domingo, outubro 02, 2016
GÊNIOS DO CRIME (Masterminds)
Um dos gêneros mais subestimados e ao mesmo tempo mais queridos é a comédia. É algo muito difícil de fazer e o senso de humor varia de pessoa pra pessoa, o que pode fazer com que certas coisas que são extremamente hilárias para algumas pessoas possam ser consideradas de mau gosto ou até vergonhosas para outras. Isso explica a rejeição de boa parte da crítica a GÊNIOS DO CRIME (2016), um dos filmes sobre assalto em registro de comédia mais engraçados dos últimos anos.
Filmes de assalto a banco são por si só já bastante atraentes. Quantas vezes já nos tornamos solidários a ladrões em tantos filmes de crime? Ainda mais quando esses ladrões são pessoas que agem por amor, como é o caso de David Ghantt, vivido de maneira sensacional por Zach Galifianakis, esse cara de nome grego complicado que ficou famoso em papéis de bobão desde SE BEBER NÃO CASE!, de Todd Philips.
A história do segurança de um banco que efetua um dos maiores assaltos da história dos Estados Unidos por causa de uma mulher até lembra um pouco o poder de sedução feminino frente a um homem no excelente MORTALMENTE PERIGOSA, de Joseph H. Lewis. Ou tantos outros exemplares do film noir. Não que GÊNIOS DO CRIME acentue tanto assim essa visão da mulher como femme fatale, mas não deixa de tornar esse elemento marcante, graças à graça e ao carisma de Kristen Wiig, uma as melhores comediantes de sua geração. Aliás, vale lembrar que duas de suas colegas de CAÇA-FANTASMAS também estão no filme em papéis menores: Leslie Jones e Kate Mckinnon.
Completam o time de talentos da nova comédia americana (ou nem tão nova assim, na verdade) Owen Wilson, como o mentor intelectual do assalto, e Jason Sudeikis, como um assassino de aluguel. A orquestra é regida por Jared Hess, que até então costumava ser mais lembrado por uma comédia independente que conquistou a graça da crítica na época de seu lançamento chamada NAPOLEON DYNAMITE (2004).
Com uma piada impagável atrás da outra, fica até difícil não amar o filme. O que dizer das cenas de fuga de David Ghantt travestido? E quando ele tenta pagar algo com dinheiro escondido na calça? Ou as cenas dele com o assassino de aluguel que remetem à escola de bromance da comédia americana contemporânea? Há momentos em que mal nos recuperamos de uma piada e já chega outra tão boa quanto. Isso é tão raro de se ver em comédias recentes, que chega a ser um alento. Mas a verdade é que o filme deve demais a Galifianakis. Quando ele não está em cena, muito da graça se perde. Mas nem tanto assim, já que o roteiro é bem amarrado e tem uma dinâmica que funcionaria bem se o registro fosse dramático até. Afinal, trata-se da adaptação de uma história incrivelmente real.
No fim das contas, GÊNIOS DO CRIME vale tanto como diversão despretensiosa quanto como valorização do gênero feita por um monte de pessoas talentosas reunidas. Juntando o coeficiente de risos com o número de pessoas boas envolvidas, GÊNIOS DO CRIME talvez seja a melhor comédia americana desde FAMÍLIA DO BAGULHO, de Rawson Marshall Thurber. E isto não é pouco.
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