TRUFFAUT E ETC.
Apesar de ter sido um final de semana um pouco mais prolongado, não tive muito tempo ou disposição pra ver filmes em casa. Só no cinema. No feriado, fiz algo diferente: churrasco com cerveja, volêi na piscina e até futebol. Imagina, logo eu, tão perna de pau. Mas foi legal, diferente. O ruim é a dor de cabeça da cerveja depois, mas faz parte.
DOMICÍLIO CONJUGAL (Domicile Conjugal)
O final de semana ficou histórico no sábado pela manhã, quando fui conferir DOMICÍLIO CONJUGAL, de François Truffaut. O filme é o quarto do ciclo de filmes da saga de Antoine Doinel. Antes de entrar, dei uma lida num texto do Hugo Suckman (é esse o nome?) do jornal O Globo que gostou bastante do filme e comentou que este é considerado o mais fraco dos filmes "Antoine Doinel". Qual não é minha surpresa quando me deparo com não apenas o melhor filme do ciclo, mas o melhor do Truffaut, so far. Claro que pra mim, né? Caramba. Até então, o meu preferido era JULES ET JIM, e não OS INCOMPREENDIDOS, que também amo. Mas DOMICÍLIO CONJUGAL me fez chorar. Tá, eu sei que não é novidade eu chorar no cinema, mas dessa vez, o meu lado cerebral também está fascinado pela obra.
Em DOMICÍLIO CONJUGAL (1970), Antoine (o clone de Truffaut, Jean-Piérre Léaud) já está casado com Christine (a bela Claude Jade). Só de olhar pras pernas de Claude Jade dá uma inveja de Antoine... O começo do filme é cinema puro e o retrato do cotidiano da vizinhança remete aos filmes de Jacques Tati e a JANELA INDISCRETA, do Hitch. Truffaut parece ter um carinho imenso por todos os personagens, até os de papel pequeno. O clima inicial é de rotina, mas uma rotina gostosa, com o casal lendo livros antes de dormir, Antoine trocando de empregos (como em BEIJOS ROUBADOS), jantar com os pais de Christine etc. Por falar na cena do jantar, quem não viu BEIJOS ROUBADOS não vai poder curtir tanto a cena em que o belo casal vai buscar uma garrafa de vinho e se beijam, lembrando os tempos de namorados.
Mas todo essa rotina desaba quando Antoine conhece uma japonesa e começa a trair Christine. Aí o filme adquire outros tons, mais dramáticos. A cena que me fez verter lágrimas foi uma em que Antoine e Christine estão esperando um táxi. Não vou comentar mais sobre isso pra não estragar quem for ver o filme. (Não sei como, já que ele não está disponível em VHS/DVD no Brasil.) Mas, pôrra, quem já teve um namoro que acabou e foi doloroso vai igualmente se sentir tocado pelo filme.
E lembrei até de uma vez quando comentei na outra lista que não tinha gostado de APRILE e o Aguilar respondeu falando da paixão que tem pelo filme do Nanni Moretti, principalmente por ter sentido a mesma emoção pelo nascimento do filho. Mas o que eu não senti no filme de Moretti, eu senti com a cena do nascimento do filho de Antoine. E olha que eu nunca fui nem sei se vou ser pai um dia.
Eu teria mais um monte de coisas pra comentar sobre esse filme que faz o dia da gente valer a pena, mas vou ficar por aqui, esperando alguém se manifestar ou tomar iniciativa e ir conferir o ciclo Antoine Doinel, onde Truffaut faz mais cinema voltado para a vida. Aliás, nesse ele faz até uma auto-crítica: Christine, ao saber que Doinel está fazendo um livro de memórias, falando mal dos pais, fala que arte não é prestação de contas. Será que Truffaut acredita mesmo nisso? hehehe.
POR UM SENTIDO NA VIDA (The Good Girl)
É até covardia ver um filme que exalta a vida como DOMICÍLIO CONJUGAL e ver outro que trata de personagens miseráveis, que não tem o mínimo prazer em viver. Esse filme com a Jennifer Aniston é interessante, mas poderia ter sido um pouco mais realista. Os personagens são caricatos. Até lembra um pouco o ótimo OS EXCÊNTRICOS TENEBAUMS, do Wes Anderson, só que menos inteligente e inspirado. No filme, Aniston é uma mulher que trabalha numa loja e acha a vida um saco. O marido é John C. Reiley, pintor de paredes que gosta de fumar uns baseados depois do trabalho. As coisas mudam quando ela conhece uma cara esquisito que lê O APANHADOR NO CAMPO de centeio e toma para si o nome do protagonista do livro. Vale a conferida.
MADAME SATÃ
- E o cú? Já deu hoje?
- Não. Mas dei ontem.
Acharam de mal gosto ou engraçado esse diálogo? Ele faz parte de MADAME SATÃ, do cearense Karim Ainouz. Eu fiquei um pouco decepcionado já que esperava algo tão bom quanto CIDADE DE DEUS. No fim das contas, nem a história de João Francisco dos Santos, o cara corajoso, homossexual e negro do Rio de Janeiro dos anos 30, é tão grande assim. As apresentações dele lembram um pouco o Ney Matogrosso. Só que mais bizarro. E as cenas de sexo entre homens nem chegam perto da ousadia de A LEI DO DESEJO, do Almodóvar. Legal, por ser mais um filme de destaque na cada vez mais rica cinematografia brasileira, mas pra mim, decepcionante.
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