Recentemente fiz uma farra de compras com os descontos nos boxes da Versátil na Livraria Cultura. Acabei comprando cinco caixas da série Filme Noir, talvez a que apresente mais títulos. O filme que escolhi para inaugurar os boxes foi este O IMPÉRIO DO CRIME (1955), de Joseph H. Lewis, que já estava nos meus planos de ver um tempo atrás, mas por alguns motivos que nem me lembro mais, acabei deixando para outro dia.
Uma das coisas que me encantam no gênero é o quanto aquele universo parece irreal, mas muito representativo da realidade. As ruas e as casas mal iluminadas, os tons um tanto acima dos diálogos, o fato de termos personagens que borram a fronteira entre o bem e o mal, como o charmoso vilão, vivido por Richard Conte, ou sua namorada, a loira platinada vivida por Jean Wallace, que não resiste à lascívia do amante, mesmo sabendo que ele é um gângster. E há a figura do herói capaz de peitar o chefão, vivido por Cornel Wilde. Ele é o policial obcecado em prender o mais poderoso gângster da cidade.
Em entrevista a Peter Bogdanovich, o diretor Joseph H. Lewis afirmou que gosta do filme, embora não tanto quanto de MORTALMENTE PERIGOSA (1950). E de fato concordo com ele. Mas IMPÉRIO DO CRIME não ganhou título de clássico por acaso. Ele foi o primeiro filme americano a "mostrar" uma cena de sexo oral (para desespero de Cornel Wilde, marido de Jean Wallace) e foi muito inventivo, para dizer o mínimo, na hora de mostrar a morte de um dos bandidos. E o que dizer da cena da tortura?
O filme também brinca muito com o roteiro intrincado, envolvendo uma mulher misteriosa (só o seu nome é inicialmente citado), suspeitas fortes de assassinato que serviriam de prova para finalmente incriminar o Mr. Brown (Conte), um capitão de um navio que tem algo a esconder, entre outras coisas que vão surgindo, como se luzes fossem sendo acendidas na escuridão. Mais ou menos como faz a personagem de Jean Wallace, apontando um dos faróis de um carro para o grande vilão.
+ TRÊS FILMES
O ASSASSINO MORA NO 21 (L'Assassin Habite... au 21)
Primeiro filme de Henri-Georges Clouzot, feito durante a ocupação alemã por uma empresa dos nazistas. A fotografia lembra um bocado o expressionismo alemão e se não fosse tão exagerado na quantidade de diálogos seria um filme melhor, com mais tempo para respirar. Ainda assim, funciona em muitos aspectos, principalmente no quesito humor. É uma espécie de whodunit em que um detetive de polícia tenta descobrir quem é o assassino serial dentro de uma pensão cheia de tipos exóticos. Ano: 1942.
TARTUFO (Tartüff)
Não é todo dia que se tem a chance de ver um F.W. Murnau no cinema. O Cine São Luiz está com um projeto de filmes mudos. Vi que são exibições em DVD, mas a qualidade de projeção não deixa nada a desejar. Ainda mais para filmes em preto e branco dessa época. E é impressionante como TARTUFO se mantém atual nesses dias de hoje, em que impera a hipocrisia e a intenção de ganhar dinheiro com a ingenuidade e a fé dos outros. O filme é bem compacto, curto, ainda mais que carrega uma estrutura de filme dentro do filme, mas funciona que é uma beleza. É o menos inspirado dentro os trabalhos do genial diretor que eu vi até o momento, mas ainda assim é uma beleza. Depois deste filme, ele faria FAUSTO (1926) e depois sua obra-prima máxima, AURORA (1927). Ano: 1925.
ELEGIA DE OSAKA (Naniwa Erejî)
Dizem que foi a primeira obra de mestre de Kenji Mizoguchi. Não sei se é verdade. Há tantas outras feitas anteriores a esta. De todo modo, além de mais uma história sobre a mulher sofrendo em um mundo injusto e preconceituoso, é também um filme que tem algo de inventivo no campo formal, como as cenas que mostram a ação do lado de fora da casa. Ainda assim, dos Mizoguchis que eu vi até agora foi o menos brilhante. Ano: 1936.
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