terça-feira, outubro 04, 2005

TERRA DE NINGUÉM (Badlands)

 

Nem sempre é fácil definir ou perceber as características de um autor no cinema. Terrence Malick é um desses casos. Por isso que há pouco trabalho crítico aprofundado em cima de seu trabalho. Ajuda o fato de ele ter apenas quatro longas-metragens no currículo, sendo que um deles - THE NEW WORLD (2005) - ainda nem estreou. Malick se tornou mais famoso pelo sumiço de 20 anos que deu depois de dirigir dois importantes filmes nos anos 70 - TERRA DE NINGUÉM (1973) e DIAS DE PARAÍSO (1978) - e reaparecer só em 1998 com o drama de guerra ALÉM DA LINHA VERMELHA. 

Pelos textos que li sobre Malick, no Senses of Cinema, vi que suas principais influências estão no cinema mudo, na pintura moderna de artistas como Hopper e Wyeth, e na filosofia de Wittgenstein e Heidegger. Malick acredita na pureza da imagem. Seus filmes não discutem nenhuma questão moral ou sociológica, nem suas imagens estão lá para simbolizar uma tese ou algum outro valor. Em seus filmes, o significado já está presente na imagem. A realidade não está escondida sob o olhar. 

Uma vez sabendo disso, fica até mais fácil entender a completa falta de julgamento que ele tem para com os personagens de TERRA DE NINGUÉM. Ele evita até mesmo tornar simpático o protagonista (Martin Sheen), um sujeito que se torna um assassino em série perseguido pela polícia. Na história, que se passa nos anos 50 no sul dos EUA, Sheen é um sujeito que trabalha como apanhador de lixo e se apaixona por uma moça meio cabeça de vento (Sissy Spacek) que mora sozinha com o pai (o ótimo Warren Oates). O velho não aprova o namoro dos dois e um dia entra em casa e os flagra se preparando para ir embora. Ele ameaça ir até a polícia, mas é baleado e morto pelo rapaz, que foge com a garota para não ser pego pelos tiras. 

Malick não apóia nem condena a ação dos dois jovens perseguidos. É diferente, por exemplo, de um BONNIE AND CLYDE, que nos apresenta anti-heróis simpáticos e fáceis de serem admirados. Não é o que acontece com o casal de TERRA DE NINGUÉM. No caso da personagem de Sissy Spacek, é mais fácil se deixar absorver pela voz do que pela personagem dela. Spacek narra, em off, a estória de modo suave. Sua personagem é a que mais se aproxima do espectador, até por causa de sua passividade diante dos acontecimentos, do aceitar as coisas do jeito que elas são. Apenas num único momento do filme ela decide não seguir o caminho do namorado. 

Li que no cinema de Terrence Malick, o som das vozes é quase tão importante quanto as imagens. O que me lembra o valor dado à musicalidade da voz na poesia simbolista, o que é uma ironia, já que os filmes de Malick evitam a simbologia. Seus três primeiros filmes, todos trazem um narrador. No caso de ALÉM DA LINHA VERMELHA, são múltiplos narradores interferindo, muitas vezes, em momentos que nem são eles que aparecem na tela. Será que em THE NEW WORLD haverá também um narrador? 

Dizem que atualmente o maior seguidor do cinema de Malick é o jovem David Gordon Green, dos filmes PROVA DE AMOR e CONTRACORRENTE. É uma comparação a se observar.

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