domingo, janeiro 30, 2011
OS CURTAS DE KLEBER MENDONÇA FILHO
Quando vi pela primeira vez VINIL VERDE (2004, foto), tornei-me imediatamente fã de Kleber Mendonça Filho, mesmo sem ter visto seus demais curtas-metragens. Já perdi a conta de quantas vezes vi este curta, até porque eu faço questão de apresentá-lo para os amigos e já exibi na escola onde dou aula também. E com resultados animadores. E como a experiência de ver o curta no cinema pela primeira vez foi muito impactante, eu me recusava a ver seus outros filmes na telinha do computador pelo site Porta Curtas. Até que recentemente o diretor disponibilizou todos eles no Vimeo e com uma ajudinha do mozilla deu pra transformar tudo em dvd. O que foi uma maravilha, pois assim pude ver a evolução do trabalho do diretor. Seu mais recente curta, o premiado RECIFE FRIO (2009), acabou de ser lançado em dvd com extras e está à venda na Livraria Cultura. A expectativa em torno de seu primeiro longa de ficção é grande. Chama-se O SOM AO REDOR e está em processo de filmagem. Enquanto isso, falemos brevemente de cada curta visto.
CASA DE IMAGEM
Belo documentário sobre o fim dos cinemas de rua, CASA DE IMAGEM (1992) mostra fotografias e sons do passado juntando-se a depoimentos e imagens de fechamento de cinemas, dando lugar a igrejas e supermercados. Nos depoimentos, aborda-se a questão da televisão como agente catalizadora do fim dos cinemas de rua, especialmente nas cidades do interior. Um dos depoimentos mais emocionantes é de um projecionista que estava prestes a fechar a sala de cinema onde trabalhava. Ele diz: "eu que vou fechar o cinema... com chave de lágrimas".
HOMEM DE PROJEÇÃO
Filme-irmão de CASA DE IMAGEM, HOMEM DE PROJEÇÃO (1992) foca a atenção na figura do projecionista, principalmente o do Arte Palácio, que trabalha lá desde os anos 60. Segundo ele, quando O PODEROSO CHEFÃO passou 4 meses em cartaz lá, ele já não aguentava mais. Bonito ver os rolos de filmes passando de forma romântica. Não é tão bom quanto o primeiro, mas funciona como um complemento. Codireção de Elissama Cantalice.
ENJAULADO
Acho que é o único dele que eu não gostei. ENJAULADO (1997) é muito longo (33 minutos) e é a primeira experiência de KMF com a ficção e com o gênero horror. Talvez se fosse um pouco mais curto e enxuto, teria tido um resultado melhor. Começa até interessante com câmera subjetiva, mas a parte principal, do sujeito sozinho no apartamento, é um convite ao sono.
A MENINA DO ALGODÃO
Se ENJAULADO é longo demais, A MENINA DO ALGODÃO (2002) é tão bom que poderia ser mais longo. Assim, temos que nos contentar com meros seis minutos de duração. Há uma excelente criação de atmosfera e um ar documental que torna a experiência ainda mais arrepiante. O filme fala de uma lenda urbana que aqui no Ceará se chamava "lôra do banheiro", mas no Recife era "a menina do algodão", pelo fato de ser uma garota que aparecia nos banheiros com algodões no nariz. No final, nos créditos, entre as homenagens está John Carpenter. Foram usadas imagens desfocadas ao longo do filme. Codireção: Daniel Mendonça.
VINIL VERDE
Já perdi as contas de quantas vezes vi esse curta de quinze minutos. Ainda acho mágico, mas claro que o impacto vai se perdendo um pouco com as revisões. Mas ao mesmo tempo é possível ver mais coisas nas entrelinhas, reparar em mais detalhes, ou pensar em mais possibilidades de se entender o filme, mais chaves de interpretação. Pode-se vê-lo como um estudo sobre a natureza má do ser humano ou sobre a total falta de importância da palavra "não" ou sobre as tentações e o mal. Mas é o epílogo, com as palavras finais do narrador, que ainda me arrepia. VINIL VERDE utiliza a mesma técnica de Chris Marker com fotografias, o que confere ao filme charme e estranheza.
ELETRODOMÉSTICA
Um dos que apresentam um registro mais convencional, dentre os curtas de KMF. Interessante a apresentação da rotina de uma dona de casa e a sua relação com os vários eletrodomésticos, cada vez mais se multiplicando. A ponto de uma máquina de lavar roupa ter uma utilidade inusitada. ELETRODOMÉSTICA (2005) é talvez o único filme de KMF que é mais indicado para adultos, devido à cena final. Ganhou cerca de trinta prêmios no Brasil e no exterior.
NOITE DE SEXTA, MANHÃ DE SÁBADO
Tive a sorte de ver este curta também no cinema. Depois de VINIL VERDE, NOITE DE SEXTA, MANHÃ DE SÁBADO (2006) é o meu favorito dele. É bem diferente e trata do amor à distância, da dor que a pessoa sente da falta do outro, da vontade imensa que se tem de falar com a pessoa, nem que seja por telefone. A sequência principal, do telefonema de um rapaz na praia de Boa Viagem para uma moça em uma cidade da Europa, é de uma sensibilidade impressionante. E o fato de não ouvirmos algumas das falas torna o filme ainda mais especial, lembrando o sussurro de ENCONTROS E DESENCONTROS, de Sofia Coppola.
LUZ INDUSTRIAL MÁGICA
Curta experimental feito a partir de imagens captadas em festivais internacionais. São imagens sem som algum. Nem ruído, nem música. Não cheguei a entender as intenções do cineasta. Se é uma crítica ao excesso do uso de câmeras fotográficas ou se é uma espécie de elogio. LUZ INDUSTRIAL MÁGICA (2008) é um filme menor do diretor. Até por não ter a pretensão de ser grande mesmo.
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