quarta-feira, junho 17, 2020

NEVER RARELY SOMETIMES ALWAYS

2020 tem sido um ano único. Ficará na história como aquele ano que todo mundo lembrará, de uma forma ou de outra. E um ano com poucos lançamentos no cinema. Por isso julgo importante trazer à tona um filme visto há algumas semanas, e que me impactou muito, mas que acabei não escrevendo nada a respeito de imediato. E é um lançamento deste ano, exibido no Festival de Berlim, o único dos três grandes festivais internacionais a conseguir acontecer no ano da pandemia, em fevereiro. NEVER RARELY SOMETIMES ALWAYS (2020) foi vencedor do Grande Prêmio do Júri, também conhecido como Urso de Prata - o Urso de Ouro foi para THERE IS NO EVIL, do diretor iraniano Mohammad Rasoulof.

Neste ano, estamos vendo muitos temas caros a pessoas de linha mais progressista ganhando força. Entre esses temas está a legalização do aborto, muito polêmico por questões de ordem religiosa ainda. O terceiro longa-metragem de Eliza Hittman, então conhecida apenas em festivais e no circuito indie, se não é tão impactante quanto o romeno 4 MESES, 3 SEMANAS E 2 DIAS, ao abordar o tema, é certamente um dos mais significativo e mais tocantes.

É um filme que se torna grande através de pequenos momentos, concentrando tanto na relação de afeto entre as duas garotas, as primas Autumn (Sidney Flanigan) e Skylar (Talia Ryder), quanto em situações em que uma delas não consegue expressar a real dor que sente. Até porque o motivo de ela estar grávida, a identidade do pai da criança, todos esses pormenores, tudo isso conta pontos para que haja essa trava. E por mais que o filme também não nos diga diretamente, isso fica implícito à medida que vemos detalhes do cotidiano de Autumn, e também na sequência mais marcante: quando a garota precisa responder um questionário a respeito de sua vida sexual.

Na trama, Autumn descobre que está grávida, e sua prima Skylar, com quem trabalha no mesmo supermercado, fica sabendo e se oferece para ajudá-la. Na cidade onde moram, no interior da Pensilvânia, não é possível interromper a gestação com um aborto em uma clínica sem o consentimento dos pais, tendo menos de 18 anos (ela tem 17). Então, a saída de Autumn é partir para Nova York, onde isso é possível, pelas leis do estado. E, nesse sentido, o filme se torna também uma espécie de road movie sem carro e acontecendo em um intervalo de tempo muito pequeno, dois dias. As meninas, como não têm dinheiro para pagar um hotel, passam a noite nas ruas da cidade que nunca dorme.

NEVER RARELY SOMETIMES ALWAYS tem uma delicadeza admirável. Não trata apenas da dificuldade por que passa Autumn, mas também da relação de amizade entre ela e a prima, ainda que em algum momento possa existir algum atrito na relação. Em determinada cena, também marcante, as duas vão a um karokê, e Autumn canta. A canção é "Don’t Let the Sun Catch You Crying", de Gerry and the Pacemakers, e a letra traz um pouco de alento para a jovem: “The night’s the time for all your tears, / Your heart may be broken tonight, / But tomorrow in the morning light, / Don’t let the sun catch you cryin’".

+ TRÊS FILMES

AS HERDEIRAS (Las Herederas)

Baita estreia deste diretor paraguaio em longa-metragem. O cara, além de saber lidar com um elenco de mulheres veteranas muito bem, trabalha o psicológico da protagonista de modo que entendamos a mudança pelo que ela vem passando e uma possibilidade excitante de nova vida, mesmo com quase tudo acenando para o pior. Vencedor em Gramado e a atriz, Ana Brum, foi vencedora no Festival de Berlim. Direção: Marcelo Martinessi. Ano: 2018.

DE VOLTA PARA CASA (Home Again)

Mais um veículo leve para Reese Witherspoon. Há ainda um público que prestigia os filmes que ela faz. E DE VOLTA PARA CASA não é ruim. Tem os seus méritos. É simpático, tem uma trama um pouco diferente dos padrões. Achei engraçado eu ter me incomodado com a presença dos três rapazes na casa. Direção: Hallie Meyers-Shyer. Ano: 2017.

PENDULAR

Saí do cinema ainda ruminando o filme, para saber o quanto gostei dele. Acho que o que provocou um bocado o meu distanciamento foi o tipo de ação dos personagens (seus trabalhos). Mas há também a interessante opção de Júlia Murat em não abraçar sentimentalismos e lidar com a questão do corpo de maneira bem particular. Quanto às cenas de sexo, elas justificam a classificação 18 anos? Achei o grafismo (se é que há) tão sutil... Ano: 2017.

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