sexta-feira, janeiro 28, 2011
CLEÓPATRA (Cleopatra)
Curiosamente o meu interesse por Cleópatra, a personalidade histórica, a mulher forte, influente, passional, dominadora e cheia de mistérios, se deu a partir da apreciação do filme de Júlio Bressane. E o filme do Bressane, por mais que seja super-erudito, também é uma curtição com os personagens de Júlio César e Marco Antonio. Mas ainda assim, o fato de mostrar uma mulher que possuía conhecimentos de magia e esoterismo, além de ter uma vasta biblioteca, me fascinou. Daí, vi depois de alguns meses, a versão de Cecil B. DeMille, de 1934, que é uma bela obra, e é redondinho ao contar a história toda em apenas 100 minutos. Se bem que não é bem a história toda. Joseph L. Mankiewicz, que já havia traduzido para o cinema JÚLIO CÉSAR (1953), de Shakespeare, mostrava-se o homem ideal para filmar as relações de Cleópatra com o Império Romano e mais particularmente com Júlio César e Marco Antonio, seus dois amantes.
O problema é que o filme hoje é mais lembrado pelo rombo que deixou nos cofres da Fox do que por suas qualidades fílmicas. O que é uma pena, pois, apesar de irregular, CLEÓPATRA (1963) é um belo filme. E um excelente representante dos filmes épicos, que vigoraram nos Estados Unidos da metade dos anos 50 até a metade dos anos 60. O filme conseguiu se pagar, mas o investimento foi altíssimo. Dizem que é o filme mais caro de todos os tempos. Um monstro. Investiram demais e não conseguiram arrecadar o que almejavam. Dizem que a própria Elizabeth Taylor também não gostou do resultado final, quando foi vê-lo na noite de estreia.
Aliás, contar sobre os bastidores do filme é tanta coisa que o documentário que fizeram – e que eu não cheguei a ver –, se for ruim, é porque não souberam aproveitar o rico e vasto material de notícias e fofocas. Eu pelo menos, fiquei supreso ao saber que, apesar de o filme ter mais de quatro horas de duração, foram cortadas cerca de duas horas da edição final! O que muita gente já sabe é que Elizabeth Taylor foi a primeira mulher a ganhar um milhão de dólares por um filme. E CLEÓPATRA foi a primeira parceria dela com Richard Burton, que aqui interpreta Marco Antonio. Rex Harrison ficou com o papel de César.
Vendo o filme em DVD naturalmente se percebe a clara divisão em duas partes. Mankiewicz pretendia lançar CLEÓPATRA em dois filmes separados, de três horas de duração, cada um deles mostrando a relação dela com um dos amantes. Eu, particularmente, gosto mais da primeira metade, a de Júlio César. A sequência do esfaqueamento no senado é de arrepiar, bem como a cena de sua cremação. São coisas que não aparecem com força no filme de DeMille, por exemplo. Mankiewicz, ainda que se preocupasse com o espetáculo, também tinha uma preocupação histórica. Por isso, seu CLEÓPATRA é cheio de detalhes e esclarece bem mais, chegando a ser didático. Ter tido mais tempo para contar mais detalhes também ajudou bastante. Mas curiosamente o fato de Júlio César ser epiléptico, por exemplo, chama muito mais atenção na versão do Bressane do que no filme de Mankiewickz, em que esse detalhe é mostrado duas vezes.
O "lado B" tem mais momentos de ação, com Marco Antonio lutando contra Otávio. O período em que Marco Antonio lutou contra os assassinos de César não é mostrado no filme. Apenas mencionado no início da segunda metade. Até por não ter muito a ver com Cleópatra. Ainda assim, diria que apesar da força e poder de influenciar os homens de Cleópatra, o filme se parece bem mais com épicos masculinos do que com histórias de amor. Tanto que o final do filme carece de mais emoção e ficou um tanto teatral. Ainda assim, um belo filme. Que é cansativo para se ver de uma única vez, mas que funciona muito bem vendo em duas partes.
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