domingo, outubro 02, 2005

A FEITICEIRA (Bewitched)

 

Nessas últimas semanas, a atividade de ir ao cinema tem sido menos prazerosa pra mim. A quantidade de filmes ruins que pipocam nas salas de exibição chega a ser assustadora. Ou desanimadora. Na semana passada, tive o desprazer de ver OS GATÕES - UMA NOVA BALADA, filme baseado numa série de televisão dos anos 70. A FEITICEIRA (2005), de Nora Ephron, não é tão ruim quanto o tal filme dos idiotas que curtem carros, mas também faz parte dessa época negra que Hollywood está atravessando, tendo que apelar para versões de séries de tv. A explicação talvez esteja no fato de que muitas séries de televisão da atualidade estão dando de dez a zero na maioria dos blockbusters idiotas que são despejados nas salas de cinema, sem o menor respeito com o público, nem com o passado glorioso que o cinema americano ostenta. Como muita gente está se voltando para as séries, os executivos de Hollywood talvez imaginem que os apreciadores de seriados irão sair de suas casas para ver versões milionárias, mas ridículas, das séries de sucesso do passado. Ledo engano. 

A FEITICEIRA foi um estrondoso fracasso, apesar do carisma e da beleza de Nicole Kidman e da popularidade de Will Ferrell. Sou fã de Nicole e aprendi a gostar de Ferrell recentemente, com MELINDA E MELINDA, mas o casal de astros não segura essa comédia boba e sem graça. Dois outros astros veteranos - Michael Caine e Shirley MacLaine - também estão presentes para pagar suas contas. 

O nome de Nora Ephron está associado a um de meus filmes favoritos, que é a bela comédia romântica HARRY E SALLY - FEITOS UM PARA O OUTRO (1989), de Rob Reiner: Nora é creditada como roteirista. Pena que, depois desse filme, sua carreira como diretora não deu muito certo, mesmo se contarmos com o sucesso comercial de outras comédias românticas com a presença de Meg Ryan - SINTONIA DE AMOR (1993) e MENSAGEM PARA VOCÊ (1998) - que ela dirigiu. 

Na trama de A FEITICEIRA, Nicole Kidman é uma bruxa com problemas de auto-estima por não conseguir fazer nada em sua vida que não seja com o auxílio dos seus truques de bruxaria. Ela sonha em encontrar algum homem perdido que precise de sua ajuda. Esse homem surge na figura de Will Ferrell, o astro de cinema egocêntrico, mas que no fundo também tem problema de auto-estima. Seu agente tem que lhe dar um empurrãozinho de vez em quando para que ele possa agir da melhor maneira possível. Seus caminhos vão se cruzar quando Ferrell está à procura de uma desconhecida para viver a bruxa Samantha na versão para cinema do antigo seriado A FEITICEIRA (1964-1972). 

A FEITICEIRA seria um filme sobre a dificuldade de se fugir de si mesmo, seja por causa do preconceito da sociedade (no caso da personagem de Nicole), seja por causa do egoísmo (no caso do personagem de Ferrell). Mas falta ao filme muita coisa para que esse tipo de mensagem ganhe algum significado. Faltam diálogos bons, faltam cenas engraçadas e falta, principalmente, cinema. Em seu favor, o filme consegue recriar o clima dos anos 60 mesmo se passando no mundo contemporâneo. O que é muito pouco.

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