quarta-feira, junho 24, 2015
ESCOLA DA VIDA (School of Life)
“Filme de professor” já virou um gênero por si só, de tantos bons exemplos que surgiram ao longo dos anos. A maioria desses filmes ou estão com um pé no melodrama ou são comédias que depois mostram sua faceta dramática. E aí que mora o perigo, já que o diretor pode tornar o seu trabalho brega ou xarope. Como sou um fã de SOCIEDADE DOS POETAS MORTOS, de Peter Weir, acabei ficando interessado também nesse subgênero que tantas emoções já trouxe para as audiências.
SOCIEDADE DOS POETAS MORTOS – até hoje eu conto – foi o único filme que eu paguei para ver três vezes no cinema. E nas três vezes saí emocionado. Nas três vezes o público aplaudiu de pé emocionado. Creio que foi um filme que formou gerações. Não duvido que tenha depois escolhido cursar Letras por influência do filme, já que meu amor pelo cinema também estava relacionado ao amor pelas letras, pela poesia.
Mas como também não lembrar da emoção de MR. HOLLAND – ADORÁVEL PROFESSOR, que conta com uma cena final tão comovente? Ou se imaginar no lugar do professor francês de uma turma extremamente indisciplinada em ENTRE OS MUROS DA ESCOLA? (O que não é difícil para quem ensina em escola pública, aliás.) Ou se imaginar no lugar de um sujeito que toma a liberdade de ensinar rock na escola em ESCOLA DE ROCK?
Não é bom esquecer do pouco lembrado (para o subgênero) NUNCA TE AMEI, em que Albert Finney faz um professor aparentemente pouco amado por não ser dos mais carinhosos com a turma e que acaba por lidar com uma vida fadada ao fracasso, já que junta também o problema de traição que ele sofre. Enfim, não faltam bons e emocionantes exemplos.
E enfim chegamos a ESCOLA DA VIDA (2005), um filme menor e talvez um pouco brega, mas que tem suas qualidades e que acaba por surpreender perto do final. O ponto de vista é interessante, que é o do professor Matt Warner (David Paymer), embora a narração seja de seu filho adolescente, Dylan (Andrew Robb). O filme começa durante uma cerimônia de encerramento de ano, quando, pela enésima vez, o veterano professor pai de Matt vai receber o prêmio de professor do ano. Acontece que ele acaba morrendo de infarto na ocasião.
Na falta do pai, Matt seria, então, o novo professor do ano. Para honrar o sobrenome da família e o fato de ele estar trabalhando lá há tantos anos. Acontece que ele não é tão popular com os alunos, que consideram suas aulas de biologia chatas também. Mas a pedra no sapato de Matt é mesmo o professor novato de História, que surge para substituir o seu falecido pai.
Ao contrário de Matt, o novo professor, vivido por Ryan Reynolds, logo apelidado de Mr. D., faz um sucesso tremendo com sua maneira simpática de lidar com os alunos e com os próprios colegas professores. Excetuando Matt, é claro, que começa a se sentir mal com aquela situação. Mr. D. também é criativo nas aulas, procurando maneiras de fazer com que a turma aprenda com facilidade e diversão.
Mas o interessante é que em certo momento de ESCOLA DA VIDA é possível ficar um pouco irritado com esse professor popular e cheio de lições de vida que inspiram os alunos, enquanto aquele pobre homem só sofre com a cada vez maior rejeição. O problema de Matt, no entanto, é a sua inveja do colega. Mas isso muda com os rumos finais da trama, que se encaminha para um final agridoce, interessante.
Uma das temáticas que ele aborda é a questão da competitividade tipicamente americana que é posta em questão. No início, vemos Matt obcecado com a ideia de perder o título de professor do ano para Mr. D. Logo depois, vemos a questão de perder com honra e bravura, quando Mr. D passa a ser o treinador do time de basquete. Para que ficar triste em perder quando é mais interessante comemorar até mesmo com os pontos do time adversário?
Trata-se de algo que anda na contramão do american way of life, de uma sociedade altamente competitiva e de elevado individualismo. Tempos atrás, Sylvester Stallone já havia feito algo parecido no maravilhoso ROCKY, UM LUTADOR, cuja luta final é tão emocionante que a gente até pensa que ele ganhou a luta. Ele perdeu, mas de maneira honrada, o que para ele e para nós foi uma vitória.
E é com essas lições que ESCOLA DA VIDA vai conquistando paulatinamente o espectador. É um filme que tem os seus problemas – a ideia de esnobar a professora chata não me pareceu muito bem resolvida, além de ser algo pouco recomendado para ensinar às crianças. Sem falar nos problemas de dramaturgia. Mas para o que se propõe, é agradável de ver e dá o seu recado.
O diretor de ESCOLA DA VIDA é William Dear, que chegou a fazer vários “filmes-família” nas décadas de 1980 e 1990, sendo talvez o mais famoso deles UM HÓSPEDE DO BARULHO (1987), que fez algum sucesso na época e depois em reprises na televisão. Acabou também se especializando em filmes sobre esportes, depois do relativo sucesso de OS ANJOS ENTRAM EM CAMPO (1994).
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