domingo, junho 07, 2020

O MALDITO (M)

O meu ensaio para uma peregrinação por Fritz Lang me levou a uma revisão de  M - O VAMPIRO DE DUSSELDORF (1931) e o amigo Chico Fireman me lembrou deste remake que Joseph Losey realizou duas décadas depois nos Estados Unidos. O curioso é que, enquanto eu via O MALDITO (1951), a refilmagem de Losey, eu ficava imaginando um motivo para a realização deste filme. Até lembrei do PSICOSE dirigido por Gus Van Sant como uma obra muito mais pulsante e interessante, por mais que possa ser considerado uma heresia pelos fãs de Hitchcock, do que este trabalho de Losey, que também faz uma espécie de recriação quadro a quadro em determinados momentos.

Então, o que eu percebi, enquanto via o filme, e sabendo que ele é apreciado por muitas pessoas, em especial os fãs de Losey, é que me falta conhecimento da poética do cineasta americano, por mais que ache interessante tanto a questão envolvendo a caça às bruxas vigente em Hollywood na época, quanto a inclusão da trama naquele universo do filme noir americano. Se bem que, no que se refere a isso, nem é preciso muito esforço. O filme noir já estava entranhado no próprio espírito da época (anos 40 e início dos anos 50).

Uma coisa que me incomodou muito foi o quanto a refilmagem perde para o original em simplesmente todos os aspectos. Até mesmo no sonoro. E olha que Lang realizou o seu filme quando o som ainda estava engatinhando no cinema. A princípio, me incomodou a representação do assassino, vivido por David Wayne, que não tem um pingo da força do trabalho monstruoso de Peter Lorre na obra-prima de Lang. O próprio líder da máfia no filme de Losey não tem nada do charme daquele grande vilão de luvas pretas do filme de Lang. Enfim, esse tipo de comparação nem parece ser sábia.

O que percebi, lendo alguns textos sobre Losey, é que se trata de um cineasta essencialmente humanista. Em O MALDITO, vemos que ele de fato humaniza tanto a figura do assassino de crianças, quanto o referido líder da máfia, que parece tão razoável quanto um policial honesto. Não que isso signifique passar a mão na cabeça do assassino, mas vê-lo como uma pessoa doente e atormentada, que precisa, antes de tudo, de tratamento psiquiátrico.

Como consegui uma cópia muito boa do filme, é possível notar o quanto há um cuidado com a fotografia, muito bonita, próxima do barroco em seu alto contraste entre luz e sombra. Estudos bem cuidados sobre o trabalho de Losey apontam também a excelência no uso da câmera, seja quando a coloca na altura das crianças, seja nos momentos de perseguição.

Assim, o melhor que tenho a fazer é me dedicar - um dia, já que provavelmente não será para breve - a estudar a obra completa de Joseph Losey, já que suas melhores obras, pelo que dizem, foram realizadas na Europa, durante o exílio. Então, fiquemos por aqui, deixando apenas registrado esse momento de incômodo advindo tanto do desconhecimento da obra do diretor, quanto de uma comparação com uma obra-prima revista muito recentemente.

+ TRÊS FILMES

SEQUESTRO RELÂMPAGO

Não sei se eu ando vendo política em todo lugar, mas acabei encarando este filme como uma alegoria sobre o Brasil sendo governado pela brutalidade e pela ignorância. Não sei se o filme tem intenção de mostrar os personagens dos sequestradores como pessoas assim tão humanizadas, embora sejam personagens bem representados pelos atores. E Tata Amaral volta a mostrar que manja de suspense e tensão, como já havia mostrado desde seu filme de estreia. Bom vê-la voltar ao suspense. Ano: 2018.

A JUSTICEIRA (Peppermint)

Mais um filme de criação de um vigilante a partir da ideia de vingança. Esse é bem genérico e ainda falta impacto nas cenas de ação e violência, que são bem atenuadas em seu grafismo. Tem os seus bons momentos, como a cena de Jennifer Garner entrando na casa de uma antiga amiga, quando abre um pouco mais para o humor, mas são poucas. Em certo momento acaba ficando um pouco aborrecido. Direção: Pierre Morel. Ano: 2018.

VERSÕES DE UM CRIME (The Whole Truth)

Não é um mau filme. Mantém o interesse até o fim, mas acaba sendo pouco e a surpresa que guardam para o final não chega a impactar. Lembrei de um filme de tribunal brasileiro que vi um dia desses, AMOR MALDITO, que é muito melhor. Direção: Courtney Hunt. Ano: 2016.

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