segunda-feira, setembro 08, 2008
II FOR RAINBOW
Não tinha muito interesse em ir para esse II For Rainbow, festival da diversidade sexual, que acontece em Fortaleza entre os dias 05 a 09 de setembro de 2008. Talvez por achar que os curtas não seriam suficientemente bons ou por saber que seriam exibidos na "sauna" do São Luiz, conforme muito bem relatou Sergio Alpendre para o Cineclick. Aproveitando a deixa: meu Deus, quando é que alguém vai criar vergonha na cara e mandar colocar um sistema de ar condicionado que preste naquela sala monumental? Eu me refiro às autoridades competentes do Estado e da Prefeitura, que permanecem de braços cruzados enquanto a cada festival que acontece lá é sempre o mesmo problema, sempre as mesmas reclamações, sempre a mesma repercussão negativa. O Cine São Luiz hoje é mais famoso por ser quente feito o inferno e pelo som ruim do que por ser bonito e majestoso. Se eu fosse rico, se tivesse muito dinheiro, eu mesmo mandaria consertar.
Mas deixando de lado a minha indignação, o que motivou a minha ida para o evento foi poder encontrar o amigo Sergio Alpendre (Revista Paisà, Cineclick), que só conhecia através da internet - do mundo dos blogs e listas de discussão. Conheci também a Lila Foster (Paisà, Cinética) e o Gabriel Martins (Filmes Polvo). Todos gente fina. No final da sessão dos curtas, houve o reencontro-surpresa com o Marcus Mello, editor da revista Teorema, que eu havia conhecido através do Carlão Reichenbach, numa das edições do Cine Ceará. Mas a maior surpresa da noite foi mesmo ter conhecido e trocado algumas palavras com um dos cineastas brasileiros que eu mais admiro: Guilherme de Almeida Prado, que estava muito bem acompanhado, ao lado de uma de suas atrizes, Maira Chasseroux, do seu novo longa - ONDE ANDARÁ DULCE VEIGA? -, que havia sido exibido na noite de sexta-feira, como filme de abertura do festival. E para provar que o mundo é pequeno, conversando com a Maira, ela me conta que é cunhada do Dennison Ramalho (!) e eu, surpreso, imediatamente falei pra ela que tinha visto há poucas horas ENCARNAÇÃO DO DEMÔNIO, filme no qual Ramalho é diretor assistente. Esse mundo do cinema é mesmo muito pequeno. Outra celebridade que estava presente era a musa Lúcia Veríssimo, sentada logo atrás de mim nos dois dias que fui. Ela continua linda e é uma das juradas da mostra competitiva. Eu cheguei a ouvi-la falar entusiasmada: "olha eu aí!", quando ela apareceu num trecho do delicioso AS FERAS, do saudoso e genial Walter Hugo Khouri, exibido num dos documentários do festival.
No domingo, o Sérgio desistiu da sessão e assisti os filmes em companhia da Lila e do Gabriel. Da turma de Fortaleza, quem também estava presente na sessão de sábado era o Alex, o organizador da sessão Filmes Malditos da Meia-Noite. Ele apareceu no domingo junto com a Carol, embora tenham desaparecido misteriosamente, assim que terminou a sessão. Outro nome famoso no meio cinéfilo-jornalístico que eu conheci só no domingo foi o Fernando Secco, da Revista Moviola. Falemos um pouquinho e de maneira bem rasteira de cada um dos curtas vistos nos dois dias que pude ir ao festival. E quem quiser ir direto conferir as fotos que tirei no sábado, é só dar uma clicada no link que coloquei abaixo do post.
Sábado
CINEMA EM 7 CORES
Ótimo curta. Já me conquistou no começo com uma das mais belas canções de Roberto Carlos ("Ninguém vai tirar você de mim"). Foi o mais longo da noite (35 minutos), mas como bem falou Sergio Alpendre, poderia ter-se transformado num longa de tão bom e agradável que é. CINEMA EM 7 CORES (RJ, 2008), de Rafaela Dias, conta com depoimentos de Jean Willis (ex-BBB), Carlos Mossy, Luiz Carlos Lacerda (que estava presente na sessão), Karim Aïnouz, Sandra Werneck, Andrea Ormond (do ótimo blog sobre cinema brasileiro Estranho Encontro), Monique Lafond, entre outros. O barato do filme é que no meio desses pequenos depoimentos há cenas de filmes importantes da cinematografia nacional que abordaram o tema da homossexualidade como GISELLE, de Mossy; A RAINHA DIABA, de Antonio Carlos da Fontoura; MATOU A FAMÍLIA E FOI AO CINEMA, de Julio Bressane; PIXOTE, A LEI DO MAIS FRACO, de Hector Babenco; MADAME SATÃ, de Aïnouz; AMORES POSSÍVEIS e CAZUZA, de Sandra Werneck; NAVALHA NA CARNE, de Braz Chadiak; BEIJO NO ASFALTO, de Bruno Barreto; entre outros. Legal foi o grito de alegria da platéia no momento em que, numa cena de A PARTILHA, de Daniel Filho, a persnagem de Paloma Duarte confessa ser "sapatão", que gosta de "botar aranha pra brigar".
CAFÉ COM LEITE
Belo filme (foto acima) sobre a relação de dois irmãos que sofrem com a morte de um dos pais e passam a se virar sozinhos. O irmão mais velho é homossexual e mantém uma relação harmoniosa com outro rapaz, que de vez em quando dorme lá na casa dele. Já o seu irmão pequeno tenta se ajustar e acha a situação do irmão até normal. O final é muito bonito e chega a emocionar. CAFÉ COM LEITE (SP, 2007) aborda o tema do amor entre dois homens de uma maneira natural, sem causar choque ou soar panfletário. Direção: Daniel Ribeiro.
DESEJOS IGUAIS
Tirando a bela canção em francês, cujo título infelizmente eu não anotei, DESEJOS IGUAIS (CE, 2007) não diz muito. É uma espécie de pequeno videoclipe mostrando duas mulheres em momentos de amor e carinho. Pelo menos o vídeo é curtinho. Parece que tem a duração da canção. Direção: Cecília Góis e Gaby Lima.
ENTRE CORES E NAVALHAS
Filme um pouco bobo sobre um cabeleireiro e uma cobradora de ônibus que se envolvem afetivamente, numa relação diferente. Como ele é mestre em transformar as pessoas em seu salão, resolve no final transformar a si mesmo. ENTRE CORES E NAVALHAS (DF, 2007) é um curta quase esquecível. Tanto que custei a me lembrar dele, inclusive, na hora de escrever. A edição é de José Eduarte Belmonte, de A CONCEPÇÃO. Direção: Catarina Acioly e Iberê Lima.
SEXUALIDADE E CRIMES DE ÓDIO
Trata-se de um trabalho um pouco pesado que funciona mais como um grito de intolerância do que como um trabalho artístico. O filme poderia ser até uma matéria de um programa jornalístico de televisão, por exemplo, que não faria diferença. Ainda assim, SEXUALIDADE E CRIMES DE ÓDIO (RJ, 2008) é um trabalho justo e louvável, pois denuncia o assassinato brutal que vem ocorrendo com uma freqüência cada vez maior no Brasil a gays, lésbicas e transexuais. Os travestis que ficam na rua tentando ganhar o seu sustento, já que não conseguem outra forma de sobrevivência por terem "optado" por esse tipo de vida, são os mais visados pelos assassinos. Falei "optado" entre aspas pois acredito que a homossexualidade não é bem uma questão de opção, mas de natureza mesmo. Direção: Vagner de Almeida.
O ALMOÇO (CONSIDERE UM JANTAR)
Interessante e criativo filme mudo que pede o tempo inteiro a participação do espectador para considerar não apenas os escassos recursos para a realização do trabalho, como também para imaginar uma coisa mostrada na tela como outra descrita nos intertítulos. O ALMOÇO (CONSIDERE UM JANTAR) (SP, 2007) é divertido e arrancou algumas risadas da platéia. Direção: Thiago Ricarte.
HOMENS
Encerra a noitada de curtas de sábado HOMENS (ES, 2008), documentário sobre homossexuais nordestinos, de cidades do interior, que contam, diante das câmeras, um pouco de suas vidas sofridas e das dificuldades que tiveram para assumir a sua orientação sexual diante da sociedade. Um dos depoimentos mais interessantes é de um deles que conta com um senso de humor fora de série, dizendo que ficou "viúva" quando seu amante morreu eletrocutado. O filme parece ter bebido muito da fonte de Eduardo Coutinho. Direção: Lucia Claus e Bertrand Lira.
Domingo
AMANDA E MONICK
Talvez o melhor da noite, embora não o que tenha sido o mais comentado. Mostra a rotina de dois travestis, um de Pernambuco, outro da Paraíba. Um deles faz programa; outro é professor de escola do município. O ponto alto de AMANDA E MONICK (PB, 2008) é o depoimento do pai do travesti-professor, mostrando o grau de amor e falta de preconceito que esse pai tem com o filho. Deve ter emocionado a muitos. Direção: André da Costa Pinto.
BAR A.K.A.
Aqui começa a série de curtas ruins que quase nos fizeram sair da sala, auxiliados pelo calor cada vez mais infernal do Cine São Luiz. Esse BAR A.K.A., (RJ, 2008) por mais que tenha algo de Fellini em sua estranheza, não parece dizer nada ao mostrar um clube onde pessoas das mais diversas preferências sexuais, incluindo aí o sadomasoquismo, desfrutam de seus desejos. Direção: Túlio Bambino
DIZERES ÍNTIMOS
Duas mulheres que mantiveram um relacionamento no passado se reencontram, depois de suas vidas mudadas. Faltou a DIZERES ÍNTIMOS (SP, 2008) uma maior sensibilidade no tratamento da relação das duas amigas para que o final tivesse o mínimo impacto. Um trabalho claramente "verde". Direção: Bruno Peres e Carolina Barres.
QUEM É VOCÊ NA NOITE?
Mais um documentário bem esquemático com as tradicionais entrevistas a homossexuais ou especialistas no tema. A principal questão é "o que é ser gay?", existe uma identidade para o homossexual? Se não fosse o calor intenso e crescente da sala, até que eu não acharia QUEM É VOCÊ NA NOITE? (SP,2008) tão chato e longo. Direção: Marcelo Ramos.
PARA MACEDÔNIO
Mais uma boba produção local, PARA MACEDÔNIO (CE, 2008) fala de suicídio e, no fim, depois de enrolar muito, não diz a que veio. Direção: Claudemyr Barata.
BÁRBARA
Filmes produzidos originalmente em película são os mais prejudicados pelo sistema de som do Cine São Luiz. É o caso de BÁRBARA (MG, 2006), ficção sobre um travesti que visita o seu pai doente no hospital. Ouvi elogios do filme ao final da sessão, mas àquela altura, eu já estava contando as horas para ir embora e fiquei bem disperso. Direção: Carlos Antônio da Silva Gradim.
FILTHY
Eis o filme que balançou a noite. Depois de tantos curtas esquemáticos e normais na estrutura, FILTHY (RS, 2007) veio para balançar as estruturas do Cine São Luiz, com cenas de duas meninas fazendo sexo e brincando com um ursinho. A dúvida enquanto durava o filme – que me lembrou WE FUCK ALONE, de Gaspar Noé, só que sem a perturbadora luz estroboscópica, o que já é um ponto positivo – é saber até que ponto o filme iria em suas ousadias. E eu saí de lá espalhando a notícia de que a menina do filme sortearia o ursinho na manhã do dia seguinte, com a imprensa. :) Direção: "Queer Fiction".
Link para as fotos (clique para vê-las maiores)
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