domingo, agosto 09, 2020

A MORTE CANSADA (Der Müde Tod)

Põe-me como selo sobre o teu coração, como selo sobre o teu braço, porque o amor é forte como a morte, e duro como a sepultura o ciúme; as suas brasas são brasas de fogo, com veementes labaredas.
(Cantares 8.6)


Continuando minha peregrinação pelo cinema de Fritz Lang utilizando o método de ir e voltar no tempo, por conta de minha dificuldade em adentrar os filmes silenciosos da mesma forma que os sonoros, chego agora em A MORTE CANSADA (1921), considerado por muitos como a primeira obra-prima de Fritz Lang. Ou pelo menos ou o seu primeiro grande filme. Foi a partir deste trabalho que o cineasta passou a ser valorizado como um dos mais importantes da Alemanha. Da Europa, na verdade.

Interessante notar o quanto o realismo tão presente no início do cinema falado não era exatamente uma característica do cineasta em seus filmes silenciosos, que traziam o romantismo (como é o caso deste filme aqui), o futurismo, histórias de espiões e de super-vilões extraordinários, como é o caso do Dr. Mabuse, que surgiria na produção seguinte do realizador, e este sim, eu posso considerar como sua primeira obra-prima.

Essa relação de seus heróis e heroínas com a morte, ele chegou a levar para LILIOM (1934), seu único filme francês, e que também traz um personagem conversando com pessoas do mundo espiritual, discutindo possibilidades pós-morte. Soube, lendo um texto de um livro sobre Lang  (de Lotte H. Eisner) que o cineasta, quando criança, enquanto esteve doente, teve um sonho sobre a morte chegando até ele de maneira atraente.

Em A MORTE CANSADA, então, surge essa figura da morte materializada em forma humana, como posteriormente veríamos em O SÉTIMO SELO, de Ingmar Bergman, inclusive no modo como a morte também negocia a vida de uma pessoa. Sendo que no filme de Lang é a vida de uma pessoa amada que está sendo negociada e não a própria. Uma jovem tem seu namorado levado pela morte e, ao tentar o suicídio, vai parar em um lugar em que faz esse trato com a morte: ela teria três chances de salvar pessoas que estão prestes a morrer em tempos e locais distintos. Se ela salvar uma dessas pessoas, a morte dará seu amado de volta.

Não sou muito fã da parte dos episódios. Talvez por que já fico imaginando que, pelo menos nas duas primeiras histórias, ela não conseguirá salvar a pessoa. A dúvida é se conseguirá na terceira. E, como essas histórias são responsáveis pela maior parte da duração do filme, acabei me desinteressando um pouco, embora admire muito os aspectos técnicos e o quanto Lang decidiu fazer uma obra de narrativa mais simples, mas enriquecendo nos detalhes, como efeitos visuais inovadores, cenografia impressionante, cenas que parecem de grandes produções etc. E há também a beleza plástica da fotografia e dos enquadramentos, que muitas vezes são valorizadas pelo efeito de tintura na fotografia, algo comum nos filmes da virada dos anos 1910 e 1920.

Quando à história, acho que o que mais me chamou a atenção foi o último ato, quando a mulher vai em busca de alguém que queira dar a vida por uma outra pessoa - a morte ainda dá essa colher de chá pra ela. Assim, ela faz o pedido a um velhinho mendigo, a um grupo de velhinhas que reclama da vida em um asilo e de outro idoso, mas nenhuma dessas pessoas têm a coragem de se desapegar da vida. E aí há a cena ótima do incêndio, em que um bebê corre perigo de vida e muda os rumos dos acontecimentos para a protagonista. Todo esse trecho tem um poder imenso. Não à toa que Luis Buñuel chegou a dizer que foi A MORTE CANSADA que abriu seus olhos para a expressividade poética do cinema.

+ TRÊS FILMES

NASCIDA PARA O MAL (In This Our Life)

O filme escolhido por mim para homenagear Olivia de Havilland foi este, em que ela faz a irmã boa da família, enquanto Bette Davis, pra variar, é aquela mulher com o cão nos couros. Depois de roubar o marido da irmã e fazer outras presepadas, a personagem chega a cometer outros atos terríveis no meio do caminho. Incomodou-me um pouco a trilha sonora que não dá trégua, mas achei este melodrama noir bem interessante. Inclusive, há uma questão que eu não tinha notado em filmes dessa época, até então: uma visão mais crítica e progressista quanto à questão do negro nos Estados Unidos. Há um personagem negro que lava o carro da família e que tem a intenção de estudar direito e ser um advogado. Hattie McDaniel, a mulher negra que ganhou o Oscar por ...E O VENTO LEVOU novamente trabalha com Olivia num mesmo filme, em um papel, infelizmente, ainda muito semelhante ao que a projetou. Curioso como essa questão do racismo acaba sendo tão forte (em especial dentro da discussão atual), que superou, pra mim, a história principal. Este foi o segundo filme dirigido por John Huston, que teve um caso tórrido com Olivia durante as filmagens. Raoul Walsh, não creditado, assumiu as filmagens na última semana, por motivos não explicados. Ano: 1942.

THE ROOM

O filme é mesmo ruim pra cacete e não saberia de sua existência se não fosse James Franco. Por isso me diverti posteriormente vendo O ARTISTA DO DESASTRE. Foi pensando nisso que eu até curti THE ROOM em diversos momentos. É quase um filme pornô sem pornografia. Não à toa virou um objeto de culto. Direção: Tommy Wiseau. Ano: 2003.

COMO TREINAR O SEU DRAGÃO 3 (How to Train Your Dragon - The Hidden World)

Ah, eu e minha relação com as animações. Como elas geralmente despertam em mim um sono muito incômodo. Engraçado que alguns filmes da Disney e da Pixar são uma exceção. Mas esses da Dreamworks, meu Deus... Tive que gastar com pipoca pra me manter acordado. Engraçado que eu tenho pouca lembrança dos outros dois e não tenho uma relação de afeto como muitos têm. Enfim, não me arrependo de ter ido vê-lo, mas acho que se fosse ver o filme ruim da Jennifer Lopez talvez eu não tivesse passado por isso. Direção: Dean DeBlois. Ano: 2019.

Nenhum comentário:

Postar um comentário