segunda-feira, janeiro 31, 2005

JERRY LEWIS EM TRÊS FILMES

 

Os filmes de Jerry Lewis eram dos poucos que eu curtia ver quando criança, nas sessões da tarde. Ao contrário de muitos cinéfilos que tem um histórico de curtir filmes desde a mais tenra idade, só iniciei minha cinefilia perto dos 16 ou 17 anos. Na infância eu gostava mesmo era de histórias em quadrinhos. E dos filmes de Jerry Lewis. Algumas cenas clássicas de seus filmes permanecem na memória até hoje. Acho que um dos que mais me lembro, entre os dirigidos por ele, é O TERROR DAS MULHERES (1961). Demorou até que alguma distribuidora lançasse em DVD os filmes de Lewis, que hoje é considerado um grande autor, graças principalmente à turma de jovens críticos franceses dos Cahiers du Cinema. Lewis é um exemplo de artista múltiplo: ele é ator, comediante, diretor, produtor, escritor, entertainer e ainda arrisca como dançarino e cantor. Além disso, ele foi o inventor do video assist em 1960, para poder assistir a sua própria performance durante as gravações do primeiro filme que ele dirigiu - O MENSAGEIRO TRAPALHÃO (1960). Hoje o video assist é usado por todo mundo, como uma ferramenta essencial. O pacote lançado pela Paramount contém cinco filmes dirigidos por Lewis - O MENSAGEIRO TRAPALHÃO, O TERROR DAS MULHERES, MOCINHO ENCRENQUEIRO (1962), O PROFESSOR ALOPRADO (1963) e O OTÁRIO (1964) - e um dirigido por Don McGuire - DELIQÜENTE DELICADO (1957), filme que marcou o primeiro vôo solo de Lewis, longe da parceria bem sucedida com Dean Martin nos anos 50. Abaixo, comentários rápidos de três filmes desse pacote. 

O MENSAGEIRO TRAPALHÃO (The Bellboy) 

Primeiro filme dirigido por Jerry Lewis, O MENSAGEIRO TRAPALHÃO é um filme sem história, algo novo pra época. Tanto que o filme começa com uma apresentação de um senhor comentando com gargalhadas sobre o quanto o filme era engraçado e sobre esse detalhe de o filme não ter uma história. Trata-se de uma série de sketches, quase parecendo cinema mudo (o personagem de Lewis não fala nada o filme inteiro), mas com uma excelente utilização do som. O filme lembra um pouco o estilo de Jacques Tati no seu AS FÉRIAS DO SR. HULOT, inclusive na utilização de poucos closes e muitos planos gerais. É um filme de humor totalmente visual. A minha cena preferida é aquela em que o gerente do hotel chama um dos bellboys e Jerry confude todos os seus colegas indo e voltando. Falando assim não tem a menor graça - tem que ver mesmo. Outras cenas clássicas: a cena das cadeiras, a cena do motor do carro e a cena da caixa de chocolates. Destaque para a participação de Jerry Lewis num papel duplo, fazendo o astro Jerry Lewis(!). No DVD há alguns mini-documentários e um comentário em áudio de Lewis com Steve Lawrence. Pena que esses comentários não acrescentam nada. Os dois homens limitam-se a ficar vendo o filme e rindo das piadas. Uma curiosidade que fiquei sabendo através de um documentário no DVD de O PROFESSOR ALOPRADO é que Lewis inicialmente tentara chamar Billy Wilder para dirigir esse filme, mas Wilder não entrou em acordo com o estúdio e por isso, Lewis tomou coragem e dirigiu o filme ele mesmo. 

MOCINHO ENCRENQUEIRO (The Errand Boy) 

Não tão bom quanto O MENSAGEIRO TRAPALHÃO, esse terceiro filme dirigido por Lewis é mais convencional. Pode-se dizer que tem uma história, mas é um filme que se sustenta mais nas situações engraçadas. No filme, Jerry Lewis é um sujeito desastrado que é convidado por um chefão de um estúdio de cinema para trabalhar de errand boy, ajudando e fazendo mandados em diversas áreas da companhia. Secretamente ele seria um espião disfarçado. Esse ponto de partida é apenas um pretexto para uma série de situações desastrosas em que Jerry vai se meter. Destaque para a cena dos menininhos comprando balas. Os comentários em áudio desse filme são de cenas selecionadas e não mais do filme todo. Acho que viram que não dava pra ficar rindo o filme inteiro. 

O PROFESSOR ALOPRADO (The Nutty Professor) 

Considerado por muitos a obra-prima de Jerry Lewis, O PROFESSOR ALOPRADO conta a história de um professor desastrado, míope, dentuço e sem moral com os alunos, que dá aulas de química numa universidade. Depois de sofrer a humilhação de um aluno, ele decide experimentar em si mesmo uma fórmula que o transformará em alguém diferente. Ele se transforma, então, em Buddy Love, uma versão arrogante e paqueradora dele mesmo - um sucesso. Seria a chance de conquistar a garota de seus sonhos: a bela aluna Stella Stevens. Só que o efeito da fórmula não dura muito. O filme retoma o tema dos heróis humilhados dos outros filmes de Lewis, dando mais profundidade aos personagens. Nos extras do DVD, além de comentário em áudio de Lewis e Steve Lawrence (rindo como sempre), há um documentário muito legal de cerca de meia hora, chamado "Jerry Lewis no Trabalho", trazendo uma retrospectiva de seu trabalho desde O DELIQÜENTE DELICADO, passando por BANCANDO A AMA-SECA (1958), CINDERELO SEM SAPATO (1960), O MENSAGEIRO TRAPALHÃO, MOCINHO ENCRENQUEIRO e O OTÁRIO. O documentário infelizmente não cobre os últimos sete subestimados filmes de Lewis. Há também um outro documentário, de 15 minutos, intitulado "O Professor Aloprado - Aperfeiçoando a Técnica", além de várias cenas deletadas, material promocional e erros de gravação. Agora é esperar que lancem por aqui os filmes que Jerry fez com Dean Martin, de preferência os dirigidos por Frank Tashlin.

domingo, janeiro 30, 2005

HITCHCOCK E INGRID BERGMAN

 

Ingrid Bergman foi uma das estrelas mais importantes de Hollywood. Hoje ela é mais lembrada pelo seu papel em CASABLANCA (1942), mas também é conhecida por ser uma das principais musas de Alfred Hitchcock, que a dirigiu em três filmes: QUANDO FALA O CORAÇÃO (1945), INTERLÚDIO (1946) e SOB O SIGNO DE CAPRICÓRNIO (1949). Em 1949, ela foi para a Itália filmar STROMBOLI, de Roberto Rossellini, por quem se apaixonou. Ela largou o marido e a filha nos EUA pra ficar com o diretor italiano e recebeu uma publicidade escandalosa. Teve três filhos com Rossellini, entre eles, as gêmeas Isotta e Isabella Rosselini, que viraria estrela de um outro grande diretor nos anos 80. Ingrid trabalhou com Rossellini de 1951 a 1955 e se divorciou dele em 1957. Hitchcock jamais a perdoou por tê-lo trocado por Rossellini. QUANDO FALA O CORAÇÃO foi visto num DVD de banca que, ao contrário do DVD de CORRESPONDENTE ESTRANGEIRO (1940), está com a qualidade bem decente, valorizando a bela fotografia do filme. Já INTERLÚDIO, vi numa horrorosa cópia em VHS da Continental. Já tinha visto esses dois filmes há muito tempo, mas eles estavam quase perdidos na minha memória. Fez-se necessário revê-los. 

QUANDO FALA O CORAÇÃO (Spellbound) 

Ficou conhecido por ser o primeiro filme a falar de psicoterapia freudiana. Também recebeu destaque por causa de uma cena de sonho do personagem de Gregory Peck, que foi idealizada pelo mestre surrealista Salvador Dali. É uma seqüência bem interessante e um dos pontos altos do filme. Na história, Ingrid Bergman é uma médica de um asilo de doentes mentais. O diretor do hospício se aposentou e aguarda-se a chegada do seu substituto, o Dr. Edwardes. O substituto (Gregory Peck) chega. Ingrid se apaixona por ele à primeira vista, mas descobre que ele não é de fato o Dr. Edwardes, mas alguém com amnésia, que suspeita ter matado o médico. Numa famosa cena no final do filme, o médico diretor do hospital aponta uma arma para Ingrid, e Hitchcock usa um recurso interessante: coloca uma mão e um revólver gigantes e uma imagem de Ingrid em retroprojeção. O filme envelheceu bastante, ficou cafona, a solução da trama é um pouco ridícula e é talvez o mais fraco filme de Hitchcock da década de 40. Mesmo assim, é essencial para os fãs do mestre do suspense. 

INTERLÚDIO (Notorious) 

A segunda parceria de Ingrid Bergman com Hitchcock foi bem melhor. INTERLÚDIO é um dos meus favoritos do diretor. Até porque o par romântico da atriz é um autêntico astro hitchcockiano: Cary Grant. A trama do filme se passa logo no fim da guerra, quando um espião nazista é condenado por um tribunal americano. Esse espião é o pai de Ingrid Bergman, que é convidada por um funcionário do governo (Grant) para uma missão secreta. Ela aceita e parte para o Rio de Janeiro, onde está escondido um outro espião nazista (Claude Rains), que era amigo de seu pai. Sua missão é se aproximar dele o máximo possível para descobrir algum segredo. Como é de se esperar nos filmes de Hitchcock, a moça se apaixona pelo funcionário do Governo. Mas a surpresa aparece quando Claude Rains pede a ela em casamento. Há duas seqüências inesquecíveis nesse filme: a cena da chave durante uma festa; e a seqüência final, em que Cary Grant sobe as escadas da casa de Rains para resgatar Ingrid, que estava sendo envenenada pela família nazista. Emocionante. Um detalhe interessante: na época, a publicidade do filme anunciava "o beijo mais longo da história do cinema". Os beijos nos filmes de Hitchcock são quase sempre especiais. O meu preferido continua sendo o beijo na porta do apartamento entre Grace Kelly e Cary Grant em LADRÃO DE CASACA (1955). 

Infelizmente SOB O SIGNO DE CAPRICÓRNIO, o último filme que Ingrid fez com Hitch, aparentemente não está disponível em vídeo no Brasil. Esperemos, então, uma cópia em DVD decente para esse grande filme num futuro próximo. Lembro de tê-lo visto numa madrugada na Globo e o achei espetacular.

sábado, janeiro 29, 2005

OS SONHADORES (The Dreamers / Les Innocents / I Sognatori)

 

Eis que finalmente estréia em Fortaleza OS SONHADORES (2003), de Bernardo Bertolucci. O filme tem um sabor especial para os cinéfilos, esses seres estranhos que adoram uma salinha escura e parecem participar de uma espécie de religião pagã, onde os deuses são os grandes diretores e astros das telas. 

Desde que vi o trailer desse filme, com a primeira imagem de Michael Pitt, a nudez de Eva Green e o som de "Hey Joe", que fiquei entusiasmado para vê-lo. Sabia que se tratava de um filme especial. Gostei do fato de Bertolucci ter preferido não se ater muito à política e tratar mais do relacionamento dos três jovens e do fascínio que o cinema exerce sobre eles, quase sempre com rock and roll ao fundo. Fazendo dessa maneira, o diretor fez um filme poético, sem pressa de chegar a algum lugar, sem a preocupação de contar uma história redonda, apenas extraindo imagens de uma beleza hipnótica. 

A história acontece na Paris de 1968. Naquela época Henry Langlois, diretor da Cinemateca Francesa, tinha sido demitido pelo Ministro da Cultura do presidente Charles De Gaulle, o que ocasionou protesto entre cinéfilos e cineastas. Inclusive, o célebre ator Jean-Pierre Léaud, que incorporou o mais importante dos personagens da Nouvelle Vague, o Antoine Doinel dos filmes de Truffaut, faz uma ponta no filme, refazendo o discurso de protesto contra a demissão de Langlois. Esse evento marcou o início de uma série de manifestações que culminaram no maio de 68, com muitos estudantes indo às ruas e enfrentando a polícia. 

São várias as homenagens a grandes filmes. Ao longo do filme, vemos cenas de PAIXÕES QUE ALUCINAM, SCARFACE, BAND À PARTE, FREAKS, ACOSSADO, LUZES DA CIDADE, A VÊNUS PLATINADA, A RAINHA CHRISTINA, entre outros. Além disso, há a velha discussão sobre quem é melhor: Charles Chaplin ou Buster Keaton?; a famosa esnobada que os americanos davam a Jerry Lewis; e a entusiasmada frase de Godard, que dizia que "o cinema é Nicholas Ray". Ray, aliás, é o primeiro assunto discutido assim que os personagens de Michael Pitt e Louis Garrel se encontram. 

Mas chega um momento em que as citações aos filmes são deixadas um pouco de lado (ou pelo menos deixam de ser explícitas) para que o filme possa se concentrar mais no relacionamento entre os jovens irmãos gêmeos Isabelle (Eva Green, em sua estréia no cinema) e Theo (Louis Garrel) com o jovem americano Mathew (Michael Pitt, de A VILA). Desde que se conhecem, Mathew acha estranha a relação entre os dois irmãos, que parece ser incestuosa. Uma das cenas mais memoráveis do filme é aquela que mostra a primeira transa de Isabelle com Mathew, no chão da cozinha, enquanto o irmão frita uns ovos. 

A trilha sonora do filme é um espetáculo à parte: Jimmy Hendrix, Janis Joplin, The Doors, Grateful Dead e no final tem a maravilhosa "Je ne regrette rien", na voz de Edith Piaf, deixando na boca um gostinho de saudade - até mesmo em quem não viveu naqueles anos. 

OS SONHADORES é um dos grandes filmes de Bertolucci. Tem um ritmo que até pode incomodar a alguns, o final é meio atabalhoado, e às vezes dá impressão que Bertolucci não sabe o que fazer com tanta coisa junta no mesmo filme, mas dou graças aos deuses do cinema por esse filme existir. 

P.S.: Pra quem gostou da linda Eva Green, a moça vai estar em KINGDOM OF HEAVEN, de Ridley Scott, filme sobre as Cruzadas no século XII. Pena que se trata de outro tipo de cruzadas. 

P.P.S.: Várias pessoas já leram, mas quem quiser conferir um texto inédito meu intitulado "O amor no cinema - um top 5", é só entrar na sessão de colunas do site Cinema com Rapadura

P. P.P.S: Pra não dizerem que eu só falo de mim e de mulher gostosa, deixo aqui uma dica de um blog sensacional: O Olho de Hochelaga, de Milton do Prado, direto de Montreal. No topo da página, tem um texto ótimo sobre O AVIADOR, de Martin Scorsese, que já está em cartaz no Canadá.

quinta-feira, janeiro 27, 2005

O CINEMA INDEPENDENTE AMERICANO EM TRÊS FILMES

 

E o número de filmes vistos e não resenhados só aumenta nessas férias. Atualmente são 13 na lista. O que me força a fazer esses resumos rasteiros de alguns filmes antes que eles sumam de minha memória. Mas falar sobre os filmes vistos - alguns há quase um mês - até que ajuda a trazê-los de volta à mente. Os três filmes foram vistos em DVD. 

FALANDO DE SEXO (Speaking of Sex) 

Talvez eu esteja forçando a barra em colocar FALANDO DE SEXO (2001), de John McNaughton junto desses outros dois que têm mais cara de cinema indie, mas como McNaughton é praticamente um marginal na indústria americana, e esse filme foi produzido em conjunto com o Canadá, então tá valendo. Achei que ia gostar mais desse filme. Vai ver não estava de bom humor para apreciar uma comédia screwball atualizada e mais apimentada. Falar da trama do filme ia levar muitas linhas, mas dá pra resumir um pouco dizendo que é a história de um casal que vai à procura de um terapeuta porque o marido não está conseguindo uma ereção com a mulher sem uso do Viagra. Nesse filme, os médicos (James Spader e Lara Flynn Boyle) são mais doidos que os pacientes (Melora Walters e Jay Mohr). Destaque para a participação de Bill Murray, já velho conhecido de McNaughton, fazendo o seu tipo habitual. A mim, o filme não disse muita coisa, mas reparei que ele esteve em algumas listas de melhores do ano de alguns blogueiros célebres. 

O SHOW DA VIDA (The Jimmy Show) 

Um dos filmes mais tristes dos últimos anos. Ontem eu estava conversando pelo MSN com o amigo Pablo e ele me perguntou qual seria um top 5 de canções de losers. Aí eu falei lá umas cinco e ele comentou sobre uma famosa canção do Joy Division, e eu falei que Joy Division vai além da tristeza. Nas canções dessa banda, não há mais angústia ou desespero. Só resta desesperança. É mais ou menos o que a gente sente ao ver esse filme, que nem mesmo faz a gente chorar. E o pior é que sabemos que existem milhões de pessoas nesse mundo que não encontram satisfação na vida. Até aquilo que eles mais amam fazer é ruim, ninguém gosta. O SHOW DA VIDA (2002), de Frank Whaley, é a história de um cara normal, que tem um emprego miserável que ele odeia, que tem que cuidar de sua avó inválida e sonha em se tornar um grande comediante. O problema é que ele não tem a menor graça. E quando ele achava que a vida não podia ficar pior, ela fica. Tristeza chega e fica com esse filme. Ethan Hawke tem uma participação pequena. 

ANTI-HERÓI AMERICANO (American Splendor) 

Engraçado que nesses tempos de adaptações de quadrinhos para as telas, uma das melhores não seja um filme de super-herói. Pelo contrário, é de um sujeito comum, meio loser até. A maior glória da vida de Harvey Pekar (interpretado por Paul Giamatti, ótimo) foi ter tido a idéia de escrever histórias em quadrinhos sobre a sua vida sem graça. Isso, muito antes de SEINFELD existir e trazer o conceito da série sobre "nada". Ajudado pelo amigo e já superstar das HQs Robert Crumb, ele cria a sua própria revista, a American Splendor, que vira um sucesso. Pekar até arranja uma esposa por causa de seus quadrinhos. Uma das coisas que eu mais gostei em ANTI-HERÓI AMERICANO (2003) foi uma certa semelhança com CARO DIÁRIO, de Nanni Moretti, especialmente na seqüência em que a mulher de Pekar resolve registrar, também em quadrinhos, a sua luta contra o câncer. Lembrei imediatamente da luta de Moretti contra uma coceira no citado filme. Mas o filme americano tem brilho próprio. E é bacana conhecer os verdadeiros Harvey Pekar, sua mulher e seu amigo nerd, que aparecem durante o filme. Um detalhe: quando eu achava que o ator estava exagerando ao interpretar caricaturalmente o nerd, qual é minha surpresa ao ver que ele estava sendo bastante fiel. ANTI-HERÓI AMERICANO já é o quarto filme dirigido pela dupla Robert Pulcini e Shari Springer Berman. Os outros três, acredito que sejam inéditos no Brasil.

quarta-feira, janeiro 26, 2005

CORRESPONDENTE ESTRANGEIRO (Foreign Correspondent)

 

Ao término de CORRESPONDENTE ESTRANGEIRO (1940), fiquei imaginando o impacto que esse filme deve ter causado para os americanos. Isso porque nessa época, estourava a Segunda Guerra Mundial e o final do filme é dramático e emocionante. O filme é dedicado aos correspondentes de guerra. 

Alfred Hitchcock tinha profundo respeito por quem combatia na Grande Guerra. Tanto que em 1944, chegou a fazer dois curtas para o Ministério da Informação Britânico para compensar a sua impossibilidade de ir à guerra. Eram filmes que louvavam a Resistência Francesa. Será que esses curtas chegaram a serem lançados nos EUA? Os títulos são BON VOYAGE e AVENTURE MALGACHE. 

Voltando a CORRESPONDENTE ESTRANGEIRO, o filme é uma típica aventura de perseguição hitchcockiana, da linha de OS 39 DEGRAUS (1935), SABOTADOR (1942) e INTRIGA INTERNACIONAL (1959), mas que também tem algo em comum com A DAMA OCULTA (1938), pelo uso do MacGuffin e de criativas retroprojeções. 

Lendo a entrevista do livro Hitchcock/Truffaut, soube que nessa época a história de aventura era considerada pelos americanos um gênero inferior. Tanto que Hitchcock queria para esse filme um grande astro - até chamou Gary Cooper, que recusou -, mas teve que se contentar com Joel McCrea, um ator de segundo escalão. Engraçado como McCrea é fraco e perde espaço para um coadjuvante (George Sanders) que faz um papel bem menor que o dele. 

Na história, McCrea é um jornalista americano que é enviado a Europa para cobrir uma grande história de guerra no início de 1939, momentos antes de a Inglaterra declarar guerra aos alemães. Ao chegar lá, apaixona-se pela filha do presidente de uma associação pacifista, que na verdade é um espião nazista. A trama esquenta quando McCrea testemunha um suposto atentado a um diplomata holandês. 

Isso acontece numa seqüência memorável, numa praça cheia de pessoas com guarda-chuvas. Mas há outras seqüências melhores: a seqüência no moinho na Holanda e a incrível queda do avião no mar. Já tinha lido que a cena era caprichada, mas não esperava tanto. Principalmente para os padrões da época. Na entrevista para Truffaut, Hitchcock explica a maneira inventiva que ele usou para fazer essa seqüência. Quando o avião cai na água, fiquei imaginando o que teria saído se Hitchcock tivesse mesmo feito um filme sobre o Titanic. Uma pena que UM BARCO E NOVE DESTINOS (1943), um filme que se passa dentro d'água, não tenha sido lançado ainda aqui no Brasil. 

Um detalhe que eu quase ia esquecendo de contar é que vi o filme num DVD que saiu nas bancas e que está com uma imagem horrível, bem pior que a cópia da Continental. Em certos momentos do filme, principalmente em cenas escuras, mal dá pra se ver alguma coisa, além das legendas. Mas o filme é tão bom que com o tempo eu quase esqueci desse empecilho.

terça-feira, janeiro 25, 2005

O ABRAÇO PARTIDO (El Abrazo Partido)

 

O novo cinema argentino tem quase sempre me dado prazer. Mas mais cedo ou mais tarde, esse cinema também poderia a vir me aborrecer. Foi o que aconteceu com O ABRAÇO PARTIDO (2004), de Daniel Burman. Pra mim, foi realmente uma surpresa, já que eu esperava gostar bastante do filme, que até ganhou dois prêmios importantes no Festival de Berlim. 

No filme, Daniel Hendler é um rapaz argentino e descendente de poloneses que espera melhorar de vida se conseguir uma cidadania polonesa e assim se dar bem na comunidade européia. Ele trabalha numa galeria, formada por várias mini-lojas. Interessante como a maioria dos filmes argentinos mostra a dificuldade econômica que o país está passando. Pudemos ver isso, por exemplo, em NOVE RAINHAS, O FILHO DA NOIVA e LUGARES COMUNS. Nessa galeria comercial de O ABRAÇO PARTIDO, as dificuldades para pagar as contas também é objeto de preocupação de todos. 

Uma das razões de eu não ter gostado do filme talvez tenha sido o fato de eu esperar ver um filme sobre alguém que vai viajar para a Europa, para tentar a vida, transformar a sua rotina em algo novo e excitante. E o que eu vi foi um filme centrado num lugar chato, com pessoas pouco interessantes e um protagonista meio perturbado. De tanto correr feito doido, ele mais parecia uma versão masculina da personagem de Cléo Pires em BENJAMIM. 

Outra coisa que me fez ficar aborrecido com o filme foi o uso da câmera na mão, quase sempre muito próxima dos atores, com poucos planos gerais, deixando uma sensação de claustrofobia. A câmera não está tão próxima como em O FILHO, dos irmãos Dardenne, mas no que o filme belga tinha de intrigante, o filme argentino tem de tedioso. Nem mesmo a loirinha que trai o marido idoso e que é a aventura amorosa do rapaz chega a esquentar o filme. Ou a ex-namorada que ele encontra grávida por acaso. Ou mesmo o mais importante de todos os coadjuvantes: o pai do rapaz, que aparece ferido de guerra, justificando o título do filme. Nem amigos legais ele tinha. Então, porque diabos ele não se mandava logo do lugar? 

O ator Daniel Hendler trabalhou pela terceira vez com o diretor Daniel Burman. Anteriormente, os dois trabalharam em ESPERANDO O MESSIAS (2000) e TODAS AS AEROMOÇAS MERECEM O CÉU (2002), dois filmes que não me lembro se foram exibidos comercialmente no Brasil.

segunda-feira, janeiro 24, 2005

ELEKTRA

 

A personagem Elektra, criada por Frank Miller para ser, ao mesmo tempo, par romântico e inimigo do Demolidor, foi um dos ícones da minha infância. Eu acompanhava com entusiasmo as antigas histórias do Demolidor, antes publicadas na década de 80 na revista Superaventuras Marvel, e recentemente republicadas pela Panini em quatro volumes de luxo. A história da morte da anti-heroína pelas mãos do Mercenário vai ficar guardada na minha memória enquanto eu viver. Na época, fiquei tão chocado com a violenta morte dela, que achei que Frank Miller me trapaceou ao inventar depois uma ressurreição para a personagem. 

Depois dessa ressurreição, nem Miller, nem outro artista soube cuidar dos rumos da personagem. Recentemente ela, com revista própria, mas com o título já cancelado nos EUA, recebeu boas histórias escritas por Greg Rucka e Robert Rodi. Rucka fez um excelente arco chamado "Introspecção"(*), mas depois se perdeu tentando humanizar a personagem com essa história de purificação. Já Rodi preferiu fazer histórias mais superficiais mostrando apenas Elektra fazendo o que mais sabe fazer: matar. 

É a partir de uma dessas histórias de Rodi, o arco "O Alvo / O Trabalho"(**), que o filme ELEKTRA (2005), se inicia. Mas esse prólogo inspirado na história de Rodi, mostrando um homem marcado para morrer nas mãos da ninja, funciona apenas para que o espectador saiba que ela é uma assassina mercenária. 

Depois disso, o filme não ousa mais mostrar o lado negro de Elektra. A moça é contratada para matar um pai e uma filha, mas depois de uma ceia de natal, ela hesita e acaba os salvando das mãos do Tentáculo. 

Por falar em Tentáculo, fico imaginando se o filme deixa claro para o espectador que nunca leu os quadrinhos, que Elektra fez parte do Tentáculo, depois de ter sido rejeitada pelo grupo de Stick, que no filme é interpretado por um Terence Stamp em decadência. 

ELEKTRA consegue ser pior que o filme do Demolidor. Os roteiristas não conseguiram criar uma história nem mesmo boa. E o diretor Rob Bowman, de ARQUIVO X - O FILME (1998), só soube subutilizar os clichês do gênero. Outra coisa: o velho truque da pessoa que tem um pesadelo e se levanta rapidamente da cama enche o saco no filme de tão repetido que é. Os vilões também não são interessantes. Uma das inimigas do Demolidor, a Mary Tyfoid, aparece, mas com poderes diferentes dos quadrinhos. Há também outro vilão que eu nunca vi, o Tatuagem, que só serve para mostrar que os técnicos do filme sabem usar o CGI. 

Com todo respeito aos fãs de Jennifer Garner, não acho que ela tenha carisma e beleza suficientes para levar um filme ruim desses nas costas. Talvez falte da minha parte ter acompanhado a série ALIAS. Que eu gostaria muito, mas só se fosse a partir da primeira temporada. Assim com o bonde andando eu não quero não. Digo isso, porque é mais fácil afeiçoar-se a uma atriz e achá-la até mais bonita quando se acompanha e se curte uma série. Como é o exemplo das atrizes de SEX AND THE CITY, que de tanto eu gostar da série, acho-as todas bonitas e atraentes. 

(*) Publicado em Justiceiro e Elektra # 1 a 5 
(**) Publicado em Demolidor # 1 e 2

domingo, janeiro 23, 2005

HISTÓRIAS EXTRAORDINÁRIAS (Histoires Extraordinaires / Spirits of the Dead / Tre Passi nel Delirio / Tales of Mystery and Imagination)

 

Movido pelo interesse na obra de Edgar Allan Poe e pela curiosidade em ver adaptações de seus contos para o cinema pelas mãos de cineastas tão incomuns ao gênero, aluguei esse curioso filme de episódios de 1968. Fiz questão de ler os contos antes de ver o filme para ter idéia do quanto os diretores e roteiristas mudaram para a adaptação. 

Nos anos 60, o cinema europeu estava muito mais interessante que o americano. Isso porque os americanos, talvez por causa de seu puritanismo, demoraram mais a assimilar o clima de transgressão trazido pela contracultura na época. Os europeus estavam anos à frente deles. Até para adaptações de contos de terror de Poe, que as pessoas estavam acostumadas a ver de maneira tradicionalmente gótica nas produções de Roger Corman, os europeus colocaram doses de sexo e psicodelia. Os três episódios foram dirigidos por Roger Vadim, Louis Malle e Federico Fellini. 

Vadim era famoso por fazer filmes ruins e por ter se casado com três beldades: Brigitte Bardot, Catherine Deneuve e Jane Fonda. Ele dirigiu o episódio "Metzengerstein", protagonizado pela sua então mulher Jane Fonda, meses antes de a moça virar símbolo sexual com a ficção científica sacana BARBARELLA. Jane Fonda aparece sempre com figurinos ousados, sempre com as pernas de fora, mas o episódio não chega a mostrar cenas de nudez. O conto de Poe em que o filme se baseia contava a história de um barão húngaro (no filme o personagem é uma mulher) que fica obcecado por um cavalo. Esse cavalo tinha misteriosamente saído de um tapete (!). Poe descrevia o cavalo como sendo realmente assustador, com olhos vermelhos ameaçadores e dentes de fera. O cavalo do episódio de Vadim não desperta o menor medo, uma criatura inofensiva. Vadim parece que não sabia o que fazer com o conto e colocou exaustivas cenas de Jane Fonda passeando alegremente com o cavalo. 40 minutos de tédio. 

A coisa melhora com o episódio "William Wilson", dirigido por Louis Malle. Nesse conto, Alain Delon é o personagem título que é sempre perturbado por um homem que tem o mesmo nome que ele. Curiosamente, esse homem sempre aparece quando Wilson está fazendo alguma coisa errada. As liberdades que Malle tomou para a adaptação foram bem interessantes. Há uma provocante cena de tortura com uma loirinha linda, nua e amarrada, que eu até achei que fosse a Brigitte Bardot. Mas Brigitte só aparece depois de cabelo preto. Muito bom o episódio de Malle. 

Mas o melhor dos três é mesmo o episódio "Toby Dammit", dirigido por Federico Fellini, estrelado por Terence Stamp e adaptado do conto "Nunca Aposte Sua Cabeça com o Diabo". Fellini, como grande autor que é, imprime sua marca inconfundível e nos oferece um episódio cheio de tipos esquisitos (as freiras parecem ter saído de um sonho), afastando-se bastante da história original de Poe. De semelhante mesmo, apenas a seqüência final. Um detalhe interessante é que Fellini roubou uma personagem do filme MATA, BEBÊ, MATA! (1966), de Mario Bava: a garotinha que faz o papel do diabo. A menininha diabólica também serviu de inspiração para A ÚLTIMA TENTAÇÃO DE CRISTO (1988), de Martin Scorsese. 

O DVD da Cinemagia vem com um texto do amigo e especialista em horror europeu Carlos Thomaz Albornoz. Pra quem quiser ler o esclarecedor texto do Thomaz, ele foi publicado na Carcasse.

sexta-feira, janeiro 21, 2005

CLOSER - PERTO DEMAIS (Closer)


Que sensação gostosa é sair do cinema admirado e deslumbrado por causa de um grande filme. CLOSER (2004), de Mike Nichols, é talvez o melhor filme do veterano diretor desde ÂNSIA DE AMAR (1971).

Nunca eu curti tanto um filme adaptado de uma peça de teatro. E o filme tem mesmo cara de teatro, o que geralmente depõe contra, deixando-o cansativo e excessivamente verborrágico. Ao contrário, o que mais encanta em CLOSER são os diálogos, o belíssimo texto de Patrick Marber. Some-se aí a direção de atores estupenda de Nichols, quatro atores em estado de graça e temos uma pequena obra-prima.

A força das palavras é o grande trunfo do filme. Aqui, as palavras são tão importantes quanto os sentimentos ou as carícias ou mesmo o sexo. As palavras ferem mais do que qualquer coisa física quando associadas ao amor. Mesmo o amor frio da personagem de Julia Roberts, que conta ao marido traído (Clive Owen) detalhes do sexo que fizera com o então amante Jude Law. Claro que conversas íntimas sempre são muito interessantes de se ouvir, especialmente se elas estão acontecendo dentro de um início ou fim de um relacionamento.

O que dizer da cena em que Owen, arrasado por ter sido abandonado pela mulher, vai a um clube de striptease e encontra outra alma rejeitada, uma supersexy Natalie Portman? Quem conhece Smiths vai perceber que no momento da excitante e angustiante conversa entre os dois está tocando "How Soon Is Now?", o hino dos rejeitados. Posso estar sendo equivocado, mas já faz uns dez anos que não vejo uma cena tão sensual vinda do cinema americano. Talvez desde os bons tempos de Paul Verhoeven.

Falando em belas canções, a canção que abre e encerra o filme é uma maravilha que captura o estado de espírito do filme: "The Blower's Daughter", de Damien Rice, que eu espero poder baixar e gravar num cd em breve.

quinta-feira, janeiro 20, 2005

O FILHO DE CHUCKY (Seed of Chucky)


Quase deixava passar esse filme, mas depois de ler os comentários elogiosos de Diogenes César e de Leandro Caraça na lista Canibal Holocausto, fiquei com vontade de vê-lo. O FILHO DE CHUCKY (2004), de Don Mancini, roteirista dos outros filmes da série, dá seguimento à série de horror cômico iniciada com BRINQUEDO ASSASSINO (1988). O filme anterior, A NOIVA DE CHUCKY (1998), dirigido com estilo por Ronny Yu, já tinha optado mais pela comédia doentia do que pelo horror, mas esse novo filme leva esse tipo de humor às últimas conseqüências. E isso é um elogio em se tratando desse tipo de filme.

A presença do diretor John Waters, o mestre do cinema escatológico, fazendo o papel de um paparazzo não é em vão. O humor do filme até lembra MAMÃE É DE MORTE, um dos últimos de Waters que assisti. É um tipo de humor que geralmente não me leva às gargalhadas, mas que eu acho no mínimo interessante. É mais fácil eu rir do humor involuntário dos filmes de Ed Wood, do que do humor "voluntário" dos filmes de Waters.

Por falar em Ed Wood, o pior diretor do mundo é homenageado num momento chave do filme: o filho de Chucky tem um sexo indefinido. O pai quer que ele seja um menino, de nome Glenn; a mãe quer que seja uma menina, de nome Glenda. Uma homenagem explícita a um dos filmes mais famosos de Wood. Outros filmes citados são O ILUMINADO, de Stanley Kubrick, A CASA DO ALÉM, de Lucio Fulci, e PSICOSE, de Alfred Hitchcock.

A seqüência inicial do filme é muito boa, com a câmera do ponto de vista do boneco, deixando a gente curioso pra ver o aspecto do tal boneco feio. Entre outras cenas memoráveis, temos a cena de Chucky se masturbando com uma revista Fangoria; ou a cena em que a noiva de Chucky corta a barriga de Redman, deixando um monte de tripas no chão.

Jennifer Tilly está excelente fazendo o papel dela mesma e brincando com sua decadência nas telas - o seu maior orgulho é ter feito LIGADAS PELO DESEJO (1996), dos irmãos Wachowsky - ou com o fato de estar bem acima do peso. A trilha sonora do filme é do grande Pino Donaggio, que já fez temas maravilhosos para filmes de Brian DePalma.

Talvez o problema do filme esteja só com a história, meio mal-contada, e com o final, mas quando o filme termina ao som de um bom rock e apresenta todos os atores em algumas das melhores cenas, vemos que o resultado como um todo foi bem satisfatório. É talvez o melhor filme da série.

quarta-feira, janeiro 19, 2005

ALEXANDRE (Alexander)



Fiquei bastante surpreso quando fui ver ALEXANDRE e vi que o cinema estava lotado em plena segunda-feira. E já adianto que gostei bastante. Oliver Stone, com os seus tradicionais exageros, está com a corda toda. Ou quase toda, se o estúdio o tivesse permitido botar mais pimenta na já apimentada questão da homossexualidade (ou bissexualidade) de Alexandre.

Acho que é o melhor épico que já vi no cinema. Stone, mesmo utilizando-se de todos os elementos que cercam o gênero, fez um filme original, diferente de todos os épicos. Há várias seqüências memoráveis. Na primeira batalha, contra os persas de Dario, aquela cena da câmera subindo e vendo a perspectiva de uma águia e indo de encontro aos guerreiros persas, aquilo me fez vibrar. (Percebe-se que Stone tem pressa em ir direto a essa primeira batalha. Tanto que dá um salto no tempo, não nos mostrando, de início, a morte de Filipe, pai de Alexandre.) A terceira batalha, então, com direito a uma citação à angustiante expectativa do ataque dos vietcongues em PLATOON (1986), é o ápice do filme. Nela, vemos uma batalha sangrenta que se torna ainda mais assustadora por causa dos elefantes indianos. Destaque para a cena das folhas vermelhas, acentuando mais calor e tragédia à batalha.

A cena imediatamente anterior a essa última batalha, quando Alexandre tenta convencer seus homens a ir mais adiante, é também um belo exemplo dos deliciosos excessos de Stone. Fica parecendo uma ópera, com a figura perturbada do rei guerreiro em toques grotescos. Ainda mais com a espetacular música de Vangelis.

O elenco está muito bem. Collin Farrel, no papel título, nunca esteve tão bem. Mas o grande destaque é mesmo Val Kilmer como Filipe, o rei caolho pai de Alexandre, que aparece pela primeira vez no filme bêbado, tentando estuprar Angelina Jolie, que faz a mãe de Alexandre. Muito interessante a conversa que ela tem com o seu filho na cama, cercada de cobras - ela adorava cobras. Já Jared Leto, como o amor da vida de Alexandre, não está tão bem. Só faz abraçar o amado e declarar o seu amor. A impressão que se tem é que o amor deles está mais para espiritual do que físico, mas isso não se justifica muito, tendo em vista o tesão de Alexandre por homens, especialmente os de aspecto andrógino. Rosario Dawson, como a primeira esposa de Alexandre, ajuda a esquentar o caldo com a única cena de sexo do filme.

Stone deixa muita coisa no ar: Por que razão Alexandre queria conquistar o mundo? Ele estaria desesperado em não voltar para casa, com medo de alguma coisa? A relação com a mãe teria algo de incestuoso? Seria para provar para o pai (já morto) que ele não era um fraco, mas uma criatura divina, como a cobra de sua mãe costumava dizer? O destino trágico e inevitável de Alexandre, aliado a suas inúmeras conquistas, seria uma comprovação de que ele tinha mesmo relação com os deuses do Olimpo, numa tentativa de se criar mais uma mitologia, a exemplo do que acontecera com Aquiles?

No entanto, todas essas perguntas, todas essas dúvidas tornam o filme ainda mais rico. Afinal, ninguém sabe direito como tudo aconteceu. O que os historiadores fazem são mais conjecturas em cima de alguns fatos. E o filme termina deixando no ar a certeza de que Alexandre era mesmo Grande.

terça-feira, janeiro 18, 2005

GLOBO DE OURO 2005

 

Pra não deixar passar em branco o Globo de Ouro desse ano, vou comentar um pouco o que mais se destacou. Perdi os vinte minutos iniciais porque fiquei meio desorientado com o horário de verão e com o relógio marcando hora errada aqui em casa. Então, perdi de ver as premiações duplas para PERTO DEMAIS: Clive Owen e Natalie Portman faturaram os prêmios de melhores coadjuvantes. 

1. Joely Richardson não conseguiu esconder a cara de desapontamento ao perder o prêmio de melhor atriz em série de tv (drama). Em compensação NIP/TUCK ganhou. Finalmente uma série que eu acompanho ganhando o prêmio principal. Acho que eles ganharam pela segunda temporada, que ainda não chegou por aqui. 

2. Ian McShane, o malvado dono do bar em DEADWOOD, ganhou merecidamente o prêmio de melhor ator em série de drama. O cara é muito bom fazendo papel de mau. 

3. Que diabos de roupa era aquela que a Halle Berry estava usando? Ela estava com um peito em cima e outro embaixo. Deve ter sido alguma pegadinha do alfaiate dela. A Fer, no blog Goodfellas, falou que seria melhor se ela estivesse vestida com um saco de batatas. Com certeza. 

4. Kate Winslet era a mulher mais linda da festa. Eu estava torcendo por ela, sou fã dessa menina. Pena que quem ganhou por melhor atriz de comédia ou musical foi Annete Benning, por BEING JULIA. Mas Kate continuou feliz o tempo inteiro. E aplaudiu satisfeita quando o seu amigo Leonardo DiCaprio ganhou o prêmio de melhor ator por O AVIADOR. 

5. DiCaprio, ao contrário, parecia meio blasé, quando recebeu o prêmio. Aliás, a mesa toda de Martin Scorsese parece que já tem fama de ser a mais triste nas cerimônias do Globo de Ouro. Na época de GANGUES DE NOVA YORK, parecia que tinha morrido alguém. Mas foi bonito quando DiCaprio prestou homenagem a Scorsese, certamente um dos maiores cineastas vivos do mundo. 

6. LOST, uma das séries que eu mais gostaria que chegasse aqui - de preferência em canais que eu tenha acesso (FOX, Sony, Warner), perdeu para NIP/TUCK. 

7. Na hora de apresentaram os indicados ao prêmio de melhor série de tv (drama), passaram uma das cenas mais emocionantes de 24 HORAS: a cena da morte de Chapelle. Inesquecível. Em março, vem aí a quarta temporada. 

8. Kate Hudson era a segunda mulher mais bela da festa. 

9. DIÁRIOS DE MOTOCICLETA, de Walter Salles, que estranhamente estava como sendo do Brasil, perdeu para MAR ADENTRO, o novo filme de Alejandro Amenábar. Apesar de acreditar que esse filme de Amenábar seja excelente, confesso que fiquei um pouco triste ao ver o diretor saindo do gênero horror. Achei que ele ia se tornar um especialista no gênero. 

10. Mick Jagger estava na festa. Certamente ele já tinha certeza que ia ganhar o prêmio de melhor canção. "Old Habits Die Hard", de ALFIE - O SEDUTOR, é mesmo melhor que qualquer uma das outras canções cafonas que estavam concorrendo. 

11. DESPERATE HOUSEWIVES, série que está passando na Sony, estava com 3(!) indicadas na categoria melhor atriz de tv (comédia). Quem levou foi Teri Hatcher, que estava luminosa. A série também ganhou o prêmio principal da categoria. 

12. Howard Shore, depois de O SENHOR DOS ANÉIS, está se destacando mais. Ganhou o prêmio de melhor trilha sonora por O AVIADOR. 

13. Clint!!!! Melhor diretor. O mais aplaudido da festa. Impressionante a popularidade dele ultimamente. E ele é tão gente boa que, mesmo ganhando o prêmio, fez questão de dizer que o amigo Morgan Freeman era o melhor ator do mundo. Freeman, que tinha perdido para Clive Owen. Quando Hilary Swank foi buscar o seu prêmio por MILLION DOLLAR BABY, ela também elogiou tanto o velho Clint, dizendo que o talento dele não tinha limite, que isso acabou sendo um dos momentos mais emocionantes da festa. Realmente, Clint Eastwood é fera: o homem dirigiu, produziu, atuou e ainda fez a música do filme. É mole? 

14. A premiação de Jamie Foxx também foi um dos pontos altos. O rapaz imitou Ray Charles, disse que estava vivendo a noite da vida dele e quase chorou e fez outros chorarem. 

15. Robin Williams ganhou o prêmio especial da noite. Achei até ousado da parte da imprensa estrangeira homenagear um ator que não é nenhuma unanimidade ultimamente. Mas Robin Williams podia fazer só filmes ruins que ainda estaria perdoado. Pra mim, ele sempre vai ser o professor inspirador de SOCIEDADE DOS POETAS MORTOS. 

16. Apesar de SIDEWAYS ter ganhado o prêmio de melhor filme (comédia ou musical), tudo indica que o duelo de titãs da noite do Oscar vai ser mesmo entre MILLION DOLAR BABY e O AVIADOR. Esse último foi quem ganhou o Globo de Ouro de melhor filme (drama). 

17. Quem quiser acompanhar uma divertida cobertura do Oscar, com palpites engraçados, recomendo ler os textos da Fernanda, no blog Goodfellas

Relação Completa dos Vencedores 

Cinema 

Melhor Filme - Drama O Aviador 
Melhor Filme - Comédia ou Musical Sideways
Melhor Ator - Drama Leonardo DiCaprio, O Aviador
Melhor Atriz - Drama Hilary Swank, Million Dollar Baby
Melhor Ator - Comédia ou Musical Jamie Foxx, Ray
Melhor Atriz - Comédia ou Musical Annette Bening, Being Julia
Melhor Ator Coadjuvante Clive Owen, Perto Demais
Melhor Atriz Coadjuvante Natalie Portman, Perto Demais 
Melhor Diretor Clint Eastwood, Million Dollar Baby
Melhor Roteiro Alexander Payne e Jim Taylor, Sideways
Melhor Canção Original "Old Habits Die Hard", Alfie- O Sedutor
Melhor Trilha Sonora Howard Shore, O Aviador 
Melhor Filme Estrangeiro The Sea Inside (Mar Adentro - Espanha) 

Televisão 

Melhor Série de TV - Drama Nip/Tuck (2003) 
Melhor Série de TV - Musical ou Comédia Desperate Housewives (2004) 
Melhor Minissérie ou Filme para TV The Life and Death of Peter Sellers (2004) 
Melhor Ator em Minissérie ou Filme para TV Geoffrey Rush por The Life and Death of Peter Sellers (2004)
Melhor Atriz em Minissérie ou Filme para TV Glenn Close por The Lion in Winter (2003)
Melhor Ator em Série de Comédia Jason Bateman por Arrested Development (2003)
Melhor Atriz em Série de Comédia Teri Hatcher por Desperate Housewives (2004) 
Melhor Ator em Série de Drama Ian McShane por Deadwood (2004) 
Melhor Atriz em Série de Drama Mariska Hargitay por Law & Order: Special Victims Unit (1999)
Melhor Ator Coadjuvante em Série, Minissérie ou Filme para TV William Shatner, por Boston Legal
Melhor Atriz Coadjuvante em Série, Minissérie ou Filme para TV Anjelica Huston por Iron Jawed Angels

segunda-feira, janeiro 17, 2005

QUEPE DO COMODORO: A VIAGEM



Uma das coisas mais fascinantes da vida é a imprevisibilidade. Há duas semanas eu não tinha a menor idéia de que existia um lugar chamado São Miguel do Gostoso. E cá estou eu voltando desse pequeno paraíso. Tudo começou com a premiação do Quepe do Comodoro, organizada pelo nosso querido Carlos Reichenbach.

Como não pude ir a São Paulo receber o prêmio, o Carlão me mandou um e-mail me perguntando se era possível eu ir buscar o troféu em São Miguel do Gostoso. "São Miguel do quê?" Imediatamente fui procurar na Internet onde era esse lugar. Fiquei aliviado em saber que era no litoral do Rio Grande do Norte, perto aqui de Fortaleza. Imediatamente, dei resposta positiva.

O troféu tinha ido parar lá porque Eugênio Puppo, documentarista e organizador de mostras antológicas como a Mostra de Cinema Marginal, a de Nelson Rodrigues e a Mostra Galante, tinha escolhido o lugar para passar suas férias pela segunda vez. Depois de muitos contatos com o Marcos, que me conseguiu os horários dos ônibus de Natal para SMG (a sigla já estava parecendo um código secreto nos sistemas de comentários de alguns blogues), saímos daqui - eu e minha irmã Adaila - às 9 horas da noite de sexta-feira e chegamos em Natal perto de 5 da manhã.

Quase 8 horas de estrada e mais duas horas pra chegar em SMG. Pena que a pousada que a gente tinha feito reserva era a um quilômetro de distância da pousada onde Eugênio estava. Liguei para ele assim que chegamos. Ele falou que estaria recebendo uma massagem às 9h30 e que iria durar cerca de uma hora. Demos um tempo lá na Pousada do Gostoso e depois caminhamos pela praia com os pés na água, na direção da Pousada dos Ponteiros, que era onde o Puppo estava. No caminho, paramos pra almoçar, comer aquele peixinho frito obrigatório quando se vai pra um passeio na praia.

Costumo dizer que sempre que se vai passar pelo menos um fim de semana numa praia, deve-se tomar cerveja, comer peixe frito e tomar sorvete e água de coco. Não faltou nada disso. Chegando lá, foi fácil encontrar o Eugênio. Na verdade, foi ele que me encontrou. Depois das apresentações, fomos até o lugar onde ia acontecer o ritual de entrega do prêmio, que ficou muito bem registrado nessas excelentes fotos que o Rodrigo fotografou. Rodrigo era o amigo do Puppo que estava lá com sua esposa Ângela.

Foi emocionante receber esse troféu, que já passou pelas mãos de Elaine Morrone (a artista plástica que o criou), de Carlão e de Eduardo Aguilar. Depois da entrega do prêmio e dos abraços, a gente foi dar um mergulho no mar e depois eu experimentei um tipo de caipirinha feita com manga. Bebida gostosa. Eugênio é um sujeito muito sociável, fala com todo mundo, todo mundo o conhece, muito atencioso. Falou que Carlão estava apreensivo e torcendo pra que essa minha ida a São Miguel do Gostoso desse mesmo certo. E deu. Depois de nos despedirmos de Puppo, de Ângela e de Rodrigo, eu e a Adaila fomos dar uma volta pela praia para depois voltar para a pousada.

Na volta, eu estava tão cansado que não fiz mais nada a não ser ficar deitado, lendo um texto sobre a história do cinema, escrito pelo Rubens Ewald Filho, que o Renato tinha enviado pra lista. A sorte foi que o Marcos ligou pra gente à noite avisando que ia nos pegar de manhã cedo para irmos dar uma volta por Natal, até a hora de pegar o ônibus de volta pra casa. Maravilha. Marcos é um cara muito gente fina. Fácil ficar à vontade com ele. Graças a ele, tive o prazer de conhecer o lado bonito de Natal. Da vez que tinha ido lá, só deu pra conhecer a Praia dos Artistas e o Natal Shopping.

Dessa vez, vi o enorme rio que dá nome ao estado, além da bela praia de Ponta Negra. A visão da praia e do Morro do Careca fez lembrar a Baía de Guanabara, no Rio. O delicioso almoço, num restaurante de comidas regionais, serviu pra fechar com chave de ouro essa excelente viagem. Algumas das fotos que tiramos em Natal, uma vez reveladas, serão postadas aqui. Mais fotos no Reduto do Comodoro.

sexta-feira, janeiro 14, 2005

ALI



Nunca tinha dado muito bola pra Michael Mann, mesmo com tanta gente boa - inclusive Martin Scorsese e Olivier Assayas - elogiando o trabalho do homem. Na verdade, tinha achado FOGO CONTRA FOGO (1995) meio chato e O INFORMANTE (1999) apenas um bom filme. Só agora, depois de COLATERAL (2004), que eu me rendi ao seu trabalho. Naturalmente, COLATERAL é o meu preferido de Mann até agora. Ainda não vi DRAGÃO VERMELHO (1986), nem O ÚLTIMO DOS MOICANOS (1992). Mas vi ALI (2001).

ALI foi o primeiro filme que eu vi em 2005. É um filme irregular e um pouco cansativo por causa de sua longa duração, mas é cheio de momentos brilhantes e uma belíssima utilização do scope, algo que eu já tinha notado em COLATERAL. O ponto alto do filme está no prólogo, ao som de Sam Cooke cantando "Bring It on Home to Me". É uma das melhores cenas de introdução que eu já vi. Mann coloca o público negro dos anos 60 se deliciando com a música de Cooke (nem parece hoje em dia, com esse hip hop sem graça), enquanto vemos também cenas de Muhammad Ali (Will Smith) treinando e um pouco do que era o rascismo nos EUA naquela época - coisas como assentos específicos para negros em ônibus ou policiais vendo Ali correndo na rua e achando que é um assaltante. Depois de um prólogo desses, é natural o filme cair um pouco.

Algo que me deixou um pouco desapontado foi a escolha de Mann em abordar apenas dez anos da vida do boxeador, não mostrando sua decadência e seu problema de saúde atual (sou mórbido, hein). Eu tinha visto um pouco de Ali doente no filme DON KING (1997), de John Herzfeld. Inclusive, o filme de Herzfeld tinha me deixado com uma má impressão de Ali. Já o via apenas como um tagarela meio idiota. Mann trata de mostrá-lo como um homem muito inteligente e com uma grande habilidade nas palavras.

Jamie Foxx, que agora está fazendo o maior sucesso, com três indicações ao Globo de Ouro e já considerado favorito ao Oscar 2005, aparece no filme como o amigo e empresário de Ali. Outra pessoa que apareceu também tanto em COLATERAL quanto em ALI foi Jada Pinket Smith, fazendo o papel de uma das três esposas de Ali. Aliás, a vida amorosa do boxeador não é aprofundada, dando a impressão que ele não era apaixonado por nenhuma de suas esposas. Sempre que elas bobeavam, ele arranjava outra mulher.

Interessante também todo o contexto político da época. Ali era amigo de Malcom X e o filme até mostra cena do assassinato do líder negro. Michael Mann valoriza tanto a luta de Ali no Zaire, que dedica 45 minutos de filme só pra essas cenas na África. As cenas de luta são muito boas. Mann usou câmeras amarradas nas cabeças dos atores para que a gente se sinta como se estivesse no ringue.

Lendo o dossiê de Michael Mann no site Senses of Cinema, soube que FOGO CONTRA FOGO era na verdade uma versão estendida do piloto da série OS TIRAS DE LOS ANGELES (1989). Também através desse dossiê, fiquei curioso pra ver A FORTALEZA INFERNAL (1983), que parece ser o único filme de terror de Mann. Isto é, se não considerarmos DRAGÃO VERMELHO como sendo terror.

quinta-feira, janeiro 13, 2005

ORNELLA MUTI EM DOIS FILMES

 

A belíssima romana Ornella Muti sempre foi apreciada por mim, ainda que tenha visto poucos filmes com ela - preciso reparar essa falha. Lembro que quando vi OS NOVOS MONSTROS (1977), em que ela aparece no segmento de Mario Monicelli, fiquei fascinado com tanta beleza e sex appeal. Nos anos 90, ela continuava um espetáculo. Nesse período, vi a moça no maravilhoso A VIAGEM DO CAPITÃO TORNADO (1991), de Ettore Scola, e no sensual O AMANTE BILÍNGÜE (1993), de Vicente Aranda. Recentemente, vi essa beldade em dois belos filmes, sob a direção dos mestres Marco Ferreri e Walter Lima Jr. No filme de Ferreri, ela está jovem e no auge da beleza física; no de Lima Jr., ela já é uma bela senhora com o passar do tempo transparecendo em seu rosto, porque ninguém é jovem pra sempre, né? 

CRÔNICA DE UM AMOR LOUCO (Storie di Ordinaria Follia) 

Marco Ferreri é o diretor do perturbador e trágico A COMILANÇA (1973) e do excitante A CARNE (1991), pra citar apenas os filmes que vi dele. CRÔNICA DE UM AMOR LOUCO (1981) é uma adaptação de "Erections, Ejaculations, Exhibitions and General Tales of Ordinary Madness", de Charles Bukowski, escritor que só há pouco tempo vim conhecer, graças principalmente ao Renato, que sempre elogiava o "velho safado". Tinha lido e adorado um livro de John Fante ("Contos de Bunker Hill") e resolvi comprar um do Bukowski, que seria da mesma linha. Ainda que não tenha gostado tanto de "Hollywood" quanto de "Sonhos de Bunker Hill", de Fante, deu pra eu sentir um pouco do que é o estilo de Bukowski. 

Quanto ao filme, ao contrário do que alguns dizem, achei bem parecido o personagem de Ben Gazzara com o escritor beberrão de "Hollywood", ambos personagens autobiográficos. (Por falar nisso, faz tempo que quero alugar BARFLY (1987), de Barbet Schroeder, mas sempre esqueço.) CRÔNICA DE UM AMOR LOUCO é um filme que valoriza os malditos, os desgraçados, os bêbados, as prostitutas, os rejeitados, os losers. Talvez por não me sentir um "vencedor", consegui me identificar um pouco com o escritor beberrão interpretado por Gazzara. Algumas de suas aventuras no filme são bem engraçadas. Ornella Muti está maravilhosa como Cass, a prostituta que sofre de depressão. Ornella é uma explosão: sempre que aparece nua, parece que o mundo pára pra ver. O filme em si também é muito gostoso de ver, tem uma narração em off de Gazzara que nunca é redundante com as imagens, e ainda tem tiradas impagáveis. Pena que eu não anotei nenhum delas. Mas lembro que tinha algo sobre os cachorros terem mais estilo que a maioria dos seres humanos. 

Visto em DVD. 

UM CRIME NOBRE / O FILHO PREDILETO (Il Figlio Prediletto) 

Acho uma grande sacanagem um cineasta do porte de Walter Lima Jr. não estar tendo o merecido respeito aqui no Brasil. O último filme dele exibido nos cinemas foi A OSTRA E O VENTO, em 1997. UM CRIME NOBRE é um telefilme rodado em 2001, co-produção da Rede Globo com a RAI italiana. Não é sacanagem um filme dirigido por um grande diretor e estrelado por uma musa do cinema italiano ficar na geladeira por todo esse tempo? E o filme só passou na televisão agora porque a Rede Globo teve que arranjar outro filme pra pôr no lugar de BUFO & SPALLANZANI no seu Festival Nacional. O SBT, sem aviso prévio, resolveu passar o filme de Flávio Tambellini um dia antes de a Globo exibir, só pra irritar os chefões da poderosa emissora, que imediatamente moveram um processo judicial contra a rede de Silvio Santos. Foi só por causa disso que foi possível ver esse filme de Walter Lima Jr. 

A história de UM CRIME NOBRE é bem simples e novelesca: italiana (Ornella Muti) descobre que seu filho adotivo tem leucemia. Ela parte, então, para o Brasil a fim de descobrir o paradeiro da mãe biológica do menino para que se possa fazer um transplante de medula. Chegando no Brasil, ela contrata os serviços do detetive interpretado por Reginaldo Faria. 

A dublagem da Ornella ficou muito estranha e bem destacada do áudio dos atores brasileiros, mas isso é só falta de costume. Os italianos devem estar acostumados com dublagem ruim há um tempão. O que eu mais gostei no filme foi de ele se assumir como melodrama escancarado. Tanto que não resisti e chorei no final. Tem certas coisas que me comovem bastante.

quarta-feira, janeiro 12, 2005

TRINCA DE FILMES FRACOS

 

Quando a gente não está muito inspirado, é hora de falar dos filmes fracos. Estou aqui com 11 filmes para comentar e é preciso derrubar esse número, já que eu me obriguei a falar de todo filme que vejo, nem que sejam apenas umas três linhas. Esses três filmes, eu só vi porque minha irmã trouxe os DVDs emprestados. Não tinha interesse em vê-los, mas acabei vendo, talvez esperando alguma surpresa. Em comum, os três são filmes sobre relacionamentos entre homem e mulher. 

FRANKIE & JOHNNY 

Esse filme de Garry Marshall, diretor de UMA LINDA MULHER (1990) e NOIVA EM FUGA (1999), tem a vantagem de ter dois grandes intérpretes no elenco. Al Pacino e Michelle Pffeifer são ótimos. Inclusive, os dois até tinham contracenado antes no excelente SCARFACE (1983), de Brian De Palma. FRANKIE & JOHNNY (1991) é o melhor dos três filmes desse post, com certeza, mas Marshall fez um filme bem careta e sem o charme de UMA LINDA MULHER, filme que eu não gostei quando vi no cinema, mas que ganha aura de clássico com as revisões na tv. Na história, Al Pacino é um ex-presidiário que refaz a vida trabalhando como cozinheiro num restaurante. Lá, ele conhece a garçonete vivida por Michelle Pffeifer. Apesar da resistência inicial da moça, meio traumatizada com relacionamentos passados, os dois acabam se apaixonando. Tudo bem clichê, sem muita novidade e poucos momentos realmente emocionantes. 

ALGUÉM COMO VOCÊ (Someone Like You...) 

O começo de ALGUÉM COMO VOCÊ (2001) é até interessante, com a personagem de Ashley Judd fazendo uma comparação do homem com o touro, que uma vez cruzando com uma vaca, não quer mais a mesma, precisa variar. É o velho tema da mulher que fica desiludida com os homens por causa de um namoro fracassado e pela galinhagem da macharada em geral. Se Ashley Judd já não é lá muito bonita ou interessante, o que dizer de Greg Kinnear? Esse cara é muito apagado e sem graça. Hugh Jackman, o Wolverine, compensa com seu carisma, fazendo o papel do colega de quarto de Ashley. Fica na cara que os dois vão ficar juntos desde o começo. Se bem que nesse tipo de filme, nem se trata de um problema da previsibilidade, mas da incapacidade de manter o interesse e encantar o espectador com os personagens e suas situações. Também no elenco: Marisa Tomei e Ellen Barkin. No DVD tem uma faixa de comentários do diretor, mas quem é que tem coragem de ler/ouvir áudio de filme fraco? 

SEXO, AMOR E TRAIÇÃO 

Ainda bem que não vi essa coisa no cinema. Teria saído bem arrependido. Mas que filminho mais vagabundo, hein. SEXO, AMOR E TRAIÇÃO (2004), do diretor de televisão Jorge Fernando, é desses filmes que deixam a gente com a sensação de tempo perdido. Consegue ser ainda pior que o original mexicano - SEXO, PUDOR E LÁGRIMAS (1999), de Antonio Serrano. Nesse remake, só escapam as pernas de Malu Mader e Alessandra Negrini em alguns poucos momentos sensuais do filme. Pior é que esse filme ainda fez um relativo sucesso de bilheteria.

segunda-feira, janeiro 10, 2005

O GRITO (The Grudge)



Tenho reparado que ultimamente Hollywood está mais aberta para diretores estrangeiros. Conversando isso ontem com o amigo Zezão, depois da sessão de O GRITO (2004), ele disse que acredita que isso está acontecendo por causa da falta de criatividade que assola a indústria americana. É possível. Por isso, eles estão pegando diretores criativos vindos de países diversos como Espanha, França, México, Japão e até do Brasil. Se por um lado, isso pode estragar os diretores, por outro, eles têm a chance de ficarem mais conhecidos no mundo todo e ainda terem suas obras originais conhecidas por tabela.

Do Japão, os executivos de Hollywood estão de olho no sucesso do moderno cinema de horror japonês. Já tinham lucrado horrores com O CHAMADO (2002), de Gore Verbinski, remake do original RINGU (1998), de Hideo Nakata. Para esse ano, já está engatilhada a continuação, agora sob a direção do próprio Nakata.

Takashi Shimizu é outro diretor bem sucedido no Japão. Seu sucesso começou com JU-ON (2000), filme de horror feito para tv, que rendeu uma continuação no mesmo ano. Depois, surgiu uma versão do mesmo filme para o cinema, chamado JU-ON: THE GRUDGE (2003), que também teve uma continuação no mesmo ano. Enquanto não chega JU-ON 3 no Japão, é possível ver o remake do remake, dessa vez made in USA. Chamaram o próprio Shimizu para dirigir essa versão americana, com rostos conhecidos no elenco como Sarah Michelle Gellar e Bill Pullman.

Pullman, aliás, aparece meio zumbificado nesse filme, lembrando o seu papel na obra-prima A ESTRADA PERDIDA, de David Lynch. Os lynchófilos, como eu, também vão gostar de ver Grace Zabrieskie, a senhora com cara de doida que já foi a perturbada mãe de Laura Palmer em TWIN PEAKS, como a mulher atormentada pelos espíritos maléficos da casa assombrada.

O fato de o filme se passar no Japão foi uma boa idéia, já que a história, envolvendo a lenda de que se um espírito que morre com ódio, passa a atormentar as pessoas que têm alguma conexão com o lugar, é algo mais ligado ao Japão.

Na história, Sarah Michelle Gellar é uma enfermeira que vai cuidar de uma mulher com problemas mentais no Japão. O problema é que essa mulher está na tal casa amaldiçoada. Na verdade, a história não é o forte do filme. O GRITO se sustenta mais nas cenas de mistério e terror. Algumas das cenas não são boas, apelando para o susto fácil, como na cena do gato saindo do armário. Mas outras cenas são arrepiantes, como a cena do espírito do garoto surgindo detrás da cama, ou de uma cena nas escadarias de um prédio. O filme parece uma colagem de cenas de terror, faltando um pouco de coesão e de uma maior lógica na história. Mas eu, que sou fã dos filmes sobrenaturais de Argento (SUSPIRIA e INFERNO) e de alguns filmes sem história de Lucio Fulci (A CASA DO ALÉM e PAVOR NA CIDADE DOS ZUMBIS), não ligo muito pra esse "detalhe". Porém, muita gente pode se sentir incomodada ou até enganada ao sair do cinema.

Um dos maiores problemas do filme é que algumas cenas provocam risadas. O maior alvo de chacota do público é o barulho que os espíritos do mal fazem, sempre que ameaçam suas vítimas: mais parece um arroto prolongado. Muita gente saiu do cinema imitando o barulhinho. Inclusive, esse que vos escreve. O fato é que levando ou não a sério o filme, é possível se divertir bastante durante os seus 96 minutos.

E que venha O CHAMADO 2, do Nakata. E os JU-ONs originais em DVD.

domingo, janeiro 09, 2005

HITCHCOCK E JOAN FONTAINE



Para esse fim de semana, aluguei cinco filmes de Hitchcock. Infelizmente, dos cinco, dois DVDs estavam com defeito. Foram os de CORRESPONDENTE ESTRANGEIRO (1940) e INTERLÚDIO (1946). A locadora não dispunha de uma fita de UM CASAL DO BARULHO (1941), que a Warner do Brasil não se dispôs a lançar dentro do pacote de filmes de Hitch, lançados recentemente. Então, enquanto não consigo cópias desses filmes - vi que CORRESPONDENTE ESTRANGEIRO saiu em DVD de banca -, vamos de dois filmes que Hitchcock fez com Joan Fontaine num curto intervalo de tempo.

Joan Fontaine é a mais frágil das heroínas de Hitchcock. Bem diferente de Ingrid Bergman ou Grace Kelly. Os dois filmes abaixo têm muito em comum. Ambos são contados pelo ponto de vista da personagem de Fontaine; ambos mostram uma mulher que se casa rapidamente com um homem estranho e tem que enfrentar desafios imprevisíveis; ambos se passam na Inglaterra, apesar de filmados nos EUA. Logo, os cenários são bem artificiais nas cenas externas, filmadas em estúdio.

REBECCA - A MULHER INESQUECÍVEL (Rebecca)

REBECCA (1940) foi o primeiro filme de Hitchcock nos EUA. O primeiro de uma série de filmes em parceria com o produtor David O. Selznick. Na verdade, a parceira se transformou na mais famosa das brigas entre produtor e diretor. Hitchcock odiava as intromissões de Selznick. No livro Afinal, Quem Faz os Filmes, quando Bogdanovich pergunta a Hitch sobre essa relação com Selznick, ele fala que antes de se filmar uma cena, o produtor tinha de ser chamado para vê-la. Difícil não ficar aborrecido. Uma coisa que eu reparei nesses filmes que peguei (todos produzidos por Selznick) é que eles começam sempre com o nome do produtor bem destacado. Na época, os filmes eram mais dos produtores do que dos diretores. Hitchcock soube se impor com o tempo até conseguir se livrar desse fardo e entrar na melhor fase de sua carreira, a partir dos anos 50. Interessante que REBECCA ganhou o Oscar de melhor filme, mas quem recebeu o de melhor diretor no mesmo ano foi John Ford, pelo filme AS VINHAS DA IRA, que eu considero um pouco melhor que REBECCA. Hitchcock nunca recebeu um Oscar da Academia. De qualquer maneira, ele não precisava mesmo. Hitch está muito acima disso.

REBECCA ainda é muito vigoroso. Hitchcock não gostava muito dele, por considerar um filme totalmente desprovido de humor. Ele nem o considerava um autêntico Hitchcock. Mas quando Truffaut comentou ser REBECCA um filme essencial para que o diretor pudesse enriquecer os filmes seguintes com material psicológico, Hitch concordou. Não fiz um levantamento da duração dos filmes do diretor, mas REBECCA me parece ser o mais longo: são 132 minutos muito bem aproveitados, com diálogos excelentes e um ritmo que não cansa o espectador. Por exemplo, numa das cenas finais, em que aparece o barco com o cadáver de Rebecca e o personagem de Laurence Olivier passa a contar toda a verdade para Joan Fontaine, nessa cena, mesmo sem se utilizar de seqüências em flashback, utilizando apenas a fala, o filme começa a atingir o seu ápice. E nesse momento já são quase duas horas de filme. É no final que o filme mais se assemelha a um típico Hitchcock, principalmente por causa do tema da culpa do personagem de Laurence Olivier.

Visto em VHS da Continental.

SUSPEITA (Suspicion)

A primeira coisa que salta aos olhos ao pegar esse filme em DVD da Warner, é a qualidade da imagem, muito melhor que as da Continental. E o DVD ainda vem com um pequeno documentário de cerca de 20 minutos sobre o filme, dirigido pelo especialista Laurent Bouzereau.

Cary Grant está ótimo nessa sua primeira parceria com Hitchcock - ele ainda faria com Hitch INTERLÚDIO (1946), LADRÃO DE CASACA (1955) e INTRIGA INTERNACIONAL (1959). Em SUSPEITA (1941), ele é um sujeito que conquista a ingênua Joan Fontaine. (Se bem que Joan está bem menos ingênua aqui do que em REBECCA.) Os dois se casam, mas só depois ela descobre que ele é um mentiroso e viciado em jogo. Cada vez que ela descobre algo de errado do marido, ela passa a confiar menos nele. O ápice da paranóia acontece quando ela começa a acreditar que Grant está planejando matá-la para ficar com o dinheiro do seguro. Como o filme é todo narrado pelo ponto de vista de Joan, é fácil entender e acreditar na culpa de Grant. Ele, ora aparece simpático e alegre, ora aparece sinistro, sombrio. Um dos grandes papéis de Grant. Nesse sentido, o filme lembra À SOMBRA DE UMA DÚVIDA (1948), que também trata de uma suspeita. A cena mais clássica do filme é a do copo de leite. O detalhe dessa cena é que Hitch colocou uma lâmpada dentro do leite, para chamar a atenção do espectador apenas para o copo.

sábado, janeiro 08, 2005

DE-LOVELY - VIDA E AMORES DE COLE PORTER (De-Lovely)



O ruim de ver certas biografias, especialmente essas que mostram o biografado do seu auge até a decadência e morte, é que traz a triste certeza de que a vida, depois do auge, vai escada abaixo. Sorte nossa se chegarmos na velhice com um passado mais ou menos glorioso e livre de certas tragédias, como acidentes e coisas do tipo.

Apesar de ser um musical, que normalmente é um gênero alegre, DE-LOVELY (2004), de Irwin Winkler, não é exceção. Mostra, além do momento glorioso, a triste decadência de um dos maiores compositores americanos, quando sofreu um acidente e ficou doente das pernas. Um filme bem melancólico para um musical parecido com aqueles antigos da Metro.

É um filme irregular que tem seus bons momentos, mas ficaria mais palatável se tivesse uma duração menor. Uma das primeiras canções do filme é "Easy to Love", que abre e encerra com beleza COMO TUDO NA VIDA, de Woody Allen. Mas não dá pra comparar a espetacular versão de Billy Holiday com a cantada por Kevin Kline no filme. A versão de Billy tem algo mágico que age diretamente no coração, trazendo para a superfície um sentimento que parecia escondido. (A propósito, pra entrar no clima, coloquei uns mp3 dela pra ouvir.)

Quanto ao elenco, gosto do Kevin Kline. Ele fez um Cole Porter digno. Já Ashley Judd podia ter comovido mais como a mulher que ama demais o marido, e prefere continuar com ele, mesmo sabendo de suas escapulidas com homens. As seqüências que mostram o seu lado gay são poucas e discretas. A impressão que se tem no filme é que ele amava a sua mulher espiritualmente, mas desejava sexualmente os homens.

Entre as cenas mais marcantes, destaco aquela em que Kline incentiva um ator (prestes a desistir) a cantar no palco a difícil "Night and Day". Quanto às participações especiais de alguns cantores pop como Robbie Williams, Alanis Morrisette, etc, gostei da versão de "Begin the Beguine", apesar da voz pouca delicada de Sheryl Crow.

Um amigo meu tinha falado que quando foi ver o filme durante a semana, o cinema estava cheio de gays quarentões cantando as canções de Porter. Não vi nada disso hoje, mas a maior parte das pessoas era mesmo gente de mais de 30 anos. Gostei mais do que esperava do filme, principalmente levando em consideração ser um musical à moda antiga. O último do gênero que vi - CHICAGO - eu odiei.

quinta-feira, janeiro 06, 2005

O DIÁRIO DE UM CINÉFILO GANHOU O QUEPE DO COMODORO!!!

É com muito prazer e alegria que anuncio aqui a minha premiação na categoria Melhor Blog de Cinema, pelo Júri Oficial da 1ª edição do Quepe do Comodoro. Como já havia comentado, fiquei triste por não ter podido ir a São Paulo receber o troféu das mãos do Carlão ou da Vanessa Goulart. Quase chorei por não ter podido estar lá. Se bem que se eu tivesse ido, aí é que eu ia chorar mesmo de tanta emoção. Mas agora já passou, não adianta mais lamentar. E de qualquer maneira, eu devo receber o troféu de uma maneira bastante especial em breve. Quem me representou lá foi o amigão Eduardo Aguilar.

Já que não estive lá, vou manifestar os meus agradecimentos aqui mesmo. A primeira pessoa a quem quero agradecer é, claro, o nosso querido Carlos Reichenbach, esse homem que é um amante do cinema e uma figura extremamente generosa, não apenas para os amigos, mas pela vontade que tem de passar para as outras pessoas o seu vasto conhecimento no assunto. Nenhum outro cineasta brasileiro está tão disponível para conversar com quem quiser se aproximar dele. Agora, através do seu blog e site e das sessões duplas do Comodoro; antes, através de suas colunas no site Terra e no Cineclick. Mesmo antes da era do blog, as suas colunas já eram bem interativas. Ele publicava as cartas dos leitores no final de cada coluna e respondia aos seus fiéis, por mais simples que fosse a pergunta. Não importava se o leitor era grande conhecedor do assunto ou não. É inegável a importância dessas colunas para a formação de muitos cinéfilos, que descobriam raridades graças a ele.

Foi a partir de uma dessas colunas que primeiro tive contato com ele. Acho que isso já faz uns cinco anos. Fiquei realmente bastante feliz em obter resposta quando enviei uma carta a ele, comentando sobre algum filme visto no fim de semana. Às vezes colocava algo sobre minha vida, alguma aventura que tinha passado (naquele tempo as aventuras até eram mais comuns pra mim). Minhas cartas para o "Cartas do Reichenbomber", como era chamada sua coluna no portal Terra, começaram a ficar mais constantes. (Depois, quando entrei na lista Canibal Holocausto, soube que o Daniel Caetano, crítico da Contracampo, até achava que eu não existia, que eu era uma invenção do Carlão, uma espécie de desculpa para falar de certos filmes.) Ainda é possível ler as colunas publicadas no Terra, mas as mais memoráveis foram aquelas publicadas no Cineclick - infelizmente o site tirou do ar todas as colunas. Foi nesse período bastante conturbado que Carlão expôs para todos os leitores aquela que talvez tenha sido a fase mais difícil de sua vida, quando ele teve que se submeter a uma cirurgia no coração, detalhando todo o doloroso processo. Graças a Deus que além de ele ter sobrevivido a tudo, ele retornou com todo gás ao cinema, fazendo dois filmes num curto período de tempo e ainda cheio de projetos para os próximos anos.

Foi numa dessas colunas que ele me convidou para ingressar na lista Canibal Holocausto, criada pelo Thomaz, lugar onde se discutia filmes de terror de baixo orçamento, preferencialmente europeus. A partir daquele momento - o ano era 2001 - meu interesse por cinema aumentou exponencialmente, com um alargamento dos horizontes e descoberta de coisas que eu nem sabia que existia. A lista hoje não está na sua melhor fase, muitos dos melhores integrantes não mais participam ativamente ou deixaram a lista, mas continua sendo referência na internet. Apesar de ser a forma mais prática de se discutir filmes, hoje as listas têm que disputar espaço com os blogs e os fóruns do orkut.

A vontade de criar um blog, veio a partir das visitas constantes ao blog do Renato Doho, um dos melhores amigos que pude encontrar nas listas de discussão. Foi o Renato que me deu algumas dicas básicas de como criar o blog, e aos poucos fui publicando minhas bobagens na internet. Acredito que de 2002 até 2004/2005, evoluí bastante na maneira de escrever e expressar minhas impressões. Se eu mereci ganhar esse prêmio, não foi pelo meu conhecimento do assunto (ainda em formação) ou por escrever ótimos textos (fico atrás de muito blogueiro nesse quesito), mas pela paixão que tenho pelo cinema e pela dedicação ao blog. Costumo dizer que o blog é a única coisa da minha vida que está mais ou menos organizada.

Esse ano, o blog resistiu a um problema de saúde que tive. Contraí L.E.R e, junto com isso, várias complicações (tendinite, bursite e até labirintite), mas a vontade de continuar mantendo esse diário era maior. Ainda hoje tenho que me policiar com a postura e com o tempo de uso no computador, mas acredito que esse problema está sob controle.

Agradeço a todos os amigos que ajudaram a transformar o blog num espaço de discussão, de interação e de amizade. Depois do blog, conheci mais um monte de gente interessante. Tanta gente que eu não vou falar os nomes sob o risco de esquecer alguém importante.

É isso. Espero que o Quepe do Comodoro seja um prêmio que continue por muitos e muitos anos, como uma forma de incentivo para essa nova geração de escritores de cinema, que está surgindo na internet, principalmente através dos blogs, que hoje é o meio mais democrático e prático para quem quer expor seus pensamentos e impressões.

Quem quiser saber mais detalhes sobre os premiados, acesse o link. E vamos aguardar a cobertura da festa, com as fotos do evento no blog do Carlão. Assim que estiver de posse do troféu, posto uma foto aqui.

quarta-feira, janeiro 05, 2005

A LENDA DO TESOURO PERDIDO (National Treasure)



E hoje é a aguardada noite de entrega do prêmio Quepe do Comodoro. Deus sabe como eu queria estar lá. Queria conhecer pessoalmente o Carlão, o Aguilar, o Leandro, o Sergio, o Vebis e o pessoal das listas e blogues. Pena as passagens daqui pra São Paulo serem tão caras pra mim. Além do problema da grana, ainda fiquei preso nos meus dois trabalhos nesse início de ano. Escravidão é fogo. Ainda assim, tentei contatos com algumas empresas para patrocinar minha viagem, mas foi em vão. Agora, hoje que é o dia, dá uma pontinha de arrependimento de não ter feito a loucura de ter me mandado pra lá, mesmo tendo que passar o resto do ano quebrado financeiramente. O que resta a fazer agora é aguardar os resultados e a cobertura na imprensa e nos vários sites e blogues. Continuemos com os filmes, então.

Até que o primeiro filme visto em 2005 me surpreendeu. Estava esperando mais um blockbuster barulhento típico do produtor Jerry Bruckheimer, mas o que eu encontrei foi uma divertidíssima aventura de caça ao tesouro, com seqüências eletrizantes. Eu não parava de roer as unhas durante o filme inteiro.

Talvez o bom resultado do filme seja por causa do diretor Jon Turteltaub. Os dois anteriores que vi dele - ENQUANTO VOCÊ DORMIA (1995) e INSTINTO (1999) - são bons filmes. O estrelado pela Sandra Bullock principalmente.

A LENDA DO TESOURO PERDIDO é um filme que mistura aventuras arqueológicas estilo Indiana Jones com os filmes de técnicas inteligentes de roubo. Nicolas Cage é um caçador de tesouros que desde a infância sonha encontrar o tesouro dos templários. Até que um dia ele consegue encontrar uma pista que o leva à Declaração de Independência dos EUA, onde deve ter um mapa do tesouro. Sua tarefa agora é "pegar emprestado" a Declaração. Também no elenco, a belíssima Diane Kruger (a Helena, de TRÓIA) como funcionária do Governo, Sean Bean como o inimigo de Cage, Jon Voight como seu pai e Harvey Keitel como o agente do FBI.

É claro que se trata de um filme despretensioso e que se for visto com muita expectativa pode causar até uma certa frustração. Também não é um filme que, depois de terminada a sessão, vai ficar na sua mente por um bom tempo. É uma aventura das boas que desocupa a cabeça das preocupações da vida durante os seus 130 minutos. Aliás, fiquei até surpreso ao procurar no IMDB a duração do filme. Achei que era de menos de duas horas. Sinal de que o tempo passou voando.

segunda-feira, janeiro 03, 2005

TOP 20 E BALANÇO 2004 E MELHORES DO ANO

1. KILL BILL (Vols. 1 e 2), de Quentin Tarantino
2. A VILA, de M. Night Shyamalan
3. A INGLESA E O DUQUE, de Eric Rohmer
4. PACTO DE JUSTIÇA, de Kevin Costner

5. ELEFANTE, de Gus Van Sant
6. A PAIXÃO DE CRISTO, de Mel Gibson
7. COLATERAL, de Michael Mann
8. LUGARES COMUNS, de Adolfo Aristarain

9. MADRUGADA DOS MORTOS, de Zack Snider
10. A SÉTIMA VÍTIMA, de Jaume Balagueró
12. 21 GRAMAS, de Alejandro González Iñárritu
12. RESPIRO, de Emanuele Crialese

13. HARRY POTTER E O PRISIONEIRO DE AZKABAN, de Alfonso Cuarón
14. CELULAR - UM GRITO DE SOCORRO, de David R. Ellis
15. ENCONTROS E DESENCONTROS, de Sofia Coppola
16. EFEITO BORBOLETA, de Eric Bress e J. Mackye Gruber

17. MESTRE DOS MARES: O LADO MAIS DISTANTE DO MUNDO, de Peter Weir
18. POR UM TRIZ, de Carl Franklin
19. COMO SE FOSSE A PRIMEIRA VEZ, de Peter Segal
20. SWIMMING POOL - À BEIRA DA PISCINA, de François Ozon

Antes que alguém vá estranhar a presença de alguns filmes que foram lançados no Brasil em 2003, aviso que esse meu ranking leva em consideração os filmes vistos por mim no cinema (apenas no cinema) durante o ano de 2004. Deixei de fora filmes do século passado. Senão, os filmes do Buñuel e os Contos das Estações de Rohmer encheriam o top 10, fácil.

Comparando com 2003, esse ano foi até superior. Afinal, tivemos o retorno triunfal de Mr. Quentin Tarantino com a sangrenta saga de vingança de Beatrix Kiddo. Mas foi por pouco que KILL BILL conquistou a primeira posição no meu ranking, já que o igualmente odiado e amado A VILA corre o risco de ser o melhor filme de Shyamalan, o maior cineasta surgido no cinema americano nos últimos dez anos. A VILA foi o grande filme de horror do ano, deixando claro que o filme transcende o gênero, sendo também, ao mesmo tempo, uma história de amor e um filme político e de auto-reflexão.

Falando em filmes sobre a atual situação social e política americana, ELEFANTE, de Gus Van Sant, estreou atrasado no Brasil em comparação com outros filmes de temática semelhante, como SOBRE MENINOS E LOBOS, de Clint Eastwood, e TIROS EM COLUMBINE, de Michael Moore, mas revelou o diretor Gus Van Sant no seu auge técnico e criativo.

Entre outros filmes de terror de alto nível, tivemos esse ano: MADRUGADA DOS MORTOS, o surpreendente remake do DESPERTAR DOS MORTOS, de Romero; A SÉTIMA VÍTIMA, belo trabalho atmosférico do espanhol Jaume Balagueró, trazendo de volta o prazer de ver um filme europeu de gênero na telona; e EFEITO BORBOLETA, que não é totalmente terror, mas cumpre muito bem a função de assustar o espectador durante sua primeira metade, além de brincar com as possibilidades.

Ainda dentro do cinema de gênero, o filme de suspense está bem representado pelo espetacular cinema de Michael Mann - COLATERAL - e por dois outros filmes menores, mas dignos de nota: CELULAR - UM GRITO DE SOCORRO, de David R. Ellis, herdeiro do cinema de Larry Cohen; e POR UM TRIZ, o filme noir ensolarado de Carl Franklin.

Fora do cinema americano, nesse ano, o cinema argentino mostrou sua vitalidade. Só vi dois exemplares dessa nova cinematografia, mas um desses filmes já entrou no top 10: o melancólico LUGARES COMUNS, de Adolfo Aristarain. O italiano RESPIRO, de Emanuele Crialese, é outro filme que vai além das palavras. Pura poesia e misticismo. E François Ozon nos presenteou com um thriller cheio de sensualidade e com aqueles peitos maravilhosos de Ludvine Sagnier.

Foi um ano bom para as comédias também. A que mais se destacou foi COMO SE FOSSE A PRIMEIRA VEZ, uma espécie de atualização do delicioso FEITIÇO DO TEMPO, de Harold Ramis.

A PAIXÃO DE CRISTO foi com certeza o filme mais polêmico do ano. Ficou até conhecido como o "filme que mata", já que três pessoas morreram vendo o filme. Naturalmente, muita gente não gostou. Achou apelativo, masoquista, anti-semita, homofóbico e torturante. Vai ver é tudo isso mesmo, mas eu achei espetacular assim mesmo. Junto com MINHA VIDA SEM MIM, foi o filme que mais me fez chorar no ano.

PACTO DE JUSTIÇA é o melhor western já realizado há muito tempo. Kevin Costner conseguiu realizar um filme que resgata antigos valores como a coragem e a lealdade, nesses nossos tempos estranhos. Costner sempre pareceu mesmo um sujeito dos anos 40 ou 50.

Dois cineastas mexicanos mostraram o seu enorme talento dentro do esquema industrial hollywoodiano. O 21 GRAMAS, de Alejandro González Iñárritu, eu já esperava algo de primeira, tendo em vista o seu antecessor AMORES BRUTOS, mas nada como surpreender-se com algo que você esperava ser apenas um filminho adolescente. O terceiro Harry Potter provavelmente vai se destacar de todos os que o sucederem. Pra ver o quanto a direção faz a diferença.

Entre os candidatos ao Oscar do inicio do ano, dois se destacaram: o kar-waesco ENCONTROS E DESENCONTROS, de Sofia Coppola, e o naturalista MESTRE DOS MARES: O LADO MAIS DISTANTE DO MUNDO.

A maior decepção do ano foi a má distribuição do super-aguardado ANTES DO PÔR-DO-SOL, de Richard Linklater (o Rohmer texano). Se o filme não chegou aqui ainda, pelo menos nesse ano tive a chance de descobrir o cinema de Eric Rohmer. Além de poder conferir os deliciosos Contos das Quatro Estações, tive o prazer de assistir o espetacular A INGLESA E O DUQUE.

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OS FILMES ÓTIMOS QUE FICARAM DE FORA

Antes que me perguntem se eu não gostei de tal filme, segue a lista dos filmes ótimos que não entraram na listagem final: ESCOLA DE ROCK, A ENCANTADORA DE BALEIAS, DOLLS, O RETORNO DO TALENTOSO RIPLEY, SOB O SOL DE TOSCANA, EM CARNE VIVA, NA CAPTURA DOS FRIEDMANS, HOMEM-ARANHA 2, MENINAS MALVADAS, MINHA VIDA SEM MIM, BRILHO ETERNO DE UMA MENTE SEM LEMBRANÇAS, FAHRENHEIT 11 DE SETEMBRO, INTERVENÇÃO DIVINA, REDENTOR, HISTÓRIAS MÍNIMAS, MÁ EDUCAÇÃO, OS INCRÍVEIS, CONTRA TODOS e MEU TIO MATOU UM CARA.

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RANKING CINEMA NACIONAL

1. MEU TIO MATOU UM CARA, de Jorge Furtado
2. CONTRA TODOS, de Roberto Moreira
3. REDENTOR, de Cláudio Torres
4. NARRADORES DE JAVÉ, de Eliana Caffé
5. ONDE ANDA VOCÊ, de Sérgio Rezende
6. O QUINZE, de Jurandir de Oliveira
7. ÔNIBUS 174, de José Padilha e Felipe Lacerda
8. CAZUZA - O TEMPO NÃO PARA, de Sandra Werneck e Walter Carvalho
9. BENJAMIM, de Monique Gardenberg
10. NINA, de Heitor Dhalia

Esse foi um ano fraco pro cinema nacional. Os filmes que eu mais ansiava ver - GAROTAS DO ABC, de Carlos Reichenbach, e FILME DE AMOR, de Julio Bressane - nem pintaram por aqui. O filme do Bressane até teve uma exibição, mas apenas para quem estava participando de um simpósio de filosofia. Outros muito elogiados como O PRISIONEIRO DA GRADE DE FERRO, de Paulo Sacramento, e DE PASSAGEM, de Ricardo Elias, também foram ausências sentidas. ONDE ANDA VOCÊ, quinto lugar na lista, foi um dos filmes mais malhados do ano, mas achei impressionante como esse filme foi prazeiroso pra mim.

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AS GRANDES ATRIZES DO ANO

Não vou falar dos atores, mas a mulher nasceu para representar. Sem falar que elas passam um misto de sedução e entrega que homem nenhum é capaz. Destaco esse ano, entre as mais belas performances:

1. Bryce Dallas Howard (A VILA)
2. Valeria Golino (RESPIRO)
3. Uma Thurman (KILL BILL)
4. Lindsay Lohan (MENINAS MALVADAS)
5. Keisha Castle-Hughes (A ENCANTADORA DE BALEIAS)

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AS MINI-MOSTRAS

Esse foi o ano em que tive o prazer de ver na telona vários filmes de dois diretores gigantes. De Luis Buñuel, vi OS ESQUECIDOS, O ALUCINADO, A ILUSÃO VIAJA DE BONDE, ENSAIO DE UM CRIME e NAZARIN, além do documentário A PROPÓSITO DE BUÑUEL. De Eric Rohmer, os Contos da Estações são filmes que só quem viu sabe o que significa. Fora isso, vi também no cinema ROMA DE FELLINI.

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OS PIORES FILMES DO ANO

Não poderia deixar de faltar a lista dos horrorosos, horríveis e repugnantes:

1. O EXORCISTA - O INÍCIO, de Renny Harlin
2. OLGA, de Jayme Monjardim
3. A BATALHA DE RIDDICK, de David Twohy
4. SHREK 2, da Dreamworks
5. NINA, de Heitor Dhalia


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AS PRECIOSIDADES DESCOBERTAS NA TELINHA

Fui enumerar os melhores filmes vistos na tela pequena (VHS/DVD/DIVX) e a quantidade de filmes foi tão grande que resolvi colocar aqui apenas os 50 melhores títulos. A ordem é mais ou menos cronológica, que fui pegando pelo arquivo do blog. Não é um ranking. No meio de filmes em longa-metragem é possível encontrar uma série de curtas para a internet (RABBITS) e uma série em anime (BERSERK). Duas obras-primas.

1. PERFECT BLUE, de Satoshi Kon
2. O RIO, de Tsai Ming-Liang
3. RABBITS, de David Lynch
4. CRONOS, de Guillermo Del Toro
5. MILLENNIUM ACTRESS, de Satoshi Kon
6. ERASERHEAD, de David Lynch
7. O ÚLTIMO BEIJO, de Gabrielle Muccino
8. CRIME VERDADEIRO, de Clint Eastwood
9. A ÚLTIMA GARGALHADA, de F.W. Murnau
10. E O SANGUE SEMEOU A TERRA, de Anthony Mann
11. AS AMOROSAS, de Walter Hugo Khouri
12. O HOMEM QUE NÃO ESTAVA LÁ, dos irmãos Coen
13. O QUARTO VERDE, de François Truffaut
14. O AMOR EM FUGA, de François Truffaut
15. A VINGANÇA DE FRANKENSTEIN, de Terence Fisher
16. TORRENTE, de Santiago Segura
17. REPULSA AO SEXO, de Roman Polanski
18. VERDADES E MENTIRAS, de Orson Welles
19. WINCHESTER 73, de Anthony Mann
20. BROTHER - A MÁFIA JAPONESA EM LOS ANGELES, de Takeshi Kitano
21. BUFFALO 66, de Vincent Gallo
22. ANIVERSÁRIO MACABRO, de Wes Craven
23. GOZU, de Takashi Miike
24. PAT GARRET & BILLY THE KID, de Sam Peckinpah
25. FAHRENHEIT 451, de François Truffaut
26. O HOMEM DO OESTE, de Anthony Mann
27. O SILÊNCIO DA MORTE / O VINGADOR SILENCIOSO, de Sergio Corbucci
28. VIRIDIANA, de Luis Buñuel
29. VIA LÁCTEA / O ESTRANHO CAMINHO DE SANTIAGO, de Luis Buñuel
30. ESSE OBSCURO OBJETO DO DESEJO, de Luis Buñuel
31. ANJOS CAÍDOS, de Wong Kar-Wai
32. CREEPSHOW, de George Romero
33. AGONIA E GLÓRIA, de Samuel Fuller
34. STALKER, de Andrei Tarkovski
35. O SACRIFÍCIO, de Andre Tarkovski
36. A PRIMEIRA NOITE DE TRANQÜILIDADE, de Valerio Zurlini
37. A TORTURA DO MEDO, de Michael Powell
38. UM TIRO NA NOITE, de Brian DePalma
39. BERSERK, de Naohito Takahashi
40. O ASSASSINATO DE TRÓTSKI, de Joseph Losey
41. AS TRÊS MÁSCARAS DO TERROR, de Mario Bava
42. M - O VAMPIRO DE DÜSSELDORF, de Fritz Lang
43. OS 5 VENENOS DE SHAOLIN, de Chang Che
44. JOVEM E INOCENTE, de Alfred Hitchcock
45. A DOCE VIDA, de Federico Fellini
46. O MENSAGEIRO TRAPALHÃO, de Jerry Lewis
47. A RAINHA DIABA, de Antonio Carlos Fontoura
48. HAUTE TENSION, de Alexandre Aja
49. O HOMEM QUE BURLOU A MÁFIA, de Don Siegel
50. ROTA SUICIDA, de Clint Eastwood

Apesar de tantos filmes espetaculares, 2004 não foi um ano muito bom pra mim no que se refere à vida pessoal. Mas nada de reclamar. E torcer para que 2005 seja "o" ano.