quarta-feira, novembro 13, 2019

TÓKIO EM DECADÊNCIA (Topâzu)

Na década de 1990, no auge dos meus twenties, a minha sede por filmes eróticos, com temas abordando a sexualidade e certas fantasias sexuais era bem forte. É fácil entender pela idade, com os hormônios transbordando, mas sei que esse tipo de interesse em erotismo/pornografia não é algo comum a todos. Pra mim continua sendo, aliás, ainda que de maneira um pouco mais suave.

Embora não seja uma novidade da década em si o erotismo no cinema (sempre existiu, em menor ou maior grau, dependendo da censura e da cultura de cada país), podemos dizer que INSTINTO SELVAGEM, de Paul Verhoeven, foi um divisor de águas e trouxe uma chuva de softcores nas locadoras, no cinema e na programação das TVs.

TÓKIO EM DECADÊNCIA (1992), mesmo sendo do mesmo ano do filme estrelado por Sharon Stone, chegou ao Brasil apenas três anos depois. Não lembro se chegou a passar em alguma sala de cinema na cidade – talvez não – e o vi pela primeira vez em VHS. Como se trata de um filme japonês, já se espera algo um pouco mais bizarro e incomum de nossos irmãos nipônicos.

Abordando o universo S&M, o filme de Ryû Murakami, romancista autor de AUDIÇÃO (1999), de Takashi Miike, foi adaptado da obra do próprio Murakami. Pelo que eu li pela internet ele adaptou cinco histórias e a transformou na narrativa de Ai, uma jovem pura e inocente, vivida por Miho Nikaido, uma atriz que fez eu me lembrar de uma personagem de um filme recente de Kiyoshi Kurosawa, O FIM DA VIAGEM, O COMEÇO DE TUDO.

A cena que minha memória tratou de tornar mais forte é uma das primeiras. Ai é contratada por um gângster da Yakuza para satisfazer os seus desejos sádicos. Ela deve ficar na janela de um grande edifício seminua, dançando sensualmente, se contorcendo, até que aquela situação de humilhação se torne tão excitante que ela fique bem molhada. E passam-se horas, a noite chega, e aquela pobre menina ficou de fato muito excitada. O gângster a apalpa para verificar.

Como fantasia erótica S&M, achei isso fabuloso. E nem foi a única coisa que Ai fez durante aquele período de prestação de serviços com esse homem. Mais situações aparecerão durante a longa noite, principalmente quando chega a esposa do sujeito. Mas foi aquela cena da janela que me pegou que não saiu da minha memória e me fez querer ver o filme de novo, desta vez em uma ótima cópia.

E uma coisa que eu reparei nesta revisão é que o filme ganha ainda mais força no aspecto humano, no quanto a obra aprofunda os dramas existenciais de Ai, sua vontade de encontrar um grande amor, mesmo tendo que trabalhar para esse tipo de cliente. Se o filme fosse apenas uma sucessão de cenas excitantes e exploratórias já seria muito bom. Consegue transcender esse aspecto, com suas cenas mais longas e contemplativas.

A primeira cena, da injeção, passa uma sensação de impotência, de uma impossibilidade de sair do jogo, uma vez entrando e já dá o tom de algo sombrio. E também vale destacar a cena da dominatrix humilhando o seu cliente, que age feito um cachorrinho e é obrigado a beber urina. Não é bem obrigado, na verdade. Ele estava curtindo aquilo, foi para isso que ele contratou os serviços dessa outra moça, que enricou com esse negócio. Por tabela, o filme também acaba falando do vazio existencial desses homens, sejam eles sádicos ou masoquistas. E o Japão talvez seja um misto de sociedade doente, mas ao mesmo tempo em que tem conseguido se libertar de certos tabus através da arte (cinema, mangás, literatura etc.).

+ TRÊS FILMES

LÁMEN SHOP (Ramen Teh)

Que filme bonito, hein! Além de tratar da comida de maneira quase espiritual (como é comum de ver em algumas obras japonesas), tem toda uma questão familiar que acaba falando mais forte e traz muita emoção. Fui ver o filme achando apenas ser ok e acabei me comovendo bastante. Há uma questão política envolvendo a relação Japão/Singapura também e que pode passar batido por quem não conhece nada dos países. Mas o forte é mesmo a relação familiar e a questão da comida. Por mais filmes do Eric Khoo no circuito! Ano: 2018.

AFTER

É melhor do que eu esperava. Muito por causa da atriz, uma graça chamada Josephine Langford. Ela lembra tanto a Sarah Michelle Gellar quanto uma versão teen de Cybill Shepherd. E por isso muito do interesse do filme jaz em sua personagem e no modo como ela vê a vida como algo muito excitante, já que ainda é virgem e está bem apaixonada pelo rapaz que conhece na faculdade. Não há cenas de nudez, mas as cenas de amor/sexo são bem sensuais e bonitas. Interessante ver Peter Gallagher, que eu conheci em SEXO, MENTIRAS E VIDEOTAPE, fazendo um papel pequeno em um filme como esse, que lembra tanto CREPÚSCULO quanto CINQUENTA TONS DE CINZA em diversos aspectos. Direção: Jenny Gage. Ano: 2019.

RAINHA DE COPAS (Dronningen)

É um filme interessante para causar reflexões sobre o caso apresentado: mulher passa a fazer sexo com o enteado de 17 anos. Confesso que fiquei sem entender se o filme é moralista, ou se pensar que é moralista já denota alguém com problema. De todo modo, é um drama tenso e envolvente, com uma ótima atriz dinamarquesa fazendo um papel forte em uma história controversa, com direito a uma cena de sexo bastante ousada (ainda que curta) para os dias de hoje. Direção: May el-Toukhy. Ano: 2019.

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