terça-feira, outubro 04, 2016

TÔ RYCA























Há filmes que funcionam mais como um estudo antropológico do que para serem apreciados por suas qualidades. É mais ou menos o caso de TÔ RYCA (2016), de Pedro Antonio, filme que se assume popularesco mais do que popular, que pretende dar voz a uma parcela pobre da sociedade que vai ao cinema e vai gostar de se ver na tela, nem que seja nos pequenos dramas de não ter crédito para colocar no celular ou de só poder ligar pra alguém da mesma operadora. Dá para ficar pensando como esse tipo de situação será visto daqui a dez anos.

Herdeiro das comédias que tratam de pessoas pobres que fazem contraste com pessoas ricas ou mais sofisticadas, TÔ RYCA é um tipo de filme que já se faz pelo menos desde os anos 1950 no Brasil. Mas ultimamente essa obsessão pelo dinheiro presente em filmes como ATÉ QUE A SORTE NOS SEPARE e suas continuações, UM SUBURBANO SORTUDO e VAI QUE COLA diz muito de nossa sociedade. Entrar nessa questão, seria mais tarefa para alguém da sociologia, mas fica, desde já, a impressão de que as pessoas parecem mais interessadas em futilidades que o dinheiro pode comprar ultimamente.

Quanto à graça que o filme pode provocar, há momentos em que o riso é espontâneo. Mas TÔ RYCA quase consegue atingir um certo grau de decência graças à presença de Marcelo Adnet, que interpreta um político da linha conservadora, o tal "homem de bem". Como Adnet é muito inteligente na criação dos mais variados tipos, ele se mostra muito à vontade no papel. É pequena a sua participação, mas é marcante, especialmente no terço final. É possível dar boas gargalhadas na cena do debate para prefeito do Rio de Janeiro entre ele e Selminha (Samantha Schmütz), a tal moça que tem a possibilidade de ficar milionária.

Na trama, extremamente simples, mas que funciona mais como um jogo, Selminha é uma moça humilde que trabalha como frentista que vive reclamando da pobreza e das ironias da vida com sua melhor amiga Luane (Katiuscia Canoro). Até o dia em que ela recebe uma proposta de herança de um velho familiar. Ela teria que gastar 30 milhões de reais em um intervalo de um mês sem dizer a ninguém sobre isso e sem adquirir nenhum bem. A tarefa se mostra mais difícil do que ela imagina.

TÔ RYCA não é tão feio quanto aparenta, com seu elenco do programa ZORRA TOTAL, nem é uma tortura como muitos, eu inclusive, acreditavam ser. É um filme que tem agradado ao grande público, que sai da sessão feliz. Além do mais, é uma das últimas vezes em que se poderá ver Marília Pêra no cinema. Ainda que por pouquíssimos minutos. É mais do que muito filme milionário americano costuma oferecer, se a gente pensar bem.

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