segunda-feira, junho 22, 2015

REAL BELEZA



A exibição de REAL BELEZA (2015) na noite deste sábado, no 25º Cine Ceará, foi um alívio, depois de ver tantos filmes fáceis de aborrecer ou dispersar o espectador num só dia. Não que REAL BELEZA seja um dos grandes filmes de Jorge Furtado. Mas notou-se, durante a projeção, o apelo popular da produção, o modo como ele convida gentilmente o espectador a apreciar sua trama simples, que acaba por remeter a um dos trabalhos mais antigos do cineasta, a minissérie LUNA CALIENTE (1999), que bem que merecia uma edição em DVD para melhor apreciação.

Isso porque ambos os trabalhos tratam de uma relação um tanto proibida na zona rural do Rio Grande do Sul, com suas belezas naturais admiráveis. E beleza é o tema principal do filme, que nos apresenta a um fotógrafo de modelos João (Vladimir Brichta) em busca de uma moça cuja beleza pudesse alçar solo internacional. Uma nova Giselle Bünchen, por assim dizer. E depois de muito esforço, ele acaba por encontrar na jovem de 16 anos Maria, vivida por Vitória Strada.

Integram o elenco também Adriana Esteves, como Anita, a mãe de Maria, e Francisco Cuoco como o pai Pedro, um homem envelhecido, amante de livros e que não quer que a filha viaje. Já a mãe aprova a viagem da filha e ainda tem um affair com João, quando ele visita a casa da menina, a fim de fazer um pouco mais de pressão e conseguir, enfim, autorização para levar a jovem para São Paulo.

Destaque para os momentos em que Anita se mostra cada vez mais oferecida e simpática a João e a câmera se aproxima dos seus rostos em capo e contracampo. Falando em aspectos técnicos, o filme tem uma fotografia belíssima em scope, com um colorido vivo que se destaca. Devido à relativamente longa experiência do cineasta e um currículo que inclui obras de valor, como HOUVE UMA VEZ DOIS VERÕES (2002), O HOMEM QUE COPIAVA (2003) e SANEAMENTO BÁSICO, O FILME (2007), já se esperava pelo menos um filme de agradável apreciação.

Por outro lado, há um problema de ritmo em sua segunda metade, depois que João se instala na casa por alguns dias a fim de obter resposta afirmativa do pai da menina. Nesse momento, o filme perde boa parte do vigor inicial, embora seja compensado pela participação bem especial de Francisco Cuoco, esse gigante da teledramaturgia brasileira. Há algo de trágico naquele homem cego vivendo em uma casa cheia de livros cujo prazer lhe é tão fundamental. A citação de Jorge Luis Borges, nesse sentido, não poderia ser mais feliz, já que o célebre escritor argentino também foi ficando cego ao longo da vida.

Outro problema se dá numa falta maior de química e tensão sexual na relação entre João e Anita (será que é por que o casal de atores já é casado?). Se no começo isso parece interessante, quando a relação dos dois passa a ser carnal, perde um bocado da graça, talvez pela escolha de Estevez no papel, talvez pelo fato de o filme focar principalmente na busca do fotógrafo pela jovem futuro modelo, e ser essa a sua principal obsessão. Ainda assim, REAL BELEZA não deve ser deixado de lado, como tudo o que Furtado dirige ou escreve para o cinema ou para a televisão.

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