domingo, novembro 03, 2019

SEGREDOS OFICIAIS (Official Secrets)

Uma beleza este thriller político na tradição dos melhores produzidos pela Nova Hollywood nos anos 70, mas com aquele toque de maior realismo das produções britânicas. Em SEGREDOS OFICIAIS (2019), temos o caso real de uma jovem mulher, Katharine Gun, vivida com brilhantismo por Keira Knightley, que trabalhou em uma agência de inteligência da Inglaterra e que obteve um memorando bombástico que mostrava uma tentativa dos governos dos Estados Unidos e do Reino Unido de pressionar demais países a aderir à guerra contra o Iraque em 2003, tendo como principal desculpa a existência das famosas armas de destruição.

O filme é narrado com uma maestria impressionante, ainda que de maneira bem clássica. Talvez o maior mérito seja do roteiro do que da direção (o diretor Gavin Hood é um dos roteiristas), que consegue amarrar tão bem todos os personagens, que são apresentados nos momentos certos e a trama se costura de uma forma envolvente.

É interessante como certos filmes, mesmo tratando de eventos ocorridos com uma distância temporal relativamente grande, ainda fala ao momento atual. Afinal, estamos vivendo um momento em que vazamentos de informações estão cada vez mais nas manchetes dos jornais. Na Inglaterra, pelo que o filme mostra, o sistema é muito mais seguro e opressivo do que nos Estados Unidos, havendo, possivelmente por isso, muito menos casos de pessoas que têm a coragem de vazar informações.

SEGREDOS OFICIAIS não mostra Gun como uma heroína, mas como uma pessoa comum que sente a necessidade de impedir uma guerra (infelizmente os Estados Unidos iniciam o ataque, mesmo sem o apoio da ONU) e que tem sua vida virada de cabeça para baixo. Seu marido, inclusive, por ser imigrante, corre o risco de ser deportado, e ela corre o perigo de ser presa.

O enredo vai sendo tecido com cuidado e esmero. Após a apresentação da personagem de Keira Knightley e as ações fundamentais para que o memorando ganhe o mundo, somos apresentados aos jornalistas do The Observer, principalmente àquele que escreveria a história, Martin Bright (Matt Smith). Depois entra em cena o advogado Ben Emmerson, vivido por Ralph Fiennes, que será responsável pela defesa da jovem.

O excelente trabalho dos atores e o modo como o filme lida de forma realista o mundo da redação dos jornais e da mídia e todo o drama de ordem kafkiana de Gun, tudo isso contribui para que SEGREDOS OFICIAIS não fique atrás de obras como SPOTLIGHT - SEGREDOS REVELADOS, de Tom McCarthy; CONSPIRAÇÃO E PODER, de James Vanderbilt, ou THE POST - A GUERRA SECRETA, de Steven Spielberg. E para quem não conhece a história real de Katharine Gun, melhor não ler nada, pois o final é surpreendente.

+ TRÊS FILMES

DOWNTON ABBEY

Pena não ter visto a série para ter podido aproveitar melhor este filme. Não que não dê para entender, mas o segredo, percebe-se, está nas entrelinhas. E há uma vasta quantidade de personagens. Ao menos a trama envolvendo a chegada do rei e da rainha à mansão é divertida, ajuda a manter a agitação pelo lugar e a trazer sentimentos contraditórios: para muitos, há a nostalgia de uma Inglaterra aristocrática e extremamente elitista; para outros a imagem de um bando de pessoas que se fartam da miséria humana para viverem no luxo. Não que isso seja mostrado, mas achei difícil não pensar. Direção: Michael Engler. Ano: 2019.

GUERRA FRIA (Zimna Wojna)

Mais um belo filme de Pawel Pawlikowski. Depois de IDA (2013), a gente fica um pouco mais familiarizado com seu estilo visual, mas não exatamente preparado para tanta beleza nas imagens. O que é isso, meu Deus? Não estou conseguindo me lembrar de outro filme em preto e branco tão bonito visualmente. Quanto à parte dramática, queria ter me apaixonado pela personagem feminina tanto quanto o protagonista. Um pouco menos de frieza ajudaria a nos aproximar. Mas é tudo muito bom e de dar gosto. O céu mais uma vez é destaque. Ano: 2018.

A FESTA (The Party)

O elenco em si já chama a atenção. Onde podemos ver um baita elenco desses em um filme pequeno? E por mais que a diretora Sally Potter não tenha conseguido ser engraçada em cada momento, ela consegue em vários momentos. E todo mundo ali parece estar se divertindo muito. Um barato o personagem do Bruno Ganz. Já a Patricia Clarkson parece estar fazendo o mesmo papel da minissérie SHARP OBJECTS, só que com mais senso de humor (negro). Ano: 2017.

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