domingo, outubro 25, 2020

MASTERS IN SHORT



Uma das melhores experiências da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo é esta programação de cinco curtas dirigidos por realizadores consagrados de diferentes partes do mundo: o chinês Jia Zhangke, o canadense Guy Maddin (em parceria com Evan Johnson e Galen Johnson), o ucraniano Sergei Loznitsa e o iraniano Jafar Panahi. São obras totalmente distintas e muito bem-vindas.

A VISITA (Lai Fang)

Pequeno filme de quatro minutos do grande Jia Zhangke. É um trabalho despretensioso e leve, especialmente em tempos de pandemia. Ao final, há um momento de esperança no horizonte, inclusive com a mudança da fotografia: do preto e branco para as cores vivas. O amor pelo cinema também aparece quando os dois amigos (entre eles o próprio diretor) aparecem vendo um filme juntos, usando máscara, com um velho projetor em película. A arte como salvação e o bom humor como um elemento de cura para os males.

O ADIVINHADOR (Stump the Guesser!)

Meu primeiro contato com o cinema de Guy Maddin (ainda que ele divida aqui a direção com outros dois cineastas) foi com este curta que emula todo o estilo dos filmes mudos (com intertítulos e formato de tela da época), inclusive também trazendo a tradição do que divertia as plateias no início do século XX em parques e circos. Aqui vemos a história de um homem que ganha a vida como adivinhador. Seu dom se manifesta em casa também. Tudo muda quando seu alimento mágico é roubado e ele se apaixona por uma mulher desconhecida e o filme ganha toques lindamente dramáticos e românticos. Fiquei com uma boa impressão do trabalho de Maddin.

OS CAÇADORES DE COELHOS (The Rabbit Hunters)

O outro curta do trio Maddin, Johnson e Johnson traz uma presença ilustre: Isabella Rossellini no papel de Federico Fellini. O tom de estranheza é apropriado, já que o clima do filme é de sonho, com imagens que parecem colorizadas artificialmente em cima de um preto e branco de luz sem muita uniformidade. O filme foi feito por ocasião do centenário de Fellini e brinca com seu estilo. Só faltou conseguir imprimir a magia necessária para que a viagem funcionasse.

UMA NOITE NA ÓPERA (Une Nuit à l'Opéra)

É curioso começar a ver um filme sem ter a menor ideia do que se vai ver. Assim, fui surpreendido por imagens de uma noite de gala, com a aristocracia mundial fazendo parte de um evento que aos poucos se definirá. Surgem rostos conhecidos: Charles Chaplin, Brigitte Bardot, Grace Kelly, a Rainha da Inglaterra, o Príncipe de Mônaco e mais outros monarcas de outras partes do mundo, entre outros tantos cineastas, atores, atrizes. Todos  para ver Maria Callas. Há toda uma pompa no modo como vemos a chegada das pessoas, a preparação, o momento respeitoso de se ouvir a Marselhesa de pé, para então ouvir Callas em toda sua glória. Só depois soube que não se tratam de imagens de apenas uma noite, mas de várias, ocorridas no mesmo teatro, nas décadas de 1950 e 60. Grande restauração de imagens e de som. Um presente.

A ESCONDIDA (Hidden)

Lindo e comovente filme curto de Panahi, este sujeito que desafia as leis de seu país para continuar fazendo o que mais sabe, cinema. E um cinema tão cheio de humanismo e também de denúncia social e política que é sempre um soco no estômago, por mais que a violência esteja longe das intenções do cineasta. Aqui, ele, a filha e uma outra mulher seguem para a um vilarejo do Curdistão a fim de encontrar uma mulher que canta lindamente. Infelizmente, o fanatismo religioso e as regras machistas não deixam de se impor. Panahi fez este filme com apenas dois celulares e seu automóvel.

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