quinta-feira, junho 25, 2015

JAUJA



De vez em quando faz muito bem ir preparado psicologicamente para filmes mais densos, pesados, difíceis. Essa é a fama de JAUJA (2014), de Lisandro Alonso, filme mais odiado do que amado, inclusive por alguns críticos de cinema. O diretor argentino, acostumado a trabalhar com não-atores, dessa vez trouxe um ator internacional para o papel principal, Viggo Mortensen, que ganhou mais respeito nos últimos anos por suas colaborações com o cineasta David Cronenberg.

Aqui ele vive um dinamarquês que, no século XIX, viaja para a região da Patagônia, na Argentina, e se torna capitão de um exército. Traz junto a jovem e bela filha, desejada por todos os homens da região e até já mantém um romance com um jovem rapaz às escondidas. Apesar das tentativas do pai de protegê-la dos homens daquele lugar que parece separado de toda civilização, num lugar-nenhum, ela acaba por fugir com o tal rapaz certa noite. Assim, boa parte do filme é a busca do pai pela filha em locais ermos e perigosos – há ataque de índios, por exemplo.

JAUJA exige paciência do espectador por seu andamento lento, embora não seja exatamente um filme de planos longos. Os planos são curtos até, mas são narrados como pinturas, tal a beleza pictórica dos enquadramentos, das cores, das texturas. Por mais que não se goste do filme, as imagens são encantadoras e de encher os olhos. Há um momento, por exemplo, em que Mortensen se deita nas pedras, à noite, tendo apenas as estrelas como testemunha. De uma beleza espetacular, em sua janela 1,33:1 com bordas arredondadas.

A narrativa pode causar frustração em quem quer sempre ter respostas prontas ou se incomoda em sair do cinema com muitas perguntas, já que a trajetória final revela um trabalho que mais tem a ver com surrealismo do que com a jornada de busca de um homem. E por isso mesmo trata-se de um filme especial. Um dos melhores a serem lançados neste ano no circuito.

Como JAUJA causa estranhamento e tem em si uma consciência de ser cinema, acaba por nos distanciar dos personagens. Aqui, porém, esse distanciamento é necessário e positivo. Faz parte da experiência contemplativa, embora em certo momento possamos compartilhar do sentimento de perda do espaço e do tempo que o protagonista experiencia. Esse sentimento ou sensação se torna ainda mais forte na última parte, que nos leva para outro espaço-tempo, como se tivéssemos cruzado outra dimensão.

Teorias a respeito dessa conclusão devem haver em vários espaços, mas, talvez, mais importante do que tentar teorizar isso, é saborear esse trabalho tão estranho quanto belo. E sermos gratos pela chance de ver algo assim em nosso circuito.

Vi o filme no Cinema do Dragão numa cópia linda que valoriza tanto o claro quanto o escuro e fiquei feliz em ter visto lá, já que se trata de uma obra mais difícil para ser vista no Cine São Luiz, um espaço adorável, mas muito grande, muito fácil de se dispersar com obras que exigem um pouco mais de atenção do espectador. O filme foi exibido no segundo dia do 25º Cine Ceará e levou o prêmio de direção.

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