sexta-feira, julho 22, 2016
ENTRE IDAS E VINDAS
Assim que ALEMÃO (2014), o maior sucesso de público de José Eduardo Belmonte, chegou aos cinemas, o diretor já estava filmando este road movie intitulado ENTRE IDAS E VINDAS (2016), que na época tinha um outro nome menos genérico. Em comum, está o traço de aproximação do grande público que esses dois filmes têm, principalmente se levarmos em consideração a filmografia mais autoral do diretor do ótimo O GORILA (2012).
A leveza e alguns problemas de roteiro e escolhas pouco interessantes na trama de ENTRE IDAS E VINDAS podem até incomodar alguns espectadores mais exigentes, mas a verdade é que se trata de um filme que é difícil não ter certa simpatia. Poderia ser um filme melhor se fosse só a trajetória das quatro mulheres que trabalham com telemarketing, ou se tivesse também o encontro com os personagens de Fábio Assunção e seu filho João Assunção, mas sem forçar a barra no relacionamento amoroso de Fábio com a personagem de Ingrid Guimarães.
É justamente aí que reside o principal problema do filme: quando ele parte para ser quase uma cópia de uma comédia romântica hollywoodiana. Ao menos, o diretor brasiliense tem bom gosto, sabe filmar, e há um trio de mulheres de tirar o chapéu dentro daquele motor home: as amigas vividas por Alice Braga, Rosanne Mulholland e Caroline Abras. Além do mais, se a intenção é mesmo copiar o estilo do gênero, até que Belmonte não fez feio.
Como se trata de um filme com personagens passando por dores geradas por relacionamentos complicados, o melhor da trama está justamente nas cenas em que essas dores são problematizadas, seja nos belos momentos entre pai e filho (o filho quer saber mais de sua mãe, uma mulher que os abandonou há seis anos, mas que o pai não consegue esquecer e por isso vive na fossa).
Mas nessa questão das dores, a melhor cena é a da roda de apostas sobre quem tem uma história mais triste. É quando nos solidarizamos com cada um deles – embora seja muito difícil comprar a história de Rosanne. De todo modo, é neste momento que o filme se engrandece por alguns minutos. A química dos personagens funciona muito bem, e por mais que Caroline Abras seja mal aproveitada, cada vez que ela aparece na tela, é como se um dia nublado passasse a ser um dia de sol. E não só porque ela é muito bonita, mas por conseguir passar essa sensação.
Algumas cenas na praia, filmadas com outras lentes, também são belas de ver e ajudam a tirar o filme do ar ordinário. No entanto, mesmo com tanta beleza natural (das meninas, do garoto inteligente que se apaixona por uma delas, da natureza, das locações etc.), o romance do casal principal continua sendo uma pedra no meio do caminho de um road movie que tinha potencial para um dos bons trabalhos de Belmonte.
Agora é torcer para que ele continue revezando trabalhos mais autorais, como A CONCEPÇÃO (2005), SE NADA MAIS DER CERTO (2008) e O GORILA (2012) com filmes com apelo mais comercial. É mais ou menos assim que funciona a lógica de Hollywood como um todo. É ver se essa lógica pode dar certo na filmografia de um diretor no Brasil.
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