quarta-feira, julho 20, 2016
O CONTO DOS CONTOS (Il Racconto dei Racconti – Tale of Tales)
Matteo Garrone pegou muita gente de surpresa quando, depois de fazer filmes de temática mais realista, e de ficar mundialmente famoso, pelo menos dentro do circuito alternativo e de festivais, com GOMORRA (2008), resolveu dirigir um filme de fantasia. Mas vale dizer que não é um filme de fantasia convencional. É uma fantasia para adultos.
Se bem que muitos contos infantis mais antigos têm uma característica bastante cruel e até violenta. A preocupação com o medo que esses contos poderiam gerar nas crianças é que fez com que alguns desses contos infantis fossem um pouco atenuados. A própria Bíblia, inclusive, cheia de sangue por todos os lados, é também atenuada quando contada para as crianças.
O CONTO DOS CONTOS (2015), baseado na obra de Giambattista Basile (1566-1632), junta três histórias que se entrecruzam. Histórias bem estranhas que acontecem em três reinados diferentes. A primeira das histórias envolve uma rainha que quer muito ter filhos, mas que não consegue. A rainha é vivida por Salma Hayek, o rei por John C. Reilly. A única esperança de ela engravidar viria de um homem estranho e até assustador, que diz que ela engravidará se comer o coração de uma besta do mar. E esse coração deverá ser cozido por uma virgem. O que ocorre a seguir é mesmo fantástico. Uma pena que este núcleo se perca ao longo da narrativa, embora tenha um final até bonito.
A outra história é talvez a melhor, a de um rei (Vincent Cassel) que se apaixona pela voz de uma mulher simples de seu povoado. Ele julga se tratar de uma jovem donzela, mas a tal mulher é bastante idosa. E, nesse sentido, o filme não economiza nos aspectos grotescos, principalmente quando mostra a pele envelhecida da mulher e sua tentativa de enganar o rei e atraí-lo para uma noite de sexo, apesar de todas as circunstâncias não ajudarem. Felizmente o filme vai além disso, ao adicionar um tempero mágico em sua trama.
A terceira história é a que parece menos interessante a princípio, mas que vai ganhando força em seu desenrolar: Toby Jones é um rei que tem uma filha adolescente que já sente uma vontade enorme de casar e de sair daquele castelo. No dia em que ela canta uma canção para o pai, o velho entra em contato com uma estranha pulga, que passa a ser seu animal secreto de estimação. A história da pulga, felizmente, funcionará como link para outra história melhor.
É comum sair da sessão de O CONTO DOS CONTOS sem saber direito se se gostou ou não do filme. Trata-se de uma obra estranha, mas que tem uma fotografia e uma direção de arte que se destacam, além de um elenco internacional bem interessante. E embora talvez falte alguma coisa para que o filme alcance o carinho da audiência, não deixa de ser um daqueles trabalhos que, só pela estranheza e pela singularidade, já vale a conferida.
Curiosamente assisti a este filme no cinema duas vezes. E acabei gostando mais da segunda vez, graças, principalmente, à excelente companhia.
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