terça-feira, setembro 09, 2008

HELLBOY II - O EXÉRCITO DOURADO (Hellboy II: The Golden Army)



Não tem jeito. Quando Guillermo del Toro dirige produções hollywoodianas seu rendimento não é o mesmo do que nas produções latinas. É como se ele fizesse sempre um serviço desleixado, apenas pelo dinheiro, sem amor. Isso pode ser sentido em praticamente todos os seus trabalhos "made in USA". Nota-se que, por mais que esses filmes possuam algumas das marcas presentes desde o seu longa-metragem de estréia – CRONOS (1993) -, eles não proporcionam o mesmo prazer e interesse. Talvez o melhor de seus trabalhos em Hollywood ainda seja MUTAÇÃO (1997), cujas qualidades eu só pude ver melhor através de uma revisão de trechos do filme numa exibição pela tevê. E é uma pena que um diretor que conta com uma obra-prima como O LABIRINTO DO FAUNO (2006) no currículo se sujeite a essas produções chatas e barulhentas que, por mais que tenham, vez ou outra, sua marca autoral, acabam entrando no mesmo saco dos blockbusters medianos. E infelizmente isso se repete em HELLBOY II – O EXÉRCITO DOURADO (2008), segundo filme da franquia baseada nos personagens criados por Mike Mignola.

E o pior é que o cineasta está com a agenda cada vez mais atolada em Hollywood, tendo inclusive, entre esses próximos filmes, o esperado O HOBBIT, sob supervisão de Peter Jackson. E para ser sincero, eu duvido muito que O HOBBIT sequer consiga chegar perto da excelência da trilogia dos anéis de Jackson, por mais que o neozelandês também esteja envolvido no projeto. Del Toro precisa mesmo é se afastar dos castradores executivos americanos e voltar a fazer filmes na Espanha ou no México, onde poderá misturar com toda a liberdade que merece a fantasia com a violência e o horror.

Em HELLBOY II, o protagonista (Ron Pearlman) se mostra cada vez mais um bebezão num corpo de demônio. E para enfatizar isso, o filme ainda mostra um flashback da infância de Hellboy – acredite, ele era ainda mais feio quando criança -, que adorava não apenas ver televisão, mas também ficava encantado com as fábulas narradas pelo seu "pai adotivo" (John Hurt), entre elas, a que aparece como subtítulo do filme: a lenda do Exército Dourado, que também servirá de eixo para a trama principal, que começa com o surgimento do Príncipe Nuada, o grande vilão do filme, que pretende destituir o poder dos mortais no mundo, chegando ao ponto de disputar a coroa com o seu próprio pai, o rei de sua raça.

Dessa forma, HELLBOY II acaba se tornando ainda mais fantasioso que o primeiro filme, que dava mais destaque às aventuras secretas do bizarro agente do FBI de cor vermelha, com rabo e chifres. Apesar de ser um demônio, Hellboy é um cara de bom coração, apaixonado por Liz (Selma Blair) e que mantém uma boa convivência com o seu outro amigo estranho, Abe (Doug Jones). Para aumentar a "festa estranha com gente esquisita" entra em cena Johan Krauss, uma criatura feita de gás (ou ectoplasma, para usar a linguagem do filme) e cujo corpo gasoso é contido através de roupas especiais. Ele é chamado para a equipe como uma espécie de interventor, para fazer com que Hellboy seja um pouquinho mais discreto. Sua última missão, em matéria de discrição, foi um fracasso. Além do mais, Hellboy já havia ficado famoso, tendo suas imagens já disseminadas pela internet, principalmente através do youtube.

As criaturas apresentadas guardam similaridades com as mostradas em O LABIRINTO DO FAUNO e são o que há de mais interessante no filme, bem como as aparições de cenas de clássicos da Universal, como A NOIVA DE FRANKENSTEIN e O LOBISOMEM, o que demonstra o carinho de del Toro pelos monstros. Pena que isso não chegue a ser suficiente para evitar que HELLBOY II se torne, no fim das contas, uma aventura aborrecida e barulhenta, com piadas sem graça e dois casos de romances (tanto da parte de Hellboy quanto de Abe) que não chega a enternecer ou mesmo a parecer engraçado, se era essa a intenção de del Toro.

P.S.: Antes que eu me esqueça novamente, tem edição nova da Revista Zingu!, com mais uma parte da matéria sobre as musas do Boca do Lixo. Na coluna "Clássicos de Prestígio", Gabriel Carneiro escreve sobre o meu Cukor favorito: A DAMA DAS CAMÉLIAS.

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