sábado, julho 31, 2004

HELLBOY



Parece que Guillermo Del Toro não vai mais conseguir fazer um filme tão bom quanto o seu primeiro longa-metragem, CRONOS (1993), que eu considero uma obra-prima. Tirando esse primeiro filme, nunca fui muito fã de seu trabalho. Gosto de A ESPINHA DO DIABO (2001), mas não acho excepcional. MUTAÇÃO (1997) me pareceu mais interessante depois de rever uns trechos na tevê dias atrás. E BLADE 2 (2002) eu achei chato pra cacete - parece videogame.

Já HELLBOY me deu sono. Tá certo que eu estava mesmo com um pouco de sono quando fui conferir a primeira sessão do dia, mas pra um filme recheado de cenas de ação, bem que poderia me acordar. Mas aí é que está: paradoxalmente, os filmes de ação hollywoodianos ultimamente têm sido os mais tediosos. Principalmente esses cheios de explosões e efeitos especiais. Vez ou outra é que temos a sorte de assistir uma boa produção que realmente empolga.

A melhor parte de HELLBOY é a introdução, que mostra o aparecimento do "Hell-baby" na Terra. A cena ficou boa e, seguida dos créditos iniciais, até dá a impressão de que veremos um grande filme. A cena do Hellboy no teto, conversando com um garoto, também ficou interessante. Gostei dos personagens. O anfíbio Abe Sapien ficou perfeito; a pirocinética Liz Sherman também ficou interessante, ainda que tenha ficado com cara de mutante dos X-Men; o vilão, bem que poderia ser melhor explorado no sentido aterrorizante da coisa, já que um cara que arranca as próprias pálpebras e lábios não pode ser algo além de aterrador.

Infelizmente as cenas de luta são chatas. Aquele monstrão mistura de Alien com Predador também é um saco. Pelo visto Del Toro vai dirigir a continuação. Quem sabe ele melhora na segunda parte.

sexta-feira, julho 30, 2004

EFEITO BORBOLETA (The Butterfly Effect)



Eu ia falar de O FILHO, dos Dardenne hoje, mas tendo em vista a excelente surpresa que eu vi ontem no cinema, tenho que falar de EFEITO BORBOLETA, enquanto ainda estou no calor do entusiasmo. Sabe o que eu mais gostei no filme? A sua primeira metade, que é um puta filme de horror. Eu não me assustava tanto desde RABBITS, de David Lynch. Sério. Não sei se foi por causa do som do cinema, que estava muito bom (foi no cinema do North Shopping) ou se a sala estava quase vazia. Mas isso não importa. O que importa é que se um filme consegue trazer à tona os nossos medos e nos envolver de tal forma que cansaço e sono passam longe, ele merece sim ser respeitado.

O filme inicia com um dizer da Teoria do Caos que fala que um simples bater das asas de uma borboleta pode provocar o holocausto nuclear. A primeira metade é praticamente um filme de terror, quando os apagões na memória do personagem principal deixam um clima de mistério amedrontador. (Os dois atores que interpretam o personagem principal na infância e na adolescência são muito bons.) A segunda metade focaliza a trama nas "viagens no tempo" e na tentativa do personagem de Ashton Kutcher de modificar as várias realidades que ele vai criando a partir de uma simples mudança de comportamento em determinado momento chave do passado.

Eu, por exemplo, que costumo ficar me questionando o que seria de mim hoje se eu tivesse feito tal coisa em determinado momento de minha vida, simplesmente viajei na brincadeira de ir e voltar no tempo, de apagar ou modificar a vida e ver as conseqüências no presente/futuro. Adorei o final do filme com a canção do Oasis "Stop Crying Your Heart Out". Saí do cinema arrepiado, e feliz da vida por ter ganhado o dia.

EFEITO BORBOLETA é, pra mim, um dos melhores filmes do ano. E um dos mais subestimados também.

quarta-feira, julho 28, 2004

FORA DE CASA (Freddy Got Fingered)



Sempre que ouvia falar de FORA DE CASA (2001) eu me lembrava da cara de nojo do Rubens Ewald Filho numa cerimônia do Oscar, quando ele falava sobre o filme que tinha ganhado o Framboesa de Ouro daquele ano. Desde aquele dia me bateu uma curiosidade pra ver o que o tal filme tinha de tão grotesco e horrivel assim.

Eis que finalmente eu vi o filme. Ainda não sei dizer se gostei ou não. Não é tão engraçado quanto CAINDO NA ESTRADA (2000), que tem o Tom Green no elenco, mas de uma coisa tem que se parabenizar o filme: pela ousadia. Não é todo dia que se vê um filme em que o protagonista masturba um cavalo, ajuda no parto de uma mulher e fica rodopiando a criança pelo cordão umbilical, lambe o osso quebrado de uma fratura exposta, entre outras coisas.

Com relação à cena do parto, se eu não me engano o Monty Python também fez algo parecido - com menos sangue espirrando, claro - em O SENTIDO DA VIDA. Acontece que os caras do Monty Python são intelectuais, enquanto que Tom Green faz questão de ser um retardado, o que até lembra os papéis de alguns filmes protagonizados pelo Jerry Lewis. Até agora eu só vi o Tom Green fazendo personagem doente mental. Parece que a Drew Barrymore ficou amiga dele: ele apareceu em AS PANTERAS e ela retribuiu, aparecendo no filme dele.

A história do filme não é tão importante, mas, resumindo, é sobre um sujeito (Green) que não quer nada na vida, não trabalha e nem estuda, mas que sabe fazer uns desenhos imbecis, que até dariam animações engraçadas e psicodélicas. Legal mesmo é a namorada que ele arranja (Marisa Coughlan): uma enfermeira linda e paralítica que sonha em construir uma cadeira de rodas movida a foguete e que curte sadomasoquismo. É ela que cria o momento "romântico" do filme. Existe coisa mais romântica do que uma mulher dizer pra alguém que não liga pra jóias nem nada, só quer chupar o seu pau? Hehehehe

Ah, e o título brasileiro bem que poderia traduzir do original, que seria mais ou menos "Freddy Levou uma Dedada". Até que seria engraçado chegar numa locadora e pedir um filme com esse título. O ruim é que todo mundo ia achar que se tratava de um pornô gay. Heheheheh

terça-feira, julho 27, 2004

FESTIVAL LUIS BUÑUEL

Pode-se dizer que esse ano foi pra mim o ano em que eu me aprofundei em Luis Buñuel. Quer dizer, ainda falta muito pra aprender. Teria que ler livros dele e sobre ele, tentar estudar mais sobre a história do Cristianismo e sobre Surrealismo, procurar compreender os significados de seus filmes mais difíceis. Mas tudo a seu tempo.

Depois das cinco pérolas da fase mexicana que tive o prazer de ver em junho, engrossa a minha lista de filmes vistos mais essas três obras-primas realizadas na Europa. Abaixo, um pouco de minhas impressões.

VIRIDIANA



Em 1961 Buñuel volta para a Espanha para dirigir VIRIDIANA, filme que foi premiado com a Palma de Ouro em Cannes. Apesar de ter o nome laureado, o governo da Espanha parece não ter gostado do filme. Como Buñuel era crítico feroz de toda forma de repressão, um governo repressor não podia vê-lo com bons olhos.

Na história, que guarda semelhanças com NAZARIN (1959), Viriana (Silvia Pinal) é uma noviça que vai visitar o tio (Fernando Rey) e se ausenta um pouco do convento. O problema é que o velho tenta estuprar a moça enquanto ela está dormindo. Depois da morte do tio, ela abandona o convento e passa a morar na casa do velho, abrigando os mendigos da região. Acontece que os mendigos, mal agradecidos que são, fazem da casa um verdadeiro caos. Inclusive, na cena do jantar dos mendigos, que parodia a Última Ceia de Da Vinci, ouve-se até Halleluia, de Handel. Francisco Rabal também está no elenco como o primo de Viridiana. Outras tiradas geniais são a cena do gato avançando em cima do rato, logo após a cena de Rabal dando em cima da empregada, além do famoso cruxifixo-canivete.

Talvez esse seja o primeiro filme de Buñuel que tenha um elenco mais conhecido e que trabalharia novamente com o diretor. Silvia Pinal ainda iria aparecer em O ANJO EXTERMINADOR (1962) e SIMÃO DO DESERTO (1965). Fernando Rey é considerado o melhor ator espanhol de todos os tempos e ficaria ainda famoso repetindo o papel de velho tarado em TRISTANA (1970), O DISCRETO CHARME DA BURGUESIA (1972) e ESSE OBSCURO OBJETO DO DESEJO (1977). Francisco Rabal que já tinha dado as caras em NAZARIN, apareceria ainda em A BELA DA TARDE (1967). Ele também está em CABEÇAS CORTADAS (1970), de Glauber Rocha.

Visto em DVD da Versátil.

VIA LÁCTEA / O ESTRANHO CAMINHO DE SANTIAGO (La Voie Lactée / La Vía Láctea)



Acho que esse é o filme mais difícil do Buñuel. Dentre os filmes que abusam do surrealismo e dispensam a narrativa convencional, VIA LÁCTEA (1969) é filme irmão de O FANTASMA DA LIBERDADE (1974 ), ainda que eu prefira o último, que tem mais cenas engraçadas. Eu senti falta de conhecer um pouco mais da história da Cristandade, dos dogmas da Igreja Católica e da época da Inquisição.

No final do filme, Buñuel explica que todos as citações foram retiradas de livros antigos e os dogmas apresentados são mesmo os da Igreja Católica. Acho que essa explicação seja mesmo necessária, já que algumas coisas são mesmo absurdas. Aquela história da transubstanciação, de acreditar que a hóstia é realmente o corpo de Cristo e não apenas um símbolo, é ridícula. E Buñuel faz rir de todas esses absurdos, ainda que na época a Igreja Católica tenha até gostado do filme, interpretando como uma obra respeitosa para a Igreja. Buñuel adorava ambigüidades. Achei interessante quando um dos peregrinos, ao ouvir uma explicação sobre a hóstia, chega para um padre e pergunta: "Padre, uma vez no estômago, o que acontece com o 'corpo de Cristo' ?" Fantástica a cena do padre querendo entrar nos quartos dos peregrinos para explicar a respeito da virgindade de Maria.

Além da linha principal dos dois peregrinos seguindo o Caminho de Santiago de Compostela, o filme apresenta várias vinhetas históricas que às vezes me confundiam. Aparecem Jesus e Maria, um homem sendo condenado à morte durante a Inquisição, o Marquês de Sade, um grupo de revolucionários matando o Papa, entre outras.

Bem que poderiam lançar uma versão em DVD desse filme com comentários em áudio do roteirista Jean-Claude Carrière.

Visto em VHS da Sagres.

ESSE OBSCURO OBJETO DO DESEJO (Cet Obscur Objet du Désir)



Esse talvez seja o filme de Buñuel que mais me deu prazer em assitir, ao lado de O ALUCINADO (1953) e ENSAIO DE UM CRIME (1955). Um dos meus favoritos, com certeza. É filme irmão de A BELA DA TARDE, onde Buñuel mostra outra de suas obsessões: a mulher. É o filme mais paudurescente do diretor. E olha que ele já estava no final da vida e dizia que nem gostava mais de sexo.

É um Buñuel mais narrativo, o que me dá um prazer enorme, especialmente quando ele usa do recurso do flashback. Fernando Rey é o homem atormentado pela sedução e pelos caprichos de Conchita (interpretada por duas atrizes - Carole Bouquet e Ángela Molina). Ele conta para um pequeno grupo de viajantes a sua história com essa mulher.

Há diferentes maneiras de ver o filme. Pode-se sentir pena do homem, pode-se rir das suas desgraças ou pode-se pensar sobre fatores sobrenaturais impedindo a vontade do homem, como acontece em filmes como O ANJO EXTERMINADOR ou O DISCRETO CHARME DA BURGUESIA. Por mais que tente, Mathieu não consegue fazer sexo com Conchita. As situações são absurdas e queria muito ver a reação de uma platéia no cinema, ao ver esse filme. Engraçado que eu me identifico um pouco com essa vontade de driblar o destino, de fugir às vezes do que me é imposto. E eu, assim como Mathieu, na maioria das vezes quebro a cara.

Grande filme. A última obra-prima desse gênio que morreria alguns anos depois, deixando essa filmografia espetacular e provocativa. Buñuel é meu ídolo.

Visto em vhs da Sagres.

Aproveito pra deixar aqui a lista de DVDs do Buñuel que foram ou serão lançados pela Versátil:

A BELA DA TARDE (em breve)
O ANJO EXTERMINADOR
VIRIDIANA
ENSAIO DE UM CRIME
SIMÃO DO DESERTO (em breve)
ESCRAVOS DO RANCOR (em breve)
O ALUCINADO
A ILUSÃO VIAJA DE BONDE
OS ESQUECIDOS

segunda-feira, julho 26, 2004

ANJOS CAÍDOS (Duoluo Tianshi / Fallen Angels)



Na contracapa da fita de ANJOS CAÍDOS (1995), distribuida aqui pela Alpha Filmes, tem os dizeres: "Quentin Tarantino? Isto foi o ano passado, cara. Agora é 1996 e é Wong Kar-Wai!". Isso foi escrito por um crítico do Village Voice e a comparação entre os dois autores se dá porque ambos são cineastas pós-modernos, sujeitos que se utilizam de toda uma bagagem pop-cultural para fazer seus filmes com um estilo próprio.

Eu fui um dos que não gostaram de AMOR À FLOR DA PELE (2000), o celebrado filme de Wong Kar-Wai que passou nos cinemas daqui há um par de anos. Talvez por não estar acostumado com o estilo, talvez por ficado enjoado com as repetições, ou talvez porque, no filme, parece que nada realmente acontece - as coisas que acontecem estão "escondidas" nas várias elipses. Pretendo rever o flme um dia pra fazer o tira-teima mas, por enquanto, o meu interesse está nas outras obras de Kar-Wai que não tive a chance ainda de ver. Digo isso com o entusiasmo de quem está começando a entender um cineasta. Aliás, entender é até um pouco difícil pra mim, em se tratando da maioria dos filmes orientais, já que nem sempre é possível para a mente ocidental compreender a psicologia dos orientais. Mas sinto que estou melhorando e me habituando mais aos filmes da turma dos olhos puxados.

Lendo a respeito de Kar-Wai no site Senses of Cinema, fiquei sabendo que ele faz parte da "Segunda Onda" dos cineastas de Hong Kong, o grupo de cineastas mais ligado a assuntos político-sociais, diferente dos diretores da "Primeira Onda", mais ligados à diversão e menos pretenciosos artisticamente. E graças ao texto do site fiquei curiosíssimo pra conhecer a versão em cantonês de "Dreams", dos Cranberries, contida na trilha de AMORES EXPRESSOS (1994), como também a versão de "Take my Breath Away", do Berlin (aquela do filme TOP GUN), em AS TEARS GO BY (1988). Bom, AS TEARS GO BY vai ser mais difícil de conferir, mas AMORES EXPRESSOS tem em vídeo aqui no Brasil. Em ANJOS CAÍDOS, o tema pop é "Karma Koma" do Massive Attack. Em geral, a música desse filme é sensacional. E auxiliada à linguagem videoclíptica (no bom sentido) do filme traz um resultado hipnótico.

A história do filme segue o drama de três personagens: um matador profissional, sua "sócia" e um rapaz mudo. De comum os três tem a solidão e a dificuldade de se socializar na Hong-Kong super-urbana e colorida. ANJOS CAÍDOS não é um filme do tipo narrativo. O negócio é relaxar e curtir a direção estilosa de Kar-Wai.

Como eu sou do tipo afoito e ando sempre doido pra ver tudo que é filme, aviso que quem tiver um divx de ASHES OF TIME (1994) pra fazer negócio comigo, eu agradeço. Agora é ir atrás das outras duas fitas do diretor e esperar a chegada de 2046 (2004) nos cinemas. Será que alguma distribuidora brasileira já comprou o filme?

domingo, julho 25, 2004

BRILHO ETERNO DE UMA MENTE SEM LEMBRANÇAS (Eternal Sunshine of the Spotless Mind)



Às vezes é até bom ir ao cinema com um pé atrás. Um dos últimos filmes que eu vi com roteiro de Charlie Kaufman - ADAPTAÇÃO (2002) - tinha me irritado bastante. Por outro lado, BRILHO ETERNO DE UMA MENTE SEM LEMBRANÇAS (2004), dirigido por Michel Gondry, me agradou pacas. Talvez por não tentar bancar o engraçadinho e criar uma atmosfera perturbadora, já que esse negócio de mexer com o cérebro é sempre desesperador pra mim. É o filme que melhor explora a persona mais séria de Jim Carrey.

Falando em Jim Carrey, o elenco é um dos pontos altos do filme. Além de Carrey, brilham na telona: Kate Winslet (adoro essa menina), Kirsten Dunst (mais bela que em HOMEM-ARANHA 2), Elijah Wood, Mark Ruffalo e Tom Wilkinson. E parece que esse pessoal todo aí entrou no projeto apenas por querer estar num filme com roteiro de Charlie Kaufman. Ele é o roteirista superstar. Nunca vi nada parecido com outros roteiristas. Até mesmo grandes profissionais como Jean-Claude Carrière e Robert Towne ficaram famosos, mas sempre porque trabalharam com grandes diretores.

Por isso eu fico tão cismado com essa história de "filme de roteirista", já que eu sempre prefiro "filme de diretor". Cinema não é novela da Globo, onde quem é mais importante é o escritor. É preferível ver um filme com roteiro ruim, mas com a direção espetacular de um Brian DePalma ou de um Martin Scorsese, do que o contrário.

Ainda bem que Michel Gondry faz um trabalho de direção muito bom, com estilo. Não vi NATUREZA QUASE HUMANA (2001), a primeira parceria Gondry-Kaufman, mas gostei mais do estilo dele do que do de Spike Jonze, que parecia se sustentar demais no roteiro de Kaufman nos seus dois longas. Ainda não se sabe se ele é bom sem o seu parceiro.

A história do filme é bem interessante, lembrando, até certo ponto, O VINGADOR DO FUTURO, de Paul Verhoven. Jim Carrey é o sujeito que, ao descobrir que sua amada o apagou de sua memória numa empresa que apaga determinadas lembranças do paciente, vai para a mesma empresa para apagá-la de sua memória também, a fim de diminuir a dor da separação. É aquela expressão "beber para esquecer" levada às últimas conseqüências.

A maior parte do filme se passa na cabeça do personagem de Carrey. E o diretor chega no limite dos excessos, mas se sai bem. Achei o resultado bem satisfatório, ainda que eu ache que todo esse entusiasmo da crítica em dizer que o filme é o melhor do ano não passe de exagero. Mas é, com certeza, um ótimo filme. Inclusive, quem quiser ir conferir deve ir logo, já que na sala de cinema que eu fui havia pouca gente. Sinal de que pode ficar apenas uma semana ou duas em cartaz.

sexta-feira, julho 23, 2004

JOGO DE SEDUÇÃO (Dot the I / El Punto sobre la I)



Quando eu me forcei a escrever sobre todo e qualquer filme que vejo pra esse blog, eu sabia que ia acontecer de às vezes não ter nada pra falar sobre determinado filme por alguma razão, seja pelo fato de o filme ser morno ou me deixar indiferente, ou simplesmente por não estar a fim de escrever.

JOGO DE SEDUÇÃO (2003) seria um exemplo de filme morno. Não é bom nem ruim, mas até que o começo é intrigante. Tem uma moça espanhola de nome Carmen (não tinha outro nome menos manjado, não?) que mora na Inglaterra e está pra se casar com um rapaz rico (James D´Arcy). Na despedida de solteira, ela conhece um rapaz brasileiro, vivido por Gael Garcia Bernal.  Quando eles se beijam, sente-se logo que a química entre eles é bem mais intensa do que entre ela e o namorado almofadinha. O filme vai adquirindo um clima de mistério aos poucos. Pena que à medida que a história vai evoluindo, a qualidade do filme vai caindo, até chegar no final constrangedor.

Esse filme, assim como DIÁRIOS DE MOTOCICLETA, é um exemplo de produção globalizada. É uma co-produção Inglaterra-Espanha, o ator principal, Gael Garcia, é mexicano mas faz papel de brasileiro, o diretor de fotografia é o brasileiro Affonso Beato (que já até trabalhou com o Pedro Almodóvar), a moça pivô do triângulo amoroso, Natalia Verbeke, é argentina (naturalizada espanhola) e James D´Arcy é inglês.

De qualquer maneira, o filme tem os seus admiradores e acho que merece uma conferida.

quinta-feira, julho 22, 2004

MINHA VIDA SEM MIM (My Life without Me / Mi Vida sin Mi)



Quem me conhece sabe que eu sou chegado a um melodrama, desses que mostram pessoas com doenças incuráveis e se despedindo dramaticamente da vida. Por isso, já imaginei ser um prato cheio pra mim o filme MINHA VIDA SEM MIM (2003), produzido por Agustin e Pedro Almodóvar e com elenco americano. A direção ficou a cargo da cineasta catalã Isabel Coixet, estreando em longa-metragem. Tive de vê-lo na única sessão exibida na cidade até o momento e levei a minha irmã comigo, que adorou o filme, achou lindo e tudo o mais.
 
MINHA VIDA SEM MIM é realmente um filme muito bonito e é quase impossível não derramar algumas lágrimas com a história da jovem Ann (Sarah Polley em interpretação inspirada), que descobre que tem câncer em estágio avançado e tem apenas dois meses de vida. Ela faz, então, uma lista de coisas pra realizar antes de morrer. Dentre elas, a que mais me comoveu foi: "dizer para minhas filhas o quanto eu as amo todos os dias." Mas teve uma dessas coisas um pouco mais polêmica, que foi "fazer sexo com outro homem." Ann era casada e amava o marido, mas como ele tinha sido o único homem que conhecera  (no sentido bíblico) em toda a sua vida, ela gostaria de experimentar com outra pessoa.
 
Ela desejaria também fazer alguém se apaixonar por ela. Esse alguém é Mark Ruffalo, que faz o melancólico Lee, homem que vive numa casa vazia, sem mobília. Ruffalo é um grande ator. Esteve ótimo em EM CARNE VIVA, de Jane Campion, e em CONTE COMIGO, de Keneth Lonergan. Aliás, grandes interpretações têm de sobra em MINHA VIDA SEM MIM. Entre os coadjuvantes há Leonor Wastling, que faz a vizinha de Ann e que emociona em uma das melhores cenas do filme. Deborah Harry, como a mãe de Ann também está perfeita. Ela que já foi uma musa de sua geração, na época do Blondie, agora está velha e com um aspecto amargo.
 
Os momentos mais sublimes do filme são exatamente aqueles que mostram Ann tentando levar a vida normalmente, aproveitando os momentos mais "banais" e vendo a vida com olhos diferentes. É como Pablo Villaça falou na crítica do filme, nós vivemos num estado de automatismo tão grande nesse mundo moderno, que pouco tempo nos sobra para apreciarmos a beleza e o prazer das pequenas coisas. Por exemplo, logo que Ann descobre que está perto de morrer, ela pede ao seu médico uma bala. E, como uma criança, ela sente e aprova o sabor da bala. Esse foi o primeiro momento realmente triste do filme.
 
Interessante notar que os filmes ultimamente têm valorizado mais as canções dos Beach Boys. Depois de "Wouldn´t Be Nice" em COMO SE FOSSE A PRIMEIRA VEZ, cantada por Drew Barrymore, agora é "God Only Knows" cantada desafinadamente por Sarah Polley. (Essa canção foi a que fechou com chave de ouro o filme SIMPLESMENTE AMOR.) Como a produção do filme é espanhola, a maior parte das canções da trilha são da terra de Almodóvar.
 
Através de contato com o organizador do Cinema de Arte, Pedro Martins, soube que o filme vai ter mais três sessões em Fortaleza, agendadas para os dias 30 e 31/07 e 03/08. Não dá pra perder. Esse é o tipo de filme que leva às lágrimas, mas que é uma celebração da vida.

quarta-feira, julho 21, 2004

HORROR EM TRÊS FILMES
 

 
Parece que ando vendo mais filmes do que tendo tempo pra falar sobre eles. Bom, melhor do que ficar sem assunto, né? Sem falar que quando agosto chegar e eu voltar a dar aulas à noite, não vou mais ter tanto tempo de ver filmes. Comento rapidamente sobre três filmes de horror, dirigidos por sujeitos que já fizeram coisas bacanas no gênero, como o mestre absoluto George Romero e aqueles que cometeram erros e acertos em suas experiências com horror como é o caso de Clive Barker e Paul W. S. Anderson.
 
CREEPSHOW / ARREPIO DO MEDO (Creepshow)
 
Esse é um exemplo de filme de segmentos quase perfeito. Diferente da irregularidade da maioria, CREEPSHOW (1982) tem só histórias boas. Na verdade, o segmento seguinte é sempre melhor que o anterior e todos são fiéis à estética de quadrinhos de terror, que é de onde o filme se baseia. O roteiro foi escrito por Stephen King a partir de histórias publicadas nas E.C. Comics da década de 50.
 
"Father´s Day" é o mais parecido com quadrinhos de terror de todos os segmentos. Conta a história da vingança de um cadáver em putrefação.
 
"The Lonesome Death of Jody Verrill" é muito interessante. Achei parecido com o Monstro do Pântano. É sobre um cara que, ao contato com um estranho meteoro, começa a se transformar em vegetal e a ficar com o corpo todo verde.
 
"Something to Tide You Over" é também sobre mortos voltando pra se vingar de seus assassinos, mas a primeira parte é muito melhor, com um Leslie Nielsen malvadão e matando as suas vítimas com requintes de crueldade. De ficar com falta de ar.
 
"The Crate" é sobre um monstro preso numa caixa que pode servir de instrumento para um homem matar sua esposa chata.
 
"They're Creeping Up On You" pode trazer calafrios pra quem tem ódio ou nojo de baratas, como eu. Assisti esse episódio antes de dormir e estava com medo que um monte de baratas caísse em cima da minha cama durante a noite. Vi num documentário da TNT que deu um trabalhão pro Romero conseguir todas aquelas baratas. O segmento é sobre um velho com mania de limpeza que não gostava de contato com o mundo exterior. Sensacionais os efeitos especiais das baratas saíndo do corpo do velho, cortesia de Tom Savini.
 
Gravado do SBT.
 
O MESTRE DAS ILUSÕES (Lord of Illusions)
 
Impresionante como Clive Barker, depois de HELLRAISER (1987), não conseguiu mais emplacar um filme que prestasse. O MESTRE DAS ILUSÕES (1995) é a segunda tentativa fracassada de Barker repetir o sucesso de HELLRAISER. Ele tinha tentado antes com o podre CRIATURAS DAS TREVAS (1990). Uma pena, já que Barker é um dos melhores escritores de literatura de terror de todos os tempos. Nunca li uma romance seu, mas os "Livros de Sangue" são verdadeiras pérolas. O MESTRE DAS ILUSÕES tem poucos momentos que não sejam chatos. O melhor deles é a cena do ilusionismo que dá errado (ou não). Barker está tentando sucesso de novo no inédito TORTURED SOULS:ANIMAE DAMNATAE (2004). Tomara que ele consiga se dar bem. Ainda tenho esperanças. Visto em DVD.
 
VISÕES / A VISÃO (The Sight)
 
Filme para a tv dirigido por Paul W.S. Anderson, que tem no currículo os bons O ENIGMA DO HORIZONTE (1997) e RESIDENT EVIL (2002) e que dirigiu também o ainda inédito ALIEN VS PREDADOR (2004), que eu acho que vai ser uma bosta, mas é só um palpite. A VISÃO (2000) é mais um filme que segue os passos de O SEXTO SENTIDO, do Shyamalan. No IMDB tem um sujeito que até diz que o filme do Anderson é melhor. Uma grande bobagem essa afirmativa. A VISÃO não chega a ser ruim, mas o filme não mantém o clima de suspense que deveria, ainda que mantenha o interesse razoavelmente até o final. É um filme de fantasmas com negócios pendentes, com toques e citações de "Alice no País das Maravilhas". Gravado da FOX. 

terça-feira, julho 20, 2004

24 HORAS - TERCEIRA TEMPORADA ("24" - Third Season)
 

 
Não sou muito de acompanhar séries de TV. A série que eu mais queria ter visto completa - TWIN PEAKS - até hoje não consegui. 24 HORAS foi a única série que eu acompanhei totalmente - todos os episódios e todas as temporadas, até o momento. Talvez porque a série tenha uma estrutura que exige do espectador ver todos os episódios, já que é tudo uma única história. As duas primeiras temporadas foram excelentes. Já a terceira caiu em qualidade e em criatividade. A série começou a se repetir e perdeu fôlego. Eu demorei a concordar com o Renato e a admitir que a série tinha despencado, mas analisando agora que acabou, foi isso mesmo que aconteceu.
 
Ainda assim, essa terceira temporada teve bons momentos. Já que não vou conseguir dizer tudo que eu quero sem falar sobre alguns dos acontecimentos marcantes dessa temporada, aviso que o texto, a partir de agora, vai ter spoilers.
 
Bom, como eu não estou aqui pra massacrar a série, vou falar sobre os melhores momentos dessa temporada. O meu ranking:
 
1. Michelle Dessler entrando com Gael e uma equipe da CTU no hotel onde está o vírus mortal. Quase todo mundo daquele hotel estava condenado à morte. A performance de Michelle no desenvolvimento dessa situação desesperadora foi o ponto alto da temporada.
 
2. A morte de Ryan Chapelle foi o episódio mais triste da série. Chapelle podia ser um filho da puta, mas ninguém merece morrer daquele jeito. O episódio inteiro mostrou a agonia de Ryan, quase implorando pra viver. E morrer nas mãos de Jack Bauer não tornou as coisas menos difíceis. Esse foi o único episódio que terminou sem o tradicional som do relógio. Só o silêncio da morte.
 
3. A fuga de Salazar auxiliado por Jack e o caos na prisão foi um dos melhores momentos da primeira fase da temporada.
 
4. No último episódio, Jack é obrigado a cortar a mão de Chase para se livrar da bomba-vírus. A machadada deu o tom mais violento dessa terceira temporada.
 
5. O momento melô da série (eu gosto dessas coisas) quando Michelle e Tony Almeida estão no telefone. Ele, imaginando que sua mulher iria ter o triste fim de todas as vítimas do hotel, declara o seu amor para ela. E os dois choram a valer. A proximidade da morte como valorização da vida.
 
É claro que essa temporada teve mais maus do que bons momentos, mas esses cinco aí de cima servem pra mostrar que a série ainda valeu a pena. Parece que a quarta temporada vai ter só o Jack e vai trazer novos personagens, já que Chase não conseguiu conquistar a simpatia dos telespectadores, a Kim virou uma menina cada vez mais chata, Tony Almeida está preso, mataram as duas vilãs e o Presidente não pretende tentar a reeleição. Será que a série vai sobreviver à quarta temporada?? 
 

segunda-feira, julho 19, 2004

A BATALHA DE RIDDICK (The Chronicles of Riddick)



Sabe o que é um filme ruim pra mim? É aquele tipo de filme que faz com que eu me arrependa de estar no cinema durante a exibição e torça para que o tempo passe logo. É aquele filme que tem uma história meio metida a complicada, quando na verdade é tudo culpa do roteiro mal amarrado. É aquele filme, que quando termina a sessão, me dá uma vontade desesperada de estar em casa o mais rápido possível (eu só conseguia pensar no frango assado do almoço que eu estava perdendo). Pois é. A BATALHA DE RIDDICK, de David Twohy, é um desses filmes. E pensar que eu cometi o pecado de interromper um Buñuel nota 10, faltando apenas 30 minutos pra acabar a fita, pra me preparar pra ir ver isso.
 
Mas o que deu errado com o filme? Acho que a culpa principal foi mesmo do diretor. Parece que Twohy não conseguiu se adaptar a grandes produções. O que a gente vê na tela é muito dinheiro pra nada. É desperdício de grana. E Vin Diesel até que está bem. É um grandalhão que tem um tipo de interpretação que não compromete. E ele até que teve boa intenção em ter recusado fazer TRIPLO X 2 para produzir ele mesmo a continuação de um filme bem mais bacana - ECLIPSE MORTAL (2000). Sem falar que o plano final do filme me fez perceber que ele daria um ótimo Rei Conan, se um dia esse filme sair do papel.
 
Uma das coisas que se salvam no filme é a beleza de Alexa Davalos. De onde tiraram essa moça? Ela brilha quando aparece. Parece que ela andou aparecendo em alguns episódios de ANGEL. O visual ficou um misto de STAR WARS com DUNA, com aqueles figurinos retrô misturados com naves espaciais e, pra quem não se lembra de ECLIPSE MORTAL, o filme fica fazendo freqüentemente referências ao original, tornando as coisas um pouco complicadas. Ou será que o filme faz referência ao desenho animado? Ou será que eu fiquei mesmo com preguiça de pensar por causa da falta de interesse? É possível. 
 

sábado, julho 17, 2004

AS DAMAS DO BOIS DE BOULOGNE (Les Dames du Bois de Boulogne)

 

Mudança de planos hoje. A intenção era ver MINHA VIDA SEM MIM pela manhã, mas ao chegar no cinema soube que houve um problema e o filme ficou retido na Secretaria da Fazenda. Não entendi muito bem porque o filme ficou retido. Pra completar, parece que o Pedro Martins, o organizador das sessões de arte, está viajando e tenho impressão que o pessoal da UCI não está muito interessado em resolver o problema. Mas a viagem não foi perdida. Completei a minha coleção de Vagabond, comprei Demolidor #6, e ainda dei uma passada na Distrivideo e peguei três títulos. Ao ver que tinha nas prateleiras um DVD de um filme de Robert Bresson, eu nem pensei duas vezes e o levei. 

Depois do meu primeiro Fuller, dessa vez foi o meu primeiro Bresson. Lembro que aqui em Fortaleza teve uma mostra retrospectiva de Bresson há alguns anos, no Espaço Unibanco, mas eu simplesmente não fui ver nenhum dos filmes por pura ignorância. Pena que o filme ficou aquém de minhas expectativas. Falam maravilhas de PICKPOCKET (1959), e eu espero mesmo um dia vê-lo e acredito que seja bem melhor que o filme que eu vi. 

Robert Bresson é um cineasta da geração anterior à turma da Nouvelle Vague e um dos preferidos dos Cahiers du Cinema. AS DAMAS DO BOIS DE BOULOUGNE (1944) é o seu segundo longa. Antes de iniciar as filmagens, o diretor estava preso por mais de um ano num campo de concentração alemão, durante a 2a Guerra Mundial. O filme é uma adaptação de um capítulo do livro "Jacques, o Fatalista", de Diderot. O tal Jacques do título do livro só aparece no comecinho do filme. A história lembra um pouco a de LIGAÇÕES PERIGOSAS, com uma mulher (Hélène) tão magoada com a separação do amante (Jean) que planeja uma vingança pra ele. Ela faz com que ele se apaixone por Agnés, uma ex-dançarina de cabaret, sem que ele saiba do seu passado. 

Sei não, mas tive impressão que a adaptação da trama para o século XX não foi muito feliz. Não vejo problema em um sujeito namorar ou casar com uma mulher que um dia tenha sido dançarina de striptease, por exemplo. Mas como o filme é dos anos 40, então deixa pra lá. Pode ser que tenha sido adequado pra sociedade da época. 

Nos extras do DVD tem uma crítica (incompleta) de François Truffaut de AS DAMAS..., retirado do livro "Os Filmes de Minha Vida". Eis um trecho que me chamou a atenção: 

"O trabalho de direção, apesar dos anos, continua extremamente teórico. O próprio Cocteau dizia: 'Isto não é um filme, é um esqueleto de um filme.' As intenções de Bresson, portanto, nos seduzem mais do que sua execução." 

Achei meio confuso esse lance de gostar mais das intenções do que da execução. Se o filme é só um esqueleto, ele não está completamente pronto, está? Já que se ele é esqueleto, ele está em preparação pra ficar bem melhor, não? O DVD foi lançado pela Magnus Opus, que está trazendo ao mercado uma série de filmes franceses pré-Nouvelle Vague. Alguns dos títulos: 

PARIS ADORMECIDA, SOB OS TETOS DE PARIS e A NÓS A LIBERDADE (os três de René Clair), A QUEDA DA CASA DE USHER, de Jean Epstein, O ATALANTE, de Jean Vigo, O DEMÔNIO DE ARGÉLIA, de Julien Duvivier, e O MISTÉRIO DE PICASSO, de Henri Clouzot. Alguém recomenda alguns desses títulos?

sexta-feira, julho 16, 2004

AGONIA E GLÓRIA (The Big Red One)

 

Ontem finalmente aluguei em vhs AGONIA E GLÓRIA (1980), um dos últimos filmes do cultuado diretor Samuel Fuller. Vergonhosamente esse foi o primeiro Fuller que eu vi. Sei que não é motivo pra eu andar na rua com um saco na cabeça por causa da vergonha, mas pela quantidade de vezes que eu li o Carlão Reichenbach exaltando a obra de Fuller, eu já devia ter ido à procura dos filmes do homem há muito tempo. Falando no nosso estimado Reichenbach, não custa lembrar que ele chegou a fazer brincadeiras em homenagem ao Fuller nos filmes ALMA CORSÁRIA e no ainda inédito GAROTAS DO ABC, já que não era possível trazer o próprio Fuller para fazer uma ponta nos filmes, como Godard fez em PIERROT LE FOU.  Pois bem. O problema é que é muito difícil encontrar os filmes do Fuller nas locadoras. Se eu não me engano, em vhs só existem AGONIA E GLÓRIA e QUANDO OS HOMENS SÃO MAUS (1962), que nem é totalmente creditado a ele e dizem que o resultado não ficou muito bom. Parece que CÃO BRANCO (1982) também saiu  - alguém me confirma? Os seus filmes mais badalados - A LEI DOS MARGINAIS (1961), ANJO DO MAL (1953), CASA DE BAMBU (1955) e O BEIJO AMARGO (1964) - até agora nada de pintarem por aqui. Vamos torcer pra que eles cheguem em DVD em edições caprichadas. Só assim eu vou me sentir privilegiado em estar conhecendo a obra dele em atraso.
 
AGONIA E GLÓRIA conta a história do pessoal da 1a. Divisão da Infantaria, a Big Red One, liderada pelo simpático sargento Lee Marvin e as batalhas contra os alemães nazistas, abrindo caminho a tiros, do norte da África até os campos de concentração na Europa. O próprio Fuller lutou na 2a Grande Guerra e deve ter colocado parte de sua experiência de vida no filme.  Há uma cena que mostra o Dia D, na Normandia, mas o filme de Fuller não mostra corpos mutilados ou tripas expostas, como se pôde ver em O RESGATE DO SOLDADO RYAN, do Spielberg.
 
Não existe uma linha principal na história. É um filme como ALÉM DA LINHA VERMELHA, do Mallick, que destaca o desenvolvimento dos personagens entre as cenas de guerra. Há espaço também para o humor, como na cena do parto de uma mulher dentro de um tanque no deserto. A cena é cômica, mas também é poética, já que simboliza o nascimento de uma nova vida, em tempos de matança de seres humanos em grande escala. Gostei do final meio surreal, mostrando os personagens no limite da loucura, quando chegam nos campos de concentração. E o epílogo é emocionante, mostrando o quanto as pessoas na guerra deixam de ver as outras como indivíduos.  
    

quinta-feira, julho 15, 2004

GHOST IN THE SHELL: FILME E SÉRIE



Já fazia algum tempo que o Renato tinha gravado pra mim três episódios da série GHOST IN THE SHELL: STAND ALONE COMPLEX (2002), mas eu não queria vê-los sem ter visto antes o longa-metragem. Abaixo, comento minhas impressões sobre o famoso filme de Mamoru Oshii e sua posterior derivação.

O FANTASMA DO FUTURO ( Kôkaku kidôtai / Ghost in the Shell)

Esse longa em animação é talvez o mais famoso filme do gênero ao lado de AKIRA, aqui no Brasil. O FANTASMA DO FUTURO (1995) causou rebuliço onde passou pela qualidade impressionante de sua animação e pela ousada trama de ficção científica. Não seria exagero dizer que não teria existido a trilogia MATRIX, dos irmãos Wachowsky, se Mamoru Oshii não tivesse adaptado para o cinema o mangá "Ghost in the Shell". Como até sábado passado não tinha visto o filme, não tinha idéia de quanta coisa os Wachowsky chuparam do anime. Vejamos algumas das semelhanças: 1) os fios conectados nas costas dos ciborgues para que eles se liguem à rede; 2) a queda (ou salto) de Trinity em MATRIX foi copiado do salto de Motoko; e 3) o vilão do filme é um vírus de computador. Não consigo me lembrar de mais semelhanças, mas só essas três já constituem elementos fundamentais no conceito de MATRIX, não?

O FANTASMA DO FUTURO mostra um grupo de ciborgues que trabalha para uma espécie de força policial do futuro, em 2026. O filme centra principalmente na personagem da Major Motoko Kusanagi e em seu parceiro, o grandalhão Batou. A linha principal da história foca na perseguição de um inimigo oculto chamado Mestre dos Fantoches, que na verdade é um vírus de computador que entrou na rede e provavelmente está no corpo de algum ciborgue.

O lado existencial de GHOST IN THE SHELL está na personagem de Motoko, que sofre por não se lembrar de seu passado antes de ter ingressado na Sessão 9 (nome dado à força policial do filme). Ela teve as suas memórias apagadas e, por ter boa parte do seu corpo artificial, ela tem até mesmo dúvida se possui uma alma (ghost). Interessante também o quanto ela tira a roupa no filme e fica nua sem vergonha, mesmo em cenas de ação. No filme também percebe-se sutilmente a atração que Batou sente por ela. O final é bem interessante e misterioso, deixando gancho para uma continuação, que só foi realizada esse ano. O novo filme chama-se INNOCENCE (2004) e foi exibido no último festival de Cannes. Tarantino deve ter adorado.

O DVD vem com um making of muito legal e gostoso de ver. Pena que tem menos de meia hora de duração.

GHOST IN THE SHELL: STAND ALONE COMPLEX (Kokaku kidotai: Stand Alone Complex)

Dessa série de tv em 26 episódios, produzida em 2002, só pude ver os três primeiros episódios que recebi de "amostra grátis". Apesar de realizada 7 anos após o longa de Oshii, a série ainda não supera a qualidade da animação do longa, ainda que tenha um visual realmente impressionante, com mais uso de Computação Gráfica em cima da animação tradicional. A série não faz menção aos acontecimentos finais do longa, por isso, muito gente acha que a história se passa antes do longa ou que simplesmente o esquece, como se ele não existisse.

Os três episódios que vi podem ser vistos em qualquer ordem, já que são histórias independentes. O primeiro episódio, SECTION 9, é pouco envolvente e conta a trama do seqüestro de um ministro em uma casa de robôs geishas. TESTATION é bem melhor: um tanque com inteligência artificial sai destruindo tudo e cabe à Seção 9 detê-lo. É o episódio que mais lembra o espírito do longa. ANDROID AND I tem citação explícita de ALPHAVILLE, do Godard, e fala sobre o suicídio em massa de andróides. É o episódio preferido do diretor da série.

Pelo que eu li no site da Amazon, é a partir do quarto episódio que se estabelece uma linha de história principal envolvendo o "Homem que Ri", personagem inspirado em um conto de J.D. Salinger. A série não me entusiasmou tanto quanto o longa, mas não dá pra negar suas qualidades. O problema de acompanhar séries completas em divx é que eu acabo ficando com preguiça de acompanhar depois de passar um tempo sem ver. Até hoje não terminei de ver SERIAL EXPERIMENTS LAIN nem LOVE HINA e nem mesmo BAND OF BROTHERS. Sem falar que meu computador (ou meu cd-rom) anda travando em algumas cenas.

terça-feira, julho 13, 2004

ANDREI TARKOVSKY EM DOIS FILMES



Nos últimos dias me deu vontade de ver filmes do Tarkovsky, mesmo sabendo que eles são um pouco herméticos. Ainda bem que a sua filmografia saiu completinha em DVD pela Continental. Acho que foi a primeira vez que vi um DVD da Continental que realmente presta, em termos de qualidade de imagem e som. Mas como eles gostam de fazer cagada, todos os extras dos DVDs da Criterion, de onde eles copiaram para fazer a edição nacional, foram colocados em discos à parte, o que encarece bastante a locação, se você quiser alugar os extras também. Mas tudo bem. Melhor do que não lançarem os filmes.

Antes de ver esses dois filmes, só tinha visto um Tarkovsky, SOLARIS (1972), copiado do DVD americano pelo chapa Fabio Ribeiro. Tinha gostado bastante apesar da dificuldade de absorver os simbolismos do filme (se é que são mesmo simbolismos). Ver SOLARIS ajuda a preparar a gente para os outros filmes do diretor.

STALKER

Assim como SOLARIS, STALKER (1979) é mais um exemplar da chamada ficção científica metafísica. Por falar em metafísica, não tinha idéia do quanto Tarkovsky era ligado à espiritualidade. Foda é que se você for entrar de cabeça no filme sem ter lido nada a respeito da trama, é certeza ficar boiando durante os primeiros quarenta minutos sem saber o que diabos está acontecendo. Depois é que a trama vai clareando. Só então ficamos sabendo que os três homens estão penetrando na zona, um lugar proibido para os civis, porque lá é o lugar mágico onde os desejos mais profundos se tornam realidade. Isso num mundo devastado seria uma bênção infinitamente maior. O Stalker do título é um homem sensitivo, uma pessoa especial, que possui misteriosos dons. Apenas o Stalker pode levar pessoas normais para dentro da zona. Antes dos homens entrarem no lugar, o filme é fotografado em preto e branco com tonalidades marron, ajudando a evidenciar o clima de desolação da Terra no futuro. A Terra foi modificada pela queda de um meteorito que destruiu grande parte das cidades e criou a tal zona.

O filme tem umas tomadas impressionantes, como aquele plano-sequüência da câmera passeando lentamente pelos três personagens. As imagens são tão magicamente belas que achei incrível esse filme ter sido realizado com poucos recursos. O filme é bem diferente do que a gente está acostumado a chamar de ficção científica, com quase nada de tecnologia à mostra. Os temas recorrentes do diretor, como a materialização dos desejos e o simbolismo e força da água estão onipresentes no filme. Dizem que esse é o filme mais úmido da história, conforme li numa crítica na Contracampo. A água está presente tanto na chuva, nos rios, na lama, quanto no suor dos corpos dos homens.

É um filme que exige muito do espectador, mas que se visto com paciência e interesse, pode se tornar uma experiência inesquecível. É o tipo de filme que cresce muito depois de visto, quando as cenas ficam ressurgindo em nossa memória. Ah, e aquele final, com a cena da filha do Stalker é sensacional. Para algumas pessoas, STALKER é o melhor filme de Tarkovsky.

O SACRIFÍCIO (Offret - Sacrificatio)

Apesar de ser considerado um filme menor de Tarkovsky, talvez O SACRIFÍCIO (1986) seja o meu preferido. A história do filme lembra o ótimo FIM DE CASO, de Neil Jordan, por causa do homem que abdica de algo que ama muito para cumprir um pacto com Deus. Em O SACRIFÍCIO, esse homem é um patriarca de uma família sueca que está completando 50 anos e que, numa espécie de sonho ou transe, vê na televisão a notícia de uma guerra de proporções apocalíptcas. Segundo a notícia, bombas nucleares iriam destruir o mundo em questão de horas. Sua família entra em desespero e ele, angustiado, pede a Deus que a situação se reverta e que a paz retorne às suas vidas. Então, inesperadamente surge no meio da noite o enigmático carteiro Otto que diz que há uma esperança: ele deve ir até a casa da empregada Maria, que é uma bruxa, e fazer sexo com ela. Ela teria poder de reverter a situação e salvar o mundo.

Eu achei sensacional esse enredo absurdo. E o barato de tudo isso é que Tarkovsky constrói um clima de tensão e apreensão que deixa tudo completamente crível. A cena do terremoto fez tremer até a minha casa. E aquela cena final é muito, mas muito, foda mesmo.

O filme causa um certo estranhamento já no começo pelo filmar tudo de longe, deixando no ar uma sensação incômoda. Acho que só perto de meia hora é que aparece o primeiro close. Seria um filme para ser visto especialmente na telona, mas com boa vontade e um pouco de silêncio, uma tv de 29 polegadas quebra o galho.

O filme tem muitas citações ao livro "Assim Falou Zaratustra", de Nietzsche, especialmente a doutrina do Eterno Retorno. Analisar todas as citações do filme aprofundadamente seria uma tarefa árdua e não é pra qualquer um. Encontrei um site na internet com um estudo de 19 páginas sobre Nietzche em O SACRIFÍCIO. Ainda não li, mas estou com o texto todo impresso aqui pra ler mais tarde. De qualquer forma, não deixa de ser algo arrepiante encontrar um filme que mistura cristianismo (a oração e o sacrifício), bruxaria (a empregada Maria) e paganismo (o anti-Cristo Nietzche). Também chega a ser assustador o mistério em torno de um quadro de Leonardo DaVinci "Adoração dos Magos"(em certa cena do filme, o carteiro diz que morre de medo de Leonardo). Talvez por ser a visita dos reis magos ao menino Jesus um evento também que mistura a magia com o cristianismo. Quanta riqueza e quanta erudição está contida nesse filme de Tarkovsky.

Procurando na internet por cartazes dos filmes do diretor, achei esse excelente site que tem cartazes de seus filmes de várias partes do mundo. Destaque para os cartazes do Japão e da Polônia de O SACRIFÍCIO.

Uma dúvida: por que será que aqui no Brasil as pessoas escrevem Tarkovski (com "i" no final) e nos sites gringos escrevem Tarkovsky (com "y")?


segunda-feira, julho 12, 2004

MENINAS MALVADAS (Mean Girls)



Para contrabalançar um pouco os filmes mais pesados de Antonioni e Tarkovsky que aluguei no fim de semana, nada como ver uma comédia adolescente leve para desopilar. MENINAS MALVADAS (2004) é diversão de qualidade e marca a consolidação do estrelato da nova ídola teen de Hollywood Lindsay Lohan. O filme é dirigido pelo mesmo Mark Waters que havia dirigido a moça em SEXTA-FEIRA MUITO LOUCA (2003), que eu infelizmente não vi, mas que depois de ter conferido a performance carismática de Lindsay, fiquei com vontade de ver.

Ver o filme me ajudou a entender melhor as piadas que rolaram na última edição do MTV Movie Awards e o porquê de terem convidado a menina para apresentar a premiação. Ela manda bem pra caramba e merece toda a paparicação.

Interessante o filme mostrar o mundo venenoso de mentiras e fofocas que cerca a vida das meninas. E as pessoas nem podem alegar preconceito com as mulheres, que são mostradas como falsas (em oposição ao respeito e à franqueza do mundo masculino), já que o roteiro foi escrito por uma mulher - Tina Fey, no filme, no papel da professora Norbury.

Inclusive, tem gente que diz que mulher não tem amigos mesmo, que ela é sozinha no mundo, já que as amigas a esfaqueam por trás e os caras só querem transar(essa última parte parece coisa do Billy Crystal em HARRRY E SALLY). É claro que isso é uma teoria polêmica e bem exagerada. E se eu disser que acredito totalmente nessa idéia vou ficar meio impopular com as meninas. Mas a verdade é que eu já ouvi de várias delas essa afirmação.

Voltando ao filme e resumindo, MENINAS MALVADAS é uma comédia inteligente que fala de um assunto interessante e garante umas boas risadas. O tempo passa e a gente nem sente. Alguns críticos comentaram do final moralista, mas acredito que terminar o filme com a protagonista com veneno descendo dos lábios não seria uma opção tão boa assim. Ou seria?

sábado, julho 10, 2004

A NOITE (La Notte)



Para o fim de semana, aluguei alguns filmes um pouco "difíceis". A NOITE (1961), de Michelangelo Antonioni, foi um deles. Fazia tempo que eu tinha vontade de ver esse filme, desde o início da minha cinefilia, mas com o tempo, e talvez por não ter entrado no clima de O DESERTO VERMELHO (1964) e ZABRISKIE POINT (1970), perdi um pouco a vontade de acompanhar a filmografia de Antonioni. O que me impulsionou a alugar o DVD foi a edição caprichada da Versátil, que traz junto com o filme um excelente documentário sobre as obras do diretor. O documentário, feito pela televisão RAI, chama-se MICHELANGELO ANTONIONI: O OLHAR QUE MUDOU O CINEMA e contém pequenos trechos de todos os seus filmes, além de comentários do próprio diretor sobre cada filme, exceto ALÉM DAS NUVENS (1992), já que nessa época ele já estava com dificuldades de falar por conta do derrame que o afastou das câmeras.

A NOITE é o segundo filme da "trilogia da incomunicabilidade" de Antonioni. Vendo esse filme foi que eu vi o quanto Walter Hugo Khouri era influenciado pelo diretor italiano. A NOITE lembra de cara NOITE VAZIA e O CORPO ARDENTE, dois filmes sessentistas de Khouri. Estão lá: o jazz, a alta sociedade, a angústia, o desejo sexual, o clima transgressor da época. Já sabia que Khouri era seguidor de Antonioni, mas não imaginei que fosse tanto assim. (Se bem que eu ainda continuo preferindo Khouri.)

Em A NOITE, Marcello Mastroianni e Jeanne Moreau são o casal em crise que vai a uma festa promovida por um milionário de Milão. Pouca coisa realmente acontece no filme, que tem um andamento bem lento, o que pode deixar espaço para o espectador se dispersar se ele estiver com alguma preocupação na cabeça. As ações acontecem mais na cabeça dos protagonistas. Isso exige do espectador uma certa sensibilidade para entender a psicologia dos personagens apenas pela força das imagens. No filme, há uma participação memorável de Monica Vitti, a musa de Antonioni na época. O cineasta fez quatro filmes seguidos com ela: a trilogia da incomunicabilidade e O DESERTO VERMELHO. Posteriormente ela ainda apareceria em O MISTÉRIO DE OBERWALD (1980). Em A NOITE, ela faz o papel da sensual Valentina, personagem que desperta o desejo de Marcello Mastroianni. Assim que ela surgiu, fiquei me perguntando se ela não foi a inspiração para a criação homônima de Guido Crepax.

Pra terminar, palavras do próprio Antonioni, defendendo o tipo de cinema que fazia, em oposição a um cinema mais comercial:

"Pra mim, o cinema nem sempre é espetáculo. Ninguém pode afirmar que o cinema é só e exclusivamente espetáculo. O cinema pode ser narrativo. Por que não? Quem o pode impedir? Assim como é permitido a um escritor se alongar em certos trechos para melhor analisar a psicologia de determinados personagens, penso que também no cinema se possa fazer o mesmo. (...) Pra mim a realidade tem uma cadência diferente. A vida tem momentos diferentes. Em alguns momentos, é impetuosa, em outros é estagnante; portanto, por que evitar os momentos estagnantes?"

sexta-feira, julho 09, 2004

MOÇA COM BRINCO DE PÉROLA (Girl with a Pearl Earring)



Desde sexta-feira passada que estava pra escrever sobre esse filme. Até que foi bom o tempo pra eu poder me informar de algumas coisas. Antes de tudo, eu achava que MOÇA COM BRINCO DE PÉROLA era a história real de como o famoso quadro de Vermeer foi confeccionado (digo famoso, mas eu mesmo na minha ignorância, nem sabia de sua existência). Mas pesquisando sobre o filme na internet, soube que a história é ficcional e a personagem de Griet (Scarlett Johansson) nunca existiu. Grande parte dos estudiosos acreditam que a modelo para o quadro foi mesmo a filha do pintor.

Mesmo assim, a história do filme é muito interessante. O filme ganha pontos em expor de maneira bastante sutil o relacionamento entre Vermeer (Colin Firth) e a empregada Griet. Uma vez que você se acostuma com o andamento lento do filme, fica mais fácil apreciar o belo trabalho. A fotografia é bem bonita, lembrando pinturas, por conta das tonalidades de cores escolhidas. O diretor de fotografia é o português Eduardo Serra, mais conhecido pelo belo trabalho em CORPO FECHADO, de M. Night Shyamalan.

Os sentimentos de Griet por Vermeer são difíceis de entender, mas acredito que fica claro sua atração por ele. A cena da moça furando a orelha para colocar o brinco de pérola é mágica. É daquelas cenas em que a gente sente a platéia no cinema quase como se estivesse prendendo a respiração, tal o silêncio do momento.

Pesquisando na internet achei esse site que tem um estudo aprofundado do quadro. No site, o autor fala detalhadamente de diversos aspectos da obra, como por exemplo: quem era a garota, os detalhes do turbante e da pérola, interpretação do trabalho etc.

Abaixo, o quadro original para apreciação:

quarta-feira, julho 07, 2004

ANTES DO AMANHECER (Before Sunrise)



Acho sempre difícil falar sobre um filme que me desperta grande paixão e entusiasmo. Não dá pra descrever em palavras a emoção que senti durante e depois do filme. É nessas horas que eu gostaria de ser um poeta ou, ao menos, uma pessoa com uma grande habilidade com as palavras para homenagear o filme com belas palavras.

Ontem foi dia de eu rever o maravilhoso ANTES DO AMANHECER (1995), de Richard Linklater. A vontade de rever o filme se deu por conta de uma crítica de Jonathan Rosebaum, que li ontem, sobre a continuação - ANTES DO PÔR-DO-SOL, que estará chegando nos cinemas brasileiros em setembro próximo. O filme é um prato cheio para espíritos românticos. O que eu vou tentar fazer aqui é colocar algumas observações sobre o filme. Quem não assistiu o filme (pobre mortal!) recomendo não ler o texto abaixo, por enquanto, e que vá urgente à locadora mais próxima alugá-lo.

A viagem - Pra começo de conversa, viajar, por si só, já é algo que traz um certo mistério. Quando viajamos, estamos mais abertos ao desconhecido, especialmente às surpresas boas que podem surgir. È por isso que um filme que começa com um trem seguindo certo destino já nos dá uma sensação agradável de excitação.

O encontro - Ethan Hawke está lendo um livro de Klaus Klinski - "All I Need Is Love". Não lembro que livro Julie Delpy está lendo. As primeiras palavras trocadas entre eles são sempre um prazer de ver e ouvir. Mesmo porque a observação que ele faz sobre o casal alemão que estava brigando no trem, a fim de puxar conversa, não tem grande importância. O que os dois querem mesmo é se conhecer.

O convite - Esse é um dos momentos mais excitantes do filme. Quase senti como se fosse eu chamando a Delpy para descer comigo e continuar a conversa nas ruas de Viena. Aliás, essa sensação de me colocar no lugar de Hawke, vem desde SOCIEDADE DOS POETAS MORTOS, quando ele fez o papel de um rapaz tímido, mas com potencial de poeta. Pra mim, o personagem de Jesse vai estar sempre conectado com o personagem de Todd Anderson, mesmo que eu saiba que são duas criações distintas. Inclusive, na cena do poeta que pede a doação de uma palavra em ANTES DO AMANHECER, vemos uma palavra que dá origem a algo belo, quase como se surgisse do nada. Parecido com o que acontece no filme de Peter Weir.

O beijo - Compartilhar um pouco os gostos musicais é bom, mas a cena na loja de discos marca o momento do beijo que não acontece. Fica um crescendo de tensão. Há a vontade desesperada de beijar a pessoa. Quase sinto os batimentos cardíacos acelerados dos dois nessa cena. The first kiss takes so long - como diz o título de um texto sobre o filme, contido no livro "American Independent Cinema", de Jim Hillier, - mas quando ele surge, é como se fogos de artifícios surgissem no céu.

O papo-cabeça - Não é à toa que Linklater é conhecido como o Eric Rohmer texano. O diretor tem a habilidade extraordinária de trazer para seus filmes assuntos profundos sem tornar os diálogos chatos. Longe disso. Em ANTES DO AMANHECER vemos assuntos como a transitoriedade das pessoas em relação ao espaço, a imortalidade da alma, as projeções românticas, diferenças entre homem e mulher, entre outros tópicos comentados.

Inspiração - Interessante como quando estamos com o espírito regozijando, fica tão mais fácil soltarmos palavras e idéias inspiradas. A cena dos dois simulando uma ligação para os amigos contando a boa-nova do encontro é encantadora.

O adeus - Em certa hora, Delpy diz, olhando para a cidade de Viena, "parece que estamos num mundo de sonho." E como sonho tem que acabar, pela manhã os dois terão de se despedir. De fazer chorar quando toca o violino na cena dos dois no restaurante dizendo adeus antecipadamente. E há a cena dos dois deitados na grama, bebendo vinho e pensando no quanto as suas vidas mudariam se eles continuassem juntos. O encanto morreria e daria lugar ao tédio?

O tempo - "A vida escoa vagamente e a todos o tempo há de consumir", como diz a poesia de W. H. Auden, citada por Hawke, próximo do final do filme. Paira no ar certa melancolia. Lembrei de uma canção dos Cranberries ("Will You Remember?"), que faz uma reflexão sobre os momentos mágicos da vida, mas que serão apagados com o tempo e com a morte. Mas, penso eu, será que eles serão mesmo esquecidos? Vai ver eu me pergunto por acreditar na imortalidade da alma. Mas não é triste imaginar que momentos de "céu na terra" na vida de tantas pessoas vão para o túmulo, para o esquecimento?

Sinceramente, eu ainda não consigo acreditar que a continuação desse filme consiga ser melhor ainda, mas é o que grande parte da crítica internacional anda dizendo de ANTES DO POR-DO-SOL, o filme sobre o reencontro de Jesse e Celine depois de nove anos do primeiro encontro. Já estou sentindo um frio na barriga....

terça-feira, julho 06, 2004

FILMES PARA FAZER RIR (OU NÃO)



Comento a seguir três filmes feitos para fazer rir, ainda que nem todos tenham funcionado comigo. Em forma de drops pela dificuldade que tenho de me estender nesses títulos.

ELES SÓ PENSAM NAQUILO (Whipped)

O único motivo pra eu querer ver essa comédia foi a linda e sexy Amanda Peet no papel da mulher que deixa um bando de marmanjos que se acham fodões loucos de tesão. É um filme engraçado, especialmente nas cenas dos encontros dos rapazes no café. Um dos caras é famoso por gostar de bater punheta de diferentes maneiras. Amanda está radiante e totalmente à vontade no papel. O final é cruel, muito cruel. Vê-se o quanto a mulher pode ser fria e calculista. Destaque para a cena de Amanda indo comprar camisinha com um dos caras. Gravado da FOX.

BATER OU CORRER (Shanghai Noon)

Só agora eu vi essa comédia de ação de Jackie Chan. Dizem que a continuação é muito melhor - ainda não vi - mas esse primeiro filme é muito divertido. Muito legal a relação de amizade de Chan com Owen Wilson. Na história, Jackie Chan é um guarda da China Imperial, que está nos EUA para resgatar a princesa (Lucy Liu) que havia fugido. Wilson é um fora-da-lei gente boa que é traído pela gangue durante um assalto a trem. A trama inicialmente lembra SOL VERMELHO, aquele filme com o Charles Bronson e o Toshiro Mifune, mas tendendo pra comédia. Boas cenas de ação com humor são de praxe nesses filmes do Chan, apesar de ele estar envelhecendo e daqui a pouco não vai ter mais tanto pique. Gravado do SBT.

SHREK 2

Uma coisa é certa. Nunca mais eu pago pra ver um filme dessa coisa verde de novo (o terceiro filme já está confirmado). Não vejo a menor graça nesses filmes do Shrek. Vai ver estou ficando velho e ranzinza e tenho mesmo que manter distância desses filmes vazios. A única cena que eu ainda ri foi a do Burro fazendo "ploc" para atazanar o verdão. De resto, bocejos e bocejos.. E nem venham me falar da qualidade da animação por computador que eu tô me lixando pra animação bem feita mas utilizada para fins puramente comerciais e para encher os bolsos dos chefões da Dreamworks.

segunda-feira, julho 05, 2004

REGRAS DA ATRAÇÃO (The Rules of Attraction)



Estou um pouco atrasado com os filmes para comentar, e olha que eu tenho falado de um filme por dia no blogue. E ainda tenho estoque de assunto suficiente pra abastecer durante a semana inteira. Infelizmente meus dias em casa, de licença saúde, estão terminando. Amanhã volto a trabalhar, mesmo sem estar totalmente restabelecido. Não tive dinheiro pra bancar o tratamento caro, que o meu plano de saúde não cobre. Aí tive que continuar só na hidroginástica, ainda que os resultados não sejam rápidos. Mas os dias de folga no mesmo período da mostra do Buñuel não podem ter sido uma coincidência.

Assisti recentemente REGRAS DA ATRAÇÃO (2002), de Roger Avary, diretor do ótimo PARCEIROS DO CRIME (1994). O filme é muito interessante e tem um quê de DONNIE DARKO, por conta daquela história do tempo que volta atrás para analisar os outros personagens. Daí a gente vê o quanto Avary pode ter sido importante no roteiro de PULP FICTION, do Tarantino.

A história se passa numa universidade, onde as pessoas são bem loucas. Lembro que no meu tempo de universitário teve sexo, drogas e rock n' roll (ah, bons tempos!), mas não como nesse filme. No meu tempo não tinha festa em que quase todo mundo ficava pelado. (Se bem que eu soube de uma tal de Festa do Lençol, em que algumas pessoas iam só de lençol e sem nada por baixo.)

O filme foca em três personagens.

1. James Van Der Beek está ótimo como o traficante de drogas e filho da puta de plantão da universidade, Sean Bateman. O personagem é irmão de Patrick Bateman, o PSICOPATA AMERICANO (2000) do filme homônimo de Mary Harron, também adaptado de um romance de Bret Easton Ellis. Sean fica apaixonado por uma garota que está lhe escrevendo cartinhas de amor e pondo em seu armário.

2. Shannyn Sossamon é Lauren, uma menina que nem é tão bonita, mas que fica especialmente bela no filme, principalmente na cena em que ela se encontra com Sean. O seu principal problema é perder a virgindade.

3. Ian Somerhalder é Paul, o personagem gay que é apaixonado por Sean. Acho que ele é o personagem mais bem acabado do filme. O seu espírito apaixonado realmente é sentido no filme. Suas ações parecem justificáveis, ao contrário de Sean que não convence como apaixonado.

Vendo os extras, fiquei sabendo que o livro de Ellis focaliza doze personagens (e não três) e fiquei com vontade de lê-lo, por conta dos fluxos de consciência de todos eles. Pelo jeito, Ellis costuma repetir ou interligar os personagens de seus romances em outros romances, criando, assim, um mundo próprio. ABAIXO DE ZERO (1987), por exemplo, é mais um filme adaptado de um livro do autor.

Os extras do DVD estão caprichados e todos legendados em português. O mais interessante dos extras é o mini-documentário "Anatomia de uma Cena", em que é dissecada uma das cenas mais impressionantes do filme, a do encontro de Sean com Lauren, realizada em split screen. No DVD, ainda tem making of, entrevistas com os atores e o diretor, e um áudio de comentário do diretor de fotografia, que foi a única coisa que eu não conferi.

P.S.: Vi no IMDB agora que Avary está produzindo GLAMORAMA, outro filme baseado em livro de Ellis, dessa vez centrado no personagem Victor. Cool!!

domingo, julho 04, 2004

KITE



Graças ao Renato, pude conferir KITE (1998), de Yasuomi Umetsu, diretor de MEZZO FORTE (2001). KITE se assemelha em alguns pontos ao filme seguinte do diretor. A história do filme também acompanha jovens que trabalham para uma companhia de matadores profissionais. As cenas de sexo explícito parecem ser uma marca de Umetsu, mas aqui elas aparecem bem menos e em menor duração do que em MEZZO FORTE. O sangue jorrando aos montes é auxiliado pelo uso de uma bala que explode ao entrar no corpo da vítima. Conseqüentemente, haja membros decepados e sangue espirrando (será que Tarantino iria gostar desse?).

Agora vamos às diferenças. Enquanto MEZZO FORTE é um filme de tom alegre, quase como uma comédia, KITE é deprê, com uma trilha sonora de jazz que acentua a tristeza da protagonista, que é obrigada a fazer sexo com o maquiavélico chefão da equipe, que programa as matanças às escondidas e trabalha como policial legista. Ele tem prazer de conferir o estado dos corpos no dia seguinte. Gosto particularmente das cenas com simulação de câmera fora de foco. Apesar de ter gostado bastante de KITE, acho que ainda prefiro MEZZO FORTE, por conta das cenas de sexo de mais alta voltagem erótica e da animação melhor trabalhada. Por falar em sexo, é interessante o tom dúbio em que as meninas aparecem no filme. É como se elas sentissem dor e prazer ao mesmo tempo, o que deixa as coisas bem excitantes. Só não sei porque esses filmes são tão curtos (cerca de 50 minutos).

Visto em divx.

sábado, julho 03, 2004

HOMEM-ARANHA 2 (Spider-Man 2)



Voltei há pouco da sessão de HOMEM-ARANHA 2 e realmente a continuação está bem melhor que o primeiro filme. Melhor em todos os aspectos: as cenas de luta estão muito mais elaboradas e mais longas e o romance mal resolvido de Peter Parker com Mary Jane também ganha um certo desfecho, que eu diria bem satisfatório.

O filme já começa bem a partir dos créditos, abrilhantados com os desenhos de Alex Ross, criador da mini-série MARVELS. Felizmente aquele tempo em que as continuações eram, via de regra, inferiores aos filmes originais virou coisa do passado. E a Marvel entrou numa ótima fase no cinema. Grandes filmes como X-MEN 2, de Brian Singer, ou HULK, de Ang Lee, compensam filmes menores como DEMOLIDOR, de Mark Steven Johnson. Vamos ver se a DC vai dar o troco com BATMAN BEGINS, de Christopher Nolan, e WATCHMEN, de Darren Aronofky.

Um dos baratos dos personagens da Marvel é a aproximação dos heróis com a fraqueza humana, sem ter aquela invencibilidade de um Super-Homem, por exemplo. Lembro que quando eu lia as histórias do Homem-Aranha, eu curtia mais suas desventuras como Peter Parker, sua falta de sorte na escola, no trabalho e com as meninas, do que suas lutas com os supervilões. O filme soube passar muito bem a dificuldade que o Aranha tem de se dar bem na vida.

Só não gostei do gancho no final. Quer dizer, até que ficou legal, mas no próximo filme vai ter a volta do Duende Verde? Que chato. Deviam colocar outro super-vilão como o Abutre, por exemplo. Se bem que com a volta do Duende, há a chance de recriarem a morte de Gwen Stacy, só que com a Mary Jane no lugar dela. Aí sim poderia sair um grande filme, com ares de tragédia e de fazer chorar marmanjos - eu, por exemplo, quase chorei no final desse segundo filme.

sexta-feira, julho 02, 2004

O COLOSSO DE RHODES (Il Colosso di Rodi)



Houve um tempo em que na Itália, além dos trabalhos dos quatro grandes diretores italianos (Fellini, Antonioni, Visconti e Pasolini) e de outros grandes como Bertollucci e Scola, uma indústria de filmes mais populares era fértil em trazer produções aparentemente menos pretensiosas. Foi naquele tempo (anos 50-70) que surgiram gigantes como Mario Bava e Dario Argento, no terreno do horror gótico italiano, e Sergio Leone, fazendo as melhores obras-primas do western spaghetti.

Mas tanto Bava quanto Leone chegaram a dirigir filmes do gênero "saiote e sandálias". Bava dirigiu um filme sobre Hércules e Leone fez esse O COLOSSO DE RHODES (1960), sobre lutas pelo poder na ilha de Rhodes, no momento em que foi construído o tal Colosso, considerado uma das sete maravilhas do mundo. A história se passa dias antes de um grande terremoto que destruiu o Colosso, a cidade inteira e matou centenas de pessoas.

O filme é prazeroso de se ver, tem direção de arte caprichada, ótimos diálogos (lembro que dias atrás eu questionei sobre a capacidade de Leone em elaborar grandes diálogos), além de uma interessante trama política. Só tenho a reclamar das cenas de luta, que poderiam ser mais violentas para que fossem convincentes, mas isso é totalmente perdoável porque nos filmes posteriores Leone iria abusar (no bom sentido) da crueldade e violência. A edição do DVD da ClassicLine está boa, mas em algumas cenas a imagem fica muito escura.

O filme é interessante principalmente pra quem já viu todos os outros trabalhos de Leone e tem curiosidade em conhecer esse seu primeiro título (o que é o meu caso). Comparando com os trabalhos seguintes, O COLOSSO DE RHODES é o seu filme menos brilhante, o que não tira o mérito da obra. No entanto, até mesmo o diretor não considerava esse filme um autêntico "filme de Sergio Leone". Ele dizia que fizera o filme apenas para pagar uma lua-de-mel na Espanha.

quinta-feira, julho 01, 2004

A EXPERIÊNCIA (Das Experiment)



Por que será que o cinema alemão e o italiano, que eram até pouco tempo dois dos melhores do mundo, entraram em decadência? Vez ou outra aparece um filme como A EXPERIÊNCIA, de Oliver Hirschbiegel, para trazer um pouco de esperança para a cinematografia alemã.

A EXPERIÊNCIA (2001) é empolgante. Só a trama em si já chama a atenção: grupo de homens aceita fazer parte de uma experiência por uma boa quantia em dinheiro. A experiência consiste em investigar o comportamento dos homens numa prisão simulada no intervalo de quinze dias. Metade dos homens serão os guardas da prisão, a outra metade, os prisioneiros. Em pouco tempo, a experiência vai saindo fora de controle e a violência e o caos se instalam no lugar. Não dá pra falar mais pra não estragar as surpresas.

Como eu sempre gostei de filmes de prisão e acho interessantes programas como Big Brother, então juntam-se duas coisas divertidas num filme muito bem conduzido.

O DVD está em fullscreen, mas pra compensar a imagem está muito boa, e há várias mini-entrevistas do diretor e do elenco, além de um pequeno making of.