sexta-feira, julho 14, 2017

SEIS FILMES INDICADOS AO OSCAR 2017

Os dias se passaram tão rapidamente que até mesmo aqueles filmes mais badalados, os indicados ao Oscar, e que chegaram por aqui no início do ano, por volta de fevereiro, meio que não tiveram chance de ter uma postagem digna aqui no blog. E talvez seja melhor falar um pouco sobre esses filmes logo, antes que a memória deles se torne ainda mais nublada.

CAPITÃO FANTÁSTICO (Captain Fantastic)

Belo filme que nos faz pensar sobre o tipo de educação que se recebe e sobre o quanto ela sempre vai ser deficitária em algum aspecto. Em CAPITÃO FANTÁSTICO (2016, foto), de Matt Ross, temos uma família que cresce no meio do mato, com uma educação centrada no pai, que ensina aos filhos valores distantes do que ensina o mundo capitalista que ele tanto abomina. As cores do filme são lindas e adoro as cenas ao ar livre, com os filhos do personagem do Viggo Mortensen em atividade, e também mostrando sua educação, o interesse deles e, como era de se esperar, também uma vontade de conhecer o mundo e deixar a família por parte de algum. A questão afetiva pesa bastante também, até pela morte da mãe. A cena com "Sweet child o'mine" é muito bonita. A execução podia ter ficado melhor, é verdade, mas dentro do contexto é emocionante. A canção já se provou forte o suficiente, aliás, sem a guitarra do Slash, em outras versões. CAPITÃO FANTÁSTICO é o primeiro filme de destaque de Matt Ross como diretor. Indicado ao Oscar de melhor ator (Viggo Mortensen).

A TARTARUGA VERMELHA (La Tortue Rouge)

Uma beleza de animação esta A TARTARUGA VERMELHA (2016), do holandês Michael Dudok de Wit. De encher os olhos. Lembrei da obra-prima A ILHA DO MILHARAL, de George Ovashvili, pela capacidade de contar a história sem diálogos e em um espaço físico pequeno, mas exuberante. Fiquei ainda sem entender algumas coisas, mas o mistério faz parte do charme do filme. Uma pena que, como acontece com boa parte das animações, em certo momento eu comecei a cochilar. Ainda estou para entender esse meu problema com filmes de animação e fantasia. Ainda assim, a lembrança que fica de A TARTARUGA VERMELHA é muito positiva. Apesar de ser uma coprodução entre França, Bélgica e Japão, o filme é uma produção dos Estúdios Ghibli. Indicado ao Oscar de melhor longa-metragem de animação.

ANIMAIS NOTURNOS (Nocturnal Animals)

Agradou-me bastante este ANIMAIS NOTURNOS (2016), segundo filme de Tom Ford. Aliás, é incrível que ele tenha feito um filme tão bom nesse relativamente longo espaço de tempo de seu primeiro e até então único longa, DIREITO DE AMAR (2009). A história dentro da história é bem boa e até chega a superar a história "principal" no que mais interessa. Ou seja, no quanto funciona como suspense perturbador, quase próximo de um filme de horror. E a outra, protagonizada pela dona da galeria de arte vivida por Amy Adams, tem um grau de dor e angústia que contagia. O filme me tirou o sono numa madrugada dessas. É empolgante. O mundo dela é frio mas (justamente por isso?) acho que dá pra sentir o arrependimento da personagem de ter deixado o ex (Jake Gyllenhaal). E é muito legal quando as memórias sentimentais dela se misturam, de certa forma, com a narrativa do livro. Indicado ao Oscar de melhor ator coadjuvante (Michael Shannon).

EU NÃO SOU SEU NEGRO (I Am Not Your Negro)

Documentário quase tão incisivo quanto James Baldwin e suas palavras, sejam as lidas por Samuel L. Jackson, sejam as que foram registradas em programas de televisão. EU NÃO SOU SEU NEGRO (2016) chega em um momento particularmente importante para se discutir o quanto a sociedade ainda deve muito ao negro. A americana, em especial, no que ela tem de mais insana e inacreditável. O cineasta haitiano Raoul Peck faz um filme tão poderoso e amargo (e com razão de ser amargo) que ficamos até sem palavras. O fato de existir um filme como este é uma das grandes vantagens desse ano, em que temas sobre a questão negra tiveram mais espaço para vir à luz. Indicado ao Oscar de melhor documentário em longa-metragem. Teria ganhado, se não fosse pelo tamanho e a força de O.J.: MADE IN AMERICA, de Ezra Edelman, que está mais para uma minissérie de televisão, mas tudo bem.

O LIMITE ENTRE NÓS (Fences)

E falando sobre filmes de temática negra, infelizmente este terceiro longa de Denzel Washington na direção, O LIMITE ENTRE NÓS (2016), não me encantou. Aliás, eu achei o filme chato pra caramba. Tem algo de interessante no texto, mas a emoção não me veio. E olha que eu já estava preparado para um filme mais teatral. É possível que vendo no cinema a experiência seja muito melhor, mas em casa é um filme maçante. E pouco envolvente como cinema, parecendo teatro filmado mesmo. E nem gostei tanto da caracterização de Viola Davis assim, no papel de esposa do personagem de Denzel. Ver em casa foi meu ato de rebeldia por terem colocado o filme para estrear uma semana depois da cerimônia do Oscar. Para não dizer que não gostei de nada, o papel do filho mais novo do Denzel é bom, poderia ter rendido mais. Há uma sequência poderosa: o diálogo duro do Denzel com o filho. Aquilo dói pra caramba. Vencedor do Oscar de melhor atriz coadjuvante para Viola Davis. Indicado a outras três categorias (filme, ator e roteiro adaptado)

O APARTAMENTO (Forushande)

É o menos criativo e bonito filme de Asghar Farhadi, dentre os quatro que vi do diretor. Creio que o meu preferido ainda é O PASSADO (2013), realizado na França. Mas O APARTAMENTO (2016), de volta ao Irã, é também muito bom de ver. Só peca lá pelo final, infelizmente. Gostei muito do casal de protagonistas. E do quanto é incômodo ver aquela situação de difícil comunicação após um ato de violação do corpo de uma mulher, especialmente quando estamos falando de uma mulher de uma cultura ainda mais complicada no que se refere aos costumes e aos tabus. Dá para lembrar de O SILÊNCIO DO CÉU, de Marco Dutra, que eu acho um filme muito mais bem resolvido, mas a situação em O APARTAMENTO é mais delicada justamente por causa da religião e dos costumes do povo iraniano. A cena em que o marido consegue desmascarar o sujeito que agrediu e estuprou sua esposa mexe, ao mesmo tempo, com nossos sentimentos de revolta e de pena. Tudo misturado. Vencedor do Oscar de melhor filme em língua estrangeira.

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