MARIO BAVA EM DOIS FILMES
Reg Park como o homem mais forte da Terra em HÉRCULES NO CENTRO DA TERRA
Norma Bengell enfrentando ameaças alienígenas em O PLANETA DOS VAMPIROS
E continua minha peregrinação pelo cinema de Mario Bava. Aos poucos vou conhecendo mais filmes dele. Comento brevemente dois trabalhos de gêneros um pouco diferentes, mas ambos, de uma forma ou de outra, transitam um pouco pelo gênero horror.
HÉRCULES NO CENTRO DA TERRA (Ercole al Centro della Terra / Hercules in the Haunted World / Hercules at the Center of the Earth)
Um exemplar de Bava dirigindo um peplum, também conhecido como o subgênero "sandálias e saiote". HÉRCULES NO CENTRO DA TERRA (1961) até me deu um pouco de sono, mas tem momentos bem interessantes, inventivos e até engraçados. Por um momento, parecia que eu estava vendo um filme dos Trapalhões. Tem uma cena com um monstro tão tosco que chega a ser difícil não rir. Foi a primeira experiência de Bava com as cores, mostradas de maneira bem extravagante, quase psicodélica, num tempo em que o termo ainda nem era disseminado (ou era?). Interessantes os efeitos, que hoje são bem ultrapassados, como Hércules levantando uma pedra de isopor e fazendo cara de força. Ou a utlização de desenho animado para mostrar a queda de uma pessoa num abismo. Na história, Hércules vai até o reino de Plutão (o senhor dos infernos) em busca de um objeto que poderá tirar do transe a sua amada. A moça estava enfeitiçada por forças demoníacas, graças a um pacto feito com o rei interpretado por Christopher Lee. Mas o legal de tudo é que Bava nunca se leva a sério e pra um filme desse gênero, eu achei bem curto. Nem dá pra comparar com a seriedade de Leone em O COLOSSO DE RHODES. Destaque para a homenagem a NOSFERATU, do Murnau. Visto em DVD da ClassicLine.
Texto recomendado: o que o Thomaz escreveu para a Contracampo. O texto do Thomaz é extremamente respeitoso e conta detalhes interessantes das circunstâncias em que o filme foi feito, entre outras coisas.
O PLANETA DOS VAMPIROS (Terrore nello Spazio / Planet of the Vampires)
A principal curiosidade de O PLANETA DOS VAMPIROS (1965) para o público brasileiro é a presença da nossa Norma Bengell, recém saída da obra-prima NOITE VAZIA, de Walter Hugo Khouri. Nos anos 60 e 70, Norma costumava se alternar, filmando no Brasil e na Europa. Na história, uma nave espacial desce num estranho e desolado planeta para resgatar outra nave perdida, mas ao chegar lá alguns membros da tripulação começam a atacar uns aos outros. O PLANETA DOS VAMPIROS, junto com IT! THE TERROR FROM BEYOND SPACE (1958), é conhecido como o filme que mais influenciou ALIEN: O OITAVO PASSAGEIRO, de Ridley Scott. (Se bem que um filme que eu percebi muita semelhança com esse do Bava foi ENIGMA DO HORIZONTE, de Paul Anderson, por conta do clima hipnotizante de mistério dentro da nave.) Entre as cenas, destaque para o momento em que a tripulação da nave encontra os esqueletos gigantes dos habitantes do planeta. Vi o filme em divx mas ele chegou a ser lançado em VHS no Brasil pela Lk-Tel/Columbia.
Texto recomendado: um texto de Derek Hill do site da Images Journal. O texto de Hill, além de fazer jus ao visual alucinante do filme com o uso dos mais diversos adjetivos, conta detalhes sobre como foi filmada a seqüência do pouso da nave, assim como do uniforme retrô dos tripulantes e da trilha sonora de Gino Marinuzzi Jr.
terça-feira, agosto 31, 2004
domingo, agosto 29, 2004
COLATERAL (Collateral)
Um filmaço esse trabalho de Michael Mann. Tom Cruise continua a sua carreira de prestígio ao trabalhar com grandes diretores e tem, em COLATERAL, uma de suas melhores performances.
COLATERAL conquista o respeito e a simpatia do público já nos momentos iniciais, quando mostra o taxista vivido por Jamie Foxx em sua rotina noturna. As imagens de Los Angeles cheia de luzes, as canções que tocam no carro, os enquadramentos de dentro do táxi numa belíssima utilização do scope, o clima romântico entre Foxx e Jada Pinket Smith, tudo isso já chega pra mostrar que não estamos vendo um filme vulgar.
Mas o bom é que o filme fica muito melhor com a química Cruise/Foxx. Principalmente a partir da cena em que a primeira vítima de Tom Cruise, o assassino profissional, cai em cima do capô do carro de Foxx. E o que dizer daquela cena em que Cruise mata dois ladrões? De uma força impressionante.
Talvez os únicos problemas do filme sejam os clichês lá pelo final e a quebra de ritmo a partir da cena de Cruise indo visitar a mãe de Foxx no hospital. Mas o ritmo é recuperado em poucos minutos para ganhar mais suspense no final.
Não sou muito conhecedor da obra de Mann, mas dos três filmes que vi dele - os outros foram FOGO CONTRA FOGO (1995) e O INFORMANTE (1999) - esse é o meu preferido. Qualquer dia, eu vejo os outros filmes dele que perdi. Interessante que tudo foi filmado com câmera digital. Foi a melhor fotografia em digital que eu já vi. Superior até ao milionário STAR WARS - EPISÓDIO II.
Um filmaço esse trabalho de Michael Mann. Tom Cruise continua a sua carreira de prestígio ao trabalhar com grandes diretores e tem, em COLATERAL, uma de suas melhores performances.
COLATERAL conquista o respeito e a simpatia do público já nos momentos iniciais, quando mostra o taxista vivido por Jamie Foxx em sua rotina noturna. As imagens de Los Angeles cheia de luzes, as canções que tocam no carro, os enquadramentos de dentro do táxi numa belíssima utilização do scope, o clima romântico entre Foxx e Jada Pinket Smith, tudo isso já chega pra mostrar que não estamos vendo um filme vulgar.
Mas o bom é que o filme fica muito melhor com a química Cruise/Foxx. Principalmente a partir da cena em que a primeira vítima de Tom Cruise, o assassino profissional, cai em cima do capô do carro de Foxx. E o que dizer daquela cena em que Cruise mata dois ladrões? De uma força impressionante.
Talvez os únicos problemas do filme sejam os clichês lá pelo final e a quebra de ritmo a partir da cena de Cruise indo visitar a mãe de Foxx no hospital. Mas o ritmo é recuperado em poucos minutos para ganhar mais suspense no final.
Não sou muito conhecedor da obra de Mann, mas dos três filmes que vi dele - os outros foram FOGO CONTRA FOGO (1995) e O INFORMANTE (1999) - esse é o meu preferido. Qualquer dia, eu vejo os outros filmes dele que perdi. Interessante que tudo foi filmado com câmera digital. Foi a melhor fotografia em digital que eu já vi. Superior até ao milionário STAR WARS - EPISÓDIO II.
sexta-feira, agosto 27, 2004
BATER OU CORRER EM LONDRES (Shanghai Knights)
Provavelmente esse é o melhor filme que Jackie Chan fez nos EUA. Quer dizer, que ele fez nos EUA eu ainda considero ARREBENTANDO EM NOVA YORK (1995), mas como é uma produção de Hong Kong, aí não conta. Tomara que Jackie Chan consiga finalmente fazer filmes em Hollywood tão bons quanto as suas produções asiáticas.
Talvez BATER OU CORRER EM LONDRES (2003) seja tão bom porque o diretor do filme (David Dobkin) entregou a direção das cenas de luta ao próprio Chan, além, é claro, das coreografias. Vê-se nas cenas deletadas no DVD quantas lutas legais ainda ficaram de fora do filme, mas se não as tivessem cortado, o filme ficaria com quase duas horas e meia, algo um pouco estranho e até cansativo para uma comédia de pancadaria. Uma coisa que eu reparei foi que ver as lutas sem a irritante música original é muito mais empolgante.
Acho que esse filme só não é melhor em relação ao primeiro BATER OU CORRER (2000) no desenvolvimento da relação de amizade entre Chan e Owen Wilson. No primeiro, como eles estavam se conhecendo, as situações eram mais engraçadas. Porém, a continuação ganha nos demais aspectos. Principalmente no quesito 'lutas coreografadas'. Há até uma homenagem a "Singin' in the Rain" numa das lutas de rua. Interessante também a contextualização da Londres Vitoriana. Além da própria Rainha Vitória, aparecem também Jackie, o Estripador, Charles Chaplin e Arthur Conan Doyle. Alguns erros cronológicos devem ser perdoados.
O DVD traz cerca de meia hora de cenas deletadas, dois áudios de comentário(um do diretor e outro dos roteiristas) legendados em português, um pequeno making of e um clipe bacana, trazendo cenas do filme em preto e branco, ao som de música dos anos 20, para lembrar a influência que Jackie Chan recebeu das comédias mudas americanas.
Dobkin está finalizando outra comédia com Owen Wilson chamada THE WEDDING CRASHERS.
Provavelmente esse é o melhor filme que Jackie Chan fez nos EUA. Quer dizer, que ele fez nos EUA eu ainda considero ARREBENTANDO EM NOVA YORK (1995), mas como é uma produção de Hong Kong, aí não conta. Tomara que Jackie Chan consiga finalmente fazer filmes em Hollywood tão bons quanto as suas produções asiáticas.
Talvez BATER OU CORRER EM LONDRES (2003) seja tão bom porque o diretor do filme (David Dobkin) entregou a direção das cenas de luta ao próprio Chan, além, é claro, das coreografias. Vê-se nas cenas deletadas no DVD quantas lutas legais ainda ficaram de fora do filme, mas se não as tivessem cortado, o filme ficaria com quase duas horas e meia, algo um pouco estranho e até cansativo para uma comédia de pancadaria. Uma coisa que eu reparei foi que ver as lutas sem a irritante música original é muito mais empolgante.
Acho que esse filme só não é melhor em relação ao primeiro BATER OU CORRER (2000) no desenvolvimento da relação de amizade entre Chan e Owen Wilson. No primeiro, como eles estavam se conhecendo, as situações eram mais engraçadas. Porém, a continuação ganha nos demais aspectos. Principalmente no quesito 'lutas coreografadas'. Há até uma homenagem a "Singin' in the Rain" numa das lutas de rua. Interessante também a contextualização da Londres Vitoriana. Além da própria Rainha Vitória, aparecem também Jackie, o Estripador, Charles Chaplin e Arthur Conan Doyle. Alguns erros cronológicos devem ser perdoados.
O DVD traz cerca de meia hora de cenas deletadas, dois áudios de comentário(um do diretor e outro dos roteiristas) legendados em português, um pequeno making of e um clipe bacana, trazendo cenas do filme em preto e branco, ao som de música dos anos 20, para lembrar a influência que Jackie Chan recebeu das comédias mudas americanas.
Dobkin está finalizando outra comédia com Owen Wilson chamada THE WEDDING CRASHERS.
quarta-feira, agosto 25, 2004
NATUREZA QUASE HUMANA (Human Nature)
Outro filme que já vi há semanas e só agora comento é NATUREZA QUASE HUMANA (2001), primeiro longa-metragem do francês Michel Gondry. Assim como o seu amigo Spike Jonze, antes de ingressar no cinema, ele já era famoso por causa de seus videoclipes bacanas. Inclusive, saiu nos EUA um DVD com uma coleção de 27 clipes que ele dirigiu, entre eles o famoso vídeo dos White Stripes "Fell in Love with a Girl" (aquele com animação feita com bonecos lego); "Everlong", do Foo Fighters; "Human Behaviour", da Björk; "Protection", do Massive Attack; "Like a Rolling Stone", dos Rolling Stones. Lembrando que nesse último já tinha participação de Patricia Arquette, que está em NATUREZA QUASE HUMANA.
Lembro que quando ouvi pela primeira vez as notícias sobre o filme, quando ele aportou no festival de Cannes, chamou-me a atenção o fato de ele trazer Patricia Arquette andando pelada numa floresta e com o corpo coberto de pêlos. Já se sabia, então, que se tratava de um filme estranho com personagens esquisitos. Coisa da cabeça perturbada do modernoso Charlie Kaufman.
Aliás, é por conta de os dois longas de Gondry terem roteiro de Kaufman, que ficamos sem saber qual o seu verdadeiro estilo. O próximo projeto dele no cinema chama-se THE SCIENCE OF SLEEP, mas por enquanto no IMDB não há quase nada de informação a respeito.
Na história de NATUREZA QUASE HUMANA temos Patricia Arquette como a mulher que tem pêlos em todo o corpo (até no rosto), o homem que foi criado por um grupo de macacos (Rhys Ifans) e o cientista maluco (Tim Robbins). O desenvolvimento da história é interessante e contada em flashback pelos três personagens em três diferentes lugares. O filme não é tão bom quanto o recente BRILHO ETERNO DE UMA MENTE SEM LEMBRANÇAS (2004) mas é no mínimo interessante.
No DVD tem umas entrevistas com o elenco, mas achei tudo "enchimento de lingüiça". Os atores só falam coisas óbvias sobre os personagens. Pra quem já viu o fime são informações inúteis e o tal making of também não acrescenta muita coisa.
Outro filme que já vi há semanas e só agora comento é NATUREZA QUASE HUMANA (2001), primeiro longa-metragem do francês Michel Gondry. Assim como o seu amigo Spike Jonze, antes de ingressar no cinema, ele já era famoso por causa de seus videoclipes bacanas. Inclusive, saiu nos EUA um DVD com uma coleção de 27 clipes que ele dirigiu, entre eles o famoso vídeo dos White Stripes "Fell in Love with a Girl" (aquele com animação feita com bonecos lego); "Everlong", do Foo Fighters; "Human Behaviour", da Björk; "Protection", do Massive Attack; "Like a Rolling Stone", dos Rolling Stones. Lembrando que nesse último já tinha participação de Patricia Arquette, que está em NATUREZA QUASE HUMANA.
Lembro que quando ouvi pela primeira vez as notícias sobre o filme, quando ele aportou no festival de Cannes, chamou-me a atenção o fato de ele trazer Patricia Arquette andando pelada numa floresta e com o corpo coberto de pêlos. Já se sabia, então, que se tratava de um filme estranho com personagens esquisitos. Coisa da cabeça perturbada do modernoso Charlie Kaufman.
Aliás, é por conta de os dois longas de Gondry terem roteiro de Kaufman, que ficamos sem saber qual o seu verdadeiro estilo. O próximo projeto dele no cinema chama-se THE SCIENCE OF SLEEP, mas por enquanto no IMDB não há quase nada de informação a respeito.
Na história de NATUREZA QUASE HUMANA temos Patricia Arquette como a mulher que tem pêlos em todo o corpo (até no rosto), o homem que foi criado por um grupo de macacos (Rhys Ifans) e o cientista maluco (Tim Robbins). O desenvolvimento da história é interessante e contada em flashback pelos três personagens em três diferentes lugares. O filme não é tão bom quanto o recente BRILHO ETERNO DE UMA MENTE SEM LEMBRANÇAS (2004) mas é no mínimo interessante.
No DVD tem umas entrevistas com o elenco, mas achei tudo "enchimento de lingüiça". Os atores só falam coisas óbvias sobre os personagens. Pra quem já viu o fime são informações inúteis e o tal making of também não acrescenta muita coisa.
terça-feira, agosto 24, 2004
A PRIMEIRA NOITE DE TRANQÜILIDADE (La Prima Notte di Quiete)
O grande filme desse final de semana (e talvez de todo o mês) pra mim foi A PRIMEIRA NOITE DE TRANQÜILIDADE (1972), de Valerio Zurlini. Infelizmente esse é o único filme desse diretor disponível em vídeo no Brasil. Zurlini é um dos cineastas preferidos de Carlos Reichenbach. Inclusive, para o Carlão, DOIS DESTINOS (1962), de Zurlini, é o melhor filme que ele viu na vida.
Como não estive entre o grupo de privilegiados que pôde ver a obra completa desse cineasta na telona numa edição da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, fico apenas imaginando o êxtase que pode ter sido para a platéia. Digo isso tendo visto apenas A PRIMEIRA NOITE DE TRANQÜILIDADE numa cópia em vídeo. Mas o que eu vi de poesia e de sensibilidade nesse filme já foi suficiente pra acreditar na excelência desse diretor que mereceria ser mais lembrado entre os grandes mestres italianos. Bem que a Versátil podia começar a trazer para o Brasil os seus filmes. A distribuidora tem trazido muito Rossellini, Fellini, Antonioni, Visconti e Pasolini. Eu ficaria muito mais interessado em ver os filmes de Zurlini. (Se bem que ando bem a fim de pegar um monte de fimes do Pasolini pra ver ultimamente.)
O filme tem um frescor que os filmes do Antonioni - diretor com quem ele é freqüentemente comparado - não têm. Em vez de me deixar com sono, A PRIMEIRA NOITE DE TRANQÜILIDADE me deixou excitado. Todo aquele clima transgressor do começo da década de 70 é contagiante e intoxicante. O que dizer daquela cena em que Alain Delon está vendo a sua amada, a belíssima Sonia Petrovna - que está também no grandioso e arrastado LUDWIG (1972), de Visconti - dançando com outro cara? E o que é aquela música que toca durante essa cena? Maravilhosa. Tão bela quanto a beleza de Sonia Petrovna.
Foi fácil me identificar com o personagem de Delon (Daniele Dominici), já que ele é um professor de literatura que ficou instigado com o olhar melancólico de uma bela estudante (Vanina) que se destacava de todos os outros da sala, inclusive intelectualmente. Uma vez que você se identifica com o personagem, você meio que se insere na ação. Mas apesar da identificação inicial com o personagem, não sei se entendi o seu sentimento no final. Talvez porque seus sentimentos estivessem mesmo confusos e difíceis de entender naquele turbilhão de emoções. Estaria Dominici voltando pra casa "apenas" com medo que Monica estivesse prestes a cometer suicídio, ou teria ele descoberto que Monica era mesmo o amor de sua vida e Vanina apenas uma paixão fulgaz?
Difícil ficar indiferente com toda aquela melancolia no ar. O olhar de desencanto de Delon, como se já soubesse de seu trágico destino, só se modifica um pouco quando se encontra com o olhos tristes de Vanina, como se fossem espelho dos seus. Só a partir daí ele pôde encontrar forças para enfrentar o seu destino. Ainda que saísse perdendo no final.
O grande filme desse final de semana (e talvez de todo o mês) pra mim foi A PRIMEIRA NOITE DE TRANQÜILIDADE (1972), de Valerio Zurlini. Infelizmente esse é o único filme desse diretor disponível em vídeo no Brasil. Zurlini é um dos cineastas preferidos de Carlos Reichenbach. Inclusive, para o Carlão, DOIS DESTINOS (1962), de Zurlini, é o melhor filme que ele viu na vida.
Como não estive entre o grupo de privilegiados que pôde ver a obra completa desse cineasta na telona numa edição da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, fico apenas imaginando o êxtase que pode ter sido para a platéia. Digo isso tendo visto apenas A PRIMEIRA NOITE DE TRANQÜILIDADE numa cópia em vídeo. Mas o que eu vi de poesia e de sensibilidade nesse filme já foi suficiente pra acreditar na excelência desse diretor que mereceria ser mais lembrado entre os grandes mestres italianos. Bem que a Versátil podia começar a trazer para o Brasil os seus filmes. A distribuidora tem trazido muito Rossellini, Fellini, Antonioni, Visconti e Pasolini. Eu ficaria muito mais interessado em ver os filmes de Zurlini. (Se bem que ando bem a fim de pegar um monte de fimes do Pasolini pra ver ultimamente.)
O filme tem um frescor que os filmes do Antonioni - diretor com quem ele é freqüentemente comparado - não têm. Em vez de me deixar com sono, A PRIMEIRA NOITE DE TRANQÜILIDADE me deixou excitado. Todo aquele clima transgressor do começo da década de 70 é contagiante e intoxicante. O que dizer daquela cena em que Alain Delon está vendo a sua amada, a belíssima Sonia Petrovna - que está também no grandioso e arrastado LUDWIG (1972), de Visconti - dançando com outro cara? E o que é aquela música que toca durante essa cena? Maravilhosa. Tão bela quanto a beleza de Sonia Petrovna.
Foi fácil me identificar com o personagem de Delon (Daniele Dominici), já que ele é um professor de literatura que ficou instigado com o olhar melancólico de uma bela estudante (Vanina) que se destacava de todos os outros da sala, inclusive intelectualmente. Uma vez que você se identifica com o personagem, você meio que se insere na ação. Mas apesar da identificação inicial com o personagem, não sei se entendi o seu sentimento no final. Talvez porque seus sentimentos estivessem mesmo confusos e difíceis de entender naquele turbilhão de emoções. Estaria Dominici voltando pra casa "apenas" com medo que Monica estivesse prestes a cometer suicídio, ou teria ele descoberto que Monica era mesmo o amor de sua vida e Vanina apenas uma paixão fulgaz?
Difícil ficar indiferente com toda aquela melancolia no ar. O olhar de desencanto de Delon, como se já soubesse de seu trágico destino, só se modifica um pouco quando se encontra com o olhos tristes de Vanina, como se fossem espelho dos seus. Só a partir daí ele pôde encontrar forças para enfrentar o seu destino. Ainda que saísse perdendo no final.
domingo, agosto 22, 2004
MULHER-GATO (Catwoman)
Por falta de outra opção nos cinemas, o filme visto nesse fim de semana foi mesmo MULHER-GATO, de Pitof. Mas até que não é tão ruim quanto eu imaginei que fosse. Pitof deixou sua marca: privilegiou a direção de arte, as tomadas rápidas, os becos escuros e o céu cinzento, coisas que já apareciam em VIDOCQ (2001).
O filme é agradável até o momento em que Patience (Halle Berry) morre e é ressuscitada pelos gatos. Depois disso, a exibição da roupa de couro e aquele chicote deixou tudo com clima de gozação. Vai ver o diretor, ou mais alguém por trás da produção do filme, deve ter achado a roupa da Mulher-Gato muito sadomasô e, pra sacanear, resolveram botar logo um chicote como acessório.
Sharon Stone já está fazendo papel de mulher mais velha e em decadência física. Sua personagem é esposa do dono de uma indústria de cosméticos e está deixando de ter o seu rosto estampado como símbolo de beleza e da qualidade dos produtos, para ser substituída por uma mulher mais jovem. Daqui a pouco, Sharon estará fazendo papel de avó. (E pensar que ela ainda vai ter coragem de fazer uma continuação de INSTINTO SELVAGEM, com 46 anos de idade...) Infelizmente o tempo é cruel e a juventude vai embora rapidinho.
Já Halle Berry está bem sensual. Aquele seu rebolado, vestida com roupas de couro, com os peitos saltando do decote e de salto alto, faz valer o ingresso. Mas, como diria o Jim Carrey em O MENTIROSO, já vi melhores.
Por falta de outra opção nos cinemas, o filme visto nesse fim de semana foi mesmo MULHER-GATO, de Pitof. Mas até que não é tão ruim quanto eu imaginei que fosse. Pitof deixou sua marca: privilegiou a direção de arte, as tomadas rápidas, os becos escuros e o céu cinzento, coisas que já apareciam em VIDOCQ (2001).
O filme é agradável até o momento em que Patience (Halle Berry) morre e é ressuscitada pelos gatos. Depois disso, a exibição da roupa de couro e aquele chicote deixou tudo com clima de gozação. Vai ver o diretor, ou mais alguém por trás da produção do filme, deve ter achado a roupa da Mulher-Gato muito sadomasô e, pra sacanear, resolveram botar logo um chicote como acessório.
Sharon Stone já está fazendo papel de mulher mais velha e em decadência física. Sua personagem é esposa do dono de uma indústria de cosméticos e está deixando de ter o seu rosto estampado como símbolo de beleza e da qualidade dos produtos, para ser substituída por uma mulher mais jovem. Daqui a pouco, Sharon estará fazendo papel de avó. (E pensar que ela ainda vai ter coragem de fazer uma continuação de INSTINTO SELVAGEM, com 46 anos de idade...) Infelizmente o tempo é cruel e a juventude vai embora rapidinho.
Já Halle Berry está bem sensual. Aquele seu rebolado, vestida com roupas de couro, com os peitos saltando do decote e de salto alto, faz valer o ingresso. Mas, como diria o Jim Carrey em O MENTIROSO, já vi melhores.
sexta-feira, agosto 20, 2004
HUSTON, CIMINO E GRAY
John Huston, Michael Cimino e F. Gary Gray têm muito pouco em comum. São três cineastas de gerações diferentes e de estilos e reputações diferentes, mas se eu não falar logo sobre esses filmes que já assisti há um bom tempo, vou acabar me esquecendo rapidinho. Então, vamos lá. Jogo rápido.
O HOMEM QUE QUERIA SER REI (The Man Who Would Be King)
Esse filme de 1975 é um dos melhores que eu vi da filmografia de John Huston. Por enquanto, meu preferido dele ainda é O TESOURO DE SIERRA MADRE (1948), o melhor filme sobre ambição que eu já vi, seguido pelo marco do film noir O FALCÃO MALTÊS (1941). Huston foi um diretor de filmes importantes para a história do cinema, mas a carreira dele foi cheia de altos e baixos, e ele acabou não ficando na categoria dos gênios do cinema. Queria muito ver FREUD: ALÉM DA ALMA (1962). Lembro que vi um trechinho numa madrugada na Globo e me pareceu muito interessante. O HOMEM QUE QUERIA SER REI é um filmaço. Conta a história de dois homens que preferem ir pra um lugar no fim do mundo e se tornarem reis, do que serem zé ninguém num país de primeiro mundo. Os caras são Sean Connery e Michael Caine, em grande forma. A história é contada num gostoso flashback e vai ficando melhor a cada passo da aventura dos dois homens. Falar mais é estragar o barato da história. Interessante que, no momento em que Sean Connery fica obcecado pelo poder e pela riqueza, esse sentimento de cobiça me fez lembrar imediatamente O TESOURO DE SIERRA MADRE. Teria sido uma coincidência ou isso é uma marca de Huston, como autor? Gravado da BAND.
NA TRILHA DO SOL (The Sunchaser)
Último filme dirigido por Michael Cimino. E olha que o filme é de 1996. Parece que as coisas não andam fáceis pra ele em Hollywood. O fracasso de bilheteria de O PORTAL DO PARAÍSO (1980) ficou marcado pra história. NA TRILHA DO SOL até que começa bem, mas o que me incomodou foi a constrangedora moral da história. Na trama, Woody Harrelson é um médico oncologista que é seqüetrado por um de seus pacientes em estado terminal: um jovem prisioneiro de 16 anos. Aquela história de "a beleza está ao meu redor..." ficou horrível. Desse jeito eu não vou acreditar que Cimino foi mesmo um grande diretor. Gravado da TNT (com uma dublagem podre).
ATÉ AS ÚLTIMAS CONSEQÜÊNCIAS (Set it Off)
F. Gary Gray é um diretor da nova geração que tem chamado a atenção. Sua especialidade são filmes de ação. No ano passado tive o prazer de ver no cinema UMA SAÍDA DE MESTRE (2003), belissimamente dirigido por ele. Por preconceito, na época não fui ver O VINGADOR (2003), com o Vin Diesel, que saiu quase ao mesmo tempo que o filme de roubo. ATÉ AS ÚLTIMAS CONSEQÜÊNCIAS (1996) é um ensaio para UMA SAÍDA DE MESTRE. É um filme sobre um grupo de mulheres que, por uma alguma razão (na verdade, nesse tipo de filme, os motivos não são tão importantes), resolvem assaltar um banco. O filme tem algumas das mais brilhantes atrizes negras de Hollywood atualmente: Vivica A. Fox, Queen Latifah e Jada Pinket Smith. Tem alguns momentos melodramáticos, mas como Gray nunca se leva a sério demais, isso pode ser relevado. Filmes de assalto a banco são quase tão legais quanto filmes de fuga de presídio. E Queen Latifah de sapatão tem tudo a ver. Hehehehe. Gravado do SBT.
John Huston, Michael Cimino e F. Gary Gray têm muito pouco em comum. São três cineastas de gerações diferentes e de estilos e reputações diferentes, mas se eu não falar logo sobre esses filmes que já assisti há um bom tempo, vou acabar me esquecendo rapidinho. Então, vamos lá. Jogo rápido.
O HOMEM QUE QUERIA SER REI (The Man Who Would Be King)
Esse filme de 1975 é um dos melhores que eu vi da filmografia de John Huston. Por enquanto, meu preferido dele ainda é O TESOURO DE SIERRA MADRE (1948), o melhor filme sobre ambição que eu já vi, seguido pelo marco do film noir O FALCÃO MALTÊS (1941). Huston foi um diretor de filmes importantes para a história do cinema, mas a carreira dele foi cheia de altos e baixos, e ele acabou não ficando na categoria dos gênios do cinema. Queria muito ver FREUD: ALÉM DA ALMA (1962). Lembro que vi um trechinho numa madrugada na Globo e me pareceu muito interessante. O HOMEM QUE QUERIA SER REI é um filmaço. Conta a história de dois homens que preferem ir pra um lugar no fim do mundo e se tornarem reis, do que serem zé ninguém num país de primeiro mundo. Os caras são Sean Connery e Michael Caine, em grande forma. A história é contada num gostoso flashback e vai ficando melhor a cada passo da aventura dos dois homens. Falar mais é estragar o barato da história. Interessante que, no momento em que Sean Connery fica obcecado pelo poder e pela riqueza, esse sentimento de cobiça me fez lembrar imediatamente O TESOURO DE SIERRA MADRE. Teria sido uma coincidência ou isso é uma marca de Huston, como autor? Gravado da BAND.
NA TRILHA DO SOL (The Sunchaser)
Último filme dirigido por Michael Cimino. E olha que o filme é de 1996. Parece que as coisas não andam fáceis pra ele em Hollywood. O fracasso de bilheteria de O PORTAL DO PARAÍSO (1980) ficou marcado pra história. NA TRILHA DO SOL até que começa bem, mas o que me incomodou foi a constrangedora moral da história. Na trama, Woody Harrelson é um médico oncologista que é seqüetrado por um de seus pacientes em estado terminal: um jovem prisioneiro de 16 anos. Aquela história de "a beleza está ao meu redor..." ficou horrível. Desse jeito eu não vou acreditar que Cimino foi mesmo um grande diretor. Gravado da TNT (com uma dublagem podre).
ATÉ AS ÚLTIMAS CONSEQÜÊNCIAS (Set it Off)
F. Gary Gray é um diretor da nova geração que tem chamado a atenção. Sua especialidade são filmes de ação. No ano passado tive o prazer de ver no cinema UMA SAÍDA DE MESTRE (2003), belissimamente dirigido por ele. Por preconceito, na época não fui ver O VINGADOR (2003), com o Vin Diesel, que saiu quase ao mesmo tempo que o filme de roubo. ATÉ AS ÚLTIMAS CONSEQÜÊNCIAS (1996) é um ensaio para UMA SAÍDA DE MESTRE. É um filme sobre um grupo de mulheres que, por uma alguma razão (na verdade, nesse tipo de filme, os motivos não são tão importantes), resolvem assaltar um banco. O filme tem algumas das mais brilhantes atrizes negras de Hollywood atualmente: Vivica A. Fox, Queen Latifah e Jada Pinket Smith. Tem alguns momentos melodramáticos, mas como Gray nunca se leva a sério demais, isso pode ser relevado. Filmes de assalto a banco são quase tão legais quanto filmes de fuga de presídio. E Queen Latifah de sapatão tem tudo a ver. Hehehehe. Gravado do SBT.
quarta-feira, agosto 18, 2004
ELEFANTE (Elephant)
Finalmente chegou aqui em Fortaleza ELEFANTE (2003), de Gus Van Sant, ainda que por enquanto apenas em sessões de pré-estréia nos sábados à noite. Sorte que o meu amigo Zezão, que tem carro, se dispôs a ver o filme e eu não podia deixar passar essa oportunidade. Como já era de se esperar, adorei o filme. Adorei os travellings, a narrativa fragmentada, os diálogos curtos e realistas, a cena do massacre - que não apela para a violência explícita (não que eu tenha algo contra) -, os diferentes pontos de vista, a visão isenta de sentimentalismos. O que dizer também daquele giro de 360º mostrando o quarto de um dos dois garotos responsáveis pelo massacre? Só encontra paralelos com algo feito antes em UM TIRO NA NOITE, do De Palma.
ELEFANTE é daqueles filmes em que a gente só tem a lamentar o fato de ele ser curto demais - apenas 80 minutos. Mas a vantagem desses 80 minutos é que dá pra rever mais vezes com mais facilidade. Eu gostaria de ver o filme novamente. Principalmente porque eu só fui perceber a estrutura narrativa em espiral depois de 30 minutos.
Van Sant não traz nenhuma conclusão sobre o que levou dois garotos aparentemente normais a se armarem de metralhadoras e atirarem numa escola inteira. Talvez a principal causa seja o fato de que os garotos sofriam rejeição dos colegas na escola. O videogame também aparece, talvez influenciando os garotos, mas Van Sant não impõe essa idéia. Nem acho que ele acredite nela.
Michael Moore já tinha mostrado em TIROS EM COLUMBINE a facilidade que o americano tem em comprar armas de fogo nos EUA. Van Sant também mostra em ELEFANTE: os meninos, menores de idade, compraram as armas pela internet!! Um absurdo. Talvez o problema esteja na sociedade americana em si, que não é normal, não.
Gostaria de ter visto GERRY (2002), filme anterior de Van Sant, que é ainda mais experimental. Acredito que deva guardar similaridades com ELEFANTE. Por conta desses dois filmes, toda a filmografia de Van Sant está sendo reavaliada, e até filmes não muito bem vistos pela crítica, na época do lançamento, como PSICOSE (1998), GÊNIO INDOMÁVEL (1997) e ATÉ AS VAQUEIRAS FICAM TRISTES (1993) estão recebedo uma segunda chance.
Van Sant está concluindo atualmente LAST DAYS, filme sobre os últimos dias de Kurt Cobain. Esse, eu acho que vai ser, no mínimo, um sucesso comercial.
Finalmente chegou aqui em Fortaleza ELEFANTE (2003), de Gus Van Sant, ainda que por enquanto apenas em sessões de pré-estréia nos sábados à noite. Sorte que o meu amigo Zezão, que tem carro, se dispôs a ver o filme e eu não podia deixar passar essa oportunidade. Como já era de se esperar, adorei o filme. Adorei os travellings, a narrativa fragmentada, os diálogos curtos e realistas, a cena do massacre - que não apela para a violência explícita (não que eu tenha algo contra) -, os diferentes pontos de vista, a visão isenta de sentimentalismos. O que dizer também daquele giro de 360º mostrando o quarto de um dos dois garotos responsáveis pelo massacre? Só encontra paralelos com algo feito antes em UM TIRO NA NOITE, do De Palma.
ELEFANTE é daqueles filmes em que a gente só tem a lamentar o fato de ele ser curto demais - apenas 80 minutos. Mas a vantagem desses 80 minutos é que dá pra rever mais vezes com mais facilidade. Eu gostaria de ver o filme novamente. Principalmente porque eu só fui perceber a estrutura narrativa em espiral depois de 30 minutos.
Van Sant não traz nenhuma conclusão sobre o que levou dois garotos aparentemente normais a se armarem de metralhadoras e atirarem numa escola inteira. Talvez a principal causa seja o fato de que os garotos sofriam rejeição dos colegas na escola. O videogame também aparece, talvez influenciando os garotos, mas Van Sant não impõe essa idéia. Nem acho que ele acredite nela.
Michael Moore já tinha mostrado em TIROS EM COLUMBINE a facilidade que o americano tem em comprar armas de fogo nos EUA. Van Sant também mostra em ELEFANTE: os meninos, menores de idade, compraram as armas pela internet!! Um absurdo. Talvez o problema esteja na sociedade americana em si, que não é normal, não.
Gostaria de ter visto GERRY (2002), filme anterior de Van Sant, que é ainda mais experimental. Acredito que deva guardar similaridades com ELEFANTE. Por conta desses dois filmes, toda a filmografia de Van Sant está sendo reavaliada, e até filmes não muito bem vistos pela crítica, na época do lançamento, como PSICOSE (1998), GÊNIO INDOMÁVEL (1997) e ATÉ AS VAQUEIRAS FICAM TRISTES (1993) estão recebedo uma segunda chance.
Van Sant está concluindo atualmente LAST DAYS, filme sobre os últimos dias de Kurt Cobain. Esse, eu acho que vai ser, no mínimo, um sucesso comercial.
terça-feira, agosto 17, 2004
RABID DOGS (Cani Arrabbiatti / Semaforo Rosso / Kidnapped / Wild Dogs)
Ainda sou leigo em Mario Bava. Antes de ver RABID DOGS (1974) só tinha assistido o filme de estréia dele - A MALDIÇÃO DO DEMÔNIO (1960), que deixou em minha memória algumas das cenas mais oníricas que já vi (aquele prólogo já vale o filme). Há chances de eu ver ainda esse ano: PLANETA DOS VAMPIROS (1965) que baixei em divx, mas testei ontem no meu computador, que está bichado, e não rodou; HÉRCULES NO CENTRO DA TERRA (1961), que está disponivel em DVD pela ClassicLine; e BLACK SABBATH (1963), que eu pedi pro Renato gravar pra mim.
RABID DOGS é bem diferente de tudo que Bava fez. Segundo Tim Lucas, o maior especialista em Bava no mundo e autor de sua biografia, este é o único trabalho dele que se passa inteiramente no mundo real, em tempo real e em locações reais. Seus outros filmes são todos impregnados de uma atmosfera de fantasia e irrealidade, sendo mais parecidos com sonhos e pesadelos e todos realizados em estúdio e com fotografia super-estilizada.
RABID DOGS é um suspense suarento e perturbador envolvendo três ladrões que, após roubarem uma mala cheia de dinheiro, tomam uma mulher como refém e entram num carro com um homem e uma criança dormindo no banco de trás. Como estava esperando mais crueldade, algo como um ANIVERSÁRIO MACABRO, de Wes Craven, acabei achando o filme mais "leve" do que eu esperava. Isso não significa que o filme não tenha momentos de tensão realmente impressionantes. Sem falar que ele é bem sangrento e o final é amargo e pessimista. Até parece um western spaghetti, gênero que Bava chegou a dirigir.
Como grande parte do filme acontece dentro do carro, o elenco lembra do filme como uma das mais desconfortáveis experiências de suas vidas. Algumas tomadas dentro do carro são bem interessantes, às vezes com o rosto de um dos atores bizarramente destacado dos outros. A produção foi bem complicada. Por falta de grana, mesmo. O produtor declarou falência enquanto o filme já estava nos estágios finais de produção e RABID DOGS acabou na geladeira por nada menos que 23 anos.
Adquiri o DVD do filme na Putrescine. Primeira vez que compro lá e fiquei bastante satisfeito com a qualidade dos serviços. O DVD está perfeito e ainda pedi pra colocarem cinco trechinhos de filmes pra, quem sabe, comprar no futuro. Pedi que o Ulisses colocasse trechos de THE EYE (filme de horror chinês que estará ganhando um remake americano), BAISE MOI (polêmico filme francês com sexo e violência explícitos), LISA AND THE DEVIL (outro clássico de Mario Bava), EUGENIE: STORY OF HER JOURNEY INTO PERVERSION (dizem ser um dos melhores do prolixo Jesus Franco) e JU-ON (pra quem gostou de ver Chiaki Kuriyama de roupinha colegial em KILL BILL, taí outra chance pra rever). O pior é que eu fiquei na vontade de ver todos os cinco filmes.
Ainda sou leigo em Mario Bava. Antes de ver RABID DOGS (1974) só tinha assistido o filme de estréia dele - A MALDIÇÃO DO DEMÔNIO (1960), que deixou em minha memória algumas das cenas mais oníricas que já vi (aquele prólogo já vale o filme). Há chances de eu ver ainda esse ano: PLANETA DOS VAMPIROS (1965) que baixei em divx, mas testei ontem no meu computador, que está bichado, e não rodou; HÉRCULES NO CENTRO DA TERRA (1961), que está disponivel em DVD pela ClassicLine; e BLACK SABBATH (1963), que eu pedi pro Renato gravar pra mim.
RABID DOGS é bem diferente de tudo que Bava fez. Segundo Tim Lucas, o maior especialista em Bava no mundo e autor de sua biografia, este é o único trabalho dele que se passa inteiramente no mundo real, em tempo real e em locações reais. Seus outros filmes são todos impregnados de uma atmosfera de fantasia e irrealidade, sendo mais parecidos com sonhos e pesadelos e todos realizados em estúdio e com fotografia super-estilizada.
RABID DOGS é um suspense suarento e perturbador envolvendo três ladrões que, após roubarem uma mala cheia de dinheiro, tomam uma mulher como refém e entram num carro com um homem e uma criança dormindo no banco de trás. Como estava esperando mais crueldade, algo como um ANIVERSÁRIO MACABRO, de Wes Craven, acabei achando o filme mais "leve" do que eu esperava. Isso não significa que o filme não tenha momentos de tensão realmente impressionantes. Sem falar que ele é bem sangrento e o final é amargo e pessimista. Até parece um western spaghetti, gênero que Bava chegou a dirigir.
Como grande parte do filme acontece dentro do carro, o elenco lembra do filme como uma das mais desconfortáveis experiências de suas vidas. Algumas tomadas dentro do carro são bem interessantes, às vezes com o rosto de um dos atores bizarramente destacado dos outros. A produção foi bem complicada. Por falta de grana, mesmo. O produtor declarou falência enquanto o filme já estava nos estágios finais de produção e RABID DOGS acabou na geladeira por nada menos que 23 anos.
Adquiri o DVD do filme na Putrescine. Primeira vez que compro lá e fiquei bastante satisfeito com a qualidade dos serviços. O DVD está perfeito e ainda pedi pra colocarem cinco trechinhos de filmes pra, quem sabe, comprar no futuro. Pedi que o Ulisses colocasse trechos de THE EYE (filme de horror chinês que estará ganhando um remake americano), BAISE MOI (polêmico filme francês com sexo e violência explícitos), LISA AND THE DEVIL (outro clássico de Mario Bava), EUGENIE: STORY OF HER JOURNEY INTO PERVERSION (dizem ser um dos melhores do prolixo Jesus Franco) e JU-ON (pra quem gostou de ver Chiaki Kuriyama de roupinha colegial em KILL BILL, taí outra chance pra rever). O pior é que eu fiquei na vontade de ver todos os cinco filmes.
domingo, agosto 15, 2004
A ÚLTIMA MISSÃO (Last Run)
Um dos grandes baratos das listas de discussão é o enorme aprendizado que se tem. Faço parte de uma importante lista de discussão (a Canibal Holocausto) desde 2001 e nem dá pra dizer o quanto eu aprendi com os caras de lá durante esses três anos. Como o Carlão Reichenbach é um dos membros da lista, tenho a sorte de continuar sabendo de suas "descobertas" nas locadoras, que eram destaque em suas saudosas colunas no Terra e no Cineclick. Foi lendo as suas colunas, por exemplo, que comecei a prestar mais atenção em nomes como John Herzfeld e John Mackenzie, por exemplo.
Dessa vez, ele tem chamado a atenção para Anthony Hickox, um diretor de filmes de baixo orçamento, em sua maioria, filmes de ação e de terror. A ÚLTIMA MISSÃO (2001), que passou na Globo no último sábado, foi o primeiro filme dele que eu assisti.
Como não sou muito inteligente em se tratando de filmes de espionagem e intriga internacional, fiquei boiando em algumas partes. Tanto que fiquei me perguntando se toda aquela trama envolvendo espiões russos e agentes americanos não seria um mero pretexto para o desenrolar da história, para as ótimas seqüências de ação, para a excelente técnica com as câmeras. Será que Hickox é como Hitckcock, que colocava vários MacGuffins - elementos obscuros como papéis secretos, chaves, bombas, documentos - apenas para servir de motor para a ação? Ou a trama em si tem mesmo importância crucial? Sei que revendo a meia hora inicial, muita coisa ficou mais clara pra mim e o filme cresceu ainda mais na revisão.
Quanto à ação, não tenho do que reclamar do filme. Lembra muito os melhores momentos do cinema de mestres como William Friedkin e John Frankenheimer, ainda que tenha alguns elementos mais modernos. O flerte com o filme de ação setentista é tanto que pra deixar tudo com um aspecto um pouco datado, o protagonista prefere que na sua missão não sejam utilizados nem telefone celular, nem computador.
Armand Assante é o protagonista. Ele é um ex-agente especializado em salvar espiões americanos infiltrados na antiga União Soviética e que perdeu sua esposa numa missão no Leste Europeu, no final dos anos 80. Agora, com o fim da Guerra Fria, ele é chamado para uma nova missão. Para embelezar a história, a bela Ornella Mutti, que, claro, já foi bem mais bonita quando jovem, mas que continua sendo uma belíssima mulher.
Quanto a Hickox, acho que vale a pena conhecer mais e prestar mais atenção em seu trabalho. Abaixo, sua filmografia completa com os títulos brasileiros, cortesia de Renato "Database" Doho:
1988: A PASSAGEM (Waxwork)
1991: SUNDOWN - THE VAMPIRE IN RETREAT
1992: WAXWORK 2 - PERDIDOS NO TEMPO (Waxwork II - Lost in Time)
1992: HELLRAISER III - INFERNO NA TERRA (Hellraiser III - Hell on Earth)
1993: WARLOCK II - O ARMAGEDON (Warlock - The Armagedon)
1993: OPERAÇÃO NERVOS DE AÇO (Full Eclipse)
1995: O PREÇO DO DESEJO (Payback)
1995: TWO
1996: INIMIGO ÍNTIMO (Invasion of Privacy)
1997: PRINCE VALIANT
1998: MARTIAN LAW
1999: CONSPIRAÇÃO FATAL (Storm Catcher)
2000: ASSASSINATOS EM BOSTON (Jill the Ripper)
2001: A ÚLTIMA MISSÃO (Last Run)
2001: CONTAMINAÇÃO (The Contaminated Man)
2002: MARCADO PELA MÁFIA (Federal Protection)
2003: CONSEQUENCE
2003: SHOOT ME!
2004: BLAST!
P.S.: Dêem uma passada no Reduto do Comodoro, que tem texto sobre Hickox lá!!
Um dos grandes baratos das listas de discussão é o enorme aprendizado que se tem. Faço parte de uma importante lista de discussão (a Canibal Holocausto) desde 2001 e nem dá pra dizer o quanto eu aprendi com os caras de lá durante esses três anos. Como o Carlão Reichenbach é um dos membros da lista, tenho a sorte de continuar sabendo de suas "descobertas" nas locadoras, que eram destaque em suas saudosas colunas no Terra e no Cineclick. Foi lendo as suas colunas, por exemplo, que comecei a prestar mais atenção em nomes como John Herzfeld e John Mackenzie, por exemplo.
Dessa vez, ele tem chamado a atenção para Anthony Hickox, um diretor de filmes de baixo orçamento, em sua maioria, filmes de ação e de terror. A ÚLTIMA MISSÃO (2001), que passou na Globo no último sábado, foi o primeiro filme dele que eu assisti.
Como não sou muito inteligente em se tratando de filmes de espionagem e intriga internacional, fiquei boiando em algumas partes. Tanto que fiquei me perguntando se toda aquela trama envolvendo espiões russos e agentes americanos não seria um mero pretexto para o desenrolar da história, para as ótimas seqüências de ação, para a excelente técnica com as câmeras. Será que Hickox é como Hitckcock, que colocava vários MacGuffins - elementos obscuros como papéis secretos, chaves, bombas, documentos - apenas para servir de motor para a ação? Ou a trama em si tem mesmo importância crucial? Sei que revendo a meia hora inicial, muita coisa ficou mais clara pra mim e o filme cresceu ainda mais na revisão.
Quanto à ação, não tenho do que reclamar do filme. Lembra muito os melhores momentos do cinema de mestres como William Friedkin e John Frankenheimer, ainda que tenha alguns elementos mais modernos. O flerte com o filme de ação setentista é tanto que pra deixar tudo com um aspecto um pouco datado, o protagonista prefere que na sua missão não sejam utilizados nem telefone celular, nem computador.
Armand Assante é o protagonista. Ele é um ex-agente especializado em salvar espiões americanos infiltrados na antiga União Soviética e que perdeu sua esposa numa missão no Leste Europeu, no final dos anos 80. Agora, com o fim da Guerra Fria, ele é chamado para uma nova missão. Para embelezar a história, a bela Ornella Mutti, que, claro, já foi bem mais bonita quando jovem, mas que continua sendo uma belíssima mulher.
Quanto a Hickox, acho que vale a pena conhecer mais e prestar mais atenção em seu trabalho. Abaixo, sua filmografia completa com os títulos brasileiros, cortesia de Renato "Database" Doho:
1988: A PASSAGEM (Waxwork)
1991: SUNDOWN - THE VAMPIRE IN RETREAT
1992: WAXWORK 2 - PERDIDOS NO TEMPO (Waxwork II - Lost in Time)
1992: HELLRAISER III - INFERNO NA TERRA (Hellraiser III - Hell on Earth)
1993: WARLOCK II - O ARMAGEDON (Warlock - The Armagedon)
1993: OPERAÇÃO NERVOS DE AÇO (Full Eclipse)
1995: O PREÇO DO DESEJO (Payback)
1995: TWO
1996: INIMIGO ÍNTIMO (Invasion of Privacy)
1997: PRINCE VALIANT
1998: MARTIAN LAW
1999: CONSPIRAÇÃO FATAL (Storm Catcher)
2000: ASSASSINATOS EM BOSTON (Jill the Ripper)
2001: A ÚLTIMA MISSÃO (Last Run)
2001: CONTAMINAÇÃO (The Contaminated Man)
2002: MARCADO PELA MÁFIA (Federal Protection)
2003: CONSEQUENCE
2003: SHOOT ME!
2004: BLAST!
P.S.: Dêem uma passada no Reduto do Comodoro, que tem texto sobre Hickox lá!!
sábado, agosto 14, 2004
DIÁRIO DE UMA PAIXÃO (The Notebook)
Esse filme de Nick Cassavetes é careta, mas tem algo de bonito. E não falo apenas da bela fotografia "cartão postal" em scope - a cena do lago cheio de patos é a primeira que me vem à cabeça. A história é bem lugar-comum, mas é contada de maneira pausada e agradável. O que menos gostei no filme foi a parte dos protagonistas já velhos, interpretados por James Garner e Gena Rowlands, mãe do diretor Cassavetes. Talvez por não ser tão bem desenvolvida quanto a história deles quando jovens, contada a partir de um caderno de anotações a uma Gena Rowlands com problema de degeneração de memória.
Os melhores momentos são os que mostram o jovem casal apaixonado, Noah (Ryan Gosling) e Allie (Rachel McAdams, a patricinha malvada de MENINAS MALVADAS). O filme acerta em nos deixar torcendo pra que eles fiquem juntos e enfrentem todos os obstáculos. Joan Allen está brilhante sempre que aparece.
Diferente do pai, John Cassavetes, que foi o rei do cinema independente americano nos anos 70 com trabalhos mais sofisticados, Nick parece ter escolhido o caminho dos melodramas convencionais à moda antiga. Não há porque menosprezar seus filmes por isso, ainda que eles não sejam tão memoráveis.
P.S.: Vi o trailer de CELLULAR, novo trabalho de David R. Ellis, diretor de PREMONIÇÃO 2, e meu palpite é que é um ótimo filme. Ellis parece ser uma das grandes revelações dos últimos anos. O novo filme tem Kim Basinger, Jason Stathan, William H. Macy e Chris Evans e aparentemente muito suspense.
Esse filme de Nick Cassavetes é careta, mas tem algo de bonito. E não falo apenas da bela fotografia "cartão postal" em scope - a cena do lago cheio de patos é a primeira que me vem à cabeça. A história é bem lugar-comum, mas é contada de maneira pausada e agradável. O que menos gostei no filme foi a parte dos protagonistas já velhos, interpretados por James Garner e Gena Rowlands, mãe do diretor Cassavetes. Talvez por não ser tão bem desenvolvida quanto a história deles quando jovens, contada a partir de um caderno de anotações a uma Gena Rowlands com problema de degeneração de memória.
Os melhores momentos são os que mostram o jovem casal apaixonado, Noah (Ryan Gosling) e Allie (Rachel McAdams, a patricinha malvada de MENINAS MALVADAS). O filme acerta em nos deixar torcendo pra que eles fiquem juntos e enfrentem todos os obstáculos. Joan Allen está brilhante sempre que aparece.
Diferente do pai, John Cassavetes, que foi o rei do cinema independente americano nos anos 70 com trabalhos mais sofisticados, Nick parece ter escolhido o caminho dos melodramas convencionais à moda antiga. Não há porque menosprezar seus filmes por isso, ainda que eles não sejam tão memoráveis.
P.S.: Vi o trailer de CELLULAR, novo trabalho de David R. Ellis, diretor de PREMONIÇÃO 2, e meu palpite é que é um ótimo filme. Ellis parece ser uma das grandes revelações dos últimos anos. O novo filme tem Kim Basinger, Jason Stathan, William H. Macy e Chris Evans e aparentemente muito suspense.
quinta-feira, agosto 12, 2004
A TORTURA DO MEDO / MÓRBIDA CURIOSIDADE (Peeping Tom)
Ontem finalmente assisti PEEPING TOM (1960) - na dúvida entre quais dos títulos brasileiros usar, melhor usar o título original -, cultuado filme do lendário Michael Powell. Se PEEPING TOM não é tão bem cotado quanto NESTE MUNDO E NO OUTRO (1946) ou CORONEL BLIMP (1943), ele é o mais louvado entre os apreciadores dos filmes de terror e suspense, principalmente os fãs de Alfred Hitchcock e Brian De Palma. Inclusive, UM TIRO NA NOITE, do De Palma, foi bastante influenciado por este filme de Powell.
PEEPING TOM também leva a fama de ter afundado a carreira do diretor, já que o filme foi massacrado pela crítica da época, que ficou horrorizada com a trama do serial killer que fillma a morte de suas vítimas e usa uma lâmina cortante no tripé de sua câmera. A comparação com outro famoso filme de serial killer do mesmo ano, PSICOSE, de Hithcock, é sempre feita. Mas, enquanto Hitchcock solidificou sua carreira com a história de Norman Bates, Powell perdeu a fama de grande diretor que tivera durante as décadas de 40 e 50, com esse filme quase maldito.
Dizem que no dia da première do filme, Powell, ao término da sessão, ficou esperando os convidados para ouvir o que eles tinham a dizer sobre o seu novo trabalho. Ele provalmente esperava muitos elogios. No entanto, ninguém foi falar com ele. Ao contrário, as pessoas ficaram distantes dele, viraram a cara e foram embora. Por isso e pela sucessão de críticas negativas, o filme foi esquecido por quase vinte anos. Até 1979, quando Martin Scorsese ajudou a promover sessões do filme no festival de Nova York, além de restaurações do filme. Hoje ele é considerado um clássico do cinema britânico.
Na história, Mark Lewis (Carl Boehm) é um fotógrafo de cinema que mata suas vítimas flagrando-as no momento de pavor extremo diante da morte. Talvez o filme não tenha sido o sucesso por ter mostrado um vilão tímido e até simpático, em que a platéia podia se solidarizar, já que em certo momento ficamos sabendo que Mark é uma vítima dos experimentos científicos do pai, que o usava como cobaia e o flmava em momentos de medo desde a infância. Agora tem uma coisa no filme que me deixou intrigado: que história é aquela da mulher cega que entra sorrateiramente no laboratório de Mark? Se ela é cega, o que ela vai fazer lá? Talvez a falta de legendas tenha prejudicado a minha compreensão do áudio, mas ainda assim acho aquilo tudo muito estranho.
A linda cópia em divx, enviada pelo amigo Fábio Ribeiro, foi provavelmente ripada do DVD da Criterion. Pelo fato de o filme ter sido lançados nos EUA pela Criterion, as chances de o DVD do filme chegar no Brasil são pequenas. Parece que os únicos da Criterion que chegaram aqui foram os do Tarkovsky, lançados aqui pela Continental.
Ontem finalmente assisti PEEPING TOM (1960) - na dúvida entre quais dos títulos brasileiros usar, melhor usar o título original -, cultuado filme do lendário Michael Powell. Se PEEPING TOM não é tão bem cotado quanto NESTE MUNDO E NO OUTRO (1946) ou CORONEL BLIMP (1943), ele é o mais louvado entre os apreciadores dos filmes de terror e suspense, principalmente os fãs de Alfred Hitchcock e Brian De Palma. Inclusive, UM TIRO NA NOITE, do De Palma, foi bastante influenciado por este filme de Powell.
PEEPING TOM também leva a fama de ter afundado a carreira do diretor, já que o filme foi massacrado pela crítica da época, que ficou horrorizada com a trama do serial killer que fillma a morte de suas vítimas e usa uma lâmina cortante no tripé de sua câmera. A comparação com outro famoso filme de serial killer do mesmo ano, PSICOSE, de Hithcock, é sempre feita. Mas, enquanto Hitchcock solidificou sua carreira com a história de Norman Bates, Powell perdeu a fama de grande diretor que tivera durante as décadas de 40 e 50, com esse filme quase maldito.
Dizem que no dia da première do filme, Powell, ao término da sessão, ficou esperando os convidados para ouvir o que eles tinham a dizer sobre o seu novo trabalho. Ele provalmente esperava muitos elogios. No entanto, ninguém foi falar com ele. Ao contrário, as pessoas ficaram distantes dele, viraram a cara e foram embora. Por isso e pela sucessão de críticas negativas, o filme foi esquecido por quase vinte anos. Até 1979, quando Martin Scorsese ajudou a promover sessões do filme no festival de Nova York, além de restaurações do filme. Hoje ele é considerado um clássico do cinema britânico.
Na história, Mark Lewis (Carl Boehm) é um fotógrafo de cinema que mata suas vítimas flagrando-as no momento de pavor extremo diante da morte. Talvez o filme não tenha sido o sucesso por ter mostrado um vilão tímido e até simpático, em que a platéia podia se solidarizar, já que em certo momento ficamos sabendo que Mark é uma vítima dos experimentos científicos do pai, que o usava como cobaia e o flmava em momentos de medo desde a infância. Agora tem uma coisa no filme que me deixou intrigado: que história é aquela da mulher cega que entra sorrateiramente no laboratório de Mark? Se ela é cega, o que ela vai fazer lá? Talvez a falta de legendas tenha prejudicado a minha compreensão do áudio, mas ainda assim acho aquilo tudo muito estranho.
A linda cópia em divx, enviada pelo amigo Fábio Ribeiro, foi provavelmente ripada do DVD da Criterion. Pelo fato de o filme ter sido lançados nos EUA pela Criterion, as chances de o DVD do filme chegar no Brasil são pequenas. Parece que os únicos da Criterion que chegaram aqui foram os do Tarkovsky, lançados aqui pela Continental.
quarta-feira, agosto 11, 2004
FELIZES JUNTOS (Cheun Gwong Tsa Sit / Happy Together)
Odeio quando não tenho nada pra falar sobre um filme. E olha que eu estou falando de um que eu gostei bastante. Ruim enfrentar a tela branca do computador sem saber se o que vai sair vai ser apenas um texto pra cumprir a "obrigação" ou alguma coisa que possa ser interessante, agradável ou polêmica para os leitores. Então vamos lá: o que eu achei de FELIZES JUNTOS (1997)?
Bom, antes de tudo quero dizer que, contrariando a maioria, gosto mais de ANJOS CAÍDOS (1995), dentre os três filmes de Wong Kar-Wai que vi. FELIZES JUNTOS parece ser mais "comum", esteticamente falando. E eu não me senti identificado com os personagens, com as suas solidões e angústias. Não que isso tenha acontecido com ANJOS CAÍDOS ou com AMOR À FLOR DA PELE (2000), mas nesses dois fimes a solidão parecia estar mais impregnada no próprio ambiente. E também não é porque os personagens sejam gays, ainda que eu ache bem pouco atraente ver dois caras se agarrando e se beijando.
Acho que o grande diferencial deste FELIZES JUNTOS é ser menos fragmentado, menos colorido e menos "cool" que os outros dois. FELIZES JUNTOS privilegia mais os personagens, mais os relacionamentos, mais os planos longos do que a estética "videoclipesca", usada e abusada em ANJOS CAÍDOS. Também não parece ser um filme cheio de filtros ou com ângulos de câmera estranhos.
Entre as curiosidades do filme, há a canção "Cucurucucu Paloma", cantada pelo Caetano Veloso na cena em que são mostradas as Cataratas do Iguaçu. A mesma canção que anos depois apareceria no maravilhoso FALE COM ELA, de Pedro Almodóvar. (Teria essa canção alguma coisa ligada ao universo gay? Ou é só coincidência?)
Senti falta no filme dos coloridos de Hong Kong e de Taiwan. A Argentina no filme pareceu um lugar tão desolado, triste e deserto. Curiosamente, no ano de produção do filme, Hong Kong estava deixando de ser colônia britânica para ser de novo parte da China. Isso deve ter dado um nó na cabeça do povo de Hong Kong, hein.
Odeio quando não tenho nada pra falar sobre um filme. E olha que eu estou falando de um que eu gostei bastante. Ruim enfrentar a tela branca do computador sem saber se o que vai sair vai ser apenas um texto pra cumprir a "obrigação" ou alguma coisa que possa ser interessante, agradável ou polêmica para os leitores. Então vamos lá: o que eu achei de FELIZES JUNTOS (1997)?
Bom, antes de tudo quero dizer que, contrariando a maioria, gosto mais de ANJOS CAÍDOS (1995), dentre os três filmes de Wong Kar-Wai que vi. FELIZES JUNTOS parece ser mais "comum", esteticamente falando. E eu não me senti identificado com os personagens, com as suas solidões e angústias. Não que isso tenha acontecido com ANJOS CAÍDOS ou com AMOR À FLOR DA PELE (2000), mas nesses dois fimes a solidão parecia estar mais impregnada no próprio ambiente. E também não é porque os personagens sejam gays, ainda que eu ache bem pouco atraente ver dois caras se agarrando e se beijando.
Acho que o grande diferencial deste FELIZES JUNTOS é ser menos fragmentado, menos colorido e menos "cool" que os outros dois. FELIZES JUNTOS privilegia mais os personagens, mais os relacionamentos, mais os planos longos do que a estética "videoclipesca", usada e abusada em ANJOS CAÍDOS. Também não parece ser um filme cheio de filtros ou com ângulos de câmera estranhos.
Entre as curiosidades do filme, há a canção "Cucurucucu Paloma", cantada pelo Caetano Veloso na cena em que são mostradas as Cataratas do Iguaçu. A mesma canção que anos depois apareceria no maravilhoso FALE COM ELA, de Pedro Almodóvar. (Teria essa canção alguma coisa ligada ao universo gay? Ou é só coincidência?)
Senti falta no filme dos coloridos de Hong Kong e de Taiwan. A Argentina no filme pareceu um lugar tão desolado, triste e deserto. Curiosamente, no ano de produção do filme, Hong Kong estava deixando de ser colônia britânica para ser de novo parte da China. Isso deve ter dado um nó na cabeça do povo de Hong Kong, hein.
terça-feira, agosto 10, 2004
FAHRENHEIT 11 DE SETEMBRO (Fahrenheit 9/11)
Sei não, mas acho pouco provável que a Palma de Ouro que FAHRENHEIT 11 DE SETEMBRO ganhou em Cannes tenha sido por causa de suas qualidades cinematográficas, como quis dar a entender o júri presidido por Quentin Tarantino. Na verdade, o filme ganhou a Palma por causa de sua grande importância dentro do contexto político atual. É cinema com a finalidade de mudar o mundo. Ou pelo menos ajudar a mudar. Pensando assim, chega a ser excitante imaginar que estamos vendo um filme que pode ajudar na conscientização mundial para tirar do poder George W. Bush.
Nesse ano, FAHRENHEIT 11 DE SETEMBRO foi um dos filmes em que eu mais ouvi risadas do público, como se todo mundo estivesse se divertindo com a "malhação do Judas". Se eu não ri tanto quanto a maior parte da platéia, pelo menos dei minhas risadas na cena em que Michael Moore chega para alguns congressistas e pede para que eles assinem um formulário para mandar seus filhos para a Guerra do Iraque.
O maior problema do filme é que Moore às vezes apela para o sensacionalismo. Pra ele foi um prato cheio aquela mulher que perdeu o filho na Guerra. Ela foi bem cooperativa: leu a carta do filho que explicitava o seu repúdio ao George "Diabo" Bush e ainda foi pra frente da Casa Branca chorar e gritar na frente da câmera.
Em compensação, é de ficar realmente indignado quando o filme mostra coisas como a roubalheira nas eleições de 2000. (Com gente da família, tanto no Governo da Flórida quanto na FOX News, ficou bem mais fácil para Bush ganhar as eleições.) Sem falar nas centenas de árabes, alguns da família de Bin Laden, saíndo do país, nos dias logo após o atentado ao WTC, sem terem sido investigados pelo FBI. Mas o que mais deixou meu sangue fervendo de raiva foi quando mostraram o povo civil iraquiano morrendo ou perdendo membros do corpo, com o bombardeio americano em Bagdad.
Apesar dos excessos, FAHRENHEIT 9/11 - o título em português nem dá pra fazer trocadilho com o filme do Truffaut - é um acontecimento que vai além do próprio mundo do cinema. É filme para mexer com as estruturas do poder no mundo. Filme para destituir um presidente ladrão e mentiroso. Talvez daqui a dez anos esse filme já tenha perdido a validade, mas vai ficar pra história como o filme-denúncia mais poderoso da história do cinema.
Sei não, mas acho pouco provável que a Palma de Ouro que FAHRENHEIT 11 DE SETEMBRO ganhou em Cannes tenha sido por causa de suas qualidades cinematográficas, como quis dar a entender o júri presidido por Quentin Tarantino. Na verdade, o filme ganhou a Palma por causa de sua grande importância dentro do contexto político atual. É cinema com a finalidade de mudar o mundo. Ou pelo menos ajudar a mudar. Pensando assim, chega a ser excitante imaginar que estamos vendo um filme que pode ajudar na conscientização mundial para tirar do poder George W. Bush.
Nesse ano, FAHRENHEIT 11 DE SETEMBRO foi um dos filmes em que eu mais ouvi risadas do público, como se todo mundo estivesse se divertindo com a "malhação do Judas". Se eu não ri tanto quanto a maior parte da platéia, pelo menos dei minhas risadas na cena em que Michael Moore chega para alguns congressistas e pede para que eles assinem um formulário para mandar seus filhos para a Guerra do Iraque.
O maior problema do filme é que Moore às vezes apela para o sensacionalismo. Pra ele foi um prato cheio aquela mulher que perdeu o filho na Guerra. Ela foi bem cooperativa: leu a carta do filho que explicitava o seu repúdio ao George "Diabo" Bush e ainda foi pra frente da Casa Branca chorar e gritar na frente da câmera.
Em compensação, é de ficar realmente indignado quando o filme mostra coisas como a roubalheira nas eleições de 2000. (Com gente da família, tanto no Governo da Flórida quanto na FOX News, ficou bem mais fácil para Bush ganhar as eleições.) Sem falar nas centenas de árabes, alguns da família de Bin Laden, saíndo do país, nos dias logo após o atentado ao WTC, sem terem sido investigados pelo FBI. Mas o que mais deixou meu sangue fervendo de raiva foi quando mostraram o povo civil iraquiano morrendo ou perdendo membros do corpo, com o bombardeio americano em Bagdad.
Apesar dos excessos, FAHRENHEIT 9/11 - o título em português nem dá pra fazer trocadilho com o filme do Truffaut - é um acontecimento que vai além do próprio mundo do cinema. É filme para mexer com as estruturas do poder no mundo. Filme para destituir um presidente ladrão e mentiroso. Talvez daqui a dez anos esse filme já tenha perdido a validade, mas vai ficar pra história como o filme-denúncia mais poderoso da história do cinema.
domingo, agosto 08, 2004
EU, ROBÔ (I, Robot)
"Talvez os robôs sejam um pouco mais indivíduos do que os assim chamados indivíduos na multidão...porque justamente agora, no Japão, existem cem mil robôs - homens mecânicos - trabalhando nas fábricas. De repente, nos últimos dois meses, um estranho fenômeno está acontecendo. O governo está preocupado, os cientistas estão preocupados, e eles não foram capazes de encontrar qualquer explicação. Até agora os robôs tinham trabalhado silenciosamente; ninguém jamais pensou que eles iriam, de repente, começar uma rebelião. Mas dez pessoas foram mortas nos últimos dois meses."
(Osho, do livro "O Rebelde - O Verdadeiro Sal da Terra")
O sábado ontem foi bem legal. Festinha supresa para o Igor numa casa de praia no Pacheco organizada pela Valéria, reunião de maior parte da turma que estava no Reveillon de Jeri, festinha com músicas legais, um clima de confraternização e amizade no ar. E era impressão minha ou todo mundo estava mais bonito, principalmente as meninas? Como retornamos logo no domingo pela manhã, tive tempo de ver dois filmes no cinema em sessão dupla: EU, ROBÔ, de Alex Proyas; e FAHRENHEIT - 11 DE SETEMBRO, de Michael Moore. Vou deixar pra falar do filme do Moore depois, quando eu organizar melhor as idéias na cabeça.
EU, ROBÔ é melhor do que eu esperava. A fotografia meio azulada lembra dois outros filmes de Proyas, o interessante CIDADE DAS SOMBRAS (1998) e o estiloso O CORVO (1994). Pela primeira vez me identifiquei com um personagem de Will Smith. Primeiro porque quando ele acorda, ele sempre sente uma dor no braço e no ombro, como se estivesse com bursite. Logo, a sua vida, como a minha tem sido nos últimos tempos, é meio dolorosa de se viver, com o corpo nem sempre em harmonia. Outra coisa: o personagem de Will Smith, que é um detetive de polícia do futuro, odeia os robôs, como eu que ultimamente ando odiando o meu computador, cheio de spies e vírus e problemas. Ando desconfiado da tecnologia. A mim não custou antipatizar também os robôs do filme.
Na história, Smith é o tira chamado pra investigar a morte do cientista responsável pela construção e popularização dos robôs no país. Ele suspeita que o velho foi assassinado por um dos robôs, algo que nunca tinha acontecido antes - robôs nunca cometeram um crime.
O filme só não é melhor porque as cenas de ação às vezes ficam a cara de várias outras produções de Hollywood. Mesmo assim, algumas das cenas realmente ficaram muito boas, como a luta entre as duas gerações de robôs, por exemplo, ou a de Will Smith procurando o robô rebelde no meio de centenas de outros iguais. No geral, eu diria que o filme é muito bom. Pelo tom emocional de EU, ROBÔ e de O HOMEM BICENTENÁRIO, tenho a impressão que a obra de Isaac Asimov não chega a ser uma literatura fria e ligada essencialmente à ficção científica, mas obras que levam a reflexão do que é, em essência, o ser humano. Um dia eu pego um livro dele pra ler.
(Coincidência ou não estou ouvindo agora a trilha sonora de ANIMATRIX.)
"Talvez os robôs sejam um pouco mais indivíduos do que os assim chamados indivíduos na multidão...porque justamente agora, no Japão, existem cem mil robôs - homens mecânicos - trabalhando nas fábricas. De repente, nos últimos dois meses, um estranho fenômeno está acontecendo. O governo está preocupado, os cientistas estão preocupados, e eles não foram capazes de encontrar qualquer explicação. Até agora os robôs tinham trabalhado silenciosamente; ninguém jamais pensou que eles iriam, de repente, começar uma rebelião. Mas dez pessoas foram mortas nos últimos dois meses."
(Osho, do livro "O Rebelde - O Verdadeiro Sal da Terra")
O sábado ontem foi bem legal. Festinha supresa para o Igor numa casa de praia no Pacheco organizada pela Valéria, reunião de maior parte da turma que estava no Reveillon de Jeri, festinha com músicas legais, um clima de confraternização e amizade no ar. E era impressão minha ou todo mundo estava mais bonito, principalmente as meninas? Como retornamos logo no domingo pela manhã, tive tempo de ver dois filmes no cinema em sessão dupla: EU, ROBÔ, de Alex Proyas; e FAHRENHEIT - 11 DE SETEMBRO, de Michael Moore. Vou deixar pra falar do filme do Moore depois, quando eu organizar melhor as idéias na cabeça.
EU, ROBÔ é melhor do que eu esperava. A fotografia meio azulada lembra dois outros filmes de Proyas, o interessante CIDADE DAS SOMBRAS (1998) e o estiloso O CORVO (1994). Pela primeira vez me identifiquei com um personagem de Will Smith. Primeiro porque quando ele acorda, ele sempre sente uma dor no braço e no ombro, como se estivesse com bursite. Logo, a sua vida, como a minha tem sido nos últimos tempos, é meio dolorosa de se viver, com o corpo nem sempre em harmonia. Outra coisa: o personagem de Will Smith, que é um detetive de polícia do futuro, odeia os robôs, como eu que ultimamente ando odiando o meu computador, cheio de spies e vírus e problemas. Ando desconfiado da tecnologia. A mim não custou antipatizar também os robôs do filme.
Na história, Smith é o tira chamado pra investigar a morte do cientista responsável pela construção e popularização dos robôs no país. Ele suspeita que o velho foi assassinado por um dos robôs, algo que nunca tinha acontecido antes - robôs nunca cometeram um crime.
O filme só não é melhor porque as cenas de ação às vezes ficam a cara de várias outras produções de Hollywood. Mesmo assim, algumas das cenas realmente ficaram muito boas, como a luta entre as duas gerações de robôs, por exemplo, ou a de Will Smith procurando o robô rebelde no meio de centenas de outros iguais. No geral, eu diria que o filme é muito bom. Pelo tom emocional de EU, ROBÔ e de O HOMEM BICENTENÁRIO, tenho a impressão que a obra de Isaac Asimov não chega a ser uma literatura fria e ligada essencialmente à ficção científica, mas obras que levam a reflexão do que é, em essência, o ser humano. Um dia eu pego um livro dele pra ler.
(Coincidência ou não estou ouvindo agora a trilha sonora de ANIMATRIX.)
sexta-feira, agosto 06, 2004
FILMES DE AMOR ADOLESCENTE
Vi recentemente esse dois simpáticos e sensíveis filmes sobre jovens que se apaixonam e enfrentam momentos difíceis no relacionamento. Os dois filmes têm como protagonistas duas moças bonitas e atraentes.
PROVA DE AMOR (All the Real Girls)
Belo filme que se sustenta muito no carisma da bela Zooey Deschanel. Essa menina esteve em QUASE FAMOSOS e em DR. MUMFORD, mas não tinha notado ela antes. A trama é bem simples: rapaz que come todas as meninas da cidade (Paul Schneider) se apaixona pela irmã virgem de seu melhor amigo. Pouca coisa acontece no filme, mas a graça toda é ver os momentos de intimidade do casal. Os diálogos não são o forte, talvez porque nenhum dos protagonistas seja intelectual ou metido a filósofo. São pessoas simples e, nesse sentido, o filme se aproxima da vida, já que na vida real as pessoas vivem falando besteira mesmo. Achei interessante no mini-documentário presente no DVD o jovem diretor David Gordon Green falando da urgência de se realizar esse filme, enquanto ainda existe nele certa pureza de espírito, antes que ele envelheça e se torne cínico em relação ao amor. O DVD está em widescreen 2,35:1 e vem com making of de 20 minutos e áudio de comentário (sem legendas) do diretor.
UM AMOR PARA RELEMBRAR (A Walk to Remember)
Se minha irmã não tivesse alugado o DVD eu provavelmente não teria visto esse título tão cedo. Não sabia que era tão legal. O filme já conquistou a minha simpatia no começo, quando rola durante os créditos a canção "Cannonball", dos Breeders, enquanto um grupo de jovens se movimenta em seus carros, no estilo JUVENTUDE TRANSVIADA. A trilha sonora é legal, apesar de eu não gostar das canções da "dona" do filme, Mandy Moore. "Mother, We Just Can't Get Enough" do New Radicals me fez ter saudade do disco dessa banda. O filme guarda semelhanças com MINHA VIDA SEM MIM em alguns aspectos, mas é melhor eu não falar nada da história pra não estragar as surpresas. No elenco, destaca-se a presença de Darryl Hannah (tá velha ela, hein!) e Peter Coyote. Quem for chorão como eu, deve derramar algumas lágrimas com esse filme. A imagem do DVD está em tela cheia, mas tem uma série de extras pequenos - entrevistas com elenco, mini-documentários e videoclipe de Mandy Moore. Essa menina é uma super-estrela da música pop nos EUA e eu nem sabia.
Vi recentemente esse dois simpáticos e sensíveis filmes sobre jovens que se apaixonam e enfrentam momentos difíceis no relacionamento. Os dois filmes têm como protagonistas duas moças bonitas e atraentes.
PROVA DE AMOR (All the Real Girls)
Belo filme que se sustenta muito no carisma da bela Zooey Deschanel. Essa menina esteve em QUASE FAMOSOS e em DR. MUMFORD, mas não tinha notado ela antes. A trama é bem simples: rapaz que come todas as meninas da cidade (Paul Schneider) se apaixona pela irmã virgem de seu melhor amigo. Pouca coisa acontece no filme, mas a graça toda é ver os momentos de intimidade do casal. Os diálogos não são o forte, talvez porque nenhum dos protagonistas seja intelectual ou metido a filósofo. São pessoas simples e, nesse sentido, o filme se aproxima da vida, já que na vida real as pessoas vivem falando besteira mesmo. Achei interessante no mini-documentário presente no DVD o jovem diretor David Gordon Green falando da urgência de se realizar esse filme, enquanto ainda existe nele certa pureza de espírito, antes que ele envelheça e se torne cínico em relação ao amor. O DVD está em widescreen 2,35:1 e vem com making of de 20 minutos e áudio de comentário (sem legendas) do diretor.
UM AMOR PARA RELEMBRAR (A Walk to Remember)
Se minha irmã não tivesse alugado o DVD eu provavelmente não teria visto esse título tão cedo. Não sabia que era tão legal. O filme já conquistou a minha simpatia no começo, quando rola durante os créditos a canção "Cannonball", dos Breeders, enquanto um grupo de jovens se movimenta em seus carros, no estilo JUVENTUDE TRANSVIADA. A trilha sonora é legal, apesar de eu não gostar das canções da "dona" do filme, Mandy Moore. "Mother, We Just Can't Get Enough" do New Radicals me fez ter saudade do disco dessa banda. O filme guarda semelhanças com MINHA VIDA SEM MIM em alguns aspectos, mas é melhor eu não falar nada da história pra não estragar as surpresas. No elenco, destaca-se a presença de Darryl Hannah (tá velha ela, hein!) e Peter Coyote. Quem for chorão como eu, deve derramar algumas lágrimas com esse filme. A imagem do DVD está em tela cheia, mas tem uma série de extras pequenos - entrevistas com elenco, mini-documentários e videoclipe de Mandy Moore. Essa menina é uma super-estrela da música pop nos EUA e eu nem sabia.
quinta-feira, agosto 05, 2004
OLGA
Recebi convite do Jurandir Filho, do portal Cinema com Rapadura, pra ir ver uma sessão de pré-estréia de OLGA, de Jayme Monjardim, apenas para jornalistas e convidados. (Tô ficando chique, hein). Mas antes de falar do filme, aproveito pra elogiar o belo trabalho que o pessoal do Cinema com Rapadura anda fazendo. O site começou fazendo a cobertura do Cine Ceará e agora vai ter correspondente até no festival de Gramado. Sem falar que o visual e a organização do portal é excelente. Isso, em tempos em que os portais de cinema estão em crise.
Quanto ao filme, há os seus 'prós' e 'contras'. Talvez mais 'contras'. Mas apesar de muita gente torcer o nariz com essas superproduções de época que o cinema nacional faz, acho que o nosso cinema é muito carente de filmes que contem a história do país. As maiores cinematografias do mundo - EUA, França, Itália, Japão, China - produziram filmes que contam fatos importantes da história de seu país. Aqui no Brasil ainda fazem poucos filmes históricos. O meu preferido ainda é MAUÁ - O IMPERADOR E O REI, de Sergio Rezende.
OLGA, o filme, não tem a ambição de ser um trabalho tão original quanto o livro de Fernando Morais. Nem poderia, já que o trabalho jornalístico que foi feito com o livro é impossível de se colocar nas telas num formato de ficção. O jeito foi adaptar usando a narrativa clássica tradicional. Pena que o resultado nem sempre funciona. Algumas cenas chegam a incomodar, seja pela artificialidade dos diálogos, seja pelo exagero de interpretação da Camila Morgado.
Mas apesar dos excessos, ela brilha e ofusca quem está na tela. O pobre do rapaz que faz o Luís Carlos Prestes fica quase invisível na frente dela. As melhores cenas pra mim são aquelas que mostram Camila na cama (não necessariamente nua). Gosto quando a câmera dá um close nos olhos dela. Outros bons momentos acontecem quando são citados trechos de cartas reais de Olga Benário, de quando ela estava no campo de concentração.
Pena que esse projeto tenha sido entregue nas mãos de um cara que só tinha experiência com novelas e mini-séries da Globo. Não é sempre que surge um Luiz Fernando Carvalho lá dos estúdios da Globo.
OLGA vai estrear no circuito comercial no dia 20 de agosto.
Recebi convite do Jurandir Filho, do portal Cinema com Rapadura, pra ir ver uma sessão de pré-estréia de OLGA, de Jayme Monjardim, apenas para jornalistas e convidados. (Tô ficando chique, hein). Mas antes de falar do filme, aproveito pra elogiar o belo trabalho que o pessoal do Cinema com Rapadura anda fazendo. O site começou fazendo a cobertura do Cine Ceará e agora vai ter correspondente até no festival de Gramado. Sem falar que o visual e a organização do portal é excelente. Isso, em tempos em que os portais de cinema estão em crise.
Quanto ao filme, há os seus 'prós' e 'contras'. Talvez mais 'contras'. Mas apesar de muita gente torcer o nariz com essas superproduções de época que o cinema nacional faz, acho que o nosso cinema é muito carente de filmes que contem a história do país. As maiores cinematografias do mundo - EUA, França, Itália, Japão, China - produziram filmes que contam fatos importantes da história de seu país. Aqui no Brasil ainda fazem poucos filmes históricos. O meu preferido ainda é MAUÁ - O IMPERADOR E O REI, de Sergio Rezende.
OLGA, o filme, não tem a ambição de ser um trabalho tão original quanto o livro de Fernando Morais. Nem poderia, já que o trabalho jornalístico que foi feito com o livro é impossível de se colocar nas telas num formato de ficção. O jeito foi adaptar usando a narrativa clássica tradicional. Pena que o resultado nem sempre funciona. Algumas cenas chegam a incomodar, seja pela artificialidade dos diálogos, seja pelo exagero de interpretação da Camila Morgado.
Mas apesar dos excessos, ela brilha e ofusca quem está na tela. O pobre do rapaz que faz o Luís Carlos Prestes fica quase invisível na frente dela. As melhores cenas pra mim são aquelas que mostram Camila na cama (não necessariamente nua). Gosto quando a câmera dá um close nos olhos dela. Outros bons momentos acontecem quando são citados trechos de cartas reais de Olga Benário, de quando ela estava no campo de concentração.
Pena que esse projeto tenha sido entregue nas mãos de um cara que só tinha experiência com novelas e mini-séries da Globo. Não é sempre que surge um Luiz Fernando Carvalho lá dos estúdios da Globo.
OLGA vai estrear no circuito comercial no dia 20 de agosto.
quarta-feira, agosto 04, 2004
UM CERTO CAPITÃO LOCKARD (The Man from Laramie)
Desde que assisti E O SANGUE SEMEOU A TERRA (1952), fiquei muito interessado no cinema de Anthony Mann. Especialmente nos westerns. Depois, vi o maravilhoso WINCHESTER 73 (1950), o que só confirmou a excelência da obra desse grande diretor. Os dois filmes são parcerias de Mann com o ator James Stewart. Os dois são obras-primas. UM CERTO CAPITÃO LOCKARD (1955) foi o último dos oito filmes feitos durante essa parceria. Vi numa cópia linda em dvd, que respeita o cinemascope do filme.
Lendo uns textos retirados do Senses of Cinema, fiquei sabendo que na década de 40 Mann era um diretor de flmes noir. Por isso seus westerns da década de 50 são chamados de "westerns noir", trazendo o contraste entre as paisagens luminosas e os interiores escuros. Seus personagens também são carregados dessa aura mais "pesada". (Depois, nos anos 60, Mann se estabeleceria como um dos principais diretores de épicos de Hollywood.)
UM CERTO CAPITÃO LOCKARD não é o melhor dos westerns de Mann que eu vi, mas ainda assim é sensacional. Achei a motivação do personagem de James Stewart um pouco estranha: ele quer matar o sujeito responsável pela venda de armas aos apaches, o que ocasionou a morte de seu irmão. Quer dizer, ele quer matar o cara que não foi o responsável direto, mas indireto, da morte do rapaz. Mas, pelo que li, essa é uma característica dos heróis paranóicos de Mann. Complexo de perseguição e trauma psicológico são comuns em seus filmes.
Na história, o capitão Lockard (Stewart) está na cidade para vingar a morte do irmão enquanto trabalha de entregador de mercadorias. A coisa começa a esquentar quando o filho do dono da cidade queima as suas carroças e mata seus cavalos. Agora ele tem outro motivo pra permanecer naquele lugar. Quando começamos a nos questionar sobre quem é o homem que está tentando matar e incriminar Stewart é que percebemos que esse filme está mais para um drama criminal com toques shakesperianos do que para um western tradicional.
Consegui com o Renato os títulos dos filmes de Anthony Mann, com James Stewart como protagonista. Dizem que o melhor é O PREÇO DE UM HOMEM. Se for mesmo, esse filme deve ser um espetáculo.
1950: Winchester '73 (Idem).
1952: E O Sangue Semeou A Terra (Bend Of The River).
1953: O Preço De Um Homem (The Naked Spur).
1953: Borrasca (Thunder Bay).
1954: Música E Lágrimas (The Glenn Miller Story).
1955: Região Do Ódio (The Far Country).
1955: Comandos Do Ar (Strategic Air Command).
1955: Um Certo Capitão Lockhart (The Man From Laramie).
Desde que assisti E O SANGUE SEMEOU A TERRA (1952), fiquei muito interessado no cinema de Anthony Mann. Especialmente nos westerns. Depois, vi o maravilhoso WINCHESTER 73 (1950), o que só confirmou a excelência da obra desse grande diretor. Os dois filmes são parcerias de Mann com o ator James Stewart. Os dois são obras-primas. UM CERTO CAPITÃO LOCKARD (1955) foi o último dos oito filmes feitos durante essa parceria. Vi numa cópia linda em dvd, que respeita o cinemascope do filme.
Lendo uns textos retirados do Senses of Cinema, fiquei sabendo que na década de 40 Mann era um diretor de flmes noir. Por isso seus westerns da década de 50 são chamados de "westerns noir", trazendo o contraste entre as paisagens luminosas e os interiores escuros. Seus personagens também são carregados dessa aura mais "pesada". (Depois, nos anos 60, Mann se estabeleceria como um dos principais diretores de épicos de Hollywood.)
UM CERTO CAPITÃO LOCKARD não é o melhor dos westerns de Mann que eu vi, mas ainda assim é sensacional. Achei a motivação do personagem de James Stewart um pouco estranha: ele quer matar o sujeito responsável pela venda de armas aos apaches, o que ocasionou a morte de seu irmão. Quer dizer, ele quer matar o cara que não foi o responsável direto, mas indireto, da morte do rapaz. Mas, pelo que li, essa é uma característica dos heróis paranóicos de Mann. Complexo de perseguição e trauma psicológico são comuns em seus filmes.
Na história, o capitão Lockard (Stewart) está na cidade para vingar a morte do irmão enquanto trabalha de entregador de mercadorias. A coisa começa a esquentar quando o filho do dono da cidade queima as suas carroças e mata seus cavalos. Agora ele tem outro motivo pra permanecer naquele lugar. Quando começamos a nos questionar sobre quem é o homem que está tentando matar e incriminar Stewart é que percebemos que esse filme está mais para um drama criminal com toques shakesperianos do que para um western tradicional.
Consegui com o Renato os títulos dos filmes de Anthony Mann, com James Stewart como protagonista. Dizem que o melhor é O PREÇO DE UM HOMEM. Se for mesmo, esse filme deve ser um espetáculo.
1950: Winchester '73 (Idem).
1952: E O Sangue Semeou A Terra (Bend Of The River).
1953: O Preço De Um Homem (The Naked Spur).
1953: Borrasca (Thunder Bay).
1954: Música E Lágrimas (The Glenn Miller Story).
1955: Região Do Ódio (The Far Country).
1955: Comandos Do Ar (Strategic Air Command).
1955: Um Certo Capitão Lockhart (The Man From Laramie).
terça-feira, agosto 03, 2004
O FILHO (Le Fils)
Ontem foi um dia bem agitado e nem tive tempo de escrever para o blog. Hoje é a dor de cabeça que está me incomodando. Tenho medo que essa dor seja uma extensão de meu problema nos nervos dos braços. Tomara que não. Talvez um fim de semana numa casa de praia, relaxando, seja mesmo uma boa pra mim.
Voltando aos filmes. O FILHO (2002), dos irmãos Jean-Pierre e Luc Dardenne, é um ótimo título sobre a dor da perda de um filho. Quando aluguei o filme, eu só sabia disso. Achava que era um filme parecido com O QUARTO DO FILHO, de Nanni Moretti, ou ENTRE QUATRO PAREDES, de Todd Field. Que nada. Além de o filme não mostrar o filho ainda vivo, a forma como O FILHO foi feito é totalmente distinta desses outros filmes, que são mais ligados à narrativa clássica tradicional.
A principal diferença é a câmera. Não há sequer um plano geral no filme todo, o que me incomodou bastante no início. A câmera fica grudada o tempo todo nas costas do personagem principal, o carpinteiro Olivier (Olivier Gourmet). Tem uma hora, inclusive, em que a gente só enxerga a nuca de Olivier. Dá uma sensação de clastrofobia e de impaciência bem desagradável. Parecida com a sensação de quando alguém quer falar perto demais da gente. (Viram aquele episódio de SEINFELD em que aparece um sujeito que fala perto demais das pessoas? Hehehehe).
Mas depois que a gente se acostuma com o estilo da direção, e a história vai ficando mais e mais envolvente, até nos esquecemos um pouco desse detalhe. Lá pelo final do filme a câmera até que está relativamente mais distante.
Não sabia da existência desses diretores belgas, que já haviam realizado dois filmes: A PROMESSA (1996) e ROSETTA (1999). Parece que esses dois filmes também são inimigos dos planos gerais. O DVD vem com entrevistas de cerca de uma hora dos diretores e do ator principal. Chato é quando eles começam a falar dos outros dois filmes e a gente fica sem entender nada.
Ontem foi um dia bem agitado e nem tive tempo de escrever para o blog. Hoje é a dor de cabeça que está me incomodando. Tenho medo que essa dor seja uma extensão de meu problema nos nervos dos braços. Tomara que não. Talvez um fim de semana numa casa de praia, relaxando, seja mesmo uma boa pra mim.
Voltando aos filmes. O FILHO (2002), dos irmãos Jean-Pierre e Luc Dardenne, é um ótimo título sobre a dor da perda de um filho. Quando aluguei o filme, eu só sabia disso. Achava que era um filme parecido com O QUARTO DO FILHO, de Nanni Moretti, ou ENTRE QUATRO PAREDES, de Todd Field. Que nada. Além de o filme não mostrar o filho ainda vivo, a forma como O FILHO foi feito é totalmente distinta desses outros filmes, que são mais ligados à narrativa clássica tradicional.
A principal diferença é a câmera. Não há sequer um plano geral no filme todo, o que me incomodou bastante no início. A câmera fica grudada o tempo todo nas costas do personagem principal, o carpinteiro Olivier (Olivier Gourmet). Tem uma hora, inclusive, em que a gente só enxerga a nuca de Olivier. Dá uma sensação de clastrofobia e de impaciência bem desagradável. Parecida com a sensação de quando alguém quer falar perto demais da gente. (Viram aquele episódio de SEINFELD em que aparece um sujeito que fala perto demais das pessoas? Hehehehe).
Mas depois que a gente se acostuma com o estilo da direção, e a história vai ficando mais e mais envolvente, até nos esquecemos um pouco desse detalhe. Lá pelo final do filme a câmera até que está relativamente mais distante.
Não sabia da existência desses diretores belgas, que já haviam realizado dois filmes: A PROMESSA (1996) e ROSETTA (1999). Parece que esses dois filmes também são inimigos dos planos gerais. O DVD vem com entrevistas de cerca de uma hora dos diretores e do ator principal. Chato é quando eles começam a falar dos outros dois filmes e a gente fica sem entender nada.
domingo, agosto 01, 2004
UM TIRO NA NOITE (Blow Out)
Eu nem tinha a intenção de rever esse filme esses dias. Na verdade, o DVD estava na minha lista de possíveis compras no futuro. Estava na Distrivídeo à procura de AMORES EXPRESSOS, de Wong Kar-Wai. Já estava com a fita de FELIZES JUNTOS na mão, mas queria levar dois filmes dele, e já que a moça da locadora não conseguia achar a de AMORES EXPRESSOS, resolvi pegar UM TIRO NA NOITE, de Brian De Palma, pra rever.
A última vez que vi UM TIRO NA NOITE (1981) eu estava no início da minha adolescência e assisti quando passou no SBT. Vendo o filme agora em DVD, em widescreen 2,35:1, foi que eu percebi que eu nunca tinha visto o filme de verdade. Esse filme de Palma faz valer cada espaço da tela comprida e cortar os lados do filme seria realmente um crime.
UM TIRO NA NOITE faz parte da lista de filmes do De Palma em que o diretor consegue transcender a sua prodigiosa técnica e emocionar de fato o espectador. Assim como acontece em O PAGAMENTO FINAL (1993) e em PECADOS DE GUERRA (1989), nesse filme, De Palma pega a gente pela cabeça e pelo coração.
O que dizer da cena imediatamente anterior ao "acidente" com o carro do candidato à Presidência? O silêncio entrecortado inicialmente apenas pelo som de uma coruja (a coruja destacada na tela) e depois pelo som do carro caindo da ponte. E aquela cena em que John Travolta está procurando a fita no seu quarto e a câmera fica rodopiando lentamente várias vezes? E a cena final dos fogos de artifício? Talvez essas cenas sejam as mais belas de todo o filme. E olha que ainda tem o suspense de prender a respiração na cena de John Lithgow como um serial killer estrangulador (referência a FRENESI, do Hitchcock?).
Apesar de o título ser uma homenagem explícita a BLOW UP - DEPOIS DAQUELE BEIJO, de Michelangelo Antonioni, as homenagens a Hithcock não poderiam faltar. Logo no começo do filme há uma paródia da famosa cena do chuveiro de PSICOSE. Como De Palma já tinha gastado muita energia homenageando PSICOSE em VESTIDA PARA MATAR (1980), sobrou dessa vez uma homenagem ao Cinema em si. Quando Travolta recorta as fotos do acidente pra transformar num filme (imagens em movimento), vemos ali uma aula de como o cinema nasceu. Sem falar na homenagem aos "bad movies", palavras do próprio personagem de Travolta em relação aos filmes B de terror.
Obra-prima. Pra ver com reverência.
Eu nem tinha a intenção de rever esse filme esses dias. Na verdade, o DVD estava na minha lista de possíveis compras no futuro. Estava na Distrivídeo à procura de AMORES EXPRESSOS, de Wong Kar-Wai. Já estava com a fita de FELIZES JUNTOS na mão, mas queria levar dois filmes dele, e já que a moça da locadora não conseguia achar a de AMORES EXPRESSOS, resolvi pegar UM TIRO NA NOITE, de Brian De Palma, pra rever.
A última vez que vi UM TIRO NA NOITE (1981) eu estava no início da minha adolescência e assisti quando passou no SBT. Vendo o filme agora em DVD, em widescreen 2,35:1, foi que eu percebi que eu nunca tinha visto o filme de verdade. Esse filme de Palma faz valer cada espaço da tela comprida e cortar os lados do filme seria realmente um crime.
UM TIRO NA NOITE faz parte da lista de filmes do De Palma em que o diretor consegue transcender a sua prodigiosa técnica e emocionar de fato o espectador. Assim como acontece em O PAGAMENTO FINAL (1993) e em PECADOS DE GUERRA (1989), nesse filme, De Palma pega a gente pela cabeça e pelo coração.
O que dizer da cena imediatamente anterior ao "acidente" com o carro do candidato à Presidência? O silêncio entrecortado inicialmente apenas pelo som de uma coruja (a coruja destacada na tela) e depois pelo som do carro caindo da ponte. E aquela cena em que John Travolta está procurando a fita no seu quarto e a câmera fica rodopiando lentamente várias vezes? E a cena final dos fogos de artifício? Talvez essas cenas sejam as mais belas de todo o filme. E olha que ainda tem o suspense de prender a respiração na cena de John Lithgow como um serial killer estrangulador (referência a FRENESI, do Hitchcock?).
Apesar de o título ser uma homenagem explícita a BLOW UP - DEPOIS DAQUELE BEIJO, de Michelangelo Antonioni, as homenagens a Hithcock não poderiam faltar. Logo no começo do filme há uma paródia da famosa cena do chuveiro de PSICOSE. Como De Palma já tinha gastado muita energia homenageando PSICOSE em VESTIDA PARA MATAR (1980), sobrou dessa vez uma homenagem ao Cinema em si. Quando Travolta recorta as fotos do acidente pra transformar num filme (imagens em movimento), vemos ali uma aula de como o cinema nasceu. Sem falar na homenagem aos "bad movies", palavras do próprio personagem de Travolta em relação aos filmes B de terror.
Obra-prima. Pra ver com reverência.