A filmografia de Richard Linklater é bem irregular. Às vezes fico me perguntando por que o homem que dirigiu obras tão intensas quanto a trilogia ANTES DO AMANHECER (1995), ANTES DO PÔR-DO-SOL (2004) e ANTES DA MEIA-NOITE (2013) tem em seu currículo alguns filmes até inexpressivos e que muitas vezes passam batido. Porém, não dá pra dizer que ele é um diretor que não tem a sua marca e as suas obsessões impressas em suas obras.
Uma delas, como dá para perceber pela citada trilogia, é a sua preocupação com a passagem do tempo, em pensar sobre o tempo como algo fugaz e por isso mesmo tão valioso. JOVENS, LOUCOS E MAIS REBELDES (2016) é uma continuação espiritual de JOVENS, LOUCOS E REBELDES (1993), que mostrava as aventuras de um grupo de estudantes do ensino médio no último dia de aula, em 1976, com todo aquele espírito dos anos 1970 impresso. O novo filme traz outro grupo de jovens, desta vez em seu primeiro dia no ambiente universitário, antes de as aulas começarem, no ano de 1980.
A virada da década está presente nos figurinos, no comportamento, na bem selecionada trilha musical, na direção de arte, na fotografia colorida e no espírito festivo do filme. O que pode incomodar um pouco, especialmente aos fãs do cineasta que gostam de conversas de cunho mais aprofundado, é o quanto a filosofia é vista de maneira mais leve pelos olhos dos vários personagens que passeiam pela tela, especialmente se pensarmos que estamos diante de um filme do mesmo diretor de WAKING LIFE (2001).
Mas também sabemos que Linklater é o cara que dirigiu ESCOLA DE ROCK (2003) e que também gosta de pura diversão, sem muitas pretensões intelectuais. O olhar principal do filme é o de Jake Bradford (Blake Jenner). É pelos seus olhos que vamos conhecendo os demais membros da turma que fará parte dessa importante etapa de sua vida. Cada um deles tem a sua importância em um filme que não se preocupa com um plot, mas que prefere deixar seguir seu caminho com naturalidade e leveza, como se estivéssemos testemunhando aquele momento e olhando com carinho para aquelas pessoas, sem nenhuma preocupação com uma conclusão. Afinal, a vida está mal começando.
São jovens que estão mais interessados em jogar beisebol, namorar e brincar do que exatamente estudar. E é muito bom ver essa turma com o olhar de alegria de alguém que está acabando de chegar àquele ambiente e conhecendo aqueles novos tipos. Para aqueles jovens, estar ali era uma questão de autoafirmação. Por isso em muitos momentos fica parecendo um clube do Bolinha com pouca sensibilidade, quase machista, embora haja algumas personagens femininas bem marcantes e encantadoras (principalmente a personagem de Zoey Deutch). A alegria está no ar pela liberdade que finalmente é dada aos jovens, depois do tanto que lhes é proibido durante o colegial. E uma vez que nós deixemos que essa alegria e esse relaxamento nos contagie, JOVENS, LOUCOS E MAIS REBELDES (título brasileiro tosco e nada a ver, eu sei) pode ser uma experiência muito gostosa.
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