domingo, dezembro 18, 2022
AVATAR – O CAMINHO DA ÁGUA (Avatar – The Way of Water)
Acho que se eu disser que estava com dor nas costas enquanto via AVATAR – O CAMINHO DA ÁGUA (2022) vão dizer que esse foi o motivo de eu estar tão mal humorado em relação a este novo projeto megalomaníaco de James Cameron. Mas o fato é que, dois dias atrás, eu também estava com dores e um filme mediano como O MENU conseguiu fazer eu me esquecer das dores e me concentrar no que via na tela, com interesse. Eu sei que tenho um histórico de cisma com James Cameron desde o primeiro AVATAR (2009) – que até gostei mais na revisão deste ano –, mas o trailer veiculado mostrando os efeitos inovadores 3D com imagens deslumbrantes me deixou esperançoso com o novo filme. Mas é a tal coisa: três minutos não são três horas e chega um momento que você não está nada encantado com as imagens.
Ao contrário, a personagem da menina, a filha adotiva de Jake Sully (Sam Worthington) e Neytiri (Zoe Saldaña), representaria esse espectador em estado de graça ao ver a fauna marítima e a paisagem natural. Para muitos espectadores isso funciona que é uma beleza, mas pra mim isso mais parece coisa de parque de diversão. Sem falar que Cameron e a Disney, que comprou a Fox, claramente têm interesse em explorar esse universo em seus parques temáticos nos Estados Unidos (como já vem explorando, na verdade). Aliás, a própria questão do 3D parece mais coisa de parque de diversão do que de cinema.
O fato é que bastaram vinte minutos de AVATAR – O CAMINHO DA ÁGUA para eu prever que seria um suplício passar pelas mais de três horas de duração dessa sequência. Como não me encantei com as imagens, poderia ter me importado com os personagens (e isso não aconteceu e confesso que até torci pela morte de alguns deles); também não curti a cafonice – e em geral curto coisas cafonas, mas acho que Cameron não tem a mão boa para coisas do coração, já que está muito mais preocupado com questões técnicas. Na época de TITANIC (1997) a coisa funcionou um pouco mais porque havia uma ênfase na história de amor e na tragédia. Sem falar que estávamos vendo pessoas “de verdade” e não algo que não querem vender como animação, mas que, para mim, não deixa de ser. Deixando claro: não se trata aqui de não abraçar a animação de última geração, que já foi tão explorada no início do novo milênio, antes de surgir AVATAR, por Robert Zemeckis, principalmente.
Além do mais, me incomodou a simplicidade, para não dizer a pobreza, dos diálogos. É como se Cameron tivesse feito uma aposta com alguém que conseguiria fazer um filme com uma quantidade muito pequena de vocabulário. E por mais que Cameron esteja interessado na ecologia e em mensagens bonitas, ele não deixa de lado seu tesão por máquinas e armas gigantes, herdeiras de ALIENS – O RESGATE (1986), e que seguem aparecendo como elemento usado principalmente pelos vilões da trama, as "pessoas do céu", como os nativos de Pandora os denominam. Ou seja, em vários momentos Cameron mais parece um menino com seus brinquedos caros e com carta branca dos pais para gastar com o que quer que seja.
O prólogo já me deixou muito incomodado, como se fosse algo feito às pressas: parece confuso e mal editado. Depois disso, vemos a luta dos povos da floresta com o “pessoal do céu” e isso me fez querer ver um western de verdade, com índios derrubando trens de homens brancos e coisas do tipo. Fiquei pensando: puxa, como seria legal se ele tivesse feito um faroeste, sem essa limpeza toda nas imagens, com todo esse dinheiro na produção, mas sem abrir mão da poeira e da sujeira. Mas depois o filme parte para um novo e aparentemente definitivo momento, que é o espaço da água, habitado por um povo meio anfíbio de cor esverdeada que acolhe a família de Sully e Neytiri, antes de hesitar um pouco. Afinal, a presença daquela família ali poderia chamar a atenção de seus perseguidores. O grande vilão do filme é o militar vivido por Stephen Lang, morto no filme anterior, mas trazido de volta, agora na pele de um na’vi.
A artificialidade das imagens faz com que cenas de suspense que seriam envolventes acabem sendo pouco eficientes, como é o caso do momento em que o filho mais novo de Sully, Lo’ak (Britain Dalton, talvez o mais próximo de um protagonista do filme), é ameaçado e perseguido por um bicho parecido com um tubarão. A cena é boa, mas já vimos tantos filmes de tubarão mais eficientes e mais baratos que não vou comprar essas imagens como algo excelente, não. Mas a coisa piora, quando Lo’ak, depois de ser salvo por um bicho gigante parecido com uma baleia, começa a puxar assunto com ela e fazer amizade. É possível que Cameron tenha pensado no público infantil nessas cenas, já que elas são as mais constrangedoras em se tratando de diálogos.
E o último ato, dedicado à ação, é quase interminável. Ainda assim, acho que prefiro esse ato (até por estar mais próximo de o filme acabar), do que toda aquela tentativa de mostrar a fauna inventada dos mares como a oitava maravilha do mundo, quando um documentário do Discovery Channel pode ser mais eficiente nesse sentido. Então, as cenas de ação me pareceram um pouco mais ousadas, inclusive no quesito violência gráfica (um pouquinho, na verdade) na possibilidade maior de haver baixas dos heróis. Além do mais, há cenas que remetem diretamente a TITANIC, como uma espécie de autorreferência do diretor.
Enfim, vou pensar duas vezes quando estrear o terceiro filme. Olhando para o lado positivo, AVATAR 2 me ajudou a valorizar ainda mais os filmes mais baratos e imperfeitos. E sobretudo, os filmes mais humanos. Sem falar nas verdadeiras obras-primas. São tantas esperando para ser vistas pela primeira vez por este cinéfilo um tanto negligente.
+ DOIS FILMES
O MENU (The Menu)
Um dos grandes méritos deste O MENU (2022) é nos deixar interessados na trama do início ao fim. Não chega a ser um grande filme de suspense e até mesmo as cenas supostamente chocantes não são tão chocantes assim, mas o senso de humor me ganhou. Sem falar que o embate entre Ralph Fiennes e Anya Taylor-Joy ajuda bastante a enriquecer a experiência, assim como o elenco de apoio e o papel de cada um deles no jogo apresentado pelo chef (Fiennes). O diretor Mark Mylod é pouco conhecido no cinema (dirigiu vários episódios da querida e saudosa série ENTOURAGE) e parece ser amigo de Will Ferrell e Adam McKay, que aparecem como produtores nos créditos. Como eles dois são pessoas bastante associadas à comédia, é fácil compreender a aproximação. Na trama, Taylor-Joy entra como convidada pelo aficionado por culinária vivido por Nicholas Hoult. Confesso que esperava algo mais sangrento, mas gostei bastante, no fim das contas.
A INICIAÇÃO (The Initiation)
Eis um filme curioso este dirigido por Larry Stewart, já que parece uma colcha de retalhos, como se o roteiro tivesse passado por várias pessoas que não sabiam direito o que fazer. A princípio, temos uma cena confusa da infância da protagonista vivida por Daphne Zuniga. A confusão da cena é proposital, como podemos ver na surpresa deixada para o final. Engraçado que o que eu achei mais interessante foi mesmo a possibilidade de trabalhar com um trauma de infância e o filme fazer um link ainda maior com PSICOSE (além da participação de Vera Miles no elenco, em papel pequeno, mas sendo a primeira dos créditos). No mais, as cenas de morte de A INICIAÇÃO (1984) são pouco inspiradas e o que conta mesmo é tentar adivinhar quem é o assassino, quais suas motivações etc. Um slasher que até pode se beneficiar do rótulo de trash para ganhar a simpatia da audiência. Visto no box Slashers IV.
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