Assim como Terrence Malick, o diretor Abraham Polonsky é conhecido por sua resumida filmografia (de apenas três títulos). Diferente de Malick, que teve razões pessoais pelo afastamento de vinte anos no cinema, Polonsky foi vítima do macarthismo, da caça às bruxas que assolou Hollywood durante as décadas de 50 e 60. Polonsky era marxista e filiado ao Partido Comunista. Ele nunca negou quando teve que prestar contas com o Comitê de Atividades Anti-Americanas. Seu parceiro, o ator John Garfield, também entrou na malha fina do comitê.
FORÇA DO MAL (1948) é um filme bastante complexo e que precisa ser visto mais de uma vez para que seja melhor absorvido, mas logo de cara já é possível ver que Polonsky faz questão de mostrar que a força do mal do título é o dinheiro. Respondendo a uma entrevista, Polonsky disse que "não há nada de errado com o dinheiro, exceto que você pode manipular o dinheiro e, conseqüentemente, as pessoas." O tema de FORÇA DO MAL é a eliminação do indivíduo no mundo dos negócios. No filme, ele ataca de frente o sistema capitalista.
A dificuldade de entender a rede de intrigas do filme já começa com a estranheza do ambiente. A história se passa no mundo das empresas de loteria ilegal dos anos 40. Como os EUA ainda estavam se reerguendo por causa da Grande Depressão, muita gente tinha que procurar caminhos alternativos para sobreviver. A própria polícia sabia dos inúmeros "bancos" de loteria, mas só agia quando recebia telefonemas de denúncia. É mais ou menos o que acontece com os camelôs do centro da cidade aqui no Brasil. O comércio é proibido, mas dificilmente as autoridades intervêm.
Na trama de FORÇA DO MAL, John Garfield (também produtor do filme) trabalha com um desses bancos. Ele aceita fazer parte de um complô que acabará por unificar os vários "bancos" e garantir o poderio de um poderoso gângster de Nova York. Garfield quer que o irmão, que também trabalha num desses bancos, entre no negócio, até para protegê-lo da quebra que derrubará quem não fizer parte da chamada corporação.
O filme é uma espécie de melodrama em film noir carregado de elementos do expressionismo, com destaque para o uso de muitas escadarias e prédios antigos. Achei curioso o filme mostrar uma Wall Street esvaziada, dando uma sensação de angústia. O sentimento de culpa dá o tom no filme de modo crescente até o trágico final. A fotografia em preto e branco acentuando a arquitetura do local lembra alguns filmes de Hitchcock, como A TORTURA DO SILÊNCIO e O HOMEM ERRADO.
FORÇA DO MAL saiu em DVD no Brasil pela ClassicLine, uma das distribuidoras que mais têm contribuído com filmes de qualidade no mercado. Suas capinhas amarelas podem não parecer nada atraentes, mas até nisso a empresa tem melhorado, agora que assinou uma parceria com a FOX. Reparem nas capinhas dos novos DVDs, como as de BUFFALO BILL e CONSCIÊNCIAS MORTAS, ambos de William Wellman, lançados recentemente. De dar gosto.
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