domingo, março 19, 2023

SHAZAM! FÚRIA DOS DEUSES (Shazam! Fury of the Gods)



Quando, no mês passado, eu escrevi sobre HOMEM-FORMIGA E A VESPA – QUANTUMANIA, já destaquei o cansaço que esse tipo de produção estava transparecendo, seja pela falta de entusiasmo do público (afinal, o povo não aguenta mais ver tanto filme ruim ou meia-boca), seja pelo número de pagantes, já que são filmes que não necessitariam de compra antecipada para garantir uma sessão em sala IMAX num sábado, por exemplo. Eu diria que SHAZAM! FÚRIA DOS DEUSES (2023), de David F. Sandberg, torna esse gosto (ruim) ainda mais pronunciado. Se a Marvel/Disney ainda tem como trunfo o sucesso (será que ainda tem?) do universo compartilhado, o caso da DC/Warner é muito mais delicado, já que o próprio anúncio de James Gunn meio que queimou os filmes do estúdio com lançamento para 2023, por não fazerem parte do novo universo imaginado pelo diretor, roteirista e agora responsável pela reestruturação da DC no cinema.

Além do mais, a Warner investiu muito pouco na publicidade do novo Shazam, como se não tivesse dinheiro a perder. Hoje, dia 19 de março, no IMDB consta que o faturamento bruto do filme nos Estados Unidos e no Canadá foi de apenas US$ 11.700.000,00. A situação da bilheteria trouxe uma resposta até do próprio diretor, que disse: “Não é como se fosse uma surpresa. Eu vi para onde isso ia há muito tempo. Eu vou ficar bem. Já recebi o meu dinheiro adiantado.” No mais, vale destacar que nenhum outro filme da DC teve uma arrecadação tão baixa em seu primeiro fim de semana.

Admito que sou simpático ao primeiro filme, de 2019, uma história de origem descompromissada, mas também bem redondinha, engraçada e colorida, que faz parte do universo criado por Snyder, mas que opta por um tom muito mais leve e cômico. Nesta sequência, por sua vez, por ser um filme que necessita de partir logo para a ação (será que precisava mesmo?), a solução que encontraram foi achar três deusas que resolvem confrontar o herói desprovido de muita inteligência. As três deusas são interpretadas por Helen Mirren, Lucy Liu e Rachel Zegler, personagens de idades distintas e que também não estão em harmonia com seus interesses ou sua forma de ver a situação de recuperar o que lhes foi tomado.

Essa desarmonia também se mostra na família de Billy Batson. Todos saíram de um orfanato e, agora que têm idades distintas, seus interesses também parecem muito diferentes um do outro. Mas uma coisa eles têm em comum: a estupidez. Aliás, o jeito como o filme retrata os adolescentes chega a ser ofensivo, já que todos da família são tão bobões quanto Billy Batson/Shazam. Inclusive, neste filme fica muito mais claro o abismo existente entre o Billy não transformado e quando o herói toma forma vivido por Zachary Levi. Talvez isso justifique um pouco a quase ausência do ator adolescente Asher Angel – mas talvez por ele ser ruim mesmo.

Talvez o fato de eu não desgostar por completo deste filme se dê pela simpatia que tive com os personagens desde o original, principalmente Freddy Freeman (Jack Dylan Grazer), que aqui é a espinha dorsal da trama, mais do que o herói principal, ganhando até um interesse amoroso. Porém, é muito difícil chegar ao terço final da narrativa e não ficar aborrecido e impaciente, e até constrangido (o que é aquele diálogo do Grazer com a Rachel Zegler no final?).

Até dá para imaginar que o público alvo do filme seja as crianças, mas não imagino que tenha sido pensado dessa forma. E eu até poderia ficar feliz com uma certa participação especial lá no final, mas aquele momento só serve para tornar essa produção ainda mais constrangedora.

+ TRÊS FILMES

CREED III

Dos três filmes da franquia, CREED III (2023), de Michael B. Jordan, é o que mais possibilidades teria de se afastar da eterna repetição que costumam fazer de "Rocky". Inclusive por tratar de questões mais delicadas, como agressão e extrema pobreza. No entanto, a preguiça dos roteiristas faz com que este seja o mais tosco de todos, mesmo se percebendo muito dinheiro injetado na produção, o que, inclusive, torna o problema ainda mais sério – sem falar que vi numa tela IMAX, e isso maximiza as falhas também. Tudo no filme é pensado apenas para seguir um esquema previsível para se chegar nas duas lutas principais, que não conseguem manter o mínimo interesse ou conseguir um suspense necessário. Isso porque os personagens são mal desenhados e os atores mal dirigidos e nem o trio de bons atores consegue salvar o texto ruim. Não há o elemento mais importante dos filmes estrelados por Sylvester Stallone, que é o coração – os dramas e as fragilidades dos personagens importavam muito mais do que as lutas nos ringues. Viver dói muito mais do que levar porrada na frente de milhares de pagantes.

NAS ONDAS DA FÉ

O diretor de E AÍ...COMEU?! (2012), Felipe Joffily, assume a função de contar esta história sobre a corrupção dentro das igrejas evangélicas. NAS ONDAS DA FÉ (2023) é um filme que acerta em muitas coisas, em especial na presença de Marcelo Adnet, que além de colaborar com a história e com o roteiro, pega um papel perfeito para ele, com aquela capacidade que tem de assumir muitas personas. Aqui ele acaba se tornando, graças a uma brincadeira, um pastor que desperta tanto a paixão de fiéis quanto a inveja de outros ministros do meio que se veem inferiorizados diante de sua ascensão. Destaque também para a inspirada Letícia Lima, como a esposa fiel, além de um elenco de apoio de craques (Otávio Müller, Stepan Nercessian, Tonico Pereira, entre outras participações especiais bem-vindas). Acho que o filme perde um pouco a força da metade para o fim, quando parece não ter muita ideia do que fazer com o protagonista, mas acaba encontrando um finalzinho bem acertado.

CASAMENTO EM FAMÍLIA (Maybe I Do)

O dramaturgo e roteirista Michael Jacobs estreia na direção de longas-metragens numa adaptação de uma peça de sua autoria com CASAMENTO EM FAMÍLIA (2023). Deixou-me admirado o fato de ele (ou a produção) ter conseguido atrair tanta gente boa para o elenco com um texto que está longe de ser dos melhores. Em vários momentos, falta lógica na conversa entre os personagens, e isso faz com que todo o peso do filme caia nas costas do ótimo elenco de atores. Como os personagens dos jovens Emma Roberts e Luke Bracey são muito mal estruturados, a força está mesmo nos dois casais de veteranos. Diane Keaton e William H. Macy, em especial, estão adoráveis, tanto por interpretarem personagens mais desprovidos de malandragem, quase ingênuos, quanto pelo grande talento deles mesmo. E há o carisma e a elegância de Richard Gere e Susan Sarandon. Como comédia, o melhor momento acontece quando os dois casais descobrem, num jantar em família, que são pais dos filhos de seus amantes (ou quase isso, no caso de Keaton e H. Macy). Então, não deixa de ser curioso que uma peça guarde seu mais bem-sucedido momento num tipo de humor mais físico. E que bom que os atores se entregam aos papéis e transformaram o que poderia ser um desastre num filme muito simpático e que ainda pode mexer com as emoções de muitas pessoas que se identificam com certas situações dos casais com mais tempo de estrada.

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