terça-feira, agosto 24, 2004

A PRIMEIRA NOITE DE TRANQÜILIDADE (La Prima Notte di Quiete)



O grande filme desse final de semana (e talvez de todo o mês) pra mim foi A PRIMEIRA NOITE DE TRANQÜILIDADE (1972), de Valerio Zurlini. Infelizmente esse é o único filme desse diretor disponível em vídeo no Brasil. Zurlini é um dos cineastas preferidos de Carlos Reichenbach. Inclusive, para o Carlão, DOIS DESTINOS (1962), de Zurlini, é o melhor filme que ele viu na vida.

Como não estive entre o grupo de privilegiados que pôde ver a obra completa desse cineasta na telona numa edição da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, fico apenas imaginando o êxtase que pode ter sido para a platéia. Digo isso tendo visto apenas A PRIMEIRA NOITE DE TRANQÜILIDADE numa cópia em vídeo. Mas o que eu vi de poesia e de sensibilidade nesse filme já foi suficiente pra acreditar na excelência desse diretor que mereceria ser mais lembrado entre os grandes mestres italianos. Bem que a Versátil podia começar a trazer para o Brasil os seus filmes. A distribuidora tem trazido muito Rossellini, Fellini, Antonioni, Visconti e Pasolini. Eu ficaria muito mais interessado em ver os filmes de Zurlini. (Se bem que ando bem a fim de pegar um monte de fimes do Pasolini pra ver ultimamente.)

O filme tem um frescor que os filmes do Antonioni - diretor com quem ele é freqüentemente comparado - não têm. Em vez de me deixar com sono, A PRIMEIRA NOITE DE TRANQÜILIDADE me deixou excitado. Todo aquele clima transgressor do começo da década de 70 é contagiante e intoxicante. O que dizer daquela cena em que Alain Delon está vendo a sua amada, a belíssima Sonia Petrovna - que está também no grandioso e arrastado LUDWIG (1972), de Visconti - dançando com outro cara? E o que é aquela música que toca durante essa cena? Maravilhosa. Tão bela quanto a beleza de Sonia Petrovna.

Foi fácil me identificar com o personagem de Delon (Daniele Dominici), já que ele é um professor de literatura que ficou instigado com o olhar melancólico de uma bela estudante (Vanina) que se destacava de todos os outros da sala, inclusive intelectualmente. Uma vez que você se identifica com o personagem, você meio que se insere na ação. Mas apesar da identificação inicial com o personagem, não sei se entendi o seu sentimento no final. Talvez porque seus sentimentos estivessem mesmo confusos e difíceis de entender naquele turbilhão de emoções. Estaria Dominici voltando pra casa "apenas" com medo que Monica estivesse prestes a cometer suicídio, ou teria ele descoberto que Monica era mesmo o amor de sua vida e Vanina apenas uma paixão fulgaz?

Difícil ficar indiferente com toda aquela melancolia no ar. O olhar de desencanto de Delon, como se já soubesse de seu trágico destino, só se modifica um pouco quando se encontra com o olhos tristes de Vanina, como se fossem espelho dos seus. Só a partir daí ele pôde encontrar forças para enfrentar o seu destino. Ainda que saísse perdendo no final.

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