quarta-feira, março 15, 2006

PICKPOCKET

  

Fazendo um link com ACOSSADO, do Godard, passemos para PICKPOCKET (1959), de Robert Bresson, um dos maiores cineastas de todos os tempos. Godard gostava tanto de Bresson - e desse filme em particular - que deu ao personagem principal de ACOSSADO o nome de Michel como homenagem ao clássico de Bresson. 

PICKPOCKET nos apresenta Michel (Martin La Salle), um batedor de carteiras atormentado pela culpa e pela solidão que se recusa a visitar a mãe doente e a largar o seu vício perigoso. Michel aperfeiçoa a sua arte quando conhece um ladrão profissional, que lhe ensina muitas técnicas. Há também uma relação amorosa de Michel com Jeanne (Marika Green, tia de nossa querida Eva Green), mas ela nunca é explicitada. Aliás, essa relação é até escondida do expectador. Até porque as expressões nos rostos dos modelos - e não atores, já que Bresson não queria ninguém atuando -, não nos dão muitas pistas do que eles sentem. Bresson também tem a característica de esconder coisas importantes da trama. Coisas importantes acontecem antes de começar e depois de encerrado o filme, que tem aquela bela fala de Michel: "Oh, Jeanne, que estranho caminho eu tive que trilhar para te encontrar". 

Bresson prefere nos mostrar as cenas de Michel batendo carteiras, ainda que em determinados momentos ele interrompa a ação com fade outs. Destaque para a cena do trem, um primor de edição, e para a primeira cena, na corrida de cavalos, com Michel tentando retirar dinheiro da bolsa de uma mulher, correndo grande risco de ser pego em flagrante. 

Li em algum lugar que PICKPOCKET foi diretamente influenciado por ANJO DO MAL, de Samuel Fuller, e que foi uma influência forte para GIGOLÔ AMERICANO, de Paul Schrader, diretor e roteirista que apreciava contar histórias de tipos marginais - lembrando que foi Schrader quem fez o roteiro de TAXI DRIVER. Nos dias de hoje, qual diretor seria o herdeiro do cinema de Bresson? Jim Jarmusch talvez, por seu estilo minimalista? 

PICKPOCKET foi só o terceiro filme de Bresson que eu tive a chance de ver. Por enquanto, meu favorito continua sendo O PROCESSO DE JOANA D'ARC (1962). Estou com UM CONDENADO À MORTE ESCAPOU (1956) em casa pra conferir também e, com sorte, encontrarei nas locadoras DIÁRIO DE UM PADRE (1951), considerado o primeiro filme autenticamente bressoniano.

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