerra em seu RESGATE DO SOLDADO RYAN. Ficou parecido o cenário.

1999 - DE OLHOS BEM FECHADOS

Esse está mais fresco na memória das pessoas. Engraçado que eu não costumo guardar o ingresso do cinema. O único ingresso que eu tenho é o desse filme. Estava me sentindo bastante privilegiado em estar vendo um filme novo de Kubrick no cinema. Pena não ter visto outros. Na época, não tinha idade. Kubrick tinha engavetado o projeto de A.I. e encaminhado para Spielberg. Ainda bem que Spielberg não fez feio, ainda que tenha suavizado bastante o clima meio laranja mecânica do segundo ato. Nicole e Tom falam de Kubrick em tom solene.

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